Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

domingo, 2 de agosto de 2009

Você se lembra? - Por Claude Bloc

.

Depois de tanto tempo revejo um dos meus "times do coração". Da época em que eu era aficcionada por futsal. Não perdia um jogo na quadra Bi-centenário.
E você?

... se lembra que time era este?
E qual era o nome dos componentes do time?


Foto do acervo de Dulce Carvalho

Casamento Perfeito - Sessão X - Por Zélia Moreira


Já não se faz música para cinema como antigamente.
Verdade ou mito?
.
Hoje lembrei-me de um filme, e de uma música que pode muito bem responder a questão.
SOMEWHERE OVER THE RAINBOW. Foi tema do inesquecível , "O mágico de Oz."
Filme de 1939(USA), produzido pela MGM. É baseado no livro infantil homônino, de L. Frank Baum, no qual a garota Dorothy(Judy Garland, maravilhosa) é capturada por um tornado no Kansas e levada a uma terra fantástica de bruxas, de leões covardes, de espantalhos...O filme acontece nesse mundo imaginário.
Ganhou 6 Oscars em 1940, inclusive o de melhor música.
Mas quem pensa que Somewhere over the rainbow só aparece em O mágico de Oz (que a consagrou!), não viu ou não prestou atenção às cenas finais de duas comédias românticas dos últimos tempos: Mensagem para você (Tom Hanks e Mag Ryan) e Como se fosse a primeira vez (Drew Barrymore).
São três lindas interpretações para a mesma música. Nem faço comparações, pois a interpretação de Judy Garland seria sempre a melhor em qualquer enquete formulada.
Deixo aqui duas versões para o cinema de Somewhere over the rainbow :
e
Como se fosse a primeira vez,
http://www.youtube.com/watch?v=A8tELjNJCyU

Ficou mais fácil responder:" Já não se faz músicas para o cinema como antigamente."

Verdade ou mito?


Comentário para o Coletivo -Sustos de Alegria - Por Socorro Moreira


Meu coração às vezes amanhece brumado, como a foto da Chapada, clicada por Fátima Esmeraldo ( esposa do poeta João Marni).

E como as brumas da manhã ,meu coração se desanuvia e volta à sua cor normal. Vermelho ou rosa ,dependo do choque.

Mas Agosto chegou, e as brumas dissiparam-se. As tristezas agora se desnudam , num azul
solar alastrante. Pelejam pra ficar na sintonia da nostalgia, mas os encontros amigos não deixam. A cada postagem, um susto de alegria !

Pétalas Lilases

Chega de gripe
todos os domingos
logo quando os sinos
batem de tardinha.

Minha alma cansada
espera do corpo
um olhar piedoso.

Por enquanto prometo
que não choro tanto
que não morro cedo.

Quem sabe
mais tarde
outro sonho.

Outra queimadura no braço
outra tosse medonha.

Boudica, A Rainha Guerreira

Rainha Boudica
(Marcelo Moraes Caetano)


Tu não morreste em vão. Não morrerás

antes que a terra seja livre e digna.

Que aprendam, romanos: não se consigna

a liberdade e o ímpeto voraz.


Não hás de ter legado às gerações

sequiosas de Honra (e não de honrarias)

teu púlpito belígero, que abrias,

sem que elas perscrutassem tantos dons.


Ficaste na memória, e nos assiste

uma memória impessoal, comum,

passando esta memória celta à vida


sobre outras vãs memórias que não viste

perecer como foi Camulodúnum - símbolo da mulher jamais vencida!


Boadicéia ou Boadiceia (também Boudica, Boudicca, Boadicea, Buduica e Bonduca) foi uma rainha celta que liderou os icenos.


Esposa, mãe, rainha e líder de uma das mais violentas rebeliões levadas a cabo contra o domínio romano (60 ou 61 d.C) na história de Britania. A sua história e a da sua tribo foi recolhida pelos historiadores romanos, Tácito (em seus Annales e Agrícola) e Dião Cássio (em sua História Romana).


É estudada a fundo pelos peritos e examinada pelos arqueólogos que continuam em busca de pistas sobre esta guerreira, cujo exército fez tremer os Romanos. Quando morreu o rei Prasutagus, a tribo icena, que convivia pacificamente com Roma naquela época, foi brutalmente atacada: Golpearam a rainha Boudica e violaram as suas filhas. Em busca de vingança, o exército de Boudica atacou as localizações romanas, incluído Londres, florescente centro de comércio romano da época, que foi destruído.


A Rainha Guerreira desapareceu da história durante a Idade Média, mas foi redescoberta no século XVI pela rainha Elizabeth I, interessada em promover o conceito da rainha guerreira nobre e foi transformada em ícone histórico.


Registro históricos
O historiador Dião Cássio diz, sobre Boadicéia:


"Boadicéia era alta, terrível de olhar e abençoada com uma voz poderosa. Uma cascata de cabelos vermelhos alcançava seus joelhos; usava um colar dourado composto de ornamentos, uma veste multi-colorida e sobre esta um casaco grosso preso por um broche. Carregava uma lança comprida para assustar todos os que deitassem-lhe os olhos."


Cássio relata ainda que ela cometeu todo tipo de atrocidade em nome de uma deusa chamada Andraste, que seria a equivalente britânico de Vitória, deusa romana. O próprio nome de Boadicéia significa "vitória".



http://www.canaldehistoria.pt/
recantodasletras.uol.com.br/


Lembranças do Crato (por: Ana Cecília)




Lembranças de viajar na Chapada do Araripe. Este post fez parte de uma série, Viagens", originalmente publicada no blog Casulo Temporário (www.casulotemporario.blogspot.com).

A série "Viagens" termina com este post, reminiscências de viajar quando criança, junto com meus irmãos. Como depois, em outras circunstâncias, por locais mais ou menos distantes, viajar era subtrair-se ao cotidiano e olhar o mundo com olhos de encantamento. Pois: foi ali que aprendi a viajar.





Crônica de uma festa de casamento

Voltando do Ceará, precisaria de pelo menos um dia inteiro só para me acalmar. Não o tendo, escrevo no avião, urgentemente, aflita para dar vazão a tantas palavras.


Tudo me deixa à flor da pele, este ser de uma tribo, esta herança índia pela qual sou parte dessas serras, desse recorte verde, lá do interior do mato, e me sinto tão integrada à chuva, à neblina, aos raios e relâmpagos, eu que sou tão alérgica. Este encontrar-me remetida a estar comigo vem de um modo tão veloz, vai tão longe e tão intenso que não consigo conter. Não penso: fico sabendo disso pelo olho, pelo olfato, pela pele, pelo estômago, e ainda pelas cores, dentro e fora, luz e sombra das casas à beira da estrada.


O senso térmico me remete ao denso que era crescer no interior, aprender a viver aqui, em tribo, essa colagem tão forte do tribal em nós, da qual é impossível falar, da qual calar é perder sentido.


Enquanto me preparava tão mecanicamente para a viagem, em Salvador, vinham com freqüência, sem qualquer antecipação, lembranças de Emanuel quando pequeno. É o meu irmão menor, tão doce e gentil, e que foi cedo para tão longe também, e de quem agora sei que me senti um pouco mãe -cuidei dele com tanto gosto, embora minha mãe não me deixe esquecer de quando ele caiu da janela por minha culpa. Fiz suas primeiras fotos, brinquei, conversei, e também fazia medo a ele - das bactérias e de outros perigos do mundo, o que era, sem dúvida, uma estranha forma de cuidar. Ele foi para longe, de volta à tribo, mas lá só se vê o quanto é um de nós, repetindo o pai até no modo como calça os sapatos.

*

Não sei se pelo cansaço, mas estou à flor da pele.


São as casas à beira da estrada, e eu diante delas sem precisar ser forte - somente desarmada -, com vontade de chorar por tudo.


São as casas à beira da estrada, e seu cheiro que é real de tanto que a visão das casas entra em mim tocando o que está lá dentro impregnado.


É o cheiro da cozinha da casa de minha avó Sinhá, indescritível, mas impossível de desconhecer. Um cheiro feito de silêncio, de gestos suaves, de passos suaves pela cozinha em direção à sala onde eu lia, na cadeira de balanço. Ou onde talvez me escondesse atrás do livro sem saber o que fazer com o sentimento tão intenso e desconhecido da vida contida em apenas estar ali, amando o silêncio, sons e o cheiro da cozinha. O cheiro que vinha do fogão a lenha - torresmo, um vago chá de eucalipto ou sabugueiro, feijão de corda novinho cozinhando em panela de barro, a figueira no quintal, o fumo de rolo que vovó mascava escondido, podendo ser frágil, a gente podendo ver e saber disso.


Esse olhar de avó que é lembrança tão doce, e eu queria saber chorar de saudade. A janela que se abre é de um mundo adulto no qual não éramos jamais intrusos, mas netos - e ela dizia que “não tinha nenhum neto feio”, e secretamente talvez me preferisse, recusando responder, mas sorrindo à pergunta "de qual neto gosta mais”?


Esse lugar e tempo amo, a paz daquela esquina e o café feito bem fraquinho e com bastante açúcar para que a gente pudesse tomar, e o bom não era nem o café, mas poder estar sentados em volta da mesa, escolhendo qualquer cadeira, escolhendo copo e colher ("de ouro" o alumínio amarelo, melhor ouro não havia). E conversar, e bastar pedir algo e ser sempre acolhido de alguma forma, naquela casa de poucos e sempre os mesmos objetos, que do mesmo modo estão ainda arrumados, em alguns armários e na memória.


Bolinhas de homeopatia, guardadas no armário de copos, que podia ser aberto sem medo, porque o andar discreto era de ser suave e delicado, não suspeitoso ou vigilante. E mesmo vovô, que quebrava o silêncio quando vinha toc toc com suas muletas, se era bravo (contam que no dia seguinte ao casamento ele vendeu o violão de vovó, que tocava e cantava lindamente), jamais o era conosco, podia se divertir infinitamente nos contando "causos" de almanaque ou nos deixando ficar perto da janela escutando com ele as notícias da cidade que seu amigo Pedro Maia trazia.


E as palavras se distraem e migram na frase, invertidas na lembrança que teimosa vem pela pele, pelos cheiros.

*

O frio da serra, o cheiro dos eucaliptos, os tão variados cantos dos tantos pássaros no Parque Nacional de Ubajara. Estou novamente na infância, cheiros e sons, e viajava por perto do Crato, algum sítio em cima ou ao sopé da Chapada do Araripe, e era frio, e as crianças vinham meio enrodilhadas umas nas outras em cima da caminhonete do tio, em cima de uma lona, e o carro cheirando a ração de gado ou a algo que não sei o que era, mas que era tão bom.


Nós, irmãos, juntos porque era frio, e Beto, meu irmão tão querido, que inventava estórias e descobria coisas para cantar falando da noite estrelada do Brasil (ele adorava, e eu também, uma que começava dizendo “quisera eu ser um grande poeta/pra te escrever um poema bonito”). E era 'uma viagem' deitar no desconforto e no frio e olhar as estrelas, chegaríamos ao sétimo céu se este houvesse. E não sei se vi jamais algo tão belo quanto aquele céu estrelado sob o qual flutuávamos no alto da serra, tão perto de nós, tão claro, tão perto das estrelas e de seus nomes, que meu pai nos contava nas noites suaves sem luz elétrica. Muitas lembranças de Beto são iguais às minhas, em cheiro, cor, gênero, número e grau.


Em meio a muitas outras felicidades, sem dúvida, são tantas boas lembranças, e eu não queria ter tido uma infância diferente - temos essa felicidade de irmãos que é a de poder chorar pelas mesmas coisas, como diz meu irmão Luís Sávio.



Brilho - Por Claude Bloc

Para um dia cheio de sol, o brilho de um sonho dominical.



Todo os meus poemas começam de manhã, com o sol.
Mesmo que as palavras não estejam à vista,
O poema será, então, meu céu de chuva
explicando a luz.
Durante o dia, morará inteiro
num espaço mais aberto
de ar claro e luminoso,
nas tardes lisas e eternas...
Então, emergirá, mais uma vez,
Da noite, do silêncio,
como um cais seguro.

Pela rua
sua passagem se confundirá
Com os assovios do vento
Com o rumor dos mares
E o encontrarei em areias claras
onde possa se estender ao sol,
no relicário dos meu sonhos.

Meu poema será
uma mão aberta e,
na sua palma, estará minha esperança.
...e se arrastará com o dia
e se meterá pelas copas das árvores,
cantará com os pássaros e correrá com os riachos...

Meu poema contará como tudo é feito
menos ele próprio...
começará por um acaso cinzento,
como esta manhã de abril
e acabará, também por acaso,
quando o sol (em meus olhos) brilhar...
Meu poema me levará no tempo
E não passarei sozinha...

Texto de Claude Bloc

Luiz Gonzaga na net - Por Joaquim Pinheiro

Acervo de Luiz Gonzaga na net

http://www.luizluagonzaga.com.br/


Paulo Vanderley, jovem com fortes ligações com o Crato, casado com a cratense Suzana, conseguiu feito notável. Reuniu todas as gravações do Rei do Baião na net. Qualquer pessoa pode ouvir as músicas, ver as letras e assistir vídeos de Luiz Gonzaga, inclusive amadores. Basta acessar o endereço acima, esperar um pouquinho que carregue e clicar em “entrar”.
O autor da proeza, funcionário do BB, conheceu o Crato quando o Pai, Paulo Marconi, era gerente do mesmo banco em Exu. Nesta época, conheceu Suzana, sobrinha do meu amigo, Venilson Araújo, casado com a prima Lígia Alencar.

Joaquim Pinheiro

Reler a Poesia de Bandeira e Reencontrar a Estrela: A Poesia - Por Stela Siebra Brito


É confortável, sobretudo para um leitor curioso, reler qualquer autor à luz da leitura dos estudiosos, que com suas análises e críticas trazem elementos novos para um melhor entendimento do autor, da sua obra, da intertextualidade literária, provocando, assim, uma leitura mais completa e prazerosa.
Este prazer me foi dado agora ao reler Estrela da Vida Inteira, de Manuel Bandeira, e escolher um poema para comentar neste texto. Foi difícil eleger um poema, se gosto de tantos! Enfim, decidi-me pela temática amorosa, aliás, por uma vertente da temática amorosa: a estrela, configurada ano, nascido em Recife, em 1886, o poeta Manuel Bandeira viveu a maior parte da sua vida no Rio de Janeiro. Publicou o primeiro poema, um soneto em alexandrinos, no Correio da Manhã, em 1902.
Jovem, com apenas dezoitos anos, adoece dos pulmões. Em busca de cura para a tuberculose, peregrina por cidades serranas do Brasil e em 1913 embarca para o sanatório de Clavadel, na Suíça. Durante os 13 anos dessa peregrinação, Bandeira aprimorou sua formação técnica, tornando-se o “poeta poeticamente mais culto e senhor de seus recursos”, nas palavras de Ivan Junqueira.
Os livros – A Cinza das Horas (1917) e Carnaval (1919) trazem os primeiros escritos de Bandeira marcados por influências do “simbolismo francês e português, do romantismo alemão e do lirismo quinhentista português”.
Embora tenha se recusado a participar da Semana de Arte Moderna de 1922, Manuel Bandeira é figura importantíssima no Modernismo Brasileiro. “Os sapos” e “Poética” são poemas de Bandeira que estabelecem uma relação com o Modernismo, assim como também o faz o humor sarcástico de “Pneumatórax”.
O ensaísta e poeta Ivan Junqueira adverte que “na poesia de Manuel Bandeira, como na de qualquer poeta cuja obra comporte momentos de transição entre um e outro estágio instrumental, o recurso da dissolução rítmica encontra-se intimamente relacionado à técnica do verso livre”. E Manuel Bandeira falando do processo criativo de “O ritmo dissoluto”, o define como “um livro de transição entre dois momentos” de sua poesia e que com ele atingiu “completa liberdade de movimento”.
Depois de O Ritmo Dissoluto, vem um outro livro com poemas escritos de 1924 a 1930. É Libertinagem, do qual o poeta afirma ter abusado do verso livre, razão, portanto, do seu título.
Também nos versos livres Bandeira é puro lirismo. Junqueira se refere ao poeta como “o símbolo supremo do lirismo, consubstanciado na luz daquela estrela “tão alta” e “tão fria” que pulsa do princípio ao fim na solitária e úmida noite em que floresce a poesia de Bandeira”.
Ler os poemas de Bandeira é deixar-se embalar pela cantiga dos seus versos, pela rima, pelo ritmo, pura sonoridade, como se escutássemos as histórias que Rosa contava ao menino, como se Vésper também caísse em nossa cama, como se fôssemos todos pra Pasárgada impregnados de lirismo.
Manuel Bandeira é senhor de um Eu lírico, que com a mesma maestria traça o caminho dos meninos carvoeiros e seus burrinhos descadeirados, inventa um desfilar circense para Mozart no céu, vê o beco, se desalenta procurando a inacessível estrela da manhã, ou da tarde. Bandeira trata com tal fervor e simplicidade os mais diversos temas do cotidiano e da imaginação, que transporta o leitor para a construção dos versos, para ouvir sua voz, sua vida pulsando em cada poema.
Em Bandeira a temática amorosa está presente desde os primeiros livros, no “tom elegíaco e intimista” (Junqueira) e na concepção do amor erótico, da volúpia sensual, com metáforas simbolizando, quase sempre, a frustração amorosa, a distância entre desejo e objeto do desejo, a rosa inacessível sobre a escarpa, a estrela fria, alta, na “vida inteira que poderia ter sido e que não foi”.
O poema A estrela é lindo e triste! As palavras, magistralmente cadenciadas nos versos, configuram a tristeza e a desesperança do poeta que vê a estrela tão alta e tão fria cintilando a solidão da sua noite, da sua vida.

A ESTRELA

Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.

A angústia, gerada pela “ausência” de uma amada que “desapareceu ia nua”, leva o poeta a incitar amigos e inimigos a procurarem a estrela da manhã. O poeta a deseja mesmo que “pura ou degradada até a última vileza”.

“ESTRELA DA MANHÃ

Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manha

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda parte
(..........)

Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.”

Apregoando “Tenho o fogo de constelações extintas há milênios/E o risco brevíssimo – que foi? passou – de tantas estrelas cadentes” (Belo Belo (Lira dos cinqüent’anos), o poeta lança mão do símbolo “estrela” para “exprimir a hierarquia entre os vários amores que teve: uns profundos, que permanecem intactos em sua lembrança, apesar do correr dos anos, e continuam a iluminar-lhe a existência da mesma forma que as constelações há muito extintas continuam a brilhar no firmamento; outros breves e de passagem, que atravessaram a sua vida com a rapidez das estrelas cadentes riscando o céu”, na análise de Gilda e Antônio Cândido.

A ESTRELA E O ANJO

Vésper caiu cheia de pudor na minha cama
Vésper em cuja ardência não havia a menor parcela de sensualidade
Enquanto eu gritava o seu nome três vezes
Dois grandes botões de rosa murcharam
E o meu anjo da guarda quedou-se de mãos postas no desejo insatisfeito de Deus.
Neste último poema é a estrela da tarde, Vésper, a personificação lírica e metafórica do êxtase amoroso. No entanto, é só o corpo que vive essa plenitude, o “desejo insatisfeito de Deus” só alma o realizará “Só em Deus ela pode encontrar satisfação” (Arte de amar).

Se olharmos por uma perspectiva mitológica também veremos confirmada a incansável busca do poeta pela realização amorosa, simbolizada pela estrela que brilha pela manhã ou a estrela da tarde, que não é outra senão o planeta Vênus – a estrela mais brilhante no céu. Assim, estamos diante da deusa do amor, Afrodite para os gregos, Vênus na mitologia latina. Segundo o professor Junito Brandão, o Hino Homérico a Afrodite canta sua “hierofania voluptuosa que transtorna até os animais que se recolhem à sombra dos vales, para se unirem no amor que transborda de Afrodite”.
Ora, a poesia de Manuel Bandeira está repleta do amor venusiano, erótico, carnal, voluptuoso. Para Ivan Junqueira estão equivocados os que atribuem à obra bandeiriana uma intensa sublimação do amor, posto que “na sua poesia a mulher corresponderá sempre a uma entidade tangível, pulsátil”, que já se manifesta na sua meninice, recordada em Evocação do Recife: “Um dia eu vi uma moça nuinha no banho./(...)Foi o meu primeiro alumbramento”.

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É Proibido (Pablo Neruda)Por Liduina Vilar.


É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.
É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você...
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus seus olhos,seu sorriso,só porque seus caminhos se
desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que que o que a vida te dá,tambem te tira.
É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

Dedico à Claude.


Batatas e Bananas - Por Socorro Moreira

Quem conhece Claude , quem conhece Socorro , sabe que gostamos de cozinhar , e mais que tudo, gostamos de improvisar.
Domingo é um dia de preguiça. A vontade que sentimos é nada fazer ;nem ferver a água pro café . Geralmente as pessoas estão com a secretária de folga , e recorrem aos restaurantes. Mas, até a saída de casa , no pingo do meio dia é complicado. Pede-se comida por telefone, ou fica-se com fome ?
Antigamente , e existem casas que ainda mantêm a tradição, o almoço do domingo tinha que ser um banquete pra reunir a família.
Pensando no nosso comodismo, passo um cardápio relâmpago para um dia de preguiça.
( Batatas gratinadas, filé grelhado, salada verde, sobremesa de bananas)

Batatas à moda Claude :
( duas batatas p/pessoa)

- cortar as batatas em rodelas :
- ralar bastante queijo;
-1 xícara de leite para cada 250 gr. de batata;
- sal , pimenta e orégano à gosto.

Método : alternar as camadas de batata e queijo( a última que seja do queijo), e regar com o leite temperado com sal, pimenta e orégano . Levar ao forno por cerca de 40 minutos.

Molho para a salada :

Experimente unir esses ingredientes ( escolha à gosto):
- azeite, suco de limão ou vinagre balsâmico, gengibre ralado, shoyo, molho de alho, cebola ralada, gotas de mel, iogurte, pitada de ervas finas...

Bananas à nossa moda - (Cartola)
- fritar as bananas na manteiga;
- cobri-las com fatias finas de queijo de manteiga;
- passar numa farofa feita com : farinha láctea, açúcar, canela e chocolate em pó.

ou

Bananas gratinadas

- cortar as bananas , na vertical ( tipo casca verde);
- despejar sobre elas uma lata de leite condensado;
- espalhar sobre a mistura , bastante queijo ralado , e levar ao forno p/gratinar.
( Fica uma delícia!)

Agora é só grelhar sua carne , esterilizar suas folhas ,e fazer o prato, no fogão.
Não pense nas calorias. Hoje é domingo .
Bom apetite !

Mensagem Estranha....

Olá, Pessoal,

Aqui no meu computador está aparecendo uma mensagem estranha com relação a este Blog. De que este estaria bloqueado devido a violações dos termos de serviço do Google. Eu nunca tinha visto este tipo de mensagem antes em nenhum Blog, e tomara que a coisa não se espalhe... Solicito informações se apenas eu estou a ver isso, ou se alguém mais vê. E já peço ao Carlos Rafael que siga os passos lá descritos, e faça a solicitação de análise do Blog que o Google pede. E aproveite para fazer um backup do Blog também. É melhor prevenir.

Abraços,

Dihelson Mendonça

Repentes de Agosto - Claude Socorro e Anita ...


Tem mistério, tem segredo
Esse luar de agosto
Tem encanto, tem magia
Tem silêncio e tem o gosto

Das noites que já se foram
Da timidez das manhãs
Do sussurro do teu sopro
De minhas saudades vãs

Pelo visto somos duas
no espanto de um repente
esperando a mesma lua
no vai e vem dessa gente

Mas o sábado compreende
o silêncio das nascentes
e a lua está inclusa
no olhar de toda gente.

Ver a lua... quem dera!
Ela sumiu do meu céu
Paciente é a minha espera
Como espero os beijos seus.

Nem sempre o valor humano
contabiliza no amor
quantos quilates de amor
vale o amor sem tamanho ?

Pensei que lua fosse o mote
Fiz o verso no recreio
Foi postado por sorte
Ponho este de recheio.

antigo é o amor que sinto
moderna é a sua sorte
não tem suporte, nem dote
o seu consorte é a morte.

LÂNGUIDO

O Curioso caso da Sinestesia e do Ouvido Absoluto - A Mistura dos Sentidos - Por: Dihelson Mendonça

A tabela de cores dos sons do grande músico Alexander Scriabin

Vendo o artigo logo abaixo, escrito pela Socorro Moreira, que falou bastante sobre o tema,, de uma reportagem no Fantástico da Rede Globo, mas não citou o nome do fenômeno, trago aqui algumas informações sobre essa curiosa mistura dos sentidos. Acontece muito com os músicos, e com quem possui ouvido absoluto, que é uma das formas de ouvir, tende a associar as notas musicais com a cores. Na verdade, eu particularmente, desenvolvi o ouvido a um grau elevado de percepção de altura ( frequência das notas ), que é bem diferente da sinestesia, mas tem uma enorme utilidade prática na minha profissão de músico.

Tudo se baseia na percepção do som como cores. Isso é abordado desde a antiguidade, mesmo sem associação à sinestesia propriamente dita, que é mais abrangente para outros sentidos. Essa "tabela" de cores e sons varia de pessoa para pessoa.

Por exemplo, eu acho que:

Do - É branco.
Re - Amarelo claro brilhante
Mi Bemol - Dourado - por associação, é uma tonalidade nobre
Fá - É cinza
Sol - Vermelho vivo.
Fá sustenido - é outro tipo de vermelho
Lá - Azul
Si - Verde - Si menor, por exemplo, é um verde claro, mas um tom muito triste, embora não tenha a cor relação alguma com o sentimento por ela provocado.
Lá Bemol - é outro som nobre, só que chama atenção, e sugere energia. Parece assim com o Vinho, ou Magenta.
Dó menor - é um dos tons mais tristes que existem, só perde para o si menor.
Do sustenido menor não é triste, é terno e a tonalidade mais perfeita alinhada ao sentimento.
Mi - é uma nota laranja.
Si bemol - é uma nota de grande destaque, cor vinho.

Já a sinestesia, é a capacidade de mistura dos sentidos mesmo. Acredita-se que o cérebro use vias comuns para as mesmas sensações, por isso, são percebidas como algo semelhante. Segundo uma pesquisa que realizei:

A SINESTESIA:

Dá-se o nome de sinestesia ao fenômeno de contaminação dos sentidos, ou seja, a confusão neurológica que provoca a percepção de mais de um sentido de uma só vez, essa pode ser visual, olfativa, tátil ou auditiva. Muitas pessoas acreditam que a sinestesia é uma doença, mas não é. É um fenômeno sensorial que ocorre por meio da memória e pelo excesso da criatividade.

A primeira pessoa a falar sobre tal fenômeno foi John Locke em 1690, quando relatou sobre um intelectual cego que refletiu sobre coisas visíveis e percebeu o que era a cor vermelha por meio do som de uma trompa. O primeiro caso registrado na medicina foi em 1922 com uma criança de quase quatro anos.

De forma descontrolada, a sinestesia se manifesta a qualquer momento, por exemplo, ler uma determinada palavra e sentir o gosto de um doce, ou escrever uma letra e relacioná-la com a cor verde... Curiosamente a maioria dos sinestésicos é canhota e tem problemas em distinguir lado direito com lado esquerdo.

A sinestesia pode ser diagnosticada por meio do Teste da Genuidade, TG, que avalia periodicamente a relação entre os estímulos recebidos e a reação para tais. O teste é feito com um grande quadro branco e preto com vários números iguais e espalhados, porém coloca-se poucos números diferentes sobre o mesmo. Tais números diferentes são facilmente percebidos pelos sinestésicos, pois os mesmos detectam esses por meio da diferença entre a coloração. Cada número possui sua coloração específica podendo ser identificado rapidamente. Fonte de pesquisa do texto sobre sinestesia: Gabriela Cabral - Equipe Brasil Escola

Por: Dihelson Mendonça

Revival: um flash do Festival

Marigébio Lucena (Novo), George Lucetti e osvaldo Rafael (Tobinha)
O palco era a Quadra Bicentenária, no Parque Municipal. Um pequeno quarteirão da bicentenária cidade do Crato, mas também um espaço de comprovado valor histórico e afetivo. Em frente, a quase cinquentona Sociedade de Cultura Artística do Crato, que na década de 1970 inaugurou o Teatro Rachel de Queiroz. Na ocasião, foi encenada, pelo lendário Grupo Teatral de Amadores Cratenses (GRUTAC), a peça “A raposa e as uvas”, de Guilherme Figueiredo. Nessa peça, atuaram José Correia e Eloi Teles de Morais, nomes que para qualquer cratense dispensam-se comentários. O poeta Geraldo Urano, autor das apresentações mais vanguardistas (verdadeiros happenings) dos festivais, morava ao lado. A quadra ficava no centro geodésico entre o Bar do Alagoano, na Praça da Sé, e a Boate Arapuca, no vetusto Crato Tênis Clube, bairro do Pimenta. Um ponto simbolicamente eqüidistante entre tradição e o novo, o costume e o modismo.

Os primeiros festivais, ouvi pelo rádio, transmitidos pela Rádio Educadora do Cariri. Sempre pegava no sono antes do anúncio das músicas classificadas para a grande noite final, sempre num domingo de outubro. Torcia pelo grupo do meu irmão Tobinha (Osvaldo). Primeiramente chamado de Cia. Ltda., e depois de Gitirana, devido a música que emplacou o segundo lugar no festival de 1972. Não conhecia e não tinha lá simpatias por Luiz Carlos Salatiel e Abdoral Jamacaru - verdadeiros papa-festivais, deixando o Gitirana em posições secundárias.


Na primeira vez que fui ver o festival ao vivo, acho que em 1975 (tinha 9 anos), assisti a apresentação do grupo de Geraldo Urano, do qual participava as feras Cleivan Paiva, no violão, e Demontiê Dellamone na bateria. Geraldo passou todo o tempo da apresentação sentado na beira do palco, lendo um gibi e tomando coca-cola. No final, saiu dançando por toda a extensão da quadra, sob o frenético frevo executado pela banda. Aquilo mexeu comigo e abriu definitivamente minha cabeça para a arte.

O pequeno grande homem – por Carlos Eduardo Esmeraldo

Acho que não havia ainda completado seis anos de idade quando o conheci. Nessa época, eu vivia livre nos matos do Sítio São José, ouvindo o canto dos pássaros, o mugir das vacas, o apito do engenho, a passagem dos trens a pouco mais de cem metros da nossa casa. Mel, alfenins, rapadura e garapa morna da cana recém-moída eram os meus quitutes prediletos. Tamanha carga de açúcar adicionada à minha alimentação, associada à minha rebeldia contra o uso da escova de dentes, levou-me a uma noite mal dormida, que eu jamais esquecerei. Um dentinho de leite estragado foi a causa daquela minha primeira noite de insônia. Ainda hoje, quase sessenta anos depois, escuto a voz doce e suave da minha mãe, tentando acalmar o meu choro: “Amanhã vou lhe levar ao doutor Aníbal para ele obturar esse seu dente.”

No dia seguinte, levantamos da cama cedo e fomos rumo ao Crato numa das “Sopas do Anselmo”, como chamávamos os precários ônibus, cujas carrocerias eram adaptadas de velhos caminhões, e que transportavam pela poeirenta estrada velha os moradores do Crato para o Juazeiro, e vice-versa. Da praça onde os ônibus estacionavam para o consultório do doutor Aníbal era um pulinho só. Após algum tempo de espera, que para mim pareceu não ter fim, eu e mamãe fomos introduzidos no consultório do doutor Aníbal. Aos meus olhos de criança estava diante de um homem muito grande. Segurou-me fortemente e, num piscar de olhos me sentou numa cadeira esquisita. Em seguida, ele mandou que eu abrisse a boca e se dirigiu a um canto da sala para pegar um instrumento que me pareceu ser um alicate. Os humildes moradores do São José que tinham seus dentes extraídos, ou melhor: “arrancados”, como diziam eles, contavam horrores das extrações de dente. Então segurei firme com as duas mãozinhas o seu braço e disse: “O senhor não vai arrancar não!” E ele, com voz suave e tranqüilizadora, respondeu: “Calma rapaz, eu vou só extrair.” Na minha doce inocência pensei que ele desejava dizer, com outra palavra que eu não conhecia, que ia apenas obturar o meu dente. Foi uma operação indolor e logo fomos dispensados. Na saída para a rua, depois de cuspir na raiz de um enorme pé de fícus que existia defronte ao consultório e ver a prostrada de sangue, exclamei para mamãe: “Que doutor enrolão! Ele disse que ia extrair e fez foi arrancar!” Desnecessário dizer que fiquei mal-acostumado. Desse dia em diante, quando um dentinho de leite amolecia, insistia que ele fosse extraído pelo doutor Aníbal. Ele foi meu dentista por quase meio século. Não somente meu, mas de todos da minha família.

O tempo passava e anualmente tinha de ir ao dentista. Não sei se existe alguém que goste de ir ao dentista. Eu pelo menos não gostava e continuo assim nos dias atuais. Horas de espera no consultório lotado de clientes. Naquela época, não havia esse requinte de marcar horário. O atendimento no consultório do doutor Aníbal era por ordem de chegada. E até seus filhos entravam na fila. Por isso, eu mal chegava do colégio, almoçava às pressas para ser o primeiro da fila. Enquanto esperava, eu olhava curiosamente o movimento da casa, que tinha as duas salas da frente reservadas para o consultório e o restante como residência da família. A cada ano nascia uma criança na casa do doutor Aníbal. Ao todo: oito filhos geneticamente distribuídos: quatro homens, quatro mulheres, dois homens morenos e dois louros, duas morenas e duas louras. Quando eu já tinha mais ou menos uns doze anos de idade, comecei a notar que uma das filhas do meu dentista tinha uma beleza que me chamava a atenção, além de uma acentuada meiguice, destacada pela bela e entoada voz quando cantava: “hei você aí, me dá um dinheiro aí...!” Observava, sem jamais ser notado, quando ela saia para a escola com sua fardinha branca sobreposta por um pequeno avental de quadradinhos azuis. Jamais poderia imaginar naquela época, que aquela filha do meu dentista seria minha mulher e doce companheira por essas estradas da vida. Mas o meu futuro sogro, além de filho de um velho amigo do meu pai, era também um de seus melhores amigos. Nos feriados do carnaval e da semana santa, uma caravana de amigos de papai ia para nossa fazenda “Mão Esquerda”, no Pernambuco. Entre esses amigos estavam o prefeito Ossian Araripe, Jósio Araripe, Antonio Luis, Chico Piancó, doutor Aníbal e dona Maria Eneida. Ficava chateado porque eles não levavam os filhos.

Todos os dias de minha vida eu agradeço a Deus por ter proporcionado a graça de casar com Magali, uma das filhas do doutor Aníbal. Ela é tudo aquilo que os olhinhos do meu coração de criança enxergavam e muito mais. Juntamente com seus irmãos, todos eles são herdeiros da simpatia, do caráter, do senso de justiça e respeito ao ser humano, principalmente aos mais pobres, aliado à fidalguia, atributos adquiridos do doutor Aníbal e dona Maria Eneida.

Além dessas qualidades que aqui relacionei, o meu sogro, quando na juventude, era um desportista aplicado. Certa vez, o diretor da Coelce, Espedito Cornélio me disse que nos anos quarenta o doutor Aníbal era o melhor jogador de basquete da seleção cratense. Na hora achei que ele estava falando de outra pessoa. Esta minha dúvida somente foi dissipada no dia em que estávamos no Aeroporto do Juazeiro, para embarcar alguém da família, e lá nos encontramos com o coronel Adauto Bezerra. Ele nos cumprimentou e perguntou: “Aníbal, você ainda joga basquete?” Confirmada mais essa qualidade do meu sogro, depressa descobri outras tantas com muita facilidade: sua inteligência privilegiada era uma delas. No dia em que completou cinqüenta anos de sua formatura no CPOR, fui com ele até a sede da 10a Região Militar para as comemorações. O general comandante lhe entregou uma condecoração e disse para todos os presentes que, até aquela data nenhum aluno do CPOR havia superado as notas do aluno Aníbal Viana de Figueiredo. Ele havia sido aprovado com a nota igual a dez em todas as provas. Nesse instante, olhei para ele e me ocorreu que ele ficou achando que aquele elogio não era com ele, tão simples e desprovido de vaidade era. Se alguém lhe dirigisse um gracejo, ele respondia com outro maior ainda. Certa vez estava em sua casa e ele só me chamava de Eduardo. Como ele estava com mais de oitenta anos e num processo de esclerose, pensei que ele me confundia com seu outro genro Eduardo Siebra. E então brinquei com ele: “Isto é que é gostar do seu genro Eduardo Siebra. Só me chama pelo nome dele.” E ele retrucou imediatamente: “Seu nome não é Carlos Eduardo?” Numa prova de que a inteligência não envelhece e nem desaparece com o passar do tempo.

Outra grande característica da personalidade do meu sogro era a solidariedade aos colegas de profissão. Muito amigo do doutor José Nilo Alves de Sousa, um seu colega desde os bancos escolares do Crato e outro dentista de grande clientela na cidade. Jamais se preocupou com a concorrência. Muito ético, sempre ajudava aos novos dentistas que iniciavam sua profissão no Crato.

Apesar de ter o seu consultório sempre lotado de clientes, o doutor Aníbal nunca fez fortuna com a profissão. Tratava com a mesma distinção ricos e pobres, mesmo quando estes não podiam lhe pagar. Um depoimento que mais me impressionou, foi dado por um homem simples, que veio cumprimentá-lo, certo dia na Praça da Sé, ao lado da Igreja. Depois este senhor me segredou: “Nunca esqueço um grande favor que ele me fez. Bati na porta dele às duas horas da madrugada, debaixo de uma chuva muito forte. Eu estava com uma dor de dente muito grande. Ele levantou-se e foi ao consultório me atender. Perguntei quanto lhe devia e ele me disse que não precisava pagar nada. Então quando eu ia saindo para casa, ele me perguntou: Onde você mora? Na Batateira, respondi. E o doutor me disse: Espere aí que eu vou lhe deixar em casa. E foi tirar o carro da garagem.

Era assim o meu sogro. Pequeno no tamanho, mas grande nas atitudes. Um dos melhores dentistas do Crato, um exemplo de profissional, extraordinária pessoa humana, modelo de verdadeiro cristão e referência para a odontologia cearense.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo