Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Atualizar a Paz - Emerson Monteiro


Nada mais fora de moda que pensar em guerra, agressão e tristeza. Andar nas calçadas sujas sem os horizontes da tranquilidade. Seguir as burrices dos traçados obscuros. Pisar as flores, invés de olhar por onde pisa. De cabeça nas nuvens, sair machucando o coração dos pedestres no leito das estradas. Chegar onde, visar o quê, em que direção sonhar, quando o mundo gira bonito no espaço? Os pássaros cantam nas campinas. Meninos brincam leves e soltos nos jardins.

Falar mal por quê? Para, esquecidos das oportunidades boas, rodar a roleta da sorte e perder toda vez, no final de todas as batalhas. Fama de mau e chegar de olhos vesgos nas portas dos presídios. Andar fugindo das fiscalizações da consciência. Tudo isso a preço de coisa alguma. Só remorsos posteriores fecham o beco dos dramas abandonados nas esquinas do passado.

Sim, entoar o coro das harmonias universais em nome da falta de jeito. Amargurar várias e dores antigas no centro do peito, dentro dos pulmões amargurados de fumaça. Desencontros não falam na paz dos territórios da alma. Contar histórias diferentes, por tudo isso. Buscar amigos, cultivar a boa vizinhança, o que coisa alguma justifica dores de outros partos. Discutir por picuinhas, desfazer das outras criaturas em face do orgulho, da inveja e do ciúme, quanto despautério. E por causa dos dinheiros que correm soltos também não esclarece o motivo da ausência da paz em tantos sentimentos, neste mundo bonito e desprezado pela falta dos planos na paisagem das manhãs ensolaradas.

Paz, harmonia, desejos de construções coletivas. Amar, meus irmãos! O que Jesus tão bem nos ensinou através das práticas, neste mesmo chão das raras possibilidades. Jesus, o Mestre da Paz, no meio dos séculos da guerra dos poderosos. Jesus, a lição viva da Luz na sociedade dos homens.

Criar núcleos de solidariedade, fraternidade que produz futuros certos e filhos envoltos nos sonhos das realizações plenas. Atualizar o gosto bom da Justiça no seio das comunidades. Equilibrar as energias e lembrar as alternativas puras da Verdade e o crescimento.

Escolher lado limpo nos costumes, corrigir os vícios e trabalhar a correção do comportamento de todos, a começar de um em um; somar os valores que revelarão as novidades da Virtude. Tarefas individuais expõem métodos para transformar a face do Universo no rosto de cada pessoa. Uma chance para a Paz no mais íntimo ser da Criação.

Dar o primeiro passo, fazer o primeiro gesto, hora essencial de buscar o melhor, portanto e por tudo. Nos céus, a Esperança, modos outros que descobrirão as imensas qualidades que habitam acesos os espaços da nossa querida Humanidade.

O Paraíso de Vittorio Di Maio

"O cinema é o modo mais direto de entrar em competição com Deus."

(Federico Fellini)

Idos de 1926, Fortaleza. Praça do Ferreira, o coração da capital cearense. À tarde um velhinho , carregando tropegamente o peso dos seus setenta e quatro verões, pobremente vestido, tentava evitar a queda que se prenunciava a cada passo dado, arrimando-se numa tosca bengala. De repente, a gravidade, por fim, fez valer a sua força e o ancião tomba na calçada do antigo “Art Noveau”. Os transeuntes demoraram a perceber que não se tratava de um tombo qualquer, aos poucos , desinteressadamente, notaram: o velhinho não mais fazia parte do mundo dos vivos, fora fulminado por um ataque cardíaco. Ali permaneceu, exposto à curiosidade pública, totalmente anônimo e desprovido de recursos, uma das mais históricas figuras da cultura brasileira. Por ironia do destino,pobre, findava seus dias na mesma calçada em que deu à luz à sétima arte em terras de Alencar.

Chamava-se Vittório di Maio. Nascera em Nápoles na Itália em 1852. Sabe-se lá porque aportou no Brasil, o certo é que por aqui chegou em fins do Século XIX. Os primórdios do Cinema tinham acontecido em Paris em 1895, com os Irmãos Lumière e no ano seguinte já se tinha repetido a experiência inovadora no Rio de Janeiro. O Cinema nacional, no entanto, começaria com aquele napolitano magricela. Em 1º. De Maio de 1897, na Cidade de Petrópolis, no Teatro Cassino-Fluminense, Vittorio di Maio, exibiu, no seu “Cinematógrafo”, os primeiros filmes feitos em terras tupiniquins. Quatro Curtas-Metragens, neles apareciam: uma artista circence, uma apresentação infantil de um colégio do Andaraí, o terminal de bondes de Botafogo e a chegada de um trem na estação de Petrópolis. Di Maio fez-se expositor ambulante, mas fundou Cinemas em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul , na Bahia e os vento do destino terminaram por ligá-lo definitivamente ao Ceará. Vittorio talvez tenha sido levado a interiorizar a sétima arte por conta da forte concorrência que terminou surgindo no Sul e Sudeste, só na década seguinte à apresentação pioneira e histórica de Petrópolis surgiram mais de 20 salas de espetáculos no Rio e outras tantas em Sâo Paulo.

O certo é que Di Maio chegou em terras cearenses em 1907. Por aqui já se ensaiavam, na capital, os primeiros rudimentos de Cinema : o Bioscópio que foi introduzido em Fortaleza por um outro italiano : chamado Paschoal. Ele exibia pequenos rudimentos cinematográficos como : “Jubileu da Rainha Vitória” e “Os Pombos de São Marcos”. Outros Bioscópios se seguiram : um trazido por Arlindo Costa, colocado num paredão existente na Rua Major Facundo; um outro na Praça do Ferreira e outro num prédio onde depois funcionou a Faculdade de Farmácia do Ceará. No Crato, no mesmo período, aqui já chegou a novidade, trazida por Luiz Gonzaga – o Gozaguinha que foi o nosso primeiro fotógrafo . Gonzaguinha fora a Fortaleza comprar material fotográfico e trouxe a novidade para o Crato. Instalou a “Lanterna Mágica” na primeira sede do Grupo Teatral “Os Romeiros do Porvir” que fora fundado por Soriano de Albuquerque em 1902 e de que Gonzaguinha fazia parte. A sede existia num casarão da Rua Miguel Limaverde e causou frisson na cidade, uma vez que a magia tinha que acontecer no escuro e facilitava os namoros, as apalpadelas, numa vila ainda profundamente provinciana.

Pois no mesmo 1907, Di Maio, trazia consigo uma verdadeira evolução da sétima arte : “O Animatógrafo” e fundou, em Fortaleza, o nosso primeiro Cinema ,nos fundos da Maison Art Nouveau, no mesmo local onde, vinte anos depois , cairia fulminado pelo enfarte. Em 1909 duas outras salas foram erguidas em Fortaleza : o Cine Rio Branco, por Henrique Mesiano e o Cassino Cearense por Júlio Pinto.

Há exatos cem anos, em 03 de junho de 1911, Di Maio ligou definitivamente seu nome à história do Cariri, inaugurando em Crato o “Cinema Paraíso”, o primeiro de todo interior do Ceará. Apenas dezesseis anos após a primeira exibição mundial de um filme, o Crato já possuia um cinema. A sala situava-se na Praça da Sé, defronte ao prédio do Museu, onde antigamente funcionou a Biblioteca Municipal e, ultimamente, uma botique e os bares “Guardinha” e “João Penca”. A tela ficava do lado oposto ao do Museu e a sala de projeção num sobrado pequenino que olha para a Fundação J. De Figueiredo Filho. Segundo Florisval Mattos : “inaugurou o cinema Paraíso o filme Borboletas Douradas. Um dos assistentes contou-me que as borboletas apareciam voando, e, quando pousavam, invés de borboletas eram mulheres…”.

O Cinema marcou definitivamente a vida da nossa cidade. Foi o primeiro veículo de mídia visual que tivemos. Sucederam-se outras salas de espetáculos: O Cassino Sul Americano em 1918, O Cine Moderno em 1934 , o Cine Araripe nos Anos 50 e o Cine Educadora já nos anos 60. Di Maio nem percebeu, em vida, a revolução que trouxe para as terras de Frei Carlos. De repente a magia começou a nos despertar para o mundo com suas possibilidades e complexidades. Mudaram os costumes, o escurinho propiciou todo um clima para os namoricos dos nossos avós. Muitas gerações terminaram profundamente marcadas pelo encanto da telona, basta ver a invejável quantidade de cineastras que saíram das terras de Frei Carlos : Hélder Martins, Ronaldo Correia de Brito, Jéfferson Albuquerque,Francisco Assis, Hermano Penna, Rosemberg Cariri, Luiz Carlos Salatiel, Bola Bantim, Pedro Ernesto Osterne, Petrus Cariri, José Roberto França,Glauco Lobo, Virgínia, Fernando Garcia, Francioli Luciano, Wanderley Vancillus,Franklin Lacerda, Alexandre Lucas, Émerson Monteiro, Luiz José e tantos, tantos outros.

Hoje a cidade que foi o berço do cinema em todo interior do estado, não possui mais uma sala de espetáculo sequer. O cinema hoje é para ser apreciado por uma elite nas fechadas salas de shopping ou sob a redução impensável do DVD e do Blue-Ray.Di Maio foi totalmente esquecido por uma região que tem uma amnésia toda preferencial por nossos vultos realmente importantes. A maior homenagem que podemos prestar a Di Maio neste centenário do cinema no Cariri seria reabrir nosso novo Cine Teatro Moderno para exibição de filmes clássicos nacionais e estrangeiros, com porta aberta. Aí, quem sabe assim , o filme da nossa cidade terminasse com um final apoteótico e feliz e o Cinema Paraíso , cem anos depois, nos transformasse numa Cidade Paraíso.

J. Flávio Vieira

NOTÍCIAS DA UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA

Centro de Documentação da URCA será inaugurado no dia 6 de junho

No próximo dia 06 de junho será realizada a inauguração oficial do (CEDOC – Cariri). A solenidade de inauguração contará com participação de autoridade e entidades doadoras de acervos, além de outras instituições da região do Cariri que trabalham com a preservação de organização de acervos.

O CEDOC - Cariri é um Centro de Documentação ligado ao Departamento de História da Universidade Regional do Cariri (URCA). Foi criado em 2007, a partir de um projeto de extensão e pesquisa de professores do Departamento de História da URCA e teve financiamento inicial da Fundação de Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP). A principal função do CEDOC - Cariri é reunir, preservar e disponibilizar para consulta pública acervos de caráter histórico, presentes na Região do Cariri. Embora seu acervo global ainda esteja em fase de constituição, o CEDOC atualmente representa um dos espaços de pesquisa mais importante do Cariri, pois disponibiliza para consulta documentação cartorária e judiciária do sec. XVIII e XIX, jornais, leis provinciais digitalizadas etc. Recentemente foi criado no Centro o Núcleo de Documentação Oral. Atualmente é coordenado pela professora Sônia Meneses, juntamente com uma equipe de seis professores e 12 alunos estagiários.

PROGRAMAÇÃO

DIA 06 DE JUNHO DE 2011 – MANHÃ

09h00min – Mesa Redonda: Arquivos, fontes e pesquisas.

Componentes da mesa: Profª. Ms. Maria Daniele Alves, Profª. Ms. Cícera Patrícia Alcântara Bezerra e Prof. Ms. Jucieldo Ferreira Alexandre.

10h00min – Doação da coleção digital do jornal O Araripe (1855-1864) aos acervos do Centro de Documentação do Cariri (Cedoc-Cariri) e do Departamento Histórico Diocesano Pe. Antônio Gomes de Araújo (DHDPG).

Local: Salão de Atos da URCA – Campus do Pimenta.

DIA 06 DE JUNHO DE 2011 – NOITE

19h00min – Mesa Redonda: Políticas Públicas para a constituição de arquivos e preservação do patrimônio histórico cultural –

Debatedores: Prof. Ms. Alênio Carlos Noronha de Alencar e Profª. Dra. Sônia Meneses.

Local: Salão de Atos da URCA – Campus do Pimenta.

20h00min - Entrega de premiação para o ganhador do concurso de criação da logomarca do Cedoc-Cariri – Local: Salão de Atos da URCA – Campus do Pimenta.

20h30min – Visita às instalações do Centro de Documentação do Cariri .

Local: Bloco de História da URCA – Campus do Pimenta.

PROAE/URCA abre inscrições para 50 vagas no Programa de Estágio remunerado

A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (POAE) da Universidade Regional do Cariri - URCA comunica aos estudantes universitários que estão abertas as inscrições para o preenchimento de 50 vagas do programa de estágio remunerado, distribuídas em diversos setores desta Instituição. O valor da bolsa é d R$ 270,00, mais auxílio transporte de R$30,00, totalizando uma bolsa de R$300,00. As inscrições serão realizadas na sede da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis – PROAE, no campus do Pimenta, no período de 02 de junho a 09 de junho de 2011, de 08 horas às 21 horas.

CRONOGRAMA PARCIAL:
01 DE JUNHO DE 2011 – LANÇAMENTO DO EDITAL
02 A 09 DE JUNHO DE 2011 – INSCRIÇÕES
13 DE JUNHO DE 2011 - RESULTADO DA ANALISE DOS DOCUMENTOS E DIVULGAÇÃO DA DATA DO TREINAMENTO COM O CIEE.

Maiores informações: (88)3102-1287

Aberto edital de Chamada Pública para apoio a projetos nas políticas no âmbito da Secretaria de Direitos Humanos

A Pró-Reitoria de Extensão da URCA informa aos interessados que encontra-se aberto o Edital de Chamada Pública Nº 01/2011 – SDH/PR. O referido Edital atende a seleção pública de propostas para apoio a projetos voltados para políticas no âmbito da Secretaria de Direitos Humanos. Constitui objeto do Edital a seleção de projetos que auxiliem o desempenho da missão institucional da Secretaria de Direitos Humanos – SDH/PR, em conformidade com as diretrizes contidas no Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), voltados à promoção e defesa dos direitos humanos, entre outros, os da criança e do adolescente, da pessoa com deficiência, da pessoa idosa e de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Maiores informações sobre o edital no site da URCA www.urca.br.

Assessoria de Comunicação
Universidade Regional do Cariri - URCA
(88) 3102-1212 - 8812.5525 ramal 2617
www.urca.br – Crato, 28 de maio de 2011

Um tempo de plantar e um tempo de colher - José do Vale Pinheiro Feitosa

Não encontro realidade nas marcações do tempo. Pelo menos como metáfora de um tempo de plantar e um tempo de colher. Como regra de agricultura pode ser, não para a vida moderna que é atabalhoada. Misturam-se as metáforas, os sentidos, os desejos, as vontades e tantos outros sentimentos, pois vivemos a era dos sentimentos.

A realidade é que já nem existe a sequência do primeiro plantar e o depois colher. Na verdade tudo se resumiu a colher. Seja como expropriação ou como privilégio, seja como suores do trabalho que nunca chega para a suficiência de vida de uma colheita. A verdade é que não se sabe bem onde fica a plantação, no tempo e no espaço.

Em Crato com uma fatia de presunto de Santa Catarina, tirando de uma bolsa fabricada na China notas do Banco Central, impressas na Casa da Moeda, para pagar um lanche cujo trigo do pão veio da Argentina. Sem contar que o caixa enquanto fazia o troco com um fone de ouvido, balbuciava algo num inglês sofrível, tão distante dos falares de sua nascente cidade de Aiuaba.

Foi esta visão do fim das marcações do tempo que tanto horror causou aos americanos tão logo descobriram o risco em que se encontravam. Aliás, um parêntese, mas no tom: os EUA nos anos 60 enviavam para a América Latina, por um programa chamando Aliança para o Progresso, toneladas de comidas e roupas que já não usavam mais. O nordeste se encheu de tudo e muita gente da emergente classe média e das fazendas mais aquinhoadas comeu muito chedar com estranhamento de outro sabor e uma espécie de trigo que usavam para sopas.

Mas retornando ao horror americano. Eles perceberam que o mundo imediato já não dependia da autonomia de ninguém. Não se plantava e nem se colhia nada. Todos estavam como ligados a um fluxo de distribuição que funcionava com a fragilidade de uma irrigação sanguínea. Bastava cortar a artéria principal que tudo iria à falência dos organismos.

Na minha opinião, não bem explorada cientificamente, mas por suposição, isso explica a abundância de filmes de catástrofe dos anos 70 e 80. Qual era o mote central: era a interrupção da cadeia de distribuição de recursos essenciais à vida. Daí eles estimavam um retorno da civilização ao reino predador dos animais, um padrão repetitivo da herança puritana das colônias: com o crescimento do mal no espírito humano.

Enfim, a ausência do tempo de plantar e um tempo de colher se recolheu ao imaginário poético e a uma literatura de auto-ajuda que prima pelo vazio de sentido e por uma abundância de endorfinas.

Economistas erraram de novo - Paulo Moreira Leite em seu blog na revista Época

Este artigo foi publicado no blog de Paulo Moreira Leite na Revista Época. É de autoria dele e, claro, observando um evento pós-facto, qual seja não houve o estouro da inflação que excitava a oposição ao governo federal. O texto critica os economistas que tentam adivinhar situações futuras como instrumento de constrangimento político. Quem perde? Os economistas é claro. Mas também, quem gosta de política de um lado e outro do debate: situação e oposição.



Depois de ler os últimos números da inflação, acho que temos o direito de dar uma nova versão para uma velha frase.

Errar é humano. Errar duas vezes é burrice.

Errar três vezes é coisa de economista.

Parte de nossos economistas — alguns muito prestigiados — deveria fazer uma autocrítica pública em função de seus prognósticos mais recentes.

Muitos profissionais ligados a oposição ou que tem uma visão de politica econômica contrária a do governo Dilma, e que estão no rádio, na TV e nos jornais, formaram um coro nas últimas semanas para colocar o país em estado de alerta vermelho em função de um fantasma inflacionário.

O teto da meta da inflação é de 6,50%. Chegou-se a 6,51%, ou seja, apenas um milésimo (isso mesmo: 0,01%!) acima do teto, mas foi suficiente para se fazer um escândalo.

Dizia-se que a alta de preços estava fora de controle e que era preciso dar uma pancada forte nos juros — eufemismo para encaminhar o país para uma recessão.

Logo surgiram vozes para anunciar — com ares implacáveis — propostas de arrocho salarial. O argumento é que os preços não subiam por causa da expansão do crédito, apenas. Não. Era preciso ir mais fundo e encarar a dolorosa realidade de que os salários ficaram altos demais e pressionam os preços.

O raciocinio é assim: desemprego baixo impede as empresas de pagarem salários baixos, pois os trabalhadores — esses espertinhos — tem a chance de procurar ganhar um pouco mais em outro lugar. Com a pancada nos juros e a volta do desemprego alto tudo poderia retornar a seu lugar, como antes.

Num ambiente que lembrava pré-Grécia, pré-Irlanda, pré-Portugal e outros países europeus que encaram a ruinosa politica de austeridade do Banco Central Europeu, as chamadas medidas macro-prudenciais do Banco Central, elaboradas com a intenção de controlar a inflação sem produzir estragos desnecessários, numa operação delicada, difícil, com um certo risco, eram tratadas com ironia e sarcasmo.

Contos da carochinha, assoprava-se. Não havia como escapar da herança maldita deixada por Lula, gritava-se.

Menos de um mes depois, a realidade é outra. Em queda, a inflação está em torno de 5,5%. O crescimento foi afetado, sim. Ficará em 4,5%, quem sabe 4%. Não é, com certeza, aquilo que o país necessita.

Mas é um número que demonstra que aquelas medidas tão criticadas podem dar resultado. Podem ocorrer novas surpresas e dificuldades. Mas o saldo é favorável, pelo menos até agora.

Surpresa? Nem tanto. Se você fizer uma pesquisa rápida nos jornais, verá que nossos economistas erraram sempre — a atividade de prever o amanhã é sempre complicada — mas erraram mais em anos recentes. Anunciaram o caos em 2003. Disseram que o país teria um desempenho sofrível em 2004 e uma “grande frustração” a partir de 2005. Eles chegaram a denunciar Lula e Guido Mantega como irresponsáveis por ampliar o crédito e estimular o consumo depois da crise mundial de 2008, pois o desemprego em massa era uma fatalidade e os assalariados não podiam abrir mão de sua poupança para enfrentar dias de amargura. (Rs rsrsrsrsrsrs…)

Mas confesso que nada me produz tantas cócegas quanto as reflexões sobre a nossa legislação trabalhista. Nossos economistas passaram as duas últimas décadas repetindo um mantra: sem o fim da CLT não seria possível criar novos empregos. O país estava engessado, o empresário não tinha estímulos para contratar, as leis trabalhistas só protegiam uma casta. A verdade está ai. Em determinados lugares, vive-se aquilo que se chama de pleno emprego. Em outros, a oferta de postos de trabalho atinge um patamar recorde. A CLT não saiu do lugar. Pelo país inteiro, milhões de trabalhadores que há anos eram mantidos na condição dolorosa de comparecer ao batente sem nenhuma garantia agora tem décimo-terceiro, férias, descanso remunerado.

Essa situação não chega a ser uma novidade para alunos aplicados no estudo das surpresas e sutilezas da economia. Desde que John Maynard Keynes escreveu sua Teoria Geral do Emprego sabe-se que as empresas contratam trabalhadores porque precisam, e pagam por eles os salários que necessitam pagar. Como regra geral, contratações e demissões são produtos do ambiente geral da economia e apenas confirmam a verdade de que a experiencia real desafia a visão de senso comum. Os trabalhadores americanos conquistaram suas principais garantias na década de 30, quando o país estava mobilizado para vencer o desemprego e encerrar a Depressão provocada pela crise de 29.

Embora o pedantismo econômico e a linguagem tecnocrática tenham saído de moda, é sempre conveniente garantir rigor e cuidado numa análise. Estamos falando de 190 milhões de pessoas, de uma economia que pretende se tornar uma das maiores do mundo.

(Agradeço o alerta de comentaristas do blogue e do twitter para esclarecer que não considero que todos os economistas do país se comportam dessa maneira. Seria errado pensar assim. Muitos pensam de outro modo. Outros não se dedicam a análises da conjuntura econômica nem procuram apontar tendencias. )

"PEQUENO GRANDE GESTO" - José Nilton Mariano Saraiva

E de repente, de uma área não muita afeita a manifestações da espécie, porquanto povoada por “machões sarados”, aparentemente embrutecidos, e ainda por cima praticantes de um esporte onde o contato físico forte e ríspido é uma constante, uma atitude inusitada, um laivo de ternura e afeto, um “pequeno grande gesto”, que parece ter passado despercebido pela maioria dos que o vivenciaram, ao vivo ou via telinha (pelo menos não se ouviu ou se leu nada, a respeito).
Deu-se na frienta noite londrina, no novo e monumental estádio de Wembley, por ocasião da partida final da Copa dos Campeões da Europa, quando se enfrentaram as tradicionais e caras esquadras do Barcelona (Espanha) e Manchester United (Inglaterra), dois dos maiores expoentes do mundo futebolístico da atualidade.
Aos fatos.
Quase ao final do aguardado confronto, que mobilizou adeptos do futebol em todo o mundo (aos 43 minutos do segundo tempo) com o jogo já definido e o título assegurado em favor do excepcional Barcelona (3 x 1), o técnico Guardiola (ex-jogador do próprio clube), numa atitude de grandeza e desprendimento, resolve prestar uma justa homenagem ao seu correto “capitão”, o aguerrido zagueiro Puyol, que, lesionado, não tivera condição de adentrar ao gramado, de início; então, faltando dois minutos para o término da pugna, convoca-o a substituir um companheiro, com o claro intuito de, naquele momento maior, no ápice daquela gloriosa jornada, braçadeira de capitão no braço, fazê-lo erguer o troféu de campeão e, consequentemente, aparecer para a posteridade nas TVs de todo o mundo, ao vivo e a cores, e na primeira página dos principais jornais do mundo, dia seguinte.
Providenciada a substituição, daí a pouco o juiz determina o término da partida. E foi então, no momento da premiação, ante um batalhão de fotógrafos e centenas de canais de televisão de todo o mundo, que deu-se o inusitado, aquilo que denominamos um “pequeno grande gesto”, pelo espontaneidade e nobreza do ato: o guerreiro Puyol, evidentemente que fugindo do script armado pelo técnico Guardiola, mostra toda a sua humildade e excelência de caráter, ao abdicar de tamanha honraria e delegar ao discreto companheiro Abidal (lateral esquerdo), o privilégio de erguer o troféu, como se fora o verdadeiro “capitão” da equipe catalã.
Explica-se: meses atrás, Abidal fora desenganado pelos médicos, em razão da descoberta de uma grave e normalmente letal enfermidade (“câncer” no fígado) e fora afastado sumariamente das atividades esportivas; agora, após um tratamento pra lá de penoso, ali, ante um estádio ocupado por 80 mil pessoas e com a partida sendo transmitida pra bilhões de telespectadores em todo o mundo, além da confiança do técnico Guardiola em escalá-lo e mantê-lo durante toda a partida, Puyol, o “capitão” de todos eles, que entrara ao final do jogo unicamente pra “exercitar o que lhe conferia a patente”, humilde e simbolicamente transferia pra ele, Abidal, o privilégio de erguer o troféu de campeão.
Uma cena de cortar corações e levar qualquer um às lágrimas (embora alguns teimem em afirmar que “homem que é homem não chora”).
Pois, acreditem, não resistimos à cena e “abrimos o berreiro” (e prestamos esse depoimento, sem nenhum constrangimento).

Coisas Nossas, por Zé Nilton

São coisas nossas encontrar pessoas, e dentre elas, amigos de velhos tempos.

Pois não é que outro dia, um sábado, agorinha, lá estava eu no bar do Fabiano, no Lameiro, em frente à Capela de S. José Operário, tomando uma cervejinha, quando, de repente, chegou Samuel Araripe. Meu amigo Samuel desde os tempos de menino, quando o avistava, nas cabeceiras do velho engenho do Lameiro, correndo pra cima e pra baixo, brincado por entre as vastas terras da família, no sopé da Chapada do Araripe.

O agora prefeito convidou-me a sentar-se em sua companhia. A princípio, achegaram-se, afora os que vinham com ele, os seus familiares, mas onde está a autoridade baixa sempre a entourage. E haja a chegar vereadores, secretários, candidatos a canditado, e entre eles alguns amigos antigos que fazia tempo não os encontrava: Raimundo Filho, Duda, Panca... e a mãe de Samuel a dona Maria do Céu, figura impoluta e acreditada entre todos os moradores do velho/novo Lameiro e adjacências.

Pois bem, volta e meia cometo gafes horrorosas, como esquecer nomes, origens e posições de pessoas e até sua pertença familiar. Foi o que ocorreu com a primeira-dama, Mônica Araripe. Conversa vai e conversa vem, na dialética de ouvi-la e ponderar sobre seus empreendimentos produtivos para o município, mas longe de sacar de onde a conhecia no todo, essa pessoa tão familiar e ao mesmo tempo tão estranha em minhas lembranças. Na primeira tentativa de “me livrar do mal” do esquecimento, fiz-lhe uma vaga pergunta sobre, e ela me disse, na lata:

- Fui sua aluna, professor!

Roguei-lhe mil perdões.

Avistei, de soslaio, o outrora poeta marginal, e hoje fotógrafo municipal, Wilson Bernardes. Ele, pelo que vi, não focou a sua câmara em direção à mesa do bar do Wilson, lugar de um gostoso ágape, mandado servir pelo nosso loquaz e eloqüente “tuxaua”.

Afora os outros adjetivos, o “tuxaua” parece não condizer bem com a figura e a situação atual do prefeito. Há um sentimento, difuso, de que a nossa urbe parece andar inflacionada de caciques e morubixabas mandando de dentro e de fora, principalmente de fora para dentro.

Mas uma coisa nisto tudo me chama a atenção. No passado, quase todos os prefeitos brigavam com os governadores incrustados lá em Fortaleza, e deles se distanciavam comprometendo o desenvolvimento do Crato. Já com o ex-camisa sete do futebol cratense, há algo de diferente. O homem não tem hostilizado nem enfrentado aquele que sai nas colunas sociais e na imprensa conveniente, com a máscara de “socialista”, o nosso governador das bandas do norte.

O prefeito tem se segurado decentemente, e suportado a nova onda da política cearense. Não sou do partido do prefeito, e nem de nenhum outro, mas dou valor quando uma pessoa se mantém fiel a seus princípios ideológicos, sejam de direita ou de esquerda, se é que isso existe na prática.

São coisas nossas essas estrovengas políticas quando ventos viram redemoinhos. Os que eram isto, hoje são aquilo. E eu nem imagino até onde vai a “teimosia” do velho coqueiro da casa do Lameiro da família Alencar. Tem mais de 50 metros, e continua lá, pendendo e resistindo às intempéries da natureza.

As intempéries políticas costumam ser mais terríveis..
.
Mas o Crato é maior do que pensam as vãs cabeças políticas, todas elas...

E como diria o velho comunista Cacá Araújo – Salve o Crato!

PS. O prefeito ainda não cumpriu com a promessa de instalação dos redutores de velocidade anunciada sob aplausos dos presentes, por ocasião do rega-bofe, para o trecho em frente à Capela de S. José Operário, no Lameiro. Mas, como um dia disse o Dihelson Mendoça, do staff de comunicação da prefeitura, “tudo é só uma questão de um simples telefonema”.

E eu vou telefonar, mas que isto não vire um pesadelo, tal qual aquele encontrado no filme “Uma Simples Formalidade" (Una Pura Formalità). 1994. Itália. Direção e Roteiro: Giuseppe Tornatore.

E para quem gosta, nesta quinta, no Compositores do Brasil , a partir das 14 horas, na Rádio Educadora,AM 1020, www.radioeducarora1020.com.br, o grande compositor Alcyr Pires Vermelho.

Um bom fim de semana para todos.