Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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sábado, 6 de novembro de 2010

Sonhos - por Socorro Moreira

Já não tenho sonhos
Tenho compromissos.
Os sonhos são passeios nas madrugadas,
quando uma realidade paralela
parece mostrar o outro lado da vida.
Nos sonhos a matéria não pesa
 É como voar e enxergar uma situação de um mirante
É como chegar junto
de quem está sempre distante
No mundo onírico os vivos e os mortos se misturam
Falam a mesma linguagem,
e sorriem  dos mesmos motivos.
Os desejos reprimidos
criam asas
ousam uma aproximação noturna
quando o travesseiro acaricia a nossa cabeça
da realidade nua e crua.
Dormir pra sonhar
Viver  pra esperar
que os sonhos aconteçam !


Cariricaturas em prosa e verso - Edição Especial !

Recentemente o Dr. José do Vale postou um texto intitulado: "Sobre peso e medida".

O tema ficou martelando na minha cabeça. Umas das coisas que mais me incomoda  é o descumprimento de um acordo, é falhar nos meus compromissos, embora isso,  muitas vezes, independe da nossa vontade. Aconteça! 

Há  4 meses, depois do lançamento do livro "CXari8ricaturas em verso e prosa" , penso numa alternativa de compensar os escritores das  diversas discrepâncias ocorridas. Assumo  todas as faltas, uma vez quer fui autora da ideia, e estimulei  as adesões dos nossos colaboradores. Não vou discutir o valor literário da obra. a maioria, de veteranos e renomeados escritores. Falo da nossa proposta inicial :

4 textos para cada escritor , até 7 páginas + release.

Quota de 200,00, com direito à vinte exemplares.

A segunda parte foi cumprida. A primeira ficou devida.

A propósito disso, estamos  planeando a edição do "Cariricaturas em prosa e verso" (Segunda Edição), com o objetivo de compensar os escritores que se sentiram lesados, naturalmente, sem intenção dolosa da nossa parte. Não tivemos revisão, e essa falha repercutiu, na finalização do resultado.

A capa ficou primorosa, o Emerson fez o que pode, o reencontro de tantos amigos do passado, o brilho da festa de lançamento, tudo isso  computaram como positivo, nesse empreendimento.

Mas não é justo que as falhas deixem de ser corrigidas.

O livro não implicará em qualquer ónus para os seus escritores.

A REVISÃO  SERÁ FEITA CRITERIOSAMENTE PELA NOSSA COLABORADORA STELLA SIEBRA DE BRITO QUE MANTERÁ CONTATO PERMANENTE COM OS ESCRITORES.

ANALISANDO CRITERIOSAMENTE OS TEXTOS DE CADA AUTOR , FAREMOS OS SEGUINTES ADITAMENTOS, NESSE LIVRO ESPECIAL SABER :

Prefácio : jOSÉ fLÁVIO vIEIRA ( JÁ ELABORADO E NÃO PUBLICADO)

Texto da contra-capa : José do vale Feitosa

Orelha do editor : Emerson Monteiro

As dedicatórias  serão feitas em particular, fazendo parte do release de cada autor.

Relação dos autores :
1. Ana Cecília S.Bastos -  2 textos + release
2. Armando Rafael- 1 texto + release
3.Bernardo Melgaço- 1 texto + release
4.Carlos Rafael - 1 texto + release
5.Corujinha Baiana - 1 texto + release
6.Carlos Esmeraldo- 1 texto + release
7.Ceci Monteiro- 2 textos + release( participação especial)
8.Dimas de Castro -1 texto + release
9.Domingos Barroso - 1 texto + release
10. Edilma Rocha - 1 texto + release
11.Edmar Cordeiro - 1 texto + release
12.Everardo Norões- 3 textos + release
13.Izabella Pinheiro- 2 textos + release
14.José Flávio - 2 textos + release
15.João Marni- 1 texto + release
16.João Nicodemos- 1 texto + release
17. Joaquim Pinheiro- 1 texto + release
18.José do Vale Feitosa- 1 texto + release
19. José Neuton Alves de Sousa - 1 texto + release
20.Aloísio Paulo -2 textos + release ( participação especial)
21.  José Nilton Mariano- 1 texto + release
22.Liduína Vilar- 3 textos + release
23.Magali de Figueiredo- 1 texto + release
24.Marcos Barreto- 2 textos + release
25.Rejane Gonçalves - 1 texto + release
26.Socorro Moreira - 3 textos + release
27. Vera Barbosa - 1 texto + release
28- Rosa Guerrera - 2 textos + release
29.Jacques Bloc- 2 textos + release ( participação especial)
30-.Wilton Dedê- 2 textos + release
31-Nilo Sérgio Duarte - 2 textos + release ( participação especial) 
32.JOSE CARLOS BRANDÃO - 2 TEXTOS + RELEASE ( PARTICIUPAÇÃO ESPECIAL)
33.SÔNIA lESSA - 2 TEXTOS + RELEASE (PARTICIPAÇÃO ESPECIAL)
34.lUPEU lACERDA - 2 TEXTOS + RELEASE ( PARTICIPAÇÃO ESPEFCIAL)
35.MRCOS lEONEL - 2 TEXTOS + RELEASE - ( PARTICIPAÇÃO ESPECIAL)
36- GERALDO URANO - 2 TEXTOS + RELEASE - (PARTICIPAÇÃO ESPECIAL)

37. ABIDORAL jAMACARU- 2 TEXTOS ( PARTICIPAÇÃO ESPECIAL)
38 - RONALDO CORREIA lIMA - 2 TEXTOS + RELEASE ( PARTICIPAÇÃO ESPECIAL)
39 -PACHELLY jAMACARU - 2 TEXTOS + RELEASE - (PARTICIPAÇÃO ESPECIAL)
40-STELLA SIEBRA DE BRITO- 1 TEXTO +_ RELEASE 

Não limitaremos o número de páginas.a LIMITAÇÃO REFERE-SE AO NÚMERO DE TEXTOS
A capa terá uma nova foto  de Pachelly.
Faremos uma tiragem de  200  exemplares ( 5 para cada autor) , IMPRESSOS EM PAPEL RECICLADO.

O release poderá ser simplificado e ilustrado com a foto do autor.
ENVIEM O SEU MATERIAL, O MAIS BREVE POSSÍVEL ,PARA O E-MAIL DE STELLA  DE BRITO, QUE FARÁ A REVISÃO, e nmanterá contato com os escritores.
Qualquer dúvida, peço que  se manifestem !
A ausência  na relação de alguns autores , se justifica  pelo de acordo, na primeira edição.
Agradecemos a atenção, e contamos com a compreensão e apoio geral.
stelasiebra@yahoo.com.br
sauska_8@hotmail.com

*Stella você é a nossa revisora oficial. Confio no seu bom senso, capricho, exigência e competência. Afinal, são 50 anos de conhecimento. Quer mais ? Estarei perto de ti aé  a última etapa.

Nas portas dos cabarés

Mayaras


No último dia trinta e um de outubro, quando a apuração das urnas no Brasil sagrava uma vitória arrasadora da candidata Dilma Rousseff, certamente milhares de tucanos, país afora, mascaram aquele gosto de cabo de guarda-chuva . Claro que as pesquisas já previam matematicamente o resultado, mas sempre resta aquela esperança derradeira: na simpatia, no acaso, na macumba. Em São Paulo, no ninho brasileiro desta ave meio combalida, a estudante de Direito Mayara Petruso, inconformada, postou no seu Twitter uma mensagem antológica : “ Nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um Nordestino afogado por dia!”. Ainda à noite, diante da repercussão, ela extinguiu seu perfil na Rede Social, quando acordou para a dura constatação que deveria ter depreendido dos seus estudos de Direito: cometera um Crime inafiançável. Já era muito tarde! Milhares de internautas já haviam testemunhado a loucura da Mayara, já haviam copiado o site e comentado. No dia seguinte, o escritório de advocacia “Peixoto & Cury” , onde nossa futura causídica estagiava, a demitiu sumariamente e ainda lançou nota de repúdio à atitude da estudante, na imprensa . A OAB de Pernambuco protocolou uma ação contra ela e deverá ser seguida por muitas outras sucursais da mesma instituição. A estréia de Mayara na vida profissional não parece ser das mais auspiciosas.
Por incrível que possa parecer, a opinião de Mayara não é muito diferente da média da elite paulistana. Para eles o Nordeste é uma África brasileira, coberta de “Jecas do Século XV” como já definira Paulo Francis . Com duas únicas serventias: fornecer marginais para assaltos no Sul do país e algumas praias excêntricas para os eventuais e perigosos safáris dos sulistas. O Nordeste, olhem o mapa, seria como um peso que São Paulo tem que carregar eternamente nas costas. O mapa da nação existe apenas de Minas Gerais para baixo: para o sulista o Nordeste é uma linha imaginária que separa este Brasil próspero do Caribe e de Miami. Basta voltar-se para a recente campanha eleitoral e ver o ar de superioridade , o preconceito explícito, o ranço com que tiveram que engolir a fragorosa hecatombe do vôo tucano.
E não apenas flui das fontes sulistas o preconceito . Nossa pretensa elite nordestina, da varanda da Casa Grande, ainda vê as classes mais desfavorecidas como se contemplassem a Senzala. Vejo-os todos os dias reclamando dos Programas Sociais do Governo, dizendo que agora já não mais existe ninguém para trabalhar na agricultura, nas casas, nos jardins. Só não informam quais os salários que propõem para seus trabalhadores e qual o vínculo trabalhista. Vi nossos blogs cuspirem fogo contra as bolsas famílias, chamando-as de bolsa-fome, bolsa-miséria e que estavam apenas viciando o povo. Na Campanha, claro, de olho nos votos, mantinha-se um silêncio obsequioso. A Caixa Postal vivia entupida com mensagens imputando Lula de : analfabeto, corrupto, burro, cachaceiro. A candidata do Governo, então, recebeu todo tipo de preconceito: guerrilheira, homossexual, assassina.
Pois bem, são muitas as Mayaras neste país, algumas, inclusive, dormem conosco e privam do nosso convívio mais íntimo. Presas todas ao passado, nem percebem que o Brasil, lentamente vem mudando e os pelourinhos vêm tombando paulatinamente. Luiz Inácio entra, definitivamente – queira-se ou não—na história como o melhor presidente do país em todos os tempos e o mais popular. Ele mesmo : Nordestino, pau-de-arara, tido como analfabeto, pobre e acaboclado. E mais, elegeu a Dilma, a primeira mulher presidente e ex-guerrilheira . E mais, perdeu apenas na região Sul, não foram os nordestinos , os votos da fome, dos grotões que a elegeram. As Mayaras estão na contramão da história: não há água suficiente no Tietê e no Paraíba para afogar tanta gente. Mas, quem sabe, vivam eternamente poluídas por terem que banhar tantas mentes torpes, tanta ambição, tanto egoísmo ? O povo, Mayara,felizmente já aprendeu a nadar...


J. Flávio Vieira

Cecília Meireles



Cecília Benevides de Carvalho Meireles[1] (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada umas das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.



Meu Sonho (Cecília Meireles)

Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

Nostalgia do Deserto - Por Ana Cecília S.Bastos


Nostalgia do deserto




Porque é preciso comentar a visão do mar hoje.


Ver o mar, ouvir o mar, gratuitamente.
Sem pressões de ter que caminhar para exercitar-se ou ficar saudável ou purgar-se pelos excessos cometidos - tudo a mesma coisa, afinal.
Sem pressões do tempo curto, de voltar para compulsoriamente concluir um trabalho, de voltar -vigilantes patéticos - antes que o sol esquente demais, cumprindo a sina e o ritual de temer os raios solares e o câncer e a destruição do planeta. Cronometramos a exposição ao sol, evitamos a dor de cabeça, agendados no vídeo que nos monitoriza sem cessar.
Tudo isso é insuportável.


Importa ver os peixinhos, deixar estar, descobrir um caramujo enorme fora de seu invólucro, seus tentáculos/ventosas envolvendo as plantinhas na busca do alimento, parar, fazer sua analogia da deglutição, cercar novamente as plantinhas...


E viver o deserto do mar, a solidão do homem no mar.
Sem palavras.


 por Ana Cecília

SONETO I - por Everardo Norões

SONETO I

Agonizavam os rastros de novembro.
E os meus ossos, cansados das neblinas,
do�am, no concerto das esquinas
da cidade, onde um dia, ainda me lembro,

penetrou-se de escuro a minha alma,
quando um c�o, a ladrar contra o sol-posto,
mordeu o lado oculto do meu rosto
e deixou seus sinais � minha palma.

Lembro-me que era de tarde. Ainda chovia.
O eco dos espelhos conduzia
meus passos que jaziam pelas ruas.

Havia o som da �gua que ca�a.
E no horizonte, al�m da agonia,
um cemit�rio de meninas nuas.

Poema do Nicodemos


quem anda
descalço

enxergue
com os pés

Poema do Nicodemos


sob o a
pelo da
pele a fe
lina res
vala no es
curo da
mata


sem
pressa o
Tempo es
preita...

Arajara Park - Um exemplo de conservação à natureza - Por Heládio Teles Duarte

Curtas - VII - por Aloísio



Partindo...
Lembranças
Levando.

Jornada nas Estrelas - José do Vale Pinheiro Feitosa

O século XX, os historiadores sabem, foi o século das ideologias. Assim como o XVIII foi das revoluções. Usando nova moda de linguagem aqui no Rio: “o quê acontece?...” Então o quê acontece? Quem pergunta responde: foi um modo de resolver atrasos relativos de desenvolvimento social e econômico. Aparentemente opondo capitalismo e socialismo, mas a rigor era uma dependência do mercado mundial de comércio. Ou seja, eram partes de um todo.

Os grandes movimentos ideológicos foram superados. Quando se diz a frase, “O Muro de Berlim Caiu”, o fim da União Soviética, na verdade se quer dizer caíram as ideologias como condutoras da humanidade. E sem vencedores. A sobrevivência de um neoliberalismo ligado à expansão do capitalismo financeiro globalizado ainda é o fim das ideologias. Não da história.

Como as marcas do tempo no pensamento humano, especialmente na sua semântica, permanecem por longos tempos, ainda ouvimos muitos termos que relembram aquele passado. Particularmente objeto do pensamento conservador aqui nas Américas. Parece que a Guerra Fria continua com suas categorias. Quando um sistema de saúde público para alguns americanos significa um “monstro socialista”.

Interessante dizer que vivemos com algumas relevâncias da velha geopolítica. Vide Nelson Jobim marcando o território do Atlântico Sul na sua palestra em Portugal. Há quinze dias o ex-dirigente russo Mikhail Gorbachev relevou à BBC que Margareth Thatcher e Mitterrand pediram para ele fazer um ataque militar à Alemanha Oriental para evitar a reunificação.

Aquelas sofisticadas ideologias do século XX, que metodologicamente produziu um conhecimento vasto em várias áreas das preocupações humanas não foram simplesmente esquecidos. Os conhecimentos não desaparecem com o fim da importância política das ideologias. Explicarão o futuro do mesmo modo que servia quando elaborada. O pensamento socialista e o liberal de mercado continuam produzindo conhecimento o tempo todo.

A questão agora é que a contradições estão noutro patamar, inclusive a depender dos países e continentes. Uma questão bem diferente da luta do passado entre socialismo e liberal de mercado é a luta política atual, que parece muito mais estratégica: qual a forma mais racional de produzir melhores efeitos com o sistema de produção, circulação e consumo das mercadorias? É pelo Estado ou pela livre fruição dos mercados livres a disputarem espaço comercial?

Efetivamente são estas as questões do momento. Não há destaque no pensamento doutros sistemas de propriedade da produção, noutro modo de organizar o acesso a bens e materiais essenciais à vida. Esclareço: claro que continuam imaginando, quero dizer que não é esta a luta principal agora. Poderá ser no futuro? Sem dúvida alguma a depender, inclusive das crises atuais do sistema financeiro dos países mais desenvolvidos.

Um último parágrafo a este texto já longo. Todos recordam a série de televisão e filmes chamados Jornada nas Estrelas. Que se passava essencialmente no micro-cosmo de uma nave espacial indo até onde ninguém jamais fora. Examinem a visão de futuro daquela geração dos anos 60 nos EUA e do seu pensador principal nos roteiros: Gene Roddenberry. Era uma sociedade racional, com formação militar hierarquizada (claro era uma nave), planejada, estratégica, que representava uma federação, voltada para a ética, os direitos humanos, a liberdade cultural e o bem estar das pessoas. Tudo isso num estado de produção com todos dedicados a grandes missões no espaço e no futuro.

O flagelo das drogas - Emerson Monteiro

Há poucos dias, ouvi algumas palavras de uma amiga que sofre o calvário de ter um filho viciado em crack, essa droga de consequências danosas para o futuro do usuário, formada a partir da mistura de cocaína e bicarbonato de sódio. Em depoimento dos mais sinceros, narrou o transtorno gerado na família por conta de hábito que vitima expressiva margem da juventude nos dias atuais. A agressividade e o instinto liberados na abstinência do produto ocasionam cenas de profundo sofrimento a todos, dentro de casa, reações impetuosas apenas contidas na reutilização da substância, causando nisso gastos imprevistos e situações de desânimo e infelicidade.
O testemunho presenciado faz coro com as centenas, milhares, de outras histórias espalhadas no mundo inteiro. A faixa dos atingidos pelo mal se prende às classes de menor poder aquisitivo e que provem de outros grupos de dependência do álcool e outras drogas, desajustados sociais, moradores de rua e ex-sentenciados.
Nota trágica dos tempos industrializados e cidades massificadas, a droga invade o âmbito por vezes despreparado de órgãos responsáveis pela saúde pública em graus jamais previstos, neste modelo de civilização hoje adotado. Calamidade perversa, destrói a autoestima de populações inteiras do exército de reposição da mão-de-obra do sistema, ocasionando surpresa e impossibilidades.
Por causa dos estalidos que as pedras provocam quando acesas, parecido com coisa sendo fragmentada, recebeu o nome de crack, que significa quebrar, em inglês. A fumaça desprendida pela queima atinge o sistema nervoso central em dez segundos, absorvida pelos pulmões, para gerar efeito de três a dez minutos de duração. Forte euforia, seguida de profunda depressão, condiciona quem dele se utiliza a repetir o processo, querendo, com isso, neutralizar, a duras penas, o desgaste orgânico, daí a rigorosa dependência que constrange suas vítimas escravizadas. De comum, gera também alucinações e ilusões de perseguição, ou paranóia, conforme diz a ciência.
Desenvolvido nos Estados Unidos, nas classes menos favorecidas, o crack apresenta o menor índice de recuperação de viciados entre todos os entorpecentes, enquanto que o usuário é considerado enfermo de uma doença adquirida. Além disso, em geral os familiares não possuem condições financeiras de custear tratamentos mais sofisticados em clínicas particulares, e os países ainda se debatem sob o despreparo no atendimento oficial daqueles que se submetem à química destruidora.
A propósito dessa mãe com que conversei sobre o assunto, em face da dor que no momento lhe constrange, ela recorre à força poderosa da religiosidade para encontrar conforto em meio do martírio. Isso fez com que eu apenas silenciasse, em respeito ao mistério que a isso tudo envolve nesta vida.

CRATO, CIDADE ESQUECIDA – POR PEDRO ESMERALDO

Às vezes, tenho medo de falar à toa, mas não posso deixar de glorificar a minha cidade.

Desde tenra idade, fiz um ajuste comigo mesmo que foi defender o meu torrão natal até a última hora. Ocorre, porém, que não encontro apoio firme entre os cratenses para debater de sã consciência os problemas da cidade. Note que há uma camada constituída por homens de pensamento negativo, que se acomodam e ficam esperando as conseqüências desagradáveis para depois agir, quando a situação não é mais favorável.

Nesse caso, aguardam o desenrolar dos acontecimentos, posto que ficam na expectativa para ver se conseguem algumas migalhas e quando as conseguem, é por meio de esforços de terceiros, é aí, então, que aparece um como sendo o pai da criança.

Lembro-me muito bem de um melhoramento que o Crato perdeu, que com toda certeza, vinha diretamente para cá e os políticos se acomodaram, pois engavetaram o projeto, não se sabendo porque razão, fizeram corpo mole, pensando que estavam solucionando os acontecimentos, pois por causa da demora, acontecem as maiores dores de cabeça da história da cidade do Crato; deixaram que os artistas de mão ligeira levassem sorrateiramente esse benefício para outro município. Por isso o Crato foi para o canto do desespero, provocado pelo engano de alguns políticos acomodados e o cratense ficou sem vivacidade, pois os próprios políticos responsáveis pelo logro empurraram o barco imundo contra a correnteza de desengano total, que quase a cidade não arrebatava algum quinhão desse projeto.

Esses políticos cratenses alegavam que não havia representação no congresso nacional. Ora essa, senhores representantes da política cratense, se não conhecem as representações políticas cratenses, é o próprio povo, através de movimentos, saindo às ruas, que deve reclamar com altivez o desprezo da cidade.

De fato, essa representação que o Crato não possui é causada pelos próprios políticos, já que vivem entregando o município aos inimigos, deixam de lado os bons costumes e não apóiam os filhos da cidade para exercerem cargos eletivos. Ficam vendendo seus préstimos aos políticos de outras plagas, inimigos da cidade, deixando ao léu os mais agudos apoios morais e financeiros, como faziam os políticos de outrora. Também recordo que esses tais políticos desprezam a juventude, não dão nenhum apoio e ficam atolados com os velhos viciados, que não tem jeito algum de trabalhar.

Antigamente, a juventude cratense era atuante, vibrante e arrojada. Hoje, vê-se a juventude apática, doentia e viciada.

Por essa razão, os políticos têm de reagir, deixar de lado o comodismo, caprichos e mudar o rumo da história.

Obs.: Refere-se esta crônica à perda do Campus da UFC. Crato perdeu por falta de atividade dos políticos fracos, indolentes e sem visão.

Artigo de autoria de Pedro Esmeraldo

A Aquarela e Sofia - José do Vale Pinheiro Feitosa

Sabem que ela é tão brasileirinha. Com três anos daqui a dois dias e carrega o diminutivo com tanto carinho que me lembra Vinícius de Moraes. E deixa quem ao lado se encontra em estado confuso: se o infinito o é, como imaginar um olhar que o contemple? Mas Sofia consegue.

Quando pronuncia é “quinininho” a palavra pequeno reduzida ao seu mínimo carrega a imagem do infinito. Ela põe o espírito além do infinito que afinal é a sede do pensamento e do conhecimento. Esta menininha tão “quinininha” tem amplitude de raio muito mais ampla que as jornadas vincadas destes anos vividos. Vividos como chama a esgotar seu combustível no recipiente a si dedicado.

E não chega até este vídeo de computador sem que diga: eu quelo quelela! Bota quelela vovô! Quelela! Quelela! Vovô já aprendeu a falar, já compreende a linguagem da emoção daquele ser tão amplo: busca nas pastas e aponta a seta para a música Aquarela de Toquinho e Vinícius.

E pode ficar a eternidade que ela repetirá a mesma tantas vezes quanto no mundo permanecer. Desenhando sóis amarelos e com cinco ou seis retas um castelo. Os olhos brilhando como estrelas duplas e o rosto coletando néctar como uma borboleta de meiguice. Atenta ao lápis em torno da mão que lhe dá uma luva e os dois riscos com os quais tem um guarda-chuva.

Sofia não tem um olhar para os lados, toda a sua atenção é como um pinguinho de tinta no azul do papel e a linda gaivota a voar no céu. E o avô também apenas para ela e vai voando, contornando a imensa curva norte e sul, entre o rosto imerso no mundo maior que as necessidades materiais e a tradução desse pequeno barco a vela, brando, navegando tanto céu e mar.

A mão “quininha” dela se levanta como o poderoso superar da gravidade de uma massa imensa de metais e vida. Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião, tudo em volta colorindo com suas luzes a piscar. E o avô embarca nesta viagem, basta imaginar, e com ela partindo, serena e linda e se ela quiser volta a pousar. Sofia parece compreender o poeta criança com seus sonhos de adulto, num navio de partida, com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida...De bem com a vida....

A aquarela continua a criar situações e com ela Sofia. Pulando de uma América a outra num segundo e num simples giro, que ela repete com o rostinho virado para o alto e para baixo, num círculo que faz o seu mundo. Ela ainda não entende o muro que nos separa do futuro, ela é um contínuo sem qualificativos. Mas abre um sorriso para quando Vinícius disse que o futuro é uma astronave, ela gosta do foguete e do fogo que o impulsiona e não especula. Não pergunta sobre aquilo que angustiava o poeta: o que não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar, sem pedir licença.

Sofria está no curso do pleno que a vida social nos tira. Gosta da imagem da estrada infinita, mas não imagina o fim dela. Sobretudo imagina uma linda passarela de uma aquarela que não descolorirá. E diz: de novo! Quelela, vovô!