Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 23 de outubro de 2010

As bolas de papel da democracia desejada – Gilson Caroni Filho (*)

Quando as redações da grande imprensa, em campanha aberta pela candidatura Serra, erigem o preconceito como norma de juízo, a mentira não é apenas abominável: é suicida. A opinião pública brasileira dispõe, hoje em dia, dos elementos necessários para julgar os acontecimentos políticos, sociais, econômicos e culturais sem se deixar levar pelo filtro ideológico de conhecidas técnicas de edição. Há muito tempo, a sociedade aprendeu a aquilatar a qualidade ética da informação oferecida, os desvios de apuração e o descompromisso do noticiário com a verdade factual. Não há lugar para atores políticos com indefinição ideológica evidente. Serra não é Lacerda; falta-lhe talento. O PSDB não é a UDN; tem lastro histórico mais precário. Mas em ambos, no candidato e em seu partido, convivem a vergonha de serem ostensivamente autoritários e o medo de serem inteiramente democrático. A face dupla do moralismo udenista, transposto para 2010, realça o desbotamento de um Dorian Gray mal-acabado(...).
A campanha oposicionista padece de velhos vícios e truncamentos de origem. Parece acreditar que o povo, em toda a parte, é uma entidade incapaz e como tal deve ser tratado, sob pena de hecatombe social iminente. Deve-se também ameaçar a esquerda com a hipótese sempre latente de um golpe de Estado. E lembrar aos setores populares, principalmente à nova classe média, que se eles não tiverem juízo virão aí os bichos papões e, com eles, os massacres dos Kulaks, as igrejas fechadas, os asilos psiquiátricos, a supressão da liberdade, em suma, o socialismo sem rosto humano.

Exigir liberdades democráticas não é uma gesticulação romântica, desde que se dêem conseqüências às suas implicações. É preciso apostar na organização crescente das forças sociais com o objetivo de consolidar uma saída definitivamente nacional e popular para temas que vão da questão agrária ao controle social dos meios de comunicação. A análise histórica mostra que, quando não avançamos na democracia concreta, damos aos seus adversários tempo para que se reorganizem, utilizando as oficinas de consenso para caluniar, difamar, fazer o que for necessário, para deter o ímpeto vital que lhes ameaça.
Nos dias de hoje, é preciso senso crítico sempre atilado, não se deixar envolver pela vaga e traiçoeira tese do aperfeiçoamento democrático a qualquer preço, pois as forças retrogradas costumam cobrar bem caro por nossas distrações ou equívocos. Por tudo isso, a eleição de Dilma Rousseff é um passo decisivo para erradicarmos de vez o cartorialismo econômico, a indiferença moral e a incompetência administrativa que marcaram vários governos até 2003 (...)
O que importa saber é que atores são capazes de assegurar uma democracia com ênfase social, assentada também nos direitos individuais e na liberdade econômica. Nesse cenário, as bolinhas de papel passeiam na calçada. O vento – e não mais o cálculo político – dita o rumo de cada uma delas.

(*) Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior, colaborador do Correio do Brasil e do Jornal do Brasil.

Neda

Neda sorria
mas um sorrateiro tiro
apagou seu riso
e a chama em seu corpo

e de não impedir o gesto
do homem que atirou
todos nós
nós todos
nos atiramos de peito
na dor pela perda
da vida inteira de Neda

e todos nós
nós todos
morremos um pouco
com a morte de Neda

e nenhum de nós irá
consolar sua mãe
em tão longínquo Irã
Ciclo
- Claude Bloc -
O sol aos poucos desliza em busca de (re)pouso
Desce majestoso ao acaso, ao ocaso
Esconde-se nas sombras
e se encanta
e nos cimos das cumeeiras adormece
recostado nas solidões noturnas.

Os céus se disfarçam em mil tons de rosa
Em mil sons de prosa
por estes sinfônicos ocasos...
E finalmente a terra se despe sem censura
em áureos espaços,
em amarelos cansados, (in)vertidos
exalando seus incensos salpicados
por suspiros divinos.

E outra vez a luz do dia se evapora
e na noite adormece sem pudor
mais um ciclo se fecha
em plena cor.

Claude Bloc



Eleição pegada - Emerson Monteiro

Afinal, nesta madrugada de 22 de outubro de 2010, veio a esperada chuva do caju, em forma de neblina grossa, que sustentará a florada dos cajueiros e mangueiras, alento bem recebido pelo mundo sertanejo. Acordar ao som das águas caindo nas biqueiras envolve os sonhos, traz alegria e alívio às temperaturas elevadas, acomoda o pó nas estradas, alimentando plantas e bichos. Estiagem desde março, tudo muda com as chuvas. A quadra seca dos últimos meses do ano costuma levantar os olhares dos caboclos às nuvens, acompanhando de perto os confortos da natureza.
Enquanto isto, a vida civil segue seu curso nas várias frentes e ações. Ano eleitoral. Será o segundo turno para presidente no País, e governador em alguns estados. Movimento por demais intenso, acrescenta calor à expectativa, sobretudo com relação ao destino das políticas públicas iniciadas no atual governo. A relativa proximidade nos números do candidato José Serra, do PSDB, com relação aos da primeira situada, Dilma Rousseff, do PT, sugere um pleito pegado até a hora da apuração.
A menos de dez dias da votação, recrudesceram os ânimos das militâncias e opiniões vêm à tona com maior intensidade. Nestas eleições, a Rede Internacional de Computadores (Internet) revelou face antes encoberta da informação, apresentando aspectos diferentes de vídeos, declarações e artigos, numa proporção maior do que nas outras eleições.
O aguçamento das paixões transborda nas atitudes escapam ao domínio tradicional das eleições anteriores, quero crer, porém os riscos da liberdade na escolha dos representantes guardam estreita relação com a verdade e o amadurecimento dos costumes. No caso brasileiro, quase ainda só percorremos o período da adolescência institucional, devido às interrupções sucessivas no curso dos acontecimentos, quase vivendo a fase da experimentação inicial das práticas necessárias. Países mais antigos contam mais de 500 anos de maturidade constitucional, e assim buscam a todo preço garantir valores por vezes ameaçados e sacudidos nos turnos eleitorais.
Querem-se melhorar as escolhas, porém, no dizer do povo, ninguém traz estrela na testa para mostrar o que fará no futuro e quais atitudes adotarão no exercício do poder. Projetos sociais merecem destaques nos programas dos candidatos, sem garantia de certezas absolutas na hora do exercício do mandato. Áreas essenciais, saúde, educação, trabalho, moradia, segurança, significam respeito pela população, paz e desenvolvimento.
Estas lições, se aprendidas e demonstradas, exigem honestidade dos governantes e manutenção das promessas, na vida comunitária. Autoridades devem agir com correção, sobretudo no uso do dinheiro do povo, bem sagrado e escasso. Um homem público se acha, portanto, sob os olhos da multidão. Ninguém vive isolado acima do bem e do mal. Este mundo contraditório reclama de coerência e sabedoria na seleção dos comandos, para a conquista real da justiça em épocas de aprimoramento.

Música para sábado...

La dernière valse
Mireille Mathieu



Música para sábado...

Your song
- Elton John & Ronan Keating -



Música para o sábado

Can't Help Falling in Love
(With lyrics)

- Elvis Presley -


Apesar de Você - ( Amanhã vai ser outro dia... ) - Chico Buarque

Chico Buarque também compôs uma obra maravilhosa que tem tudo a ver com momento atual quando alguns querem calar a imprensa e a verdade, impondo um retrocesso que nos remete ao tempo da ditadura militar porque passamos nos anos 60 e 70, mas que certamente haveremos de expurgar no próximo domingo, afastando a ameaça de cerceamento da liberdade no Brasil.




Apesar De Você

Composição: Chico Buarque

(Crescendo) Amanhã vai ser outro dia x 3

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão

(Coro) Apesar de você
amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro

Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de "desinventar"
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

(Coro2) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria

Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença

E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa
Apesar de você

(Coro3) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia

Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você

(Coro4) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiá??

Foto Nívia Uchôa

Quando o Carnaval Chegar




O sentido das artes não são fixos. Existe um certo mover de eixo, assim como aqueles galos de flandre sobre os telhados e móveis ao vento. Este samba do Chico Buarque, para um filme de Cacá Diegues, hoje tem outro sentido quando da época em que foi lançado na ditadura militar. Hoje, sábado, ele lembra domingo que vem. Lembra o atravessar da semana para quando o carnaval chegar:

Quem me vê sempre parado,
Distante garante que eu não sei sambar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tô só vendo, sabendo,
Sentindo, escutando e não posso falar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu vejo as pernas de louça
Da moça que passa e não posso pegar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Há quanto tempo desejo seu beijo
Molhado de maracujá...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

E quem me ofende, humilhando, pisando,
Pensando que eu vou aturar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

E quem me vê apanhando da vida,
Duvida que eu vá revidar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu vejo a barra do dia surgindo,
Pedindo pra gente cantar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tenho tanta alegria, adiada,
Abafada, quem dera gritar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar...
Máscaras
- Claude Bloc -

Sinto-me atriz neste palco da vida
Nesse palco só meu.
Vivo!
Repito as falas de minhas personagens
Depois de tantos ensaios frustrados
De tanto sonho (des)encantado.
Em cada cena a perfeição
A brancura dos dias
Crescentes
Incorporando as imagens que escolhi,
Na sonolência do tempo.

Em cada fala
Eu me perco para renascer outra
Sempre uma de cada vez
e mais uma vez, vou repassando meu papel...

Último ato e a platéia aplaude o desfecho:
O drama e a comédia de uma vida inteira.
Arrasto-me pelo cenário e no final da trama
Arranco num átimo as máscaras que não vivi
E volto a ser eu mesma, no camarim.


Claude Bloc