Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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terça-feira, 28 de julho de 2009

Mais tarde

É engano a fumaça
que maltrata os pulmões
e some pela janela.

É uma tristeza
a felicidade monótona
que alegra o peito.

Não trago pólvora
nos cílios

mas a cada piscadela
faz-se um estrondo.

Caem as últimas paredes do quarto.

Prato do dia:
Porradas ao molho de terça
Acorde cedo. Facilita. Abra os olhos, olhe pros pés, pras mãos e levante. Tem sempre alguma coisa pra fazer antes que você possa saber bem o que ta acontecendo. Então? Sentiu? É só um gostinho da porrada que vai alimentar o dia, o dial, o dedo duro. O espelho do banheiro não está louco. Nada de drogas de manhã – por favor. É você sim. Olhou pros dentes? Estão necessariamente limpos? Saia. Tem alguém do lado de fora esperando a vez. Ou você acha que tem todo o tempo do mundo? Roupa no ponto. Sapatos? Sandálias? Prossiga, sem elucubrações, por favor. Tem uma filha dizendo que está faltando alguma coisa pra ela. A outra também sabe que tinha que dizer alguma coisa, mas esqueceu. Depois diz. Vem porrada, pode acreditar. Se ligou no relógio? Então meu camarada. Caia fora. Puta que pariu! Esqueceu de tomar o remédio? Dançou compadre. O estômago vai tocar um hardcore detonado. E então vento no rosto. A pequena motoneta anda a sessenta na estrada fodida. Reza cara. Reza. Senão o carro em frente freia de vez e tu ta na merda. Reza. Senão o escroto do caminhoneiro cheio de arrebite te usa como rampa. Porrada feia meu irmão. Anda. Rápido. Tem de carregar primeiro o que vai pra mais longe. Se liga na peãozada. Tem dois malocados no banheiro. Maconha na certa, ou crack. Porrada no quengo. Vambora caralho! Se ligou na hora? O telefone ta tocando. O cara não veio. O cara não pagou. O cara diz que a mercadoria não chegou. E você? Lendo um livro? E você recebe salário pra ler? Levanta porra. Olha a porrada. Olha o jacaré de olho na tua bunda. Olha o relógio. Cadê a porra das cordas? E as cantoneiras? Desligue o som dos ouvidos porra! Tem alguém gritando o teu nome. Não resmungue. Preste atenção. Olhe pra frente. Se ligou no relógio? Vontade de cheirar uma né? Nem tente. Vão notar. Toma um arrebite. Dois. Bebe um conhaque. Acorda cara! Viu o relógio? Desliga a máquina. Presta atenção, deixaram as luzes acesas. Então? Vai lá, apaga. Porrada meu nêgo, porrada. Suba na motoneta, lembra de levar a encomenda. Chegou? Bom, tuas filhas aprontaram. Tem de ser mais rígido. Mas nem tanto. Tem de falar com calma, mas nem tanto. Misture. Engula. Melhor não deitar. E o remédio do estômago, tomou? Agora não adianta né? Pelo menos deita. A porrada vai continuar. Quinze pras duas seu otário! Vai perder a hora. Vai perder o bonde da história. Vai perder a vida se não ficar ligado no sinal. Desliga os pensamentos. Vontade de escutar uma música? Vontade de conversar fiado? Vontade de viajar só de ida? Cala a boca. Cola a boca. Sem rir sem falar sem rir sem falar. Faltaram dois peões? Te vira. O serviço não faltou. Então? Ta esperando o que? Se liga no caminhão que chegou. Vai pro rio. É carga de horário. Puta que pariu! Choveu? O caminhão quebrou? A fiscalização embaçou? Te vira malandro! Pra que tem internet nessa merda? Faz contato. Resolve. Se vira. Olha a hora. Uma briga no meio da máquina. Se mete. Interfere. Resolve. Babão! Filho da puta! Ladrão! E o caminhão? Ta carregando? Ratos de porão, só um refrão na cabeça. Esqueça. Fume um. Mais um. Mais um. Olha a hora. Sentado? Isso é que é vida. Piada de patrão é ordem sinistra. Então meu amor, levante. Quem ta preocupado com o que você pensa? Ou quer? Olha a hora. Carregou tudo? Fez tudo? Deu certo? Nada de mais. É teu papel fazer dar certo. Queria o quê? Um elogio? Faz-me rir! Faz-me rir. Noite já? Noite já. Nunca há tempo. Viu o por do sol? Que sol? Roubaram a máquina fotográfica? Dane-se. Ria de si mesmo. Faça uma piada, agora pode. Mas não exagere. Senão vomita. Porrada sempre, vossa excelência. Lar doce lar? Um caralho! Então? Pagou água? Luz? Plano de saúde das filhas? Tomou o remédio? Você fuma demais. Vai morrer de câncer. Porrada por dentro seu acéfalo de merda. Então? Preparado? Aqueça o dia em mágoa materna. Escute. Olhe pros lados. Acenda o cigarro. Mexa um pouco, senão engrossa. Fale, mesmo sabendo que não está sendo escutado. Um pouco mais de mágoa? Coisas do arco da velha então. Sem abstrações, por favor. Elas engrossam o caldo, fica ruim de engolir. Já tinha botado as abstrações? Tempere um pouco com sonhos na realizados. Com viagens nunca feitas. Com projetos engavetados. Mais um pouco de mágoa matriarcal. Forte. Vigorosa. Acenda mais um. Suspiros? Que bobagem. Você não é Ginsberg seu fodido. Ta pronto. Engula e corra pro banheiro. Olha no espelho. Treina um sorriso. Sai. Senta. Espera. Amanhã? Qual o cardápio? Você é incorrigível meu caro. Nesse bistrô onde você é sócio, o prato é sempre o mesmo.

Eu Vi

Os sonhos são migalhas
do trapo humano que somos

mas é a vida que temos
e devemos louvá-la

soltando uivos
debaixo da lua minguante

os pés pelados
em água quente

as mãos postas
os dedos entrelaçados
o ventilador limpo.

Filho, não pule do abismo
com medo de bicho peçonhento.

Esmague,
esmague a cauda
e ponha guizos.

NOITE DE ZEPELLINS - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Por volta das dezessete horas o céu foi tomado por centenas de zepelins voando baixo. Vinham do pôr do sol rumando para leste. Envolvendo a paisagem das janelas, escondendo o Corcovado, os Dois Irmãos e todo maciço da tijuca.

Da propulsão central sopravam ventos em corredores de arrasto. Vergando ventarolas, derrubando baldes, rodopiando calendários. Um canto ultra natural por onde uma esquina houvesse em possibilidade de corda vocal.

Neste estágio de tensão, a eletricidade cessa imediatamente. É regra aqui no pedaço. De vez em quando uma ilha de obscuridade no meio da cidade. Herança mal resolvida das privatizações que prometiam e não cumpriam.

Quem sabe o ex-presidente da era das concessões não se sinta responsável. Talvez o problema seja apenas nosso mesmo. Mas tem um denominador comum: a Light. A flor do patrimonialismo nacional, desde as maracutaias canadenses, o Estado e o privado.

E voltei aos tempos rurais. Um macarrão por arranjo, entulhos das carnes já prontas, cebola, tomate, alho, ketchup e mostarda. Um prato para apenas um, literalmente, sem qualquer ironia, à luz de vela.

E fui para a janela olhar a noite. Quando os faróis dos carros formam jatos de luz por sobre o calçamento escondido.

De repente algum farol projeta luz num dos quartos. O Cristo Redentor brilha lá no alto da pedra da cor da falta de eletricidade.

Na falta do que fazer, fui para a janela observar o movimento da noite.Mas não retornei ao tempo em que o lampião era a regra. Na verdade estava grávido, esperando a luz para que tivesse esta tela, a televisão, o cinema, orquestra e a claridade das páginas do livro.

O que mais impressiona é o repente. Acostumados que fôramos ao acumular até que o novo acontecesse. E não existem estágios, etapas, um montante a parti do qual tudo acontece. Num piscar de olhos tudo retorna e tudo é.

Mas se um dia não houver mais repentes. A demora até desmilinguir-se em fatos e ocasiões será mínima. Tudo é muito crítico, muito potencial, basta que a eletricidade não retorne e os cabos de comunicação se rompam.
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AS DIMENSÕES DO TRABALHO HUMANO E SUAS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO E NO SER

A "PONTE" DE NIETZSCHE

Num mundo contemporâneo veloz onde as perguntas e as respostas já estão “filmadas”, “apostiladas” e condensadas para o uso imediato, o indivíduo sugestionado e atarefado torna-se um consumidor do conhecimento e raramente usa o seu poder de sensibilidade sutil pessoal para produzir e criar o seu próprio conhecimento. Em outras palavras, o conhecimento acaba também se transformando em matéria-mercadoria para ser comercializada e consumida em larga escala. E o trabalhador inserido num mundo material mercadológico acaba sendo “adestrado” (treinado) para servir apenas a um propósito de crescimento técnico-estético sem uma base de visão ética. Pois, segundo EINSTEIN (idem):

"Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário, que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do que uma criatura harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a compreender as motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias para determinar com exatidão seu lugar exato em relação a seus próximos e a comunidade.
[...] Os excessos do sistema de competição e da especialização prematura, sob o falacioso pretexto de eficácia, assassinam qualquer vida cultural e chegam a suprimir os progressos nas ciências do futuro" (pp.27- 29).

Ainda segundo Einstein (idem):

“O mistério da vida me causa a mais forte emoção. É o sentimento que suscita a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência. Se alguém não conhece esta sensação ou não pode mais experimentar espanto ou surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram (p.12).

A prática ininterrupta do sistema de competição capitalista cria no interior da natureza humana um esquema de pensamento que orienta todas as ações mentais, emocionais e existenciais do fenômeno humano. O indivíduo vive para trabalhar e competir utilitariamente e nunca para desfrutar o valor da sua existência. A sua existência passa despercebida. Ele em nenhum momento se toca de que a existência é muito superior à sobrevivência. Pois, em nenhum momento sequer a prática competitiva capitalista deixa espaço para um autoquestionamento e auto-observação dos impulsos subjacentes responsáveis pelo equilíbrio existencial do verdadeiro Eu.

Isto porque quando o ser age ele faz atendendo a uma ordem de realização e a um impulso de valor que pode ser de origem fisiológica, psicológica ou ontológica. E num sentido específíco, isto é, psico-físico ou onto-psíquico. A ação do ser faz com que ele consuma energia. E por isso ele deve repor a energia gasta, com descanso e na transformação fisiológica, por exemplo, do dinheiro em mercadoria comprando nutrientes com o dinheiro que ganhou na venda de sua força de trabalho. E assim quando o ser sente que precisa organizar melhor a produção do seu trabalho procura transformar psicologicamente o potencial da sua consciência. Devido a isso, naturalmente ele cria uma necessidade no sentido de aprimorar os seus conhecimentos objetivos sobre seu mundo humano, sobre a natureza que lhe cerca e sobre as técnicas inventadas. Da mesma forma, quando o ser percebe a fragilidade de sua vida ele se sente inseguro porque não quer perdê-la. E para tanto ele deseja ardentemente transformar ontologicamente a sua insegurança em segurança. Na ausência de um saber e de um poder apropriado para realizar essa difícil transformação ontológica, ele compensa objetivamente essa transformação acumulando psicologicamente o produto e o valor do seu trabalho para que não lhe falte o quantum (diferente de quantidade) de energia, o quantum de consciência e o quantum de segurança necessários para uma sobrevivência futura. Nesse sentido, o ser acaba “esquecendo” (abstraindo ou cortando ou invalidando) a dimensão existencial do Eu.

Nesses três aspectos, o trabalho está implícito no processo de transformação do dinheiro em mercadoria, de um estado de consciência para um outro estado superior e na insegurança em segurança. Pode-se perceber que três ordens e três níveis de realização estão presentes na transformação: o fisiológico, o psicológico e o ontológico.

Essas três ordens estão sempre presentes no mundo humano. O mundo social reflete a tensão formada entre elas. E como o indivíduo é uma dimensão do ser que “opta” pela ordem social (moral ou imoral), é natural que o conflito surja na medida que a divisão social do trabalho e do seu valor, quando tratados apenas como divisão de tarefas e de dinheiro, descaracteriza um processo amplo e complexo de transformação e harmonização de energia, consciência e vida. E assim inevitavelmente o ser é conduzido a uma prática de transformação incompleta e inconsciente gerando, propagando e aumentando no grupo social um perfeito desequilíbrio ético.

O equilíbrio é a resposta da harmonização na transformação completa onde todos os elementos do conjunto social são atendidos satisfatoriamente em suas necessidades fisiológicas, psicológicas e ontológicas, ou seja, são atendidos tanto no aspecto energético de descanso e distribuição de alimento quanto nos aspectos sutis de crescimento e qualificação da consciência e de oportunidade de se viver seguramente. E na ausência do equilíbrio a saúde social e individual são comprometidas. A sociedade se desorganiza polarizando e distribuindo a divisão da produção coletiva segundo uma orientação sem a força do sentido ético-ontológico (espiritual). A ética se torna psicológica nos modelos políticos-econômicos de sobrevivência. O ser vive sem compreender os aspectos existenciais que o afeta, não conquistando dessa forma a sua identidade existencial e, portanto, não se completando em si mesmo. E por isso mesmo perde a sua saúde ontológica. O indivíduo não adquire a visão de si e do todo que o cerca.

É de vital importância que o conceito de trabalho seja praticado em seu significado mais técnico e humano, ou seja, trabalho é o potencial de energia (e também de consciência e de vida) necessária num determinado processo de transformação. Nesse sentido, é extremamente importante que se diferencie trabalho de emprego. Assim, emprego é o vínculo formal ou informal estabelecido entre o dono dos meios de produção e o trabalhador. O que se faz comumente é misturar os dois conceitos como se os fenômenos fossem um só. Mas, eles não são iguais. E da mesma forma, o trabalho exterior não é o mesmo que o trabalho interior. São trabalhos complementares. A crise do homem moderno é em essência uma questão também do sentido do trabalho humano: para fora de si ou para dentro de si. As práticas de ioga e todas as disciplinas religiosas e espirituais são na verdade trabalho direcionado para uma mudança do mundo interior humano (ético-existencial).

O trabalho que Karl Marx tanto discutiu e brilhantemente esclareceu diz respeito unicamente ao trabalho exterior de mudança individual-social. A nossa incapacidade de compreender os limites e impactos desses dois trabalhos é que produz desequilíbrio e injustiça uma vez que sem o trabalho interior o homem não produz valores verdadeiros e éticos (Grecos-cristãos). E sem essa base ética nada que produzimos ou criamos criará na sociedade um mundo de igualdade e liberdade (lembremos do Cristo quando disse mais ou menos assim: “Quem seguir meus mandamentos [éticos-espirituais] é como construir um alicerce sobre uma rocha...e virá a chuva e a tempestade e ela não cairá. E aquele que não seguir meus mandamentos criará um alicerce sobre a areia...e quando vier a chuva e a tempestade essa casa desabará”. A partir dessa perspectiva cristã muitas “casas-mundo" estão desabando na vida moderna utilitária e produtiva. As doenças, violências e injustiças são conseqüências também desse processo. Nada acontece por acaso e sem um trabalho de transformação específica. A nossa realidade é governada por Energia e Leis! Por isso, a necessidade de se qualificar e expandir a consciência melhorando nossa visão de mundo - fé, vontade, inteligência e sensibilidade. Se não avançarmos estaremos muito próximo do reino animal - agindo como tal! Pois, segundo Nietzsche: “ o homem é uma ponte entre o animal e o supra-humano”.

A Solidão do Sr. Smith

A notícia saiu , num Caderno secundário, tombada num pé de página de jornal. Uma dessas notas , de poucas linhas, que em geral passam desapercebidas dos leitores mais apressados ou daqueles afeitos às grandes manchetes. Recolheram-na a um canto de página, possivelmente pelo insólito, o editor só faltou rotulá-la de “Acredite se Quiser”. Recôndita, tímida, lá estava ela , com jeitos de esfinge, como a pedir: Decifra-me ou devoro-te! Ali empertigava-se ela a mostrar que, como na vida, o mistério, o segredo, o sutil núcleo de tudo está nas pequenas coisas, justamente naquelas ínfimas e desinteressantes arestas ,onde jamais pousam os desatentos e embotados olhos dos homens comuns.
Na Dinamarca – a nota rezava com ares de insignificância – há poucos dias, os moradores de um edifício se queixaram na polícia, pois estava havendo um significativo aumento de insetos no condomínio. Instados a fiscalizar as causas do problema, os policiais verificaram que os insetos provinham de um dos apartamentos que permanecia fechado e nenhum dos moradores sabia informar sobre o dono. De posse de mandado judicial, arrombaram a porta e encontraram tão somente o esqueleto de um senhor idoso que, depois, a perícia constatou havia morrido, pasmem os senhores, há pelo menos um ano.
Batizemos o nosso velhinho de Smith , já que a sociedade não o pôs na pia batismal quando vivo e a nota também não quis fazer o seu registro civil. Ninguém deu por falta do senhor Smith, durante mais de 365 dias: nenhum familiar, nenhum amigo, nenhum conhecido, o padeiro da esquina, o fiteiro, o porteiro do edifício, Ninguém!!! Os vizinhos de apartamento sequer deram pelo forte odor de decomposiçào, devem ter pensado tratava-se de um animal qualquer abatido: um gato, um cachorro, um rato... e ,o pior de tudo , é que era verdade: era apenas um animal , pior que o cão que, certamente , se desaparecido, teria sido reclamado pelo dono. O Senhor Smith ali permaneceu durante todo um ano, como um soldado de Pompéia moderno, soterrado pelas cinzas da própria modernidade.
Todo o desenvolvimento da humanidade, toda a explosão das telecomunicações apenas fizeram com que aproximássemos as distâncias e distanciássemos as pessoas. O mouse ,que num clic me liga a Copenhague, não consegue cumprimentar o meu vizinho que , do lado, embebido na sua solidão, aguarda, pacientemente, a visita final dos insetos do Senhor Smith.Queiramos ou não, vivemos todos em planetas distintos, carregando os nossos sonhos impossíveis de serem compartilhados, as nossas díspares angústias que nos carcomem a alma e os nossos malgrados enlevos que aguardam , no espelho, a unção final da solidão do Sr. Smith.

J. Flávio Vieira

Tiago Araripe -Cabelos de Sansão

E aquele menininho de óculos, tímido, inteligente e lindo, filho de Dona Eneida Figuirêdo,neto de J.de Figueirêdo Filho, meu colega no Instituto S.Vicente Férrer , colega de Joaquim e Magali , hoje é sucesso , com muito talento e mérito !

Confiram !

- Tiago Araripe, filho ilustre do Crato, nos orgulhamos de você !

Socorro Moreira

Aquarela do Brasil - Coral da Eslovênia



Observem a perfeição na dicção das palavras em português.
Pode-se perceber levemente a pronuncia diferente da nossa, mas é de arrepiar!
Show de bola do BR6 e Perpetuum Jazzile sacando o ritmo do samba como nenhum estrangeiro jamais soube fazer !

PARECE UM CORAL DE BRASILEIROS, MAS É DA LONGÍNQUA E FRIA ESLOVÊNIA .


Alberto Cardelino Filho

Festival de Inverno de Garanhuns


De bom grado, aceito participar deste já caudaloso blog. Prova de que os caririenses têm muito a dizer e a mostrar. E começo aqui pelas minhas impressões de visita ao 19o. Festival de Inverno de Garanhuns. Na realidade, comecei pelo encerramento da edição deste ano, no sábado que passou. A tempo de ver atrações marcantes, que culminaram na apresentação de Jorge Ben Jor e Banda do Zé Pretinho estoando seus principais hits na Praça Guadalajara,

O evento me surpreendeu pelo porte, a diversidade e a organização. Nas várias praças e parques da chamada Cidade das Flores, os diferentes espaços do Festival: o Palco Principal, na Praça Guadalajara; o Palco Pop e o Palco do Forró, no Parque Euclides Dourado (que abrigou também exposição alusiva aos centenário do mestre Vitalino, circo e espaços para teatro, dança e artesanato); o Palco Instrumental, no Parque Rubem Van Der Linden; o Palco de Cultura Popular, no centro da cidade; a Casa das Artes... Tinha até Palco Gospel. Apesar de a música mobilizar o maior contingente dos visitantes, não faltou público para apreciar as artes cênicas, as artes plásticas, a fotografia e o artesanato.

Assisti, me movendo de um palco a outro, shows de nomes como Quinteto Violado, Siba e a Fuloresta (foto), Di Melo (pernambucano que conheci em São Paulo e trafega - bem - na seara do funk a la Tim Maia), Mundo Livre SA (comemorando 25 anos de estrada e incorporando músicos da formação original do grupo, como Otto) e o próprio Jorge Ben Jor.

Vou me deter mais no trabalho de Siba. Ex-integrante do grupo Mestre Ambrósio, ele mergulhou em Nazaré da Mata onde incorporou ao seu projeto músicos populares da cidade para fazer um trabalho vigoroso, que bebe na tradição popular e vai além. A formação mixa naipe de metais (incluindo uma tuba) com percussão, num resultado pulsante. Eu já conhecia o CD "Siba e a Fuloresta", elogiado pela crítica Brasil afora. Mas a impressão ao vivo foi ainda mais forte. Em determinado momento, uma sequência do show foi convite para o público formar uma grande ciranda. Inspirado, Siba faz repentes que dialogam com as situações que se apresentam. Quem ainda não conhece, vale a pena.


Outro grupo que me chamou a atenção estava longe dos grandes palcos e perto das ruas. É a Carroça de Mamulengos, uma troupe familiar (pai, mãe e oito filhos de diversas idades) na melhor tradição circense/mambembe. Todos muito talentosos, inclusive a caçula. Fazem música, pantomimas e trabalham com diversos bonecos de criação própria. Tudo muito criativo e envolvente.


Claro, ver tanta coisa em tão pouco tempo foi algo inspirador e mobilizador.

Garanhuns, terra de Lula, Dominguinhos e Toinho Alves (fundador do Quinteto Violado e grande homenageado deste FIG), está de parabéns pelo evento. A diversidade cultural brasileira também.

Para ver vídeos e outras fotos do Festival, clique aqui.

Tiago Araripe

Haicais de Anita D.Cambuim

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Se algo me apavora

É que a gripe suína

Custe a ir embora.
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Olhos gulosos

Na geladeira da vovó -

Um pote de curau.
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No seu breve pouso

A gorducha joaninha

Dá show de elegância.
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Vivendo e morrendo

Sardinhas sempre aos bandos –

Solidariamente.
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Compus para Momo

Com confete e serpentina

Alegre marchinha.


Por :Anita D. Cambuim

O Escafandro - Por Rejane Gonçalves

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Leio os poetas. Todos eles. Quando termino, volto ao mesmo ato: ler os poetas. Carrego o peso a mim imposto pelo meu avô materno, desde que ele roubou – das mãos do padre na pia batismal – a água; e aspergindo-a sobre a minha cabeça impingiu-me de um só golpe o nome e a sorte: vai se chamar Tristão. Será poeta ou mais nada.
Acorrentei-me à leitura ininterrupta e exaustiva dos poetas na esperança de cumprir o vaticínio do meu avô, contudo uma voz soprada do outro lado, ouvida por todos os parentes, se contrapôs à dele e até agora parece ter falado mais alto. Eu seria tudo, menos poeta. Beiro os cinqüenta anos, uma calvície pronunciada, renitente, desbasta meus cabelos com a mesma firmeza de um jardineiro que arranca as ervas daninhas da grama recém plantada. Eu os encontro espalhados nos lençóis brancos, pelo chão do quarto, grudados às toalhas úmidas, estirados sobre meu corpo a parecer riscos feitos com lápis de ponta fina. Visita-me pois a calvície, nunca um verso. Jamais um deles veio às minhas mãos, brincou entre meus dedos, desequilibrou-se e me caiu numa vertigem na folha branca do papel.
Devo ser pálido, de uma cor semelhante a dos bonecos de cera, não aquela comum aos mortos. Não chegaria a tanto. Percebo-me surrupiando, para compor minha imagem, características de determinados poetas exangues, magros, tísicos, fantasmagóricos. O roubo em nada me favorece e com o tempo passou-me para o caráter o esmaecido da pele, como se a pusilanimidade fosse o meu invólucro, a carapaça que me defende do sentimento de culpa pela ausência das ações. Não sou eu aquele que protela, é a casca, ela, a armadura muito colada ao corpo, camisa de força a me manter de pés e mãos atados.
Acabo de chegar do enterro do meu irmão nascido cinco anos depois de mim, Laerte. Chamava-se Laerte e pôde ser o que resolveu ser; o avô das predestinações atadas aos nomes morrera um pouco antes de esse neto vir ao mundo.
Fomos ao sepultamento, eu e os poetas, não todos, dois ou três, até quatro, os que me acompanham por onde quer que eu vá. As pessoas naquele velório deveriam estar inconsoláveis; não tanto pela morte do meu irmão, se bem que gostassem dele, mas por um fato incompreensível, fora dos padrões da normalidade, incompatível com a bondade e justiça divinas: por que ele e não eu? Não fazia sentido. Também acho. Deus poderia ter feito uma melhor escolha; se eu tivesse ajudado é bem verdade. Bastaria um grito e o corpo do meu irmão teria subido na calçada, buscando a proteção do muro, antes que o carro o pegasse rente ao meio-fio. Recostado no espaldar da cadeira de balanço do alpendre, senti parte da visão corromper-se em fragmentos metálicos e meus ouvidos se encheram de sons tonitruantes, barulho gordo, pesado, como que saídos das vísceras de algum monstro. Estava a terminar a leitura de um verso, pouco, muito pouco para se completar a última palavra. Quis levantar a cabeça, pôr os olhos na altura adequada à captação do que viria a ser os veios metálicos, pôr os ouvidos em total disponibilidade à voz absurdamente rotunda, e meu pescoço sustentou-me a cabeça pendida a finalizar o verso.
Cheguei aos pés do meu irmão, deitei-lhe a cabeça em meu colo e súbito um vento atravessou-me as mãos vazias; dei pela falta dele, onde está, onde teria se metido? Alucinado procurei por ele, o poeta. Percebi-o prisioneiro das mãos de Laerte que o estrangulava. Comecei a lutar para salvar meu poeta, arrancá-lo daquelas garras sujas de terra, borradas de sangue e só depois de vários puxões, gritos, pragas, é que consegui. Fechei-o de encontro ao peito, cerrei os olhos em agradecimento, avaliei com extremo cuidado os danos infligidos aos versos e pude, finalmente, aliviado, me dedicar ao bom Laerte. Todos hão de convir, não tive culpa. Foi ele, o poeta. Conseguira como? Atracar-se assim, daquele jeito, com o corpo quebrado do outro. Quem começara? Eram desafetos, os dois? Eu o havia colocado perto de mim ao me ajoelhar e de repente lá estava ele se engalfinhando. Ele e meu irmão.
Ando impressionado, suscetível, e posso mesmo tornar-me uma ameaça para todos eles, os poetas. Aconteceu, uma única vez, de a membrana esbranquiçada – que cola meus lábios – ceder; eles se despregaram um do outro e pela boca aberta, na entrada desse túnel, enxergou-se a voz precipitando-se na escuridão, explodindo na frente dos olhos amorosos de Heloísa, a sobrinha mais velha, a preferida, a de rosto bem acabado, tão parecido com as sutilezas das rimas de um poema perfeito: não fui eu, minha pequena, o culpado. Foi ele, ninguém admite, mas foi mesmo ele, Álvaro de Campos. A mãe chega veloz, como que por encanto materializa-se. Teria o dom da ubiqüidade? Retira a filha das vistas do estranho tio, some com ela, protege-a, esconde-a em qualquer lugar, longe de mim, o urubu, vestido sempre de preto, longe do negror da folgada jaqueta onde guardo biscoitos e também os poetas.
Preciso, feito Albertina, a cautelosa viúva do meu irmão, proteger os meus, esconder Álvaro de Campos, jamais delatá-lo, não deixar que meus arroubos chamem a atenção sobre ele, porque daí a me exigirem um retrato falado é um pulo. Além disso, há um terrível agravante, ele não é um só, mas uma quadrilha. São vários. Desde a morte de Laerte eu o escondi nas costas da jaqueta, fiz uma abertura no forro acetinado, joguei-o lá dentro e depois costurei a boca do esconderijo com linha forte, pontos bem arrematados. Recostar-me na cadeira de balanço para ler tornou-se um suplício; o livro me dói, o poeta esmurra minha coluna. Ademais, não foi uma medida inteligente. De que maneira tê-los sob os meus olhos? Muito penoso é, para mim, abster-me de tantos poetas, já que da cabeça de Álvaro de Campos brotam outros, e mais outros, fluem, espocam mais facilmente do que Atena da fronte de Zeus.
O último a nascer chamou-se Fernando Pessoa, dos filhos, o mais embotado, de acordo com Tristão nosso poeta aqui presente – dizia, em vida, o morto à dúzia e meia de amigos convidados à ceia natalina; falava erguendo-me um brinde, acompanhado da elegância de um sorriso curto que se irradiava apenas para os cantos dos lábios e morria de morte natural, antes que a boca se desse conta. Albertina, a onipresente, ria; os olhos derramados sobre o senso de humor do marido e eu encrespava as asas de urubu como se as possuísse de fato. O fato é que necessito o quanto antes salvar Álvaro de Campos. Poderia, para isso, ouvir com mais vagar meus anseios de quietude, aliá-los ao bom uso das minhas peregrinações pelo vastíssimo campo das ciências exatas e construir alguma coisa, projetar um esconderijo, aquartelar-me feito a precavida mãe de Heloísa.
Diria que hoje testei meu invento; um invólucro que me esconde, protege, camufla, a mim e aos poetas, uma espécie rara de escafandro, de cujo ventre, mais precisamente preso ao umbigo, sai um tentáculo com a extremidade aberta em leque. Este leque, posto em sentido horizontal e elevado ao meu campo de visão, se inclinará, se abrirá em dedos interligados por membranas, igual uma imensa pata de ganso espalmada. Servirá o leque aberto de base ao livro; sob o meu comando esse arremedo de mão exibirá o poeta escolhido e os dedos a página desejada.
Informo a quem interessar possa que o tentáculo umbilical projetado para locomover-se de acordo com minhas vontades mostrou-se em parte satisfatório; uma vez que consigo ler os poetas assim expostos iguais a partituras. Os dedos, talvez, por não guardarem em seus códigos a memória das membranas, por não reconhecerem – como pertencentes – tessituras fora do padrão, falharam no objetivo para o qual foram projetados: virar as páginas. Preso à repetição é quase certo que eu me desconstrua, a mim e também aos poetas. O escafandro, descubro, acaba de travar-me a saída, o que me é totalmente irrelevante.
− Posso pedir-lhe, a você distinto leitor, para virar a página?


P.S

Fomos colegas de Banco do Brasil , numa Agência do Recife. Moramos no mesmo apartamento por um tempo. Naquela época , Rejane já escrevia com lindeza e competência.
Outro dia de julho /2009 esteve no Crato , e visitou-me. Perguntei-lhe , enfim: Rejane quem te ensinou a escrever desse jeito? Ela sorriu, e respondeu : " e eu sei ?".
Rejane apresentou-me a muitos bons autores , por distração ,aprendi muito pouco com eles .
Enquanto não responde ao nosso convite como colaboradora , Rejane e Pedro Valdevino( seu marido, meu amigo , grande fotógrafo), vou postando as suas joias ( devidamente autorizada pela própria).


Socorro Moreira

Casamento Perfeito : Cinema e Música -"O escafandro e a borboleta"- Sessão VII- Por Zélia Moreira



Nessa minha viagem pelo mundo do cinema, hoje dou uma paradinha na França.
Sempre que viajo, um dos meus programas preferidos é fazer uma tour pelas salas de exibições. Foi assim que cruzei com "O escafandro e a borboleta". O filme consta na minha lista de favoritos. É bem recente - ano de 2007.
Na época se tivesse que escolher apenas um, por puro preconceito não seria um drama europeu européu ,e com um título pra mim, nada sugestivo.
Por intuição ou pura sorte, vi o melhor filme da temporada.(Rio/julho/2008)
Com uma direção incrível de Julian Schnabel(Antes do amanhecer) e roteiro de Ronald Harwood, baseado no livro de Jean Dominique Bauby(Mathieu Amalric).





Conta o drama vivido por Bauby editor da revista Elle e apaixonado pela vida, que subitamente aos 43 anos, sofre um derrame celebral. Vinte dias depois , ele acorda. Ainda lúcido, mas sofre de uma rara paralisia: o único movimento que lhe resta no corpo é o do olho esquerdo. Bauby se recusa a aceitar seu destino. Aprende a se comunicar piscando letras do alfabeto, e forma palavras, frases e até parágrafos. Cria um mundo próprio, contando com aquilo que não se paralisou: sua imaginação e sua memória.
Como em todos os filmes , observo com atenção as cenas em que a música tem seu papel de destaque e nesse não poderia ser diferente. Numa cena de puro lirismo, as lembranças de Bauby, são traduzidas em palavras, com imagens de uma geleira desabando e tendo ao fundo a música Arioso de Bach. LINDO! LINDO! LINDO!...Arrepiei literalmente!
Esse filme já saiu de cartaz, certamente, e nas locadoras não sei se será encontrado facilmente. Tenho comigo uma cópia, que vive de mãos em mãos. Compartilhar é importante e eu o faço com todo prazer.
Deixo aqui registrado em vídeo , a apresentação do filme, ao tempo em que sugiro a música Arioso de Bach, numa versão brasileira, letrada por Flávio Venturini.

Zélia Moreira

Romance na Praça Siqueira Campos – Por: Magali de Figueiredo Esmeraldo

A Praça Siqueira Campos tem para mim um significado muito especial, pois foi o local onde teve inicio o meu namoro com Carlos. Naquela época, já era uma linda praça, florida e arborizada e, foi o ponto de encontro inicial de muitos casais de namorados. Lá pelo final dos anos sessenta, no dia 19 de janeiro de 1969, ano em que o homem foi a Lua, é que ocorreu um desses encontros: o meu com Carlos. Por causa da nossa timidez este encontro demorou muito a acontecer, embora já estivéssemos totalmente apaixonados. Naquela época, as mulheres não podiam tomar a iniciativa; isto ficava por conta dos homens. Era nessa praça que rapazes e moças se reuniam para se divertir e flertar. As moças ficavam volteando em torno da praça e os rapazes em pé no meio-fio da calçada a lançar olhares de interesse e admiração, que depois se transformariam em namoro. Foi o que aconteceu comigo e Carlos e outros casais. Cada vez que eu passava por ele e os nossos olhares se encontravam, a emoção tomava conta de mim, a ponto de ficar de mãos geladas, lábios trêmulos e um friozinho na barriga. Eu ficava com esperança de que na próxima volta Carlos criasse coragem e se aproximasse de mim. No entanto, ele parecia ter criado raízes naquele local da praça, de frente para o Cine Cassino. Ficava ali, conversando com os amigos. Meu maior medo é que chegasse o final das férias e ele tivesse que voltar para Salvador, a fim de continuar o curso de engenharia, e assim, o início do nosso namoro ficar adiado para as próximas férias. Mas a vontade de Deus era que esse encontro acontecesse para que no futuro construíssemos um lar feliz, alicerçado nesse grande amor. Foi aí que apareceu Pedro Esmeraldo, irmão de Carlos, para dar uma mãozinha, pois percebendo o que estava ocorrendo, entendeu que ele temia receber um não, e lhe disse que eu estava interessada em namorá-lo. Então Carlos convidou Pedrinho para tomarem uma cerveja e criar coragem. Essa atitude surtiu efeito, pois quando eu desci a calçada da praça em direção à Rua Senador Pompeu, a caminho de casa, quase sem esperança, ele me acompanhou, puxou conversa e o namoro começou aí.
Conheci Carlos quando tinha treze anos, embora ele já me conhecesse desde criança quando ia tratar dos dentes com o meu pai. Fui apresentada a ele por Rosineide, sua sobrinha e minha colega, que dias depois foi a portadora de um recado de Carlos perguntando se eu desejava namorá-lo. Eu disse que não dava certo. Embora ele tenha ficado chateado, foi bom porque ele ia estudar fora e nós éramos ainda muito jovens. Essa minha recusa fez com que seis anos depois, ele ficasse com receio de receber um não e por isso demorou tanto a iniciar o namoro. Só que eu já era adulta e queria dar o sim. Foram quatro anos de namoro, e agora temos 36 anos de um relacionamento de muita harmonia, muito amor, diálogo e com as bênçãos de Deus construímos um lar feliz.
A vida a dois é um aprendizado, é doação, entrega, perdão, aceitar o outro com defeitos e qualidades, é amar. É desejar antes de tudo, fazer a felicidade do outro.
Para que o amor cresça deve ser regado como uma plantinha, que precisa de sol e água. Assim é o amor: precisa de carinho, compreensão pequenas atenções, valorização do outro, respeito etc...
Agradeço a Deus por ter colocado Carlos na minha vida e também por ter nos ter presenteado com três filhos e três noras maravilhosos e nossos netinhos Gabriel e Vitória. Ainda continuamos eternos namorados. E a Praça Siqueira Campos ficará sempre na nossa lembrança, como uma boa recordação do inicio do nosso amor.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

HAIKKUS - por Cesar Augusto

Empty spaces
fill my hear
with pure summer air.

trad. Espaços vazios
preenchem meu coração
com o ar puro do verão
--------------------------------------------------------------
..
.
Fluffy spring clouds
seeps under my pillow
and I HEM quietely
.
trad. Nuvens suave da primavera
insertam em baixo do meu travesseiro
e eu REM quietamente.
( REM = rapid eye movement = sono profundo )
--------------------------------------------------------------
.
The yellow leaves
painted the dawn
of the fall, my fall
.
trad. As folhas amarelas
tingem o amanhecer
do outono, meu outono

Ps. nenhum deles chegou a ganhar prêmio, mas um deles ficou com uma menção honrosa.

Onde havia verdades - por Ana Cecília

Socorro, Claude, Everardo, Assis, Carlos, Magali, Pedro... e todos os que fazem este blog deliciosamente chamado "Cariricaturas": que emoção encontrá-los aqui! Um abraço para cada um que nomeei e para os demais que, estou certa, irei reconhecendo com o tempo. Pois as lembranças mais verdadeiras são aquelas que vêm - ou estão - como que em surdina, além das palavras e da consciência imediata.

O meu primeiro post aqui, naturalmente, tinha que falar do Crato, este lugar tão presente em nossas peles e em nossas vidas, onde quer que estejamos.

ONDE HAVIA VERDADES

No Crato, os biscoitos eram encantados,
como as recordações de meu pai:

Beijo de moça (pura malícia);
Bola de ouro (brilho no olho do menino);
João Tomé (atraente bicho esquisito);
Bolacha quadrada, bolacha de cego (que se tem e se dá);
Passa-raiva (tempo abençoado, sem psicólogos);
Filhós (sombra da tarde derretendo na boca);
Cavaco chinês (sempre tocando ali na esquina)...

No Crato,
onde havia verdades,
as palavras eram assim.
As palavras eram coisas e estavam em seus lugares.
Os sabores eram definidos e serviam para tornar a vida doce.
Os cantos eram sombras, as casas abrigo.
Lugar de se estar, tanto afeto
e nem ânsias de destino...


Publicado em Uma Vaga Lembrança do Tempo. Coleção Casa de Palavras, Fundação Jorge Amado, Salvador, Bahia.

Chuva de Verão, na voz de Orlando Silva - Da nossa amplificadora blogal para os nossos leitores - Por Socorro Moreira

Quem não conhece essa música ?

Do passado e do presente

todos nós somos atentos.

Eu tenho loucura pela história da música de todos os tempos.

Norma Hauer foi muio feliz lembrando o Fernando Lobo, principalmente porque nos reporta por tabela , a tantos outros nomes da canção brasileira.

EDU LOBO , por exemplo ...Grande EDU !

P.S. Chuva de Verão é uma resposta musical a todos os amores que não tiveram um final feliz , mas estão bem resolvidos.

O importante não é ficar, nem pemanecer ... O importante é viver !

E nessa temática de canções que falam de despedidas ,sem nenhuma amargura, da fossa com perspectiva ... Eu lanço o desafio : Quem lembra de mais alguma ?

História e Música - Fernando Lobo e Victor Bacelar - Por Norma Hauer

( Victor Bacelar)


FERNANDO LOBO
Foi em Recife, no dia 26 de julho de 1915 que FERNANDO LOBO nasceu e onde compôs suas primeiras músicas, a maioria frevos, o que era natural, por ser de Pernambuco. O interessante é que quase todos foram gravados por cantores aqui do Rio de Janeiro, como :
Em 1937, "Mentira", com Raul Torres (de São Paulo);em 1938 "De Quem Você Gosta", com Almirante;em 1939" Alegria", com Nuno Roland; em 1941 "Não Faltava Mais Nada", com Gilberto Alves.

Já em 1947 gravou seu primeiro samba"Saudade", em parceria com Dorival Caymmi; em 1949, com Francisco Alves, gravou um de seus primeiros grandes sucessos"Chuvas de Verão ",posteriormente regravado por outros cantores; em 1950, para o carnaval de 51:"Zum, zum", com Dalva de Oliveira, em homenagem a um aviador que falecera em acidente aéreo, seu amigo Carlos Eduardo de Oliveira. No mesmo ano, um novo sucesso"Chofer de Praça", com Luiz Gonzaga. Em 1951, "Amor de Ontem", com Newton Teixeira, gravado por Carlos Galhardo.

Em 1952, lançando Nora Nei ao estrelato, gravou "Ninguém me Ama", naquele estilo "fossa", em parceria com Antonio Maria. Em 1957 Jorge Veiga gravou "Palhaço".

Mas quero registrar aqui seu sucesso no carnaval de 1950, gravação de Linda Batista e ainda hoje relembrado em blocos carnavalescos:"Nega Maluca". Até fantasias foram lançadas sobre o tema.

Aqui está a letra humorística de
NEGA MALUCA
Co-autor:Evaldo Rui
Gravação original de Linda Batista

"Tava" jogando sinuca
Uma nega maluca,
e apareceu.
Vinha com o filho no colo
E dizia pro povo que o filho era meu
(Não senhor)

Há tanta gente no mundo,
Mas meu azar é profundo
Veja você, meu irmão.
A bomba estourou na minha mão.
Tudo acontece na vida
Eu que nem sou do amor
Até parece castigo
Ou então influência da cor.

Fernando Lobo faleceu em 22/12/1996, aqui no Rio ,mas deixou um grande "fruto", seu filho Edu Lobo.


VICTOR BACELAR
.
Foi a 28 de julho de 1911 que nasceu VICTOR BACELAR, considerado o primeiro cantor da Bahia a vir tentar a vida artística no Rio de Janeiro.

Convidado por César Ladeira, ingressou na Rádio Mayrink Veiga onde Ladeira o denominou "A Voz de Ouro que a Bahia nos Mandou".

Entretanto, antes de Victor Bacelar aqui esteve o cantor conhecido como BAIANO, que, em 1916, gravou o considerado 1° samba:" Pelo Telefone", de autoria(duvidosa) de Donga. Mas naquela época ainda não se conhecia o rádio (introduzido em 1923), assim, Victor Bacelar foi o primeiro baiano a se apresentar no rádio (na Mayrink Veiga), onde César Ladeira o denominou "A Voz de Ouro que a Bahia nos mandou".

Depois da Mayrink, Victor Bacelar apresentou-se na Tupi, na Nacional, na Globo... e também em cassinos, ao lado de artistas internacionais, como Pedro Vargas.

Suas apresentações nos Cassinos da Urca e Icaraí foram sucessos.

Foi Victor Bacelar que apresentou Dorival Caymmi a César Ladeira, quando aqui ele chegou em 1939.

A primeira gravação de Adelino Moreira ("Meu Castigo") foi gravada por Victor Bacelar, que também apresentou Adelino a Nelson Gonçalves.

Começando a gravar na Victor, VICTOR BACELAR , posteriormente, gravou em quase todas as gravadoras aqui existentes.

Algumas gravações de Victor Bacelar :"Miss Brasil", de Wilson Batista e Jorge de Castro (em homenagem a Marta Rocha, também baiana);"O Grito de Uma Raça", da trilha sonora do filme "Rio-Zona Norte);"Não sei se é Castigo";"Valsa da Formatura", de Lamartine Babo e muitas outras.

Victor Bacelar também se apresentou nas extintas TVs Tupi e Rio.

VICTOR BACELAR faleceu em 10 de junho de 2006, sem completar 95 anos.

Repentes - Magali, Carlos, Socorro e Claude


Caros amigos,
Os "repentes" aqui apresentados não têm exclusividade e não são apenas de Magali, Carlos, Socorro e Claude.
Quando fizemos o convite este se propunha a ter a participação de todos numa grande roda de brincadeiras.
Cada um de vocês ainda pode participar postando um comentário com uma trova (partindo do MOTE deixado pelo antecessor) e deixando um mote para o próximo participante.
Consideramos que isto é um bom exercício de criatividade e bom humor. Uma brincadeira que congrega.
Enfim, sintam-se RE-CONVIDADOS. Venham, vejam, sejam trovadores "repentistas".
Brinquem conosco!!

Olhando de frente o mar
Tomando um chá de canela
Jogo os problemas pro ar
E penso que a vida é bela

Todos falam da beleza
Vinícius e Adélia Prado
Minha também me disse
que a beleza não tem prato
Substantivo abstrato
Quem a tem disso não sabe

De mãos postas
ou bem abertas
Vestida com singeleza
Criancinha sempre alerta
É o símbolo da pureza.

Saio do Crato tão triste
Chego aqui acabrunhada
Quando a saudade persiste
Coberta com o pó da estrada.

Olho pro telefone de banda
Esperando "ele" tocar
Só dormindo a dor se abranda
Quando me ponho a sonhar...

Um rosto triste com lágrima
Gera grande compaixão
Olhamos com muita lástima
Para quem vive a solidão

a lágrima é pingo cristal
na gruta do coração
desce no espaço facial
e escorre na emoção


Aqui tá ficando beleza
Nos dois motes acima
Tive uma grande surpresa
Duas trovas para lágrima
E um sorriso sem grima

singela flor, laranjeira
brota como todo amor
no perfume que se espalha
do pomar que Deus criou

ROSEIRA ( mote)


Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Espetei-me na roseira
Rimando de pé quebrado
Abraço a Socorro Moreira
E vou saindo remendado

MOTE: Inteligentes

Magali de Figueiredo Esmeraldo disse...
Brincadeira já tem hora
Encerrou nossos repentes
Deixamos o campo agora
Para os mais inteligentes

MOTE Abraços

Claude Bloc disse...
.
Abraços pra Magali
E para Carlos também
A brincadeira prossegue
nosso repente também

Inteligentes nós somos
Não precisa desistir
Não dê breque no repente
Onde brilha Magali.

Onde Carlos colabora
com seu humor tão festivo
nossa trova não tem hora
você passou pelo crivo

vou convidando os demais
pra entrarem nessa roda
pra encarar o desafio
que está virando moda

façam versos e repentes
brinquem e cantem conosco
verso limpo, pé-quebrado
verso inteiro, verso tosco

Espero todos vocês
Neste canto, neste espaço
Para quem entrar na roda
Deixo aqui o meu abraço.

Mote: amizade

Os Kennedys - Por Joaquim Pinheiro


A grande imprensa sempre apresentou os Kennedys como se fossem príncipes de uma monarquia imaginária, paladinos da democracia, defensores da liberdade, arautos do bem estar comum, combatentes das desigualdades sociais e católicos fervorosos, cheios de amor pelo próximo. A morte violenta de John, quando desfilava ao lado da sua elegante esposa, chocou milhões de pessoas pelo mundo a fora, lhe rendendo incontáveis homenagens, inclusive nome de rua no Crato. Agora, com a revelação de documentos até há pouco guardados como segredos de Estado, mostra a face nada romântica dos famosos irmãos americanos, principalmente John e Robert, que exerceram cargos executivos. Vejamos algumas atitudes do Kennedy presidente, assessorado pelo irmão:

.Tomou posse na Casa Branca no dia 19.01.1961 e no mesmo dia autorizou plano para assassinar o Ditador da República Dominicana, o que de fato aconteceu duas semanas depois.

.Ordenou a morte do Presidente do Vietnam do Sul, Ngo Dinh Diem. A propósito, existe uma fita onde Lindon Johnson sugere que o triste fim de Kennedy foi o pagamento do que ele fez com o mandatário vietnamita.

.Em 11.03.61 mandou agilizar os planos para invadir Cuba, o que aconteceu em 15.04; com o fracasso da ação militar, recomendou programa para recrutar e envolver a Igreja Católica e o submundo cubano contra Fidel Castro, fraturar o regime por dentro, sabotar a economia, corromper a polícia secreta, destruir as plantações com guerras biológicas e químicas.


.Autorizou e liberou US$ 50 milhões para a CIA montar a Operação mangoose, que promoveu atos terroristas, atentados biológicos, chegando inclusive a envenenar a merenda escolar.
Ordenou o assassinato de Fidel Castro e de outros líderes estrangeiros.

.Em 30.07.62 inaugurou moderno sistema de gravação no salão oval da Casa Branca. A 1ª conversa gravada foi exatamente sobre o Brasil, discutiu com o então embaixador americano no Brasil formas para tirar do poder o Presidente João Goulart e interferir no resultado das eleições para governador de alguns Estados e de parlamentares que se aproximavam. Acertaram o valor de U$ 8 milhões para a conspiração.

O titular de tal currículo tem seu nome em uma das Ruas do Crato, homenagem sem o menor sentido. Pegando carona numa sugestão de Carlos Esmeraldo, gostaria de ver os vereadores da minha cidade providenciando a troca das placas contendo “Rua Pres. Kennedy”, na Vila Alta, por outras homenageando cratense com serviços prestados a terra.

Obs.: Estas informações (e muitas outras) constam do livro “Legado de Cinzas” de Tim Weiner, baseado em documentos e fitas oficiais recentemente liberados.


Joaquim Pinheiro