Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Faltam 16 dias para a festa de lançamento do nosso livro :"Cariricaturas em verso e prosa"

Triste por todos aqueles que não puderem comparecer  ao encontro.
Feliz  pela oportunidade do encontro, em todos os níveis !
Virtual e real já se confundem.

E lembrem-se :

Dia 23.07- almoço no " 4 estações" 


Dia 24.07- Festa  no Crato Tênis Clube 

20 h - cerimonial de lançamento

21 h- performances poéticas e coquetel.

22h- Baile , animado por Hugo Linard e Banda 


*Já foram reservadas quase todas as mesas ! 

Qualquer dúvida ou maiores informações , entrem em contato conosco !

Edilma, Claude, Socorro e Emerson.

Mercedes Sosa



Mercedes Sosa (San Miguel de Tucumán, 9 de julho de 1935 — Buenos Aires, 4 de outubro de 2009) foi uma cantora argentina de grande apelo popular na América Latina. Com raízes na música folclórica argentina, ela se tornou uma das expoentes do movimento conhecido como Nueva canción. Apelidada de La Negra pelos fãs devido à ascendência ameríndia (no exterior acreditava-se erroneamente que era devido a seus longos cabelos negros), ficou conhecida como a voz dos "sem voz".

Pérola dos bastidores- por José do Vale Pinheiro Feitosa

E agora? O que será do vazio sem a lixa, os ferros e os martelos? 
Como serão as noites sem a solução do inacabado da tarde? 
E as manhãs acordadas para experimentar as soluções urdidas nas noites silenciosas?

Será uma outra arte? 
A de fazer a madeira ecoar as vibrações das cordas de aço? 
A rabeca revirar este mundo que se esconde na música dos astros?

Bucolismo

Talvez esse trem
nunca chegue.

Imaginação somente:
montanhas, sol, lago.

Já caiu o teto
da estação.

A erva daninha
fez dos bancos
almofadas.

E o magnífico tolo
com os olhos seguindo
os trilhos.

Posso me levantar agora.
Mudar de conceito sobre a vida.

Bifurcar minha língua
com o mesmo veneno
da sutil serpente.

Ou bem mais cínico
vestir-me com o fogo
dos olhos dos dragões.

Resolvo permanecer
estirado na cama.

Os olhos perdendo a vista.
Os óculos jogados fora.

O LIVRO DO CARIRICATURAS É DE TODOS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Esta semana assistindo a uma entrevista com um dos melhores atores do atual cinema argentino, Ricardo Darin, vi uma informação que me chamou a atenção. Quando a produção argentina O Segredo dos Teus Olhos ganhou o Oscar, o povo argentino vibrou como se aquela vitória fosse de todos.

Seria assim que gostaria que o povo do Cariri, especialmente do Crato, sentisse em relação ao Livro de Cariricaturas, que está sendo lançado pelo blog do mesmo nome. Sentisse como parte deste livro, tenha ou não assinado algo do seu conteúdo.

Este livro é uma coisa muito maior do que imaginamos a uma primeira vista. Especialmente agora quando tudo é mobilizar, organizar, convocar e fazer acontecer o seu lançamento festivo. Mas já vou adiantar o dia seguinte.

O livro é o renascimento da região após a grande diáspora dos anos 60 quando a primeira grande geração (estou usando um conceito alargado para geração que envolve da metade dos anos 50 até o final dos anos 70) de universitários teve que ir ao litoral encontrar oportunidade. Pois bem, este livro é a desfeita daquele êxodo.

Por isso é que, materialmente, o livro está ligado à internet. Foi este instrumento de telecomunicação e processamento rápido que permitiu este reencontro. Que fez o território ser muito maior do que os que permanecem nele.

Pelo livro do Cariricaturas a região é um centro simbólico além das limitações do espaço e do esquecimento do tempo. Ele desnuda aquilo que suspeitavam estivesse encantado, mas na realidade é um encanto de sedução, pois tudo o mais está tão evidente a quem queira enxergar.
Em 24 de julho quando as páginas começarem a ser lidas, o orgulho de sermos um ente coletivo será maior do que a mera casualidade de ter ali a denominação de autor ou não. Seremos um ser múltiplo como desejam todas as nações.

Seremos um povo. Não uma tribo. Não esqueçamos que os cariris eram um povo. Que os portugueses eram um povo. E os africanos eram muitos, mas com um único cordão umbilical de se tornarem cearenses, caririenses, cratense.

CLIQUES PARA O DIA DA FOTOGRAFIA - Por Edilma Rocha

Fotografar as flores molhadas no jardim

O repousar das borboletas
suavemente


O amarelo feito luz do sol radiante
decorando os recantos do
jardim








O amigo de todas as horas sempre a nos esperar com carinho


A agua cristalina que nos refresca
nos dias quentes do verão






Apimentando o sabor do alimento
As mais simples imagens do nosso dia a dia se tornam nestas imagens
maravilhosamente belas pelo clique
da máquina fotgráfica
Homenagem a todos os fotografos
do CARIRICATURAS







I Copa do Mundo da Macusebe

Não se sabe bem quem teve a idéia de iniciar a terceira guerra mundial a partir de Matozinho. Aquilo parecia iniciativa do Hamas ou da Al- Qaeda , numa tentativa de desestabilizar de vez o Ocidente. Ao menos , debitou-se na conta Suetônio aquela que soava como a nova Jihad. O homem, dado ao carteado e ao lançamento de dominó no Bar do Giba, foi convocado pelo prefeito Salu Bandalheira como Secretário de Esportes de Matozinho. De início, Suetônio até que mostrou serviço, organizou o campeonato de Bila ao Burias, de empinamento de pipa e o de peteca que foram um verdadeiro sucesso. Elogiado por todos, nosso esportista pegou ar na bomba. Aspirando ventos soprados da África do Sul, resolveu promover a I Copa do Mundo de Futebol da Macusebe . O certame envolvia as seleções das cidades da grande Matozinho: Currais, Serrinha e Bertioga.
À primeira vista, Suetônio organizara um evento de suprema importância, integrando as cidades da região através do futebol. Eram tantas as fronteiras que separavam estas vilas, embebidas todas num profundo bairrismo, que a iniciativa parecia louvável. O grande problema só se percebeu às vésperas da abertura da Copa: o risco das partidas se transformarem, definitivamente, numa batalha de campo com muitos mortos e feridos. Os antecedentes não eram muito animadores. Jogadores da defesa gostavam de jogar de foice na mão e a torcida ao invés de bandeiras e faixas, normalmente, empunhava facões e bordunas. O pau ia comer no centro, fosse qual fosse o resultado. Como proporcionar segurança num evento de tamanha magnitude ? Matozinho , escolhida como primeira sede do evento, só tinha dois samangos: mais acostumados a cochilo de preguiçosa do que a investigação e campana. Só às vésperas do primeiro jogo de abertura da Macusebe Copa é que , num sonho, Suetônio despertou para a sinuca de bico em que estava metido.
Atônito, nosso Secretário fez uma reunião de emergência com os funcionários da sua pasta. Resolveram, então, tomar algumas medidas para amenizar o problema. Convenceram o Padre Nó Cego a ser juiz das partidas. Alemãozão de quase dois metros de altura, o homem de voz cavernosa, metia medo em qualquer cristão e era famoso por suas penitências pesadíssimas, que mais pareciam tarefas de gincana. O sacerdote rifugou , mas sob promessa de uma roça verdejante, para seu gado que, em pleno outubro, andava mais magro que o ferrolho da igreja, aceitou. O segundo passo foi convocar Severo e Moraes, os dois soldados municipais, como bandeirinhas. Depois, em carta oficial do prefeito, apelou-se ao espírito patriótico do Coronel Sinfrônio Arnaud, para organizar um exército que desse segurança suficiente às partidas, o que não lhe seria difícil, uma vez que só na fazenda possuía mais de cento e cinqüenta jagunços.
O certo é que na abertura da Copa já se tinha um mínimo esquema de segurança montado. As preocupações de Suetônio não foram de nenhuma maneira excessivas. A rivalidade entre as equipes, se já se mostrava grande nas prévias, se foi acentuando com o passar dos dias. E o pior é que a seleção de Matozinho começou perdendo a primeira partida, o que reacendeu antigas desavenças. A coisa pegou fogo. Alguns colocaram logo a culpa em Geracino, o maior sanfoneiro da região, que, coincidentemente, por uma três vezes, botou-se para torcer um time e ele sempre perdeu. No fim do primeiro turno, a seleção de Bertioga estava em primeiro lugar, para desespero de Matozinho e dos outros concorrentes. O técnico da seleção de Bertioga, Pedro Bãin de Cuia , começou, então a cagar-goma: O campeonato tava no papo, a região não tinha parelha para a sua seleção e por aí vai. Aposta vai, aposta vem, e Pedro jurou de pés juntos que ,se seu time não fosse campeão, ele tirava a roupa e dava uma volta, em pelo, na praça da matriz. Boca falou, cu pagou.
Iniciado o segundo turno, os ventos mudaram para Matozinho. Primeiro, porque já não havia um jogador titular em atividade. Jogavam apenas os reservas. Um pouco por conta da rigidez de Nó Cego que mandou prender uns dez infratores durante os jogos. Depois, em razão das medidas severas de Sinfrônio que já metera peia em mais de dez jogadores e cobrira no relho mais de cinqüenta torcedorezinhos mais rebeldes. Alguns dizem, também, que a recuperação da seleção Matozense deveu-se à reclusão no calabouço do pé-frio Geracino, até o fim do campeonato.
O certo é que a partida final foi emocionante. Naquele domingo , Matozinho e Bertioga se enfrentaram num jogo decisivo de vida ou morte. Zero a Zero até o último minuto quando Nó Cego apitou um pênalti contra Bertioga. O tempo fechou. Bate! Não Bate ! Se bater morre! O certo é que para resolver a questão, o Croronel Sinfrõnio Arnaud adentrou o campo e, arrodedo de jagunços, bateu a penalidade. O goleiro até que tentou pegar o tirozinho mincho do militar, mas foi impedido prontamente por dois cabras do coronel. Gol de Matozinho ! Campeão da Primeira Copa do Mundo do Macusebe.
No dia seguinte, “Bãin de Cuia” teve que cumprir a promessa. Magro que só um sibito com dengue, tirou as ceroulas e saiu correndo em volta da praça, sob os apupos gerais. Ao passar defronte a Igreja da venerada Santa Genoveva, levou um sabacu vindo do ventilador do braço de Nó Cego e desapareceu. Dizem as más línguas que o bicho foi desferido com tamanha peçonha que “Bãin de Cuia”, como um balão, não mais voltou : morreu de sede nos ares.

J. Flávio Vieira

Fronteiras

Se não houver coragem no lombo
e no lóbulo frontal
não se caminha
atento.

Os pássaros quando tombam
despencam na calçada.
Não têm outra chance.

Tu tens duas pernas.
Caminha, homem.

Segue teu dedo em riste.
Teus olhos vermelhos.
Tua boca torta.

Abraça o vento da manhã.
Mas deixa-o passar.

As plantinhas da varanda
já resmungam.

A cafeteira desligada
é um desânimo que dói
na alma.

Sempre em frente, seu moço.
Não pises com tanta força
sobre as folhas secas.

Debaixo delas
bostinha de poodle.

Tu andas de chinelão
com frequência
entre teus dedos
gravetos de oiticica.

Quando tu te deitas
(sinto dizer) apenas
teus pensamentos
te veem.

Então tu te enrolas todo
pensando coisas invisíveis.

Tu não dormes
graças a deus
nem roes
as unhas.

Antes névoas,
hoje janela aberta.

E se porventura
o céu escurece
e as nuvens
cospem na vidraça

é bom tirar as botas
do parapeito.

Entrevista a Marcelo Novaes


Entrevista a Marcelo Novaes:

http://notaderodape-marcelo-novaes.blogspot.com/2010/07/marcelo-conversa-com-jose-carlos-mendes.html

MN: Brandão, Tennessee Williams [um nome adotado, pois dificilmente encontraríamos tantas consoantes e vogais em sucessão num único nome] teve uma vida teatral e transformou isso em teatro. José Carlos Brandão, que faz bons poemas bucólicos, teve uma vida bucólica?


JCMB: Marcelo, não gosto da palavra “bucólica” para a minha poesia. Lembro-me de Marcus Acioly protestando por José Nêumane tê-la usado para falar de meu terceiro livro, “Presença da morte” (1991, Estação Liberdade & Fundação Nestlé de Cultura). O termo “bucólico” soa datado, o séc. XVIII e o Arcadismo – quando não havia um sentimento pastoril autêntico, mas uma poesia do fingimento. Fingia-se por princípio. Mesmo Fernando Pessoa / Caeiro fingia uma “poesia da natureza”.

Não vai nisso nenhum juízo de valor: quase ninguém nega (exceção: João Cabral) que Fernando Pessoa era um poeta enorme. E os Árcades também eram poetas de qualidade. Apenas sou diferente. Desculpe a correção, sei que a intenção sua e de todos que falam em bucolismo é altamente elogiosa. Nêumane, no mesmo parágrafo em que elogia o meu “bucolismo lúcido”, acertou em cheio numa frase simples: “A presença mais forte em seu livro é a da terra.”

Por isso dei o subtítulo “poemas telúricos” ao livro “Memória da terra”, que vou lançar no dia 22 de julho (Eu lhe enviarei um convite em tempo. Será uma honra e um prazer a sua presença. Infelizmente o lançamento será quase doméstico, restrito a minha aldeia, Bauru). São poemas da terra porque eu vivi meus primeiros oito anos na fazenda São José (lembre-se de que meu nome é José) do Matão, onde aprendi a amar a terra.

Não sei por que Manoel de Barros ou Drummond não usaram o termo “telúrico” para sua poesia. Usaram “rupestre”, com muita propriedade – Drummond, por vir de uma Minas rochosa, e Manoel de Barros por se referir a sua poesia como inscrições primitivas na pedra, de uma ingênua e sábia ancestralidade.

Miguel Torga usou o termo “telúrico” – e o que mais fez foi cantar a sua terra, o Marão, e o homem que a trabalha com o seu sangue. Note-se o caráter social, ao lado do telúrico, na obra de Torga.

Note-se ainda que “telúrico” refere-se especificamente ao planeta Terra, mas os poetas usam-na referindo-se ao seu rincão. Toda poesia telúrica que escrevo é uma tentativa de reinventar o Matão da minha infância.


MN: Você cita Tolstói e Miguel Torga para dizer, em outros, que "o cantor deve cantar a sua aldeia para cantar o mundo." Lao Tsé diz algo parecido - ou um "equivalente maior" desta máxima - dizendo que o sábio não precisa sair de casa para conhecer o mundo. De quantos metros quadrados precisa o homem para conhecer-se?


JCMB: O homem não conhece o próprio umbigo e quer explorar o universo infinito. É uma frase de efeito, mas não se pode negar a sua justeza. Para aliviar cito Santo Agostinho dizendo que o homem admira-se com a imensidão cósmica quando a maior maravilha a contemplar é o próprio homem.

Mas a ideia no contexto é que é mais fácil atingir o universal falando do que conhecemos, do nosso quintal, da nossa rua. Da nossa rua chega-se ao bairro, à cidade, ao país, ao mundo. É artificial todo conhecimento que não nos vem diretamente da vida. Pode ser importante o conhecimento livresco, mas sempre carregará essa pecha: “livresco”, com tudo que tem de negativo essa palavra. Vive, depois escreve – esse deve ser o primeiro conselho ao aspirante a escritor. Certo que existem exceções – mas justamente chamamo-las exceções.

“De quanto metros quadrados precisa o homem para conhecer-se?” Convenhamos que o homem nunca vai conhecer-se, portanto é melhor falar do pouco que ele conhece, com simplicidade, lavrando a palavra como o lavrador lavra a terra, sem nunca precisa alardear grandes conhecimentos.

MN: Sendo o seu lirismo essencialmente ligado à natureza [às vezes, bucólico-minimalista, talvez pela apreciação dos hai kais], o que você acha do lirismo-intelectual-urbano? Este lirismo, pra vc, existe, de fato? Ou é pouco mais [ou menos...] do que uma abstração?

Criei um heterônimo, Gregório Vaz, para expressar a revolta contra o que chamei então de “cidade podre”. Foi lá por 1980 - aparecem vários poemas dele no meu livro “Exílio” (1983, Massao Ohno Editor). Hoje parece-me descaracterizado, tentei ressuscitá-lo (http://gregoriovaz.blogspot.com), acho que infrutiferamente. Mas o fato de não ter dado certo comigo não invalida o lirismo urbano.

O mal, desculpe, é você colocar o “intelectual” no meio do vocábulo. Deu certo com Drummond, deu certo com Ferreira Gullar. Com muita experiência de vida e de poesia. O intelectualismo, quando acontece, atrapalha.


JCMB: Quando eu penso em lirismo urbano posso ir para outro aparente extremo, que é o de Germano Mathias, com seu jeito idiossincrático de sambar, seu amálgama e conhecimento dos sambas regionais deste Brasilzão. E quando se ouve Germano Mathias conversando, ele revela que suas leituras - e seu lazer intelectual - é a Metafísica e o Misticismo. Germano Mathias lê metafísicos e místicos e canta sambas de forma sincopada. Eis o lírico-urbano com humor: uma ilustração bastante boa de "paradoxo bem resolvido". Você preza o humor, a ponto de colocá-lo como um dos índices habituais de qualidade de bons escritores [apesar de quase não ver humor em Ferreira Gullar, por exemplo]. Quais são os escritores que ilustrariam este "paradoxo bem resolvido" na perspectiva de José Carlos Brandão?

Gullar se diz um “resmungão”, não sou eu que o vejo sem humor. É um poeta imenso. Resolve esse paradoxo com a lucidez da sua poesia. Nega a metafísica, dizendo-se materialista, mas a sua poesia ilumina – e a iluminação é uma forma de transcendência.

Murilo Mendes, Jorge de Lima, Cecília Meireles fizeram uma poesia com grande carga espiritual. Murilo Mendes sobretudo foi um poeta das coisas concretas – do mais concreto, da pedra, do diamante (veja-se o seu poema a São João da Cruz) chega-se ao transcendente. No caso de São João da Cruz, chega-se ao místico.

Em “O silêncio de Deus” (2009, Edição do autor) tenho um poema que diz: “Escrevo para entrar em êxtase, / Escrevo para ver Deus.” É muita pretensão, mas quem não fica extasiado com a beleza? A iluminação da poesia não transcende a matéria e, assim, nos leva a ver Deus? Os ateus negam Deus, mas falam em transcendência – e eu lembro que o sinônimo de transcendência é Deus.

MN: Você já comentou [em antigo grupo literário] certo apreço por escritores suicidas. Exemplifique um pouco deste apreço, explicando-nos para nós, leitores. E me diga: apreciar suicidas é flertar com a morte em segurança?

JCMB: Fiz um poema chamado “Os poetas suicidas” (que acabei renegando, não é bom) que dizia não só de “certo apreço”, mas de fascínio pelos suicidas. Não consigo entender esse fenômeno. Paul Celan matou-se. Georg Trakl matou-se. São dois dos poetas que mais admiro. É insuportável esse crime contra a vida. Não tem explicação, não tem justificativa. Amaram demais a vida. Como chegaram a extirpá-la?

A morte fascina-me. A porta do mistério. Quando o selo será rompido. A visão do esplendor, a visão sem os freios da matéria. Conhecer, enfim, o incognoscível. Mas não tem explicação o ato de tirar a própria vida. Posso compreender, como no caso de Celan, depois de viver os horrores dos campos de extermínio nazistas, carregando um mundo de horrores nos ombros, que um dia o homem sucumbe. Posso compreender, com a mínima misericórdia que Deus me dá, mas sempre a explicação será insuficiente.

Acho que os suicidas fascinam-me por seu desespero, por sua vontade consciente (?) de assumirem (?) esse ato extremo, pela carga de mistério que carregam quando entram no Mistério.

MN: Lendo um poema meu [você que procura Luz na poesia], se questionou porque tantos cegos seriam poetas. E essa "diatribe", tomando teu próprio termo, te ocorreu lendo meu texto "Clave de Chuva". Diga para nós, Brandão: como é o poema de um cego? É algo como Ray Charles ou Stevie Wonder tocando piano?


JCMB: Vou me repetir: poesia é iluminação. Mais: o poema é tão mais forte quanto mais sensorial. Os cegos, desprovidos de um sentido, têm apurados os outros – e o sensorial, neles, pode manifestar-se mais acuradamente. Veja que falo de grandes poetas: Borges, Homero, Milton. É poesia que ilumina, sem discussão.

“Sem olhos em Gaza” – Huxley sentiu a cegueira da humanidade, que caminhava para a 2ª Guerra Mundial. Huxley também não enxergava muito bem – por isso via mais?

Não sei como é o poema de um cego. Iluminados pela cegueira, os poetas iluminam o mundo. Talvez os poetas sejam cegos, todos eles. Ou nós. Por isso criamos imagens.


MN: Brandão, podemos "enxugar a escrita", desbatando-a até a simplicidade. Mas há trabalho [ou longa caminhada] por sob a simplicidade. Manoel de Barros só pôde/ pode entortar a sintaxe e ser aforístico ou minimalista, por sabê-la [e poder dela se utilizar] reta e caudalosa, se assim o desejar. Por isso [por ser um destrinchador do caudaloso e reto] pode nos apresentar seus "docinhos de coco" [forma curiosa de Guimarães Rosa elogiá-lo...]. Pensando na relação vida-e-obra, também há a árdua luta de Tolstói para adquirir coerência e despojar-se, pouco a pouco, dos seus títulos e excessos [inclusive de bens, para desgosto dos seus próximos...]. Fale um pouco do esforço [ou "caminhada longa e natural"] por detrás da "simplificação da escrita" de José Carlos Brandão.

JCMB: O primeiro livro de poesia que li foi “Os simples”, de Guerra Junqueiro. Imediatamente eu me disse algo como: “Também posso ser poeta. Se as coisas simples da vida, a gente e a terra que eu conheço podem ser matéria de poesia, se o poeta é gente como a gente e não uma abstração, eu também posso ser poeta.” E escrevi meu primeiro poema: “A figueira”. Eu tinha quinze anos de idade e sabia que o poema era primário, fraquíssimo. Não tinha importância, era o começo. Devagar eu aprenderia a técnica do verso.

Quando pensei ter aprendido um pouco de técnica, 35 anos depois, escrevi um poema em prosa sobre a figueira. Logo, um outro ainda em prosa. Pouco depois, um terceiro em forma de soneto, que está em “Memória da terra”.

Mas antes disso muita água rolou. Li os modernistas – Drummond, Bandeira, Murilo, Cecília, Fernando Pessoa. Fiz um curso de Letras, fiz especialização em Teoria da Literatura. Li Jorge de Lima e Mário Faustino, T. S. Eliot, Rilke e Valéry, Raul Bopp e García Lorca, e, enfim, João Cabral de Melo Neto. Aprendi consciência crítica com João Cabral. Foi o que ensinou a toda a poesia brasileira: consciência crítica.

Um parêntese: João Cabral acusa Fernando Pessoa de fazer uma poesia fácil demais, espontânea, como se nascesse sem esforço. Diz que ninguém fez tanto mal à poesia quanto Fernando Pessoa: todo mundo quer fazer poesia como quem respira, sem trabalhar o poema. Mas o oposto também se deu: o jovem passou a pensar que para fazer poesia tinha que ser cerebral como João Cabral, e os poetas passaram a fazer uma poesia dura, difícil de ler (como na “Oficina irritada”, de Drummond). O intelectualismo passou a ser uma marca de qualidade.

Em contrapartida, outros passaram a fazer uma poesia despojada, com o mínimo de recursos, como Oswald de Andrade. Uma poesia desbundada, como pedia o momento crítico que vivíamos, a ditadura militar.

A minha poesia deu de repente um salto de qualidade e dificuldade. O quanto ganhei em maturidade, ganhei também em hermetismo. A questão era exigir o máximo da linguagem, distendê-la a ponto de arrebentar. Era um sonho a naturalidade da linguagem, mas percorria o caminho inverso, com a linguagem em ponto de ebulição e as ideias (porque havia ideias, ao contrário de hoje, quando procuro fazer uma poesia só imagem) refletiam a minha inquietação existencial.

Premiado no Prêmio Estadual de Literatura, do então Estado da Guanabara, em 1974, animei-me a publicar o primeiro livro, “O emparedado”. Quando publiquei o segundo, “Exílio”, tinha conhecido os expressionistas alemães e suas imagens fortes, mas a minha poesia estava já mais descontraída. Cometo a imprudência de criar um heterônimo, e duas partes desse livro são de Gregório Vaz, “Os poemas da cidade podre” e “Sonetos em estado de graça”. A sua linguagem é propositalmente solta, desleixada, um grito de aversão causado pelos problemas da cidade grande (eu estava morando em Santos, mas queria referir-me a uma metrópole).

Em 1989, estava datilografando os poemas da primeira versão de “Memória da terra” para o concurso da V Bienal Nestlé de Literatura, quando deram mais um mês de prazo para a entrega dos originais. Nesse mês escrevi “Presença da morte”, que foi premiado e publicado pela Nestlé. A pressa deixou-o com esse nome horrível, que não leva o leitor a tomá-lo nas mãos como um livro de poemas telúricos, mas desagradavelmente dedicados à morte. Fizeram como capa (sem consultar o autor, lendo apenas o título do livro) uma pintura expressionista simbolizando a morte, horrível, sem nenhuma referência à minha poesia da terra. O que era um leitmotif, denotando a morte da terra, no entanto presente no sangue, tornou-se aparentemente o tema central.

Em 1999 publiquei “Poemas de amor”. Foi um tour de force. Como o poema social e o religioso, o de amor também resvala facilmente para o sentimentalismo, para o desabafo, para a não-poesia. Elegi um leitor ideal: Mário de Andrade. Pensei em Mário lendo os poemas de Manuel Bandeira. Escrevi para ele. O resultado foi o retorno à simplicidade, e o domínio da linguagem, a liberdade de criação.

Em 2009 reuni os poemas dos últimos trinta anos (mas a maioria são recentes) e publiquei numa edição limitadíssima “O silêncio de Deus”. A temática é complexa, a linguagem é despojada, simples.

Por fim, reuni os poemas telúricos dos últimos vinte anos e apresentei o projeto de publicá-los à Lei de Estímulo à Cultura, de Bauru. Com a demora burocrática do desenrolar do projeto, fiz poemas novos, quase todos, para os cem poemas previstos de “Memória da terra”. Parti de Jorge de Lima, que também fazia poesia telúrica, atendo-me à complexidade de seu “Livro de sonetos”e da “Invenção de Orfeu”, mas com Raul Bopp, “Cobra Norato” e “Mironga” cheguei à identificação com a terra. Conheci depois Manoel de Barros, quando tinha já atingido a tal “simplificação da escrita”.

8) Literatura social frequentemente resvala no panfleto. Literatura mística pode recender a homilia ou "sermão" [esqueçamos o Padre Vieira, que fazia o caminho inverso; afinal, ele era um sacerdote formalmente investido desta função...]. Que autores, segundo a sua percepção, foram felizes nas tentativas de evocar tais temas, sem caírem na armadilha da "depauperação da linguagem pelo engajamento" [material ou místico]?

Murilo Mendes é o mais forte poeta religioso brasileiro. Parte do concreto para criar suas imagens, sem nenhuma concessão ao pieguismo. Ao lado dele, Jorge de Lima, um poeta telúrico-religioso, mas cada vez mais preocupado com as possibilidades da forma. Atualmente temos Adélia Prado, poeta sem peias na língua, sem vergonha de sua fé, que expressa diretamente em seus versos tortos (é um elogio, a sua aproximação com Drummond). Ferreira Gullar ilumina o cotidiano com as faíscas da palavra, é um poeta que mostra grande sabedoria em muitos poemas (sabedoria não é elogio, mas quando a poesia veste os véus da sabedoria é quando chegou à excelência). Ledo Ivo persiste há mais de 50 anos na caminhada da poesia como iluminação. E enfim, o poeta de hoje que mais admiro: Alberto da Costa e Silva. Infelizmente publicou muito pouco, mas faz uma poesia límpida, em que consegue tornar perene o efêmero. Parte do telúrico, da recuperação da infância, para o eterno do amor, da comunhão humana.

MN: "Do metafísico ao bucólico, sem deixar de ser metafísico". Poderia ser esta uma das legendas de tua trajetória poética. Explique-nos, por favor, tal "rubrica" por mim apresentada, e que alguns dos teus leitores comentam, menos sucintamente, também observar. Esclareça a eles, também, este não-paradoxo.

JCMB: Procuro não trabalhar com ideias, mas deixar que as imagens iluminem a realidade do poema. Toda iluminação leva ao metafísico. Toda poesia, para ser poesia, é iluminação – e a iluminação é metafísica. É exagero dizer que toda poesia é metafísica? O fim da poesia é transcender a realidade, portanto, é metafísica.

MN: "Escrevo porque vou morrer", é um lema esclarecedor que você adota, e que foi comentado numa entrevista anterior, dada pelo Édson Bueno de Camargo, um dos apreciadores do teu trabalho. Você já escreveu o suficiente para partir em Paz, quando a hora chegar? A fala [não pelo que diz aos outros, mas pelo que faz ao próprio "dizente"] ajuda a atravessar a opacidade do mundo e alcançar a transcendência?

JCMB: O Edson citou de memória meu poemeto “Motivo”: “Faço poesia / porque vou morrer.” Acho que já expliquei, acima, essa ideia. E você também: o fim da poesia é a transcendência.

A consciência da morte dá grandeza ao homem, em lugar de limitá-lo. Saber do mergulho no mistério. Não escrever “o suficiente para partir em Paz, quando a hora chegar”, mas escrever porque se está vivo. A realidade é muito pouca, é preciso transcendê-la. É preciso dar o testemunho de que se está vivo. Da grandeza humana diante da pequenez do cotidiano. Eu escrevi num poema: “Escrever é um testemunho da alegria” – da alegria de estar vivo, de participar da beleza da Criação.

A essência da poesia é a falta de sentido do universo, da palavra, da vida e da morte. O poeta precisa gravar a lápide porque sabe que aquele instante não vai sobreviver. Precisa organizar o mundo para a morte. O êxtase da vida é desorganizado pela morte. O poeta escreve para gravar esse êxtase.

MN: Obrigado, Brandão!

JCMB: Obrigado, Marcelo!

É com imensa alegria que informo aos amigos que concluí a criação de minha nova rabeca.
Feita de Cedro, Imburana, Imbuia, Pau d'arco (ypê) e Amarelão.
Foram 12 dias de trabalho intenso, tempo integral, inclusive sonhando as soluções durante as noites... Valeu o trabalho!!! Seu som é muito bom, e melhora com o uso e o tempo...
A Perfeição humana é continuar buscando...
Gratidão aos amigos que me apoiaram!

COISAS DA VIDA - Por Edilma Rocha

Era tempo de complô entre os empregados que se uniram e bateram em retirada deixando-me sozinha para assumir a rotina da casa em que vivia. A moça simples do interior, filha única, prendada e que se dizia artista precisava esquecer tudo e partir para os trabalhos domésticos na limpeza da casa, na cozinha e ainda cumprir o seu papel na maternidade. Meu mundo era extenso demais em afazeres que começavam ao amanhecer o dia e terminavam a noite , estafada num sono profundo. E ia tocando a vida como poderia ser... Viva e eléctrica mais parecia um brinquedo que alguém deu corda e soltou pelo mundo. Começava o dia preparando os meninos para a escola, limpos, fardados, alimentados, prontos e com a lancheira debaixo dos braços, para depois deixa-los no Andreas Educativo. Retornava e ficando sozinha, teria que dar água e comida aos pássaros e animais que eram muitos num mine zoológico. Depois limpar a casa e preparar a comida entre uma corrida do tanque de roupas ao telefone sem deixar queimar as panelas no fogão. E logo já estava na hora de pegar os meninos de volta da escola para depois limpar tudo na cozinha, ajudar nas tarefas de casa, aguar o jardim e retirar as folhas da piscina. E nem promessa de conseguir alguém para me ajudar... Morava afastada da cidade, sozinha com os filhos em uma terra estranha e quente e os parentes estavam a mais ou menos 800 quilómetros dali. Não tinha para quem recorrer. Tinha que correr mesmo era para dar conta dos trabalhos em casa.
Muito longe dali num projecto agro pecuário perdido entre matas distantes de qualquer cidade, aconteceu um acidente grave com um funcionário. O tractor da fazenda passou por cima de um rapaz quebrando-lhe a bacia e as duas pernas. Pediram auxílio pelo rádio e um avião foi enviado imediatamente para socorrer a vítima. O meu esposo era o piloto. Chegando ao hospital cuidaram de engessa-lo da cintura para baixo e o colocaram numa maca no corredor para ir para casa.
_ Mas que casa ? Se não conhecia uma só pessoa naquela cidade da capital ? Só sabia mesmo o nome do comandante do avião que o deixara ali e nada mais...
Pelo nome, o hospital localizou o telefone e ligou para mandar buscar o doente pois assinou como responsável na ficha médica.
Coisas que a vida nos trás... Saí de casa e fui buscar o rapaz imobilizado, sozinho, a mercê da sorte para dar abrigo e cuidados especiais. Ele era jovem, 22 anos, um negro forte e musculoso, estatura média e cheio de pudores com uma expressão estampada no rosto puxando a camisa para lhe cobrir as partes intimas a mostra. Nunca imaginou que seria uma mulher sozinha que iria apanha-lo, mas mesmo assim sentindo-se desprotegido, deixou revelar num grande sorriso os lindos dentes brancos e perfeitos, em alegria. Pelo caminho fui conversando e explicando a situação em que me encontrava mas que não iria deixa-lo sem protecção, pois o comandante passava dias fora de casa fazendo os seus voos de táxi aéreo e eu ajudaria no que fosse necessário.
A vida tem o poder de colocar coisas e pessoas diante de nós repentinamente. Aquele rapaz chegou no local certo e na hora errada. Eu poderia ter me negado a aceita-lo na minha casa alegando muitos motivos para isso. Mas não o fiz! Era contra a minha natureza virar as costas a alguém naquela situação. Seria dificel, mas mais dificel era o estado em que se encontrava . Ficar na casa de estranhos a espera da caridade alheia... E me disponibilizei a fazer todos os sacrifícios para ajudar na sua recuperação.
Chegando em casa recorri a um vizinho para ajudar a coloca-l0 na cama do quartinho e daí para frente passei a cuidar de um hóspede num dos momentos mais complicados de uma dona de casa. Só podia ir ao quartinho nas horas das alimentações e limpezas pois a casa me absorvia demais... O calor era insuportável e eu tinha muita dó dele entregue a sua sorte, sozinho entre quatro paredes quentes sem poder mover-se. Sempre que eu aparecia se irradiava no seu rosto aquele sorriso bonito e agradecido. Só mudava a expressão quando eu o ajudava discretamente no manuseio da aparadeira e no coletor de urina, mas me retirava rapidamente deixando-o a vontade.
O tempo foi passando e fui me acostumando com o hóspede do quartinho, o seu sorriso era tão bonito que me dava forças para continuar firme naquele momento dificel da minha vida. Os meninos passaram a gostar dele e todas as tardes ficavam por lá ouvindo as suas histórias da vida no interior, as caçadas no mato e os banhos no açude e eu sem conseguir ninguém para me ajudar... Passados 3 meses o seu patrão enviou um carro para leva-lo de volta a fazenda e eu vi que ficou aliviado por mim. Envolto no lençol branco foi colocado no banco de trás, acomodou-se e se despediu de uma situação, de uma cidade, de uma casa, dos meninos e de mim. Segurou a minha mão e deu um beijo agradecido. Esboçou o seu último sorriso antes de partir e disse-me...
_ Que Deus lhe pague !
_ Nunca esquecerei o brilho dos seus olhos !
Edilma Rocha
Casa de Infância
- Claude Bloc -


Volto a este útero macio que me acolhe
Casa da infância
Quase em degredo...
Busco este sentimento
Infinito
Contido em si mesmo
Inesgotável, concêntrico
Revigorado...
Encontro portas abertas
E deixo-me ficar neste abraço
Gentil e materno
Nesta morna e suave acolhida.
Nada é tão forte
Quanto a ânsia de percorrer
Esta obra de arte esculpida em minha saudade...
A cada passo, um gesto, um suspiro
O tímido afago nos recantos queridos
A sensibilidade intuitiva
De poder reconhecer
Dentre as sombras e o abandono
A perfeição
A paz de um momento absoluto.
***
Foto: Bertrand Bloc
Texto: Claude Bloc (2008)

Pensamento para o Dia 08/07/2010


“A vida como renunciante (Sanyasa) não significa a simples aceitação das quatro fases da vida, de seus direitos e deveres, e a retirada para a floresta após romper os contatos com o mundo. Os renunciantes devem mover-se entre as pessoas, devem tornar-se conscientes de suas tristezas e alegrias, e devem transmitir as instruções de que elas enormemente precisam. Eles devem transformar a sociedade para que seja livre do vício e da maldade através de seus ensinamentos.”
Sathya Sai Baba

Dia do Fotógrafo...

Todos temos uma câmera fotográfica , com recurso ou sem recurso.
Poucos conseguem dela tirar o máximo, o extraordinário !
Mas é impressionante como esse Cariri juntou talentos.
Alem de Pachelly, Samuel, Claude, Edilma, Nívia Uchôa,Emerson, Telma Saraiva, Nicodemos,Heládio Teles , Mário Vítor, Alan, Bola, muitos são os outros !


Restam poucos, alguns como eu, que mal sabem disparar a máquina .Clicam com preguiça, querendo registrar a emoção num verso, muitos vezes, nem escrito !


Aos nossos fotógrafos,no dia de hoje, um grande abraço !

Por Artur Gomes


como é possível encarnar o impossível?

diga-me grande deus/pessoa
como é possível encarnar o impossível?
a flauta toca as vértebras
vazando carnes e músculos
antes da chegada aos ossos
a água na pele são rajadas elétricas
como facões no escuro
luz da paixão d/entre o caos
estilhaços da alma sem dó
eu falo do que posso
mar estético mangue estático
e este desejo tântrico de não ser daqui
cacomanga era uma terra intacta
em seus milênios de solidão
cavalos pastam nas cocheiras
esporas na pele borboletas
eu tenho os nervos de nylon
cordões esticados na sala
a língua retesada pra fora
lâmpadas de gás me devoram
faíscas da dor no trovão
o poema vai nascendo outro
explode no ventre/palavras
em intestinos roucos
num temporal de letras
que nunca se completam
nesta cidade de morrer na praia.
Artur Gomes
http://artur-gomes.blogspot.com





Conjugação Da Ausente
Vinicius de Moraes


Foram precisos mais dez anos e oito quilos
Muitas cãs e um princípio de abdômen
(Sem falar na Segunda Grande Guerra,
na descoberta da penicilina e na desagregação do átomo)
Foram precisos dois filhos e sete casas
(Em lugares como São Paulo, Londres, Cascais, lpanema e Hollywood)
Foram precisos três livros de poesia e uma operação de apendicite
Algumas prevaricações e um exequatur
Fora preciso a aquisição de uma consciência política
E de incontáveis garrafas;
fora preciso um desastre de avião
Foram precisas separações, tantas separações
Uma separação...
Tua graça caminha pela casa
Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...Amiga! direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida. Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.
Postado por Socorro Moreira às 06:26 0 comentários
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Meu primeiro amigo - Para Joaquim Pinheiro Bezerra de Meneses - Socorro Moreira

Passeio





Passeio

A formiguinha passeava
Sobre as pétalas da camélia.
Uma gota de orvalho refletia
A minha cara e o bico de um sabiá.

As pedras eram verdes de limo,
Os caracóis sorriam ao sol.
As samambaias e as avencas pendiam
As folhinhas crespas para a água da mina.

As árvores conversavam comigo,
Contavam casos de raízes e líquenes.
Um ouriço trepava na figueira.
Os guizos da cascavel tilintavam.

O meu cavalo resfolegava na estrada.
O meu cachorro arfava de cansaço.
O sabiá-laranjeira cantava para mim.
Vinham tantos cheiros na minha língua.

_________

Hoje é o dia do FOTÓGRAFO !

Votos de louvor a toda essa galera de artistas , que possue olhar privilegiado !

Cariricaturas, parabeniza !

Acabamos de receber esta notícia para nossa alegria !


Caros Amigos,

Saiu hoje o resultado do Prêmio Literário da SECULT, quando concorremos em Literatura Infantil com o Livro : "O Mistério das 13 Portas no Castelo Encantado da Ponte Fantástica" . O Projeto traz anexo um Audio-Book e um CD com músicas de personagens míticos do Cariri ( Príncipe Ribamar, Maria Caboré, Tandô, Capela, Zé de Matos, Vicente Finim, Seu Jefferson do Fundão, o Beato Zé Lourenço, Canena, Zé Bedeu, etc) , com músicas compostas por nossos maiores compositores ( Abidoral,Salatiel, Pachelly, Zé Newton, Nicodemos, Lifanco, Ibbertson,Amélia Coelho, Fidelis, luciano Brayner, Ulisses...) ; e o projeto gráfico é do grande Reginaldo Farias. Pois é amigos deu zebra e fomos contemplados. Tou saindo de férias e, quando retornar, vamos tocar este projetinho que envolve tantos artistas e amigos próximos e fala de pessoas tão queridas.

Abraço,

Zé Flávio

Festa do Cariricaturas ! 23 e 24 de Julho de 2010 !

Dia 23.07 - Congraçamento entre escritores/ colaboradores - restaurante  "4  Estações ".
Entrega da quota de livros devida aos escritores.
Almoço literário - 12,00 por pessoa

Dia 24.07 - a partir de 20 h, no Crato Tênis Clube:
-lançamento do livro " Cariricaturas em prosa e verso"
-exposição  de Telma Saraiva
-sorteios de brindes - presente de Elmano Pinheiro
-performances poéticas
-coquetel
-baile ao som da Banda de Hugo Linard.

Mesas à venda por 40,00 ( 4 ingressos e um exemplar do livro)

Reservas pelo telefone : 35232867 ( socorro moreira)

Disponíveis : 25 
Posição em 8.7.2010

Colaboradores, Leitores amigos, a festa é nossa !