Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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terça-feira, 6 de julho de 2010

Lençol Bege

Tenho medo de esquecer o caminho de casa.
Tenho medo de não saber mais voltar.

Esquecer o nome da minha mãe
e da minha irmã.

Ficar com os olhos entreabertos
e aquele risinho patético no canto.

Não quero mansidão.
Eu quero é confusão mental.

Lembro-me sempre sozinho com minhas vozes.
Desde criança no quintal.
Adolescente na cela.

A estas vozes devo o que sou:
um fantasma delicado.

Tenho medo da minha delicadeza.
De esquecer de chorar e de odiar certas pessoas.

Tenho medo de morrer dormindo.
Não tenho medo da morte.

Tenho ainda mais medo de esquecer o caminho de casa.
Esquecer os rostos da minha mãe e da minha irmã.
As mais próximas e bondosas.

Por enquanto me arrumo como posso.
Pensando.

Com Clarice Lispector.



"Nem tudo o que escrevo resulta numa realização, resulta mais numa tentativa. O que também é um prazer. Pois nem tudo eu quero pegar. Às vezes, quero apenas tocar. Depois, o que toco às vezes floresce e os outros podem pegar com as duas mãos."

O arcaico e o moderno na vida das tias Hig-Tech - José do Vale Pinheiro Feitosa

Esta história demorou a chegar. As minhas tias Raimunda, Rosinha e Maria, com telefone celular, antena parabólica e internet vivem no mundo sem sair do velho e arcaico sertão do Potengi. Os sobrinhos netos dela nem tomarão pulso do que isso significa. E que no tempo deles definitivamente a vida rural que já foi o centro da civilização brasileira, haverá se tornado mais um compartimento urbano, com ar campestre.

Mas isso é apenas para contextualizar que elas, ao contrário vivem uma vida dual: ora acham que a vida real é no mundo e noutra a virtual no sertão. Invertem, por assim dizer, a equação. Resulta em algo diferente esta inversão?

Claro! Pensam em deletar a seca e dar um boot no calor na hora de dormir. Outro dia foi seu Chagas, com o velho caminhão que veio pegar uma carga de milho e deu problema no virabrequim. Tia Rosinha não disse nada para ninguém. Desde a varanda onde se sentava, ouvindo a carga de palavrões que seu Chagas acumulava no rol de seus pecados, pensava em dar um enter na ignição do velho Mercedes. Pelo menos aquela maquinação barulhenta esconderia tantas interjeições do velho motorista.

Outro dia pediram a Chico Véi para ir ao Potengi completar algumas coisas em falta na despensa. Deram o telefone celular de uma delas para se comunicar caso precisasse. Pois bem, de motocicleta, 15 minutos para ir, uma hora para malandrar e comprar e mais 15 minutos para voltar. Após uma hora e meia, tia Maria confirmou no relógio e resolveu ligar para Chico Véi.

Mandou brasa naquele botão verde do celular com tanta força que pensou até ter ouvido “luar do sertão” que era a chamada do telefone que estava com Chico. Foi rápido, dois toques e Chico atendia:

- Pronto!
- Chico?
- Ninhora!
- Onde tu tá?
- Aqui!

Tia Maria virou-se e viu Chico ao seu lado. E pensava que o telefone dela estava com defeito provocando eco na voz de Chico. Esta era a prova fatal de que tinham, pelo meio, modificado a mensagem. Não conheciam Mc Luhan, mas poderiam ir a Wikipedia e tudo se resolveria.

Reunião de emergência. Onde estaria o moderno e o arcaico? Qual o papel do mundo e o do sertão?

A discussão foi acalorada, com consultas ao computador e até telefonemas para os sobrinhos. Finalmente chegaram à sentença:

- Nem o mundo e nem o sertão são arcaicos. – Já haviam chegado às mesmas conclusões que chegaremos no futuro. Não tem mais diferença entre estes compartimentos.
- E o arcaico não existe mais?
- Existe sim senhor. Nem fique avexado.
- O arcaico somos nós. Quando este momento aí se equilibrar não vão entender nada de nós.

As Tias High-tech@arcaico.br.

Festa do Cariricaturas !

Consultamos/informamos:
Colaboradores e leitores distantes, que já haviam comprado e/ou reservado mesas para o dia 23.07 , tendo em vistas a alteração da data para o dia 24.07,
(Carlos Esmeraldo e Magali- Fort
Wilson Dedê- Fort.
Edilma Saraiva-Fort
Assis Lima-Recife
Stela Siebra-Recife
Camila Arraes-Fort
Joaquim Pinheiro-Recife
Rosineide Esmeraldo-Recife
Ismênia Maia-Fort
Everardo Norões-Recife
Marcos Barreto-Salvador
Dr. José Newton e Dona Rute
João Nicodemos-João Pessoa
José Nilton Mariano-
Edmar Cordeiro-Paranavaí)

Confirmem presenças !

Contamos com a compreensão de todos !
Cariricaturas, agradece !

Carmen Costa - por Norma Hauer

CARMEN COSTA
Há dúvidas sobre a data de nascimento de CARMEN COSTA, alguns sites dão como nascida em 5 de janeiro e outros em 5 de julho de 1920. Sempre tive esta última data como sendo a real, inclusive Luiz Vieira, em seu programa "Minha Terra, Nossa Gente", transmitido de 2ª a 6ª feira na Rádio Carioca, tem como certa a data de 5 de julho.
Bom, mas se há dúvida, ela merece ser relembrada hoje e também em 5 de janeiro.
Ela nasceu com o nome de Carmelita Madriaga em Trajano de Moraes (RJ) de onde saiu com 15 anos, vindo para o Rio de Janeiro onde trabalhou como doméstica na casa do cantor Francisco Alves.
Na mesma época passou a se apresentar em programas de calouros, mas somente em 1937, quando conheceu o compositor Henricão, teve sua chance de se transformar na grande cantora que ficou conhecida com o nome de CARMEN COSTA, dado pelo compositor.
No ano seguinte, apresentou-se em um arraial do rancho fundo, em Juiz de Fora e em 1939 regressou ao Rio, apresentando-se na então Feira de Amostras que, anualmente, era montada no local onde hoje se encontram as Avenidas Churchill e Roosevelt, no Castelo.
Ali cantaram as irmãs Carmen e Aurora Miranda, bem como as Irmãs Pagãs, Carlos Galhardo e outros. Na Feira de Amostras era também montado um parque de diversões, conhecido como Parque Shangai.
Em 1942, com Henricão gravou seu primeiro disco , com o samba "Onde Está o Dinheiro?" e foi nesse mesmo ano que "estourou" com "Está Chegando a Hora", uma adaptação do mesmo Henricão para a melodia mexicana "Cielito Lindo". Esse foi seu carro-chefe e ela era sempre chamada a cantá-lo em qualquer parte onde se apresentava.
Separando-se de Henricão, em1945 foi para os Estados Unidos, onde se casou com um americano de nome Hans van Koehler (de ascendência holandesa) e se apresentou em vários "shows", em casas como o Teatro Triboro, em Nova York e em outras cidades, como Nova Jersey e Los Angeles.
Regressando ao Brasil, aqui marcou seus verdadeiros sucessos, regravando,principalmente a adaptação de “Está Chegando a Hora”:

"Quem parte leva saudade de alguém,
que fica chorando de dor.
Por isso não quero chorar,
quando partir meu grande amor.

Ai, ai, ai, ai, está chegando a hora.
O dia já vem raiando, meu bem
Eu tenho que ir embora".

Exatamente, o dia acabara de raiar, quando Carmen partiu,desta vez sem volta.

Carmen ainda conheceu sucessos com "Cachaça; "Só Vendo que Beleza" e "Eu Sou a Outra"
...Ele é casado e eu sou a outra na vida dele....

Ela viveu algum tempo nos Estados Unidos e, em Los Angeles, apresentou-se no famoso "Carneggie Hall".

Coloco aqui a letra de "CACHAÇA" para "matar a sede" da turma do Buteco

Você pensa que cachaça é água
Cachaça não é água não
Cachaça nasce do alambique
E água vem do ribeirão

Pode me faltar tudo na vida
Arroz, feijão e pão
Pode me faltar manteiga
Isso não faz falta não
Pode me faltar o amor
Disto até acho graça
Só não quero que me falte
A danada da cachaça.

A Carmen Costa, meu preito da saudade, de quem nos deixou há apenas 3 anos, em 25 de abril de 2007, aos 87 anos
Norma

Atenção, colaboradores e leitores do Cariricaturas !

Alteração na programação da nossa festa !

Dia 23.07 - almoço literário, no "4 Estações" - 12,00 p/pessoa- entrega da quota de livros devida aos escritores.

Dia 24.07- a partir das 20 h, no Crato Tênis Clube :

- lançamento do livro "Cariricaturas em prosa e verso".
-performances poéticas
-sorteio de brindes- presente de Elmano Pinheiro
-exposição de Telma Saraiva
-coquetel ao som do sax de João Nicodemos
-Baile( 4 hs dançantes com Hugo Linard e Banda)

Mesas à venda por 40,00 ( 4 ingressos e um exemplar do livro Cariricaturas...).
Façam reservas pelo telefone 35232867 ou pelos e-mails:



“Emancipação” distrital - Por: José Nilton Mariano Saraiva

Um estudo isento e criterioso, livre da deletéria e viciada politicagem praticada por alguns, certamente constatará que a maioria dos 5.564 municípios brasileiros depende e sobrevive, fundamentalmente, das institucionais verbas e transferências da União e Estados, já que suas “receitas próprias” sequer chegam para as despesas geradas pela pesada e onerosa estrutura legislativa e executiva municipal.
Especificamente, em relação ao nosso Ceará, tendo por base o exercício de 2009, dos 184 municípios existentes apenas raquíticas 05 (cinco) unidades municipais conseguiram gerar arrecadação própria acima dos 20% necessários ao custeio da máquina administrativa, em comparação às suas receitas totais (conforme parecer do Tribunal de Contas dos Municípios - TCM).
A reflexão acima tem a ver com a “febre” emancipatória de diversos distritos de alguns municípios cearenses, incrivelmente estimulada por ninguém menos que o presidente da Assembléia Legislativa do Estado, um desses políticos que, quer queiram ou não, antevê e visa apenas e tão-somente futuros benefícios pessoais de tal empreitada (além de deputado estadual é candidato à vice-governadoria e a esposa e um dos filhos também na política já militam).
“Distritos”, como sabemos, são áreas contíguas às cidades, mas localizadas fora do seu perímetro urbano, cujos habitantes, organizados em pequenas e produtivas comunidades, carregam a “naturalidade” da sede-mãe original. Portanto, é da umbilical junção da cidade e distrito(s) que se compõe qualquer município (teoricamente, quanto mais “distritos”, maior e mais pujante o município).
A emancipação de um “distrito” à condição de “município” deveria, pois, revestir-se de muita seriedade e prudência, assim como ser analisada de forma criteriosa e objetiva, em razão da “involução” ou penúria que tal medida tende a acarretar. Isso porque, ao contrário do que imagina a “maioria” desinformada (em contraste com “uns poucos” que sabem, mas escondem, por pura conveniência ou mero interesse político), o valor dos recursos institucionais transferidos pela União e Estados não aumentará ou terá qualquer acréscimo em função do surgimento de um novo município; consequentemente, a vigente e sempre defasada verba institucional será dividida com mais gente, mais cidades, mais municípios, provocando a abrupta queda das quotas de todos eles, indistintamente. Um verdadeiro e autêntico retrocesso, em termos de perspectiva desenvolvimentista ou, se preferirem, uma espécie de socialização da miséria, com todas as maléficas conseqüências daí advindas.
A propósito da questão municipalista, um testemunho pessoal: no alvorecer do ano 2009 (aí pelo mês de fevereiro), em reunião promovida pela Associação dos Filhos e Amigos do Crato (AFAC), num dos auditórios da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), aqui em Fortaleza, o prefeito da nossa cidade, visivelmente incomodado com as cobranças e desconfianças sobre o marasmo e timidez da sua administração no tocante à atração de investimentos – oficiais ou particulares - geradores de emprego e renda (contrastando com o incontestável progresso da cidade vizinha), categoricamente soltou a seguinte pérola (ipsis litteris): “O Crato é final de linha; só vai ao Crato quem tem negócios lá”. Estupefatos e decepcionados, muitos dos presentes (em conversas informais, após o evento) interpretaram tal declaração como um atestado insofismável e eloqüente de capitulação, de impotência, de falta de poder e prestígio político, imprescindíveis à alavancagem desenvolvimentista que se pretende para qualquer urbe.
Pois bem, agora, quando um dos nossos principais e importantes distritos – a aprazível Ponta da Serra – desfralda a bandeira da “emancipação”, somos tentados a imaginar que aquela comunidade não pensaria em se desmembrar do Crato se o prefeito da cidade tivesse consciência do compromisso do cargo para o qual foi eleito, através do atendimento aos justos anseios dos munícipes lá residentes (e, não tenham dúvidas, o efeito pedagógico de tal “rebeldia” há que se espalhar celeremente, com outros distritos – Dom Quintino, Lameiro e por aí vai - enveredando pela mesma e improdutiva rota divisionária).
Portanto, um bom prefeito jamais seria favorável à castração territorial do seu município, com a conseqüente diminuição da arrecadação municipal, assim sem mais nem menos, de mão-beijada, como se fora um alívio a implementação de tal medida. E, no entanto, demagogicamente o nosso Prefeito não só afirma peremptoriamente ser favorável à emancipação de Ponta da Serra, como estimula tal atitude (numa mistura de incompetência administrativa e (pseuda) esperteza política), objetivando se eximir de sua responsabilidade de administrar bem o município, como um todo.
Enquanto isso, em pleno “coração” da nossa decadente (há quem não goste da expressão) e sofrida cidade, em sua área mais valorizada, a “pocilga” a céu aberto em que se transformou um dos nossos principais cartões-postais, a Praça da Sé, bem como a dantesca visão “hiroshimesca-nagasakiana” de destruição do nosso logradouro mais concorrido, o calçadão da Siqueira Campos (já há anos literalmente entregue às baratas e ratos, por conta da demolição praticada por um irresponsável, sem que a prefeitura o acione judicialmente, se possível até desapropriando a área, a bem do interesse público), denotam, de forma absolutamente cristalina, o abandono e o descaso a que a cidade se acha relegada. Daí o constrangimento dos cratenses ao ter que circular com os que nos visitam, por e através daquela área de aparência apocalíptica e tenebrosa.
Pra dissimular, a saída do poder municipal é ofertar “pão e circo” aos acomodados munícipes, através da maciça divulgação de premiações fajutas, ofertadas por colunistas sociais sem qualquer credibilidade.
A que ponto chegamos.