Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Nas nuvens...


Sonhos de algodão



Mais um vôo. Pela janela encanto-me com as nuvens e olho-as como se fossem calmas locuções de meu pensamento. No vazio do dia, no vácuo de tudo, as nuvens são nesse momento, frontes de um universo deslumbrante. 

Permaneço calada e em silêncio as vejo deslizar nesse balé luminoso, como sonhos de algodão de uma brancura unânime. 

Me recomponho como um sopro de desejo que modela a vida, como uma idéia que transita pelo pensamento. Sinto-me, então, unificada e continuo a observar as nuvens no seu suave dinamismo. 

Percebo, nessa hora, que sou mais que um corpo, que sou mais que um sonho que se eleva ao espaço inteiro, à luz ilimitada desse céu. Sinto-me ave planando em torno dessas nuvens, no espaço onde eu posso depositar esse sonho transparente.

Claude Bloc

Os suspiros - Emerson Monteiro

Quando ouço alguém suspirar profundo, lembro de um provérbio popular destinado a essas situações, que diz: Quem suspira não tem o que deseja. Bela sabedoria humana perpetuada nessas tiradas impagáveis que o tempo transmite dos pais aos filhos, no vagar dos calendários. Vem pela tal oralidade, boa e ouvida, repassando o conhecimento decantado na mais fina literatura das pessoas que não têm a literatura oficial.

Bom, mas tratar disso indica outras colocações nestas palavras, onde os suspiros, aqueles respirares pespegados de emoção que saem sentidos do coração e esvoaçam no correr das jornadas. De quando se acorda com o peito dolorido das tantas insatisfações, procuras frustradas e esperanças encravadas lá por dentro feitas crianças guardadas que dormem sem querer logo nascer. Sujeitas até nem querer nascer mais, quando os suspiros encruaram e vêm bem fortes, chamando a atenção dos companheiros de quarto que andam ali perto às vezes até suspirando, gemendo e chorando, nesse vale das lágrimas quentes da longa estrada do chão.

Orar lembra, sim, este assunto. Invés de andar suspirando toda hora, há criaturas que rezam primeiro; de terço na mão, balbucia os lábios, olhos conformados e murchos de chorar. Esquecem mesmo de suspirar, partem para a ação de pedir aos santos, a Deus, os lenitivos que aguardam pacientes.

Quase ninguém, neste mundo, entretanto, pode usar a prerrogativa de andar de barriga cheia no que tange isso de felicidade, quando conformação virou fruta rara, posição firme dos apanhados experientes, os chamados realistas. Poucos respeitam a pulsação da natureza e ajeitam viver só no espaço das quatro linhas dos próprios limites, longe de pretender além do que lhe merece.

Os ensinos sagrados repetem as tais necessidade soberanas do respeito às leis que regem a existência, e não contrariam aquilo que recebem de direito. Contudo poucos agem assim. No entanto que jamais devam ultrapassar a conformação, sob pena de virar desilusão e desconforto.

Enquanto demorar a correspondência dos pedidos, suspirar compõe o quadro, e gemer alto pelo menos alivia o que a alma sente e a boca evita transformar nas palavras. Nesse meio turno, os suspiros cumprem a doce função das linguagens quase silenciosas, a demonstrar os sentimentos guardados a sete capas das saudades e dos sonhos queridos que permaneceram misteriosos.