Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Apuração parcial - Por Emerson Monteiro

A porta se abriu e de repente lufadas auspiciosas de vento escorrem na face metálica das superfícies, materiais enferrujados em volta das fábricas imaginárias de transformação inevitável, envolvendo tudo com a seda suave do gesto universal da natureza, em ondas insinuantes e repetitivas. Prazer adocicado que não existia poucos instantes passados, contato alegre de mudanças impetuosas na atmosfera e nos sentimentos. Gosto de viver contagiado de pura felicidade avassaladora, nas formas penetrantes através das mesmas frestas da memória que administraram a excitação muscular original, proveniente de épocas da infância, de quando, ao menor gesto, as fibras do coração renovavam cada história dos pensamentos reconstruídos nas tantas outras possibilidades que ninguém o destino. Seres alados das histórias fantásticas invadiam, cinematográficos, as alamedas do espírito, no ímpeto de circuitos mecânicos, precursores da plenitude, euforia inexplicável de roupas drapejando ao sol das manhãs, nas marcas de tempos amarelecidos nas velhas canções italianas que revigoravam o instinto de amor nos corações dormentes dos jovens esperançosos.
Contudo, diante das notícias recentes de terremotos, temporais e programas de televisão que dominam as individualidades, mostrando ao vivo recônditas furnas da consciência, ilustrada folhas vespertinas deste período da aventura humana, há pontos circulando suspensos no ar que aguardam maior discernimento. A velocidade nas estradas e o transbordo das gangues de periferia, ou do centro administrador do sistema, impõem conclusões apressadas, aciduladas, aos filósofos e poetas. Ao menor sinal, drásticas interpretações, no entanto, chegam aos analistas políticos, sempre audazes em permanecer no plantão das ocorrências, fiéis ao princípio da livre iniciativa das massas em franco amadurecimento, abertas a novas perspectivas milenaristas.
No trâmite natural da superposição de liderança, a cada turno eleitoral essa vontade superlativa de sonhar com elementos pouco elaborados nos bastidores da moral dominante.
A quantidade de letras e números bem que ultrapassa com fartura o mérito de tanta gente sonhar acordada perante uma crise quase característica da espécie dos primatas ilustrados, veteranos burgueses convencidos. A civilização capenga, engendrada nos becos e cavernas, estremece nos trilhos das facilidades com o erário público nas mãos, ao sabor das farras e dos batuques nos terreiros da fantasia. Raros, raríssimos, estoques de manufaturados sem data de vencimento chegam e saem dos portos numa seqüência de cartas devoradoras. Pontes metálicas, turbinas supersônicas, guarda-chuvas nucleares, ogivas atômicas, suaves mergulhos de plataformas intercontinentais, portas usb e tontos atores às primeiras horas da manhã, nesse gosto de azinhavre na boca do estômago. Suave murmúrio do teu suspirar, diz a lição dos efetivos doutores da ética.
Só louças quebradas em profusão; cantigas de final de festa, embriaguez das poucas notas musicais das vendas dos botecos em alta e algumas bolsas que oscilam, quando leves chegam as primeiras chuvas do verão sertanejo.

Passional

A fragilidade das noites em claro
após baques poderosos
reconheço através do coração acuado
aos pinotes.

Tu aproveitas.

Lanças sobre minha mente
sapos com bocas costuradas.

O castigo vem a galope
quando sonho:

milícias de sátiros cavalgando
sobre teu dorso em brasa.

E os teus risinhos diabólicos
entram por meus ouvidos de anjo.

De fato, sou um anjo.

Senão ao acordar
puxaria do armário
a velha faca de cortar pão
e sangraria teu sinal do peito.

Antes, é claro, limparia todas as tuas verrugas
de um golpe só em forma de círculo.

Mas não te preocupes.
Eu sou um anjo.

Apenas ao meu corpo
suspiro açoites.

E à minha alma
canto o inferno.

A poesia de Geraldo Urano

a manhã
é uma enchente de
luz
a tarde
um mar de água
quente
e a noite
um grande perfume
minha primeira
dose de rum
meu primeiro
cigarro
meu primeiro beijo
---------------------

sou feliz
porque sou infeliz
e vice-versa
o mundo
é uma borboleta
bondosa e frágil
que precisa de nós
o mar lambe a
cidade
lambe os meus
pés
entro com o
meu rosto numa
nuvem
e escrevo
no seu coração
a palavra paz
--------------

assim como o copo
está cheio de ar
e a bola do sol
corre pelo céu da tarde
e as nuvens pintam
o céu
estejam vocês
repletos
com o néctar de Krishna
-----------------------
todas as
mulheres são irmãs
diferente
como os dedos
da minha mão
geladas como cerveja
quentes como vulcão
precisavam
ser mais feleizes
eu precisava
ser mais mulher
eu quero pintar as
unhas
eu quero botar batom
é meio dia
dou um gole de coca cola
ao sol

Geraldo Urano
Poeta cratense, nascido em 10 de junho de 1953. Autor dos livros Despretensionismo, em parceria com Rosemberg Cariry(1975), Vaga-Lumes (1984) e o Belo e a Fera (1989). Participou da coletânea Poesia de Agora, editado pela Secretaria de Cultura do Ceará (1981). Publicou o poema A Cor do Lírio em formato de folheto de cordel (1986).Tem poemas publicados em vários periódicos literários, a exemplo da revista Seriará e dos jornais Nação Cariri e Folha de Piqui. Assinou seus poemas, também, como Geraldo Gandhi, Geraldo Mérkur, Geraldo Efe,Geraldo Orinco, Lima Batista e Eduardo Batista. É autor de várias letras musicadas, algumas gravadas, por compositores caririenses, como Luiz Carlos Salatiel, Pachelly Jamacaru, Cleivan Paiva, Paulinho Chagas, Bá Freire, Abidoral Jamacaru e Calazans Callou.

Vaga-Lumes, o Livro

"Sou uma filha da natureza:
quero pegar, sentir, tocar, ser.
E tudo isso já faz parte de um todo,
de um mistério.
Sou uma só... Sou um ser.
E deixo que você seja. Isso lhe assusta?
Creio que sim. Mas vale a pena.
Mesmo que doa. Dói só no começo."


Viver em sociedade é um desafio porque às vezes ficamos presos a determinadas normas que nos obrigam a seguir regras limitadoras do nosso ser ou do nosso não-ser...
Quero dizer com isso que nós temos, no mínimo, duas personalidades: a objetiva, que todos ao nosso redor conhece; e a subjetiva... Em alguns momentos, esta se mostra tão misteriosa que se perguntarmos - Quem somos? Não saberemos dizer ao certo!!!
Agora de uma coisa eu tenho certeza: sempre devemos ser autênticos, as pessoas precisam nos aceitar pelo que somos e não pelo que parecemos ser... Aqui reside o eterno conflito da aparência x essência. E você... O que pensa disso?


Só o que está morto não muda!
Repito por pura alegria de viver:
A salvação é pelo risco,
Sem o qual a vida não vale a pena!!!"

“Acho que devemos fazer coisa proibida – senão sufocamos.
Mas sem sentimento de culpa e sim como aviso de que somos livres.”

Clarice Lispector


Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.

Clarice Lispector

O Livro do Cariricaturas - Edição e Lançamento




Um livro escrito por muitas mãos: uma coletânea com nossos escritores e artistas.

Detalhes :

. Release com fotografia de cada escritor ( 01 página)
• 4 textos por escritor (máximo de 7 páginas - fonte : garamond - altura : 12) - Temática livre ( crônicas, contos e poemas).
• Os textos serão escolhidos pelos próprios escritores;
• um contingente de 200,00 por escritor
• O pagamento poderá ser feito em 4 x 50,00 ( fev-mar-abr-maio)
. O livro será dedicado aos mestres de todos os tempos, representados por Dr. José Newton Alves de Sousa.
- A capa será a foto de Pachelly- essa que já caracteriza o Cariricaturas.
- O título é: "Cariricaturas em prosas e versos"
- Edição: Emerson Monteiro ( Editora de Sonhos - Crato-Ce)
- Dedicatória ( Assis Lima )
- Prefácio/ Apresentação ( José do Vale e Zé Flávio)

-Já estão confirmadas as seguintes adesões:

01. Claude Bloc *
02. Magali Figueirêdo *
03. Carlos Esmeraldo *
04. Maria Amélia de Castro
05. Ana Cecília Bastos
06. Assis Lima *
07. Socorro Moreira *
08. Stela Siebra de Brito
09. Wilton Dedê
10. João Marni
11. Rejane Gonçalves
12. Rosa Guerrera *
13. Heladio Teles Duarte *
14. Edilma Rocha
15. Emerson Monteiro *
16. José Flávio Vieira *
17. João Nicodemos
18. José do Vale Feitosa *
19. Liduina Vilar *
20. Elmano Rodrigues
21. Carlos Rafael
22. Armando Rafael
23. Bernardo Melgaço
24. Domingos Barroso *
25. Roberto Jamacaru *
26.Dimas de Castro *
27.Joaquim Pinheiro *
28.Edmar Lima Cordeiro
29.Hermógenes Teixeira de Holanda
30.Olival Honor
31.José Nilton Mariano
32.Marcos Barreto
33.Isabela Pinheiro
34.José Newton Alves de Sousa

35.Vera Barbosa

* Escritores que já enviaram material para edição.


Lembrem-se:

O envio dos textos será até 31.01.2010.


Outras informações :
Tiragem : 1.000 exemplares
Distribuição entre autores : 20 para cada
Saldo : será transformados em ingressos para cobrir as despesas da festa de lançamento : coquetel, convites, divulgação, banda,decoração, etc
Se houver saldo de livros será redistribuído entre os autores.
Preço do livro por unidade : 20,00
A edição foi orçada em 6.000,00 ( já considerados todos os descontos possíveis).
Número de páginas : 260 ( aproximadamente).
O valor da contribuição por escritor ( 200,00) será depositado numa cta do Editor (Emerson Monteiro) a ser informada por e-mail. Em contrapartida será enviado respectivo recibo.
Atentar para as datas limite de envio do material ,e de pagamento :
Data limite para depósito : Até maio de 2010.

Claude e Socorro Moreira

Um Dedinho de Amor - Elisa Lucinda



Mamãe tinha cinco filhos e um marido que amava, mas nunca associara amor de casamento com os frutos dessa união. Não tinha um dedinho de consideração por nós. O Kiko ficou reprovado pela 2ª vez na mesma série, e ela disse apenas folheando o jornal: é novo, ano que vem passa.

Eu pequena, olhava aquela hereditariedade de desafeto, aqueles irmãos vindo antes de mim sem afago de mãe. Eu caçula, observava e pensava: qual será a escala para escalá-la? Nada. Era sempre uma mãe distante, mãe montanha, mãe gigante, mãe longe, não imbuída de nos amar, não incumbida dos mais naturais cuidados: merenda, beijo, histórias na hora de dormir, preocupações pentelhas – Não suba no muro, não caia daí!

Ai, era uma mãe extra mater. Parecia que estivéramos todos fora dela quando dentro.
Até que um dia o irmão do meio adoeceu sinistramente na sexta e no domingo definitivamente nos deixou. Eu mal chorava. Tudo em mim eram olhos espantados de ver minha mãe assolada de uma ternura mórbida, porém ternuríssima, sobre o corpo: meu filho, meu amado, meu preferido, minha vida. Proferia ela amorosos impropérios destoantes do que eu entendia como real até então. Na dor da perda, minha mãe amava mais aquele filho do que a todos quando nasceram: filho meu, bendito filho meu, o que será de mim?

Compreendi que a culpa disparava nela um amor retroativo, forte, maravilhoso que, se não ressussitara meu irmão, tamanha sua força, em mim produzira uma extensa lavoura de esperança de afeto.

E fora assim desde então. Se algum adoecia, minha mãe fechava as portas dos jornais, da televisão, do marido, do mundo, pra ser só mãe daquele filho enfermo. Cabeceiras insones, histórias contadas até a febre se render, beijos longos que diziam: não me deixe amado, não me deixe.

E eu? Eu tinha era uma filha da puta de uma saúde que teimava em não me largar. Todo mundo lá em casa pegava gripe forte, porque ainda não existia dengue, pegava hepatite tipo analfabeta, porque ainda não havia classificação, caxumba, catapora e infecções sucessivas de garganta. E eu, boinha da silva! Me encostava em todos, me oferecia para cuidar; pequenina ainda, queria respirar o ar contaminado do sangue irmão. E nada. Ela mesmo dizia: essa não precisa de mim. E eu precisava.
Então passei a perseguir acidentes naturais, árvores altas, bombas proibídas em São João, altas velocidades em carrinhos de rolimã, mãos perto demais das fogueiras, mas nenhum galho fraco era meu cúmplice, nenhuma bomba amiga minha, explodira, nenhuma ladeira era minha companheira, nenhuma chama minha irmã.

Um dia, tinha só cinco, fui na gráfica do meu pai. Pensei, vou machucar um pedacinho do meu dedo, vai doer, vai ter sangue, curativo, lágrimas de minha desejada mãe, alguma febre, choro meu, colo, colo, colo e, só depois, muito depois, conserto. Só que a máquina era lâmina e minha matemática, pouca. Calculei mal. Pus o mindinho na guilhotina e fechei os olhos pensando nos olhos de minha adorada mãe que eu ainda não havia experimentado acolhedores sobre mim. Eu era a última, a menorzinha, a despedida da prole, carregava a impressão de ter nascido e ouvido um adeus ao mesmo tempo. A máquina decepara meu dedo. Deixara apenas uma falange-cotoco primeira, uma base de dedo. Foi rápido. Sangue, muito mais sangue do que eu previa. Torpor.
Meu pai desesperado trazido amparado pelos empregados eu não vi. Vi só minha mãe morrendo de dor pelo dedinho meu que perdi e que em mim não doía e nem fazia falta.
- Minha filha, minha filhinha adorada, minha preferida, minha garotinha amada, mamãe tá aqui, tá doendo? Responde, tá doendo? E, eu mentindo: muito mamãe, muito. Mas, não doía nada. Se doía, o amor de minha mãe vindo assim em lufadas inéditas sobre mim que era um machucado só, estancava qualquer dor. Se confessasse, poderia perdê-la de novo. Então perdi um dedinho, um mísero dedinho pra ganhar uma mãe.

Fui crescendo feliz com mimo por aquela mãozinha manca. Na escola, no primeiro dia de aula, me divertia em enfiar essa falange vitoriosa no nariz para que a professora de estréia pensasse que havia todo o dedo dentro dele. Ela repreendia: o quê é isso Cristina? Tira o dedo do nariz! Que coisa feia, menina feia que você é. Vai se machucar assim. Então, eu tirava a falange mínima, quebrando a ilusão ótica no nariz da mestra. E ela: ô, desculpa querida, me perdoa, a titia não sabia...
E olhava com olhos de se olhar com pena sobre os aleijados e muito arrependimento daquela gafe. Eu gostava da cena. Repeti isso por todo primeiro grau, a cada primeiro dia de aula. Era uma beleza.

Nunca mais perdi minha mãe. Nunca mais fiquei boa do dedo e nem ruim dele. Nunca quis ele de volta. Quem quis ele era a minha mãe. Por muito tempo, fiquei dando meus pedaços para ser amada. Agora não.
Minha mãe ainda quer meu dedo de volta. Eu não quero mais nada. Tenho mãe. Dar um dedinho por uma mãe é muito pouco.
Antes de mim, ela não tinha um dedinho de consideração por ninguém dos filhos. Agora tem.

De João Nicodemos

no tiro ao pombo
quem é que
paga o pato?



por Nicodemos

De Nicodemos para José Normando


o poeta morreu
versos ao léu
que ninguém leu.

UM OLHAR por Rosa Guerrera


Um olhar acompanha

minha lembrança

rabiscando numa tela antiga

uma aquarela desbotada .


Um verso inacabado

preso numa concha .

Escultura marinha

onde deixei preso

o meu coração.



Anna Pavlova
(Bailarina russa)
12-2-1881, São Petersburgo
23-1-1931, Haia


Seu nome de batismo era Anna Pavlova Matjeweja. Com 17 anos apenas, atuou como primeira-solista no Teatro Imperial de sua cidade natal, do qual se tornou primeira-bailarina em 1906. Em 1905, foi primeira-bailarina de Michail Fokin em O Lago dos Cisnes (com música de Camille Saint-Saëns), a obra que a imortalizou. Pertenceu aos Ballets Russes que Serguei Diaguilev fundou em Paris com bailarinos de São Petersburgo e Moscou. Com este grupo, e mais tarde com a própria companhia, realizou várias turnês pela Europa, América e Ásia. Grande bailarina, destacou-se pela disciplina e pela técnica brilhante, a que uniu a grande expressividade de sua força individual. Em 1914, atuou pela última vez na Rússia.

Salvador Dali



Salvador Dali
Salvador Felipe Jacinto Dalí y Domenech
1904-1989



Como Excentricidades e declarações provocadoras fizeram de Salvador Dalí uma das mais polêmicas figuras da arte contemporânea, mas não impediram que sua obra fosse Reconhecida como uma das mais Audaciosas e apuradas da pintura surrealista.


Salvador Felipe Jacinto Dalí nasceu em Figueras, Catalunha, na Espanha, em 11 de maio de 1904. Desde cedo Revelou talento para o desenho eo pai tabelião, um, mandou-o a Madri para estudar na Escola de Belas-Artes de San Fernando, da qual anos depois seria expulso.

Na capital espanhola conheceu o cineasta Luis Buñuel eo poeta Federico García Lorca. Suas primeiras obras, como "Moça à janela", enquadradas numa linha naturalista e minuciosa, já produziam uma ambígua sensação de irrealidade, que se acentuaria posteriormente.

Em 1928, persuadido pelo pintor catalão Joan Miró, transferiu-se para Paris e aderiu ao movimento surrealista. Foi por essa época que conheceu a mulher do poeta Paul Éluard, Gala, sua futura companheira e modelo.

Colaborou então com Buñuel em dois filmes célebres, Un chien andalou (1928; Um cão andaluz) e L'Âge d'or (1930; A idade de ouro) e pintou algumas de suas melhores obras: "A persistência da memória" e " O grande masturbador ". Nelas exibia um estilo maduro que, embora mostrasse Certas influências de De Chirico, atestava absoluta originalidade como representação de um mundo onírico, povoado de alegorias metafísicas e imagens sexuais, apoiadas numa técnica apurada.

Sua exposição de 1933 lhe deu fama internacional e Dalí lançou-se, então, a uma vida social repleta de provocações e Excentricidades. Essa atitude, por alguns Considerada mistificadora e venal, uma Aliada uma postura apolítica, provocou sua expulsão do grupo surrealista.

Durante esse período, adotou o "método de interpretação paranóico-crítico", Baseado nas teorias da psicanálise, Associando elementos delirantes e oníricos numa linguagem pictórica realista, com freqüentes imagens duplas e objetos do cotidiano, como em "Construção ervilhas cozidas com mole", "Praia com telefone", "Premonições da guerra civil", "Canibalismo de outono" e "O sono".

Durante a segunda guerra mundial radicou, Dalí-se nos Estados Unidos, perto de Hollywood, e alguns colaborou em filmes. No final da década de 1940 regressou a Espanha e deu início uma fase um inpirada em obras-primas de pintores do passado, como "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci, "As Meninas", de Velázquez, "Angelus", de Millet, "A batalha de Tetuan", de Meissonier, e "A rendeira", de Vermeer de Delft - seu pintor favorito.

Posteriormente, alternou uma pintura com o desenho de jóias ea ilustração de livros. Enquanto isso, sucediam-se as retrospectivas de sua obra (Nova York, 1966, Paris, 1979, Madri, 1982) e, à medida que diminuíam suas aparições públicas, a polêmica dava lugar à renovação do interesse por sua pintura.

Em 1974 foi inaugurado em Figueras o Museu Dalí. Oito anos depois morreu Gala, fato que incidiu Negativamente sobre sua atividade artística.

Em 23 de janeiro de 1989, na mesma Figueras natal, morreu Salvador Dalí.

© Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Manet



Édouard Manet nasceu em Paris, a 23 de janeiro de 1832, e morreu na mesma cidade a 20 de abril de 1883. Nascido em uma família burguesa, Manet cresceu com todos os privilégios de boa saúde e educação, mas escolheu tornar-se um artista em vez de seguir os passos do pai e do avô no Direito.

Ainda jovem, tentando a carreira naval, embarcou em um navio mercante para uma viagem ao Brasil, retornando após alguns meses. Mas entre 1850 e 1856 passa a estudar no ateliê de Thomas Couture. Não se submetendo ao ensino acadêmico, contudo, prefere freqüentar os museus, viajando pela Itália, Áustria, Alemanha, Bélgica e Holanda.

Os anos seguintes foram de luta persistente para ser admitido no Salão (exposição anual de obras de arte selecionadas pela crítica). A batalha contra a crítica oficial e as convenções do seu tempo é a própria vida de Manet, que só encontrou receptividade entre os impressionistas.

Diálogo com a tradição
Manet pode ser considerado como o último representante da tradição e o primeiro entre os modernos na pintura francesa. Pertence à tradição pelo seu apego aos mestres do passado, cuja lição recria em várias obras, e também pela insistência em procurar o reconhecimento oficial. E é o primeiro entre os modernos por exprimir uma nova concepção da realidade e de sua representação por meio da arte.

Manet procurou refúgio nos mestres antigos exatamente por reação às convenções acadêmicas: tinha desprezo ostensivo pelas fórmulas temáticas, a pseudopsicologia melodramática, a retórica sentimental, a pintura pseudofilosófica, etc. Quanto às técnicas, preferiu o modelado plano e rejeitou as meias tintas da pintura acadêmica.

A fim de evitar a pintura convencional do seu tempo, Manet procurou nos mestres antigos a diversidade da expressão temática e das soluções plásticas. Seus temas são anticonvencionais, são mais pretextos do que temas. O que o interessava, mais do que a observação realista, era a solução de problemas plásticos, inclusive em suas recriações de quadros célebres. Nesse sentido, mais do que precursor do impressionismo, é precursor da pintura moderna.

Manet foi rejeitado pela primeira vez no Salão de 1859, embora ainda fizesse concessões ao gosto da época. Em 1861, dois de seus quadros foram bem recebidos pelo Salão, mas o estilo dessas obras ainda era o do realismo tradicional.

O choque definitivo entre Manet e os juízes do Salão veio com o "Almoço na relva", em 1863. Embora o seu modelo fosse um quadro clássico, o "Concerto campestre", de Giorgione, a obra de Manet foi julgada insolente pelas suas características eróticas. O quadro foi exibido no Salão dos Recusados, aberto no mesmo ano para os pintores que não eram admitidos ao Salão.

Ao mesmo tempo, Manet expõe na Galeria Martinet vários quadros hoje famosos, como "Lola de Valence", "La Musique aux Tuilleries", etc. Seu cromatismo ousado, seu realismo cotidiano, oposto aos grandes temas convencionais da época, despertaram a hostilidade implacável da crítica.

Escândalo
Escândalo ainda maior do que "Almoço na relva" foi provocado pela "Olympia", recusada pelo Salão de 1865. A razão da recusa talvez tenha sido a intenção evidente de paródia do academicismo que tematizava as vênus eróticas de Ticiano. A par do erotismo considerado mórbido e de mau gosto, Manet utilizava a cor de maneira insólita e o modelado mais plano possível, em contraste aberto com o realismo. A influência principal terá sido, nesse caso, a da gravura japonesa.

O Salão de 1866 confirmou a reputação de Manet como revolucionário, recusando "O pífaro", cujo modelo evidente é um quadro de Velásquez. Tornaram-se claras as razões da recusa: Manet era rejeitado pela ousadia artística e não por ofensa à moral pública. Pelas mesmas razões ele não foi aceito na Exposição Internacional de 1867. Organizou sua própria exposição, em que, entre dezenas de quadros, surgiu uma obra-prima: "Execução de Maximiliano", tendo como modelo o "Três de maio", de Goya. O tema era pretexto para estudos de cor, luz e sombras.

Mestre e adepto
Manet não foi tanto, como já se difundiu por equívoco, precursor do Impressionismo. Mas sua obra revelou traços de afinidade com os novos pintores. Recusado, como os impressionistas, pela crítica oficial, é natural que estes o atraíssem. E Manet pode ser considerado como meio mestre e meio adepto da nova corrente. A afinidade principal entre Manet e o Impressionismo era de ordem metódica: redução da pintura à sua natureza específica, pela pesquisa de massas, de luz e de cor.

Quase sempre recusado oficialmente, Manet gozou, entretanto, de um prestígio enorme nos meios mais avançados da época. Além dos impressionistas, foram seus defensores Baudelaire, Zola, Mallarmé e outros escritores. Em nossos dias, ele é considerado o principal ascendente da pintura moderna, antecedendo os revolucionários impressionistas.

Fonte: Enciclopédia Mirador Internacional.

Ilhada - por Socorro Moreira



Chuva ilhando o convívio
Fertilizando a saudade
Nos corredores vazios
Mal-não-quero
Bem-me-faz
E o azul que se perde na chuva
Volta no amarelo solar.
Verde tinta, natureza
Espero você voltar
Lá adiante...
O tempo não sabe contar.
Roupa velha
Pano novo
Tesoura para cortar
Arrasto a sandália...
Pernas, pra que te quero?
Ajuda-me a chegar lá.
Meu pensamento dorme,
Aquieta-se, silencia
Tua voz, como escutar?
Quando foi?
Nunca mais...

-----------------------


"Dançando na Chuva"
.
Visitas diárias
É a chuva
Ela gosta dos últimos dias de Janeiro
De molhar nossos livros,
quando as aulas recomeçam
Já fazia parte do nosso enxoval:
Capa, sombrinha e galocha...
Chuva aumenta
a vontade de dormir
a vontade de comer, pegando fogo...
De tomar chocolate quente,
na beira do fogo...
Tempos úmidos
Quietude interior,
Queixo-me do cabelo molhado de suor...
Queixo-me do cabelo molhado de chuva...
Tudo me resfria,
mas que fazer com a natureza,
se ela faz parte do meu dia?
Imploro um raio de sol,
Pipocas!
Um filme de amor...
Com trilha sonora,
que me faça fechar os olhos...
Uma visita surpresa,
bolinhos de chuva,
e uma caneca de chá...
É pra já!
Espero assim,
o calor, e o inverno chegar...
Nos braços dos sonhos,
sempre acho o meu lugar!
Figurativa

O pai cavando o chão mostrou pra nós,
com o olho da enxada, o bicho bobo,
a cobra de duas cabeças.
Saía dele o cheiro de óleo e graxa,
cheiro-suor de oficina, o brabo cheiro bom.
Nós tínhamos comido a janta quente
de pimenta e fumaça, angu e mostarda.
Pisando a terra que ele desbarrancava aos socavões,
catava tanajuras voando baixo,
na poeira de ouro das cinco horas.
A mãe falou pra mim: ‘vai na sua avó buscar polvilho,
vou fritar é uns biscoitos pra nós’.
A voz dela era sem acidez. ‘Arreda, arreda’,
o pai falava com amor.
As tanajuras no sol, a beira da linha,
o verde do capim espirrando entre os tijolos
da beirada da casa descascada, a menina embaraçada
com a opressão da alegria, o coração doendo,
como se triste fosse.

As Mortes Sucessivas

Quando minha irmã morreu eu chorei muito
e me consolei depressa. Tinha um vestido novo
e moitas no quintal onde eu ia existir.
Quando minha mãe morreu, me consolei mais lento.
Tinha uma perturbação recém-achada:
meus seios conformavam dois montículos
e eu fiquei muito nua,
cruzando os braços sobre eles é que eu chorava.
Quando meu pai morreu, nunca mais me consolei.
Busquei retratos antigos, procurei conhecidos,
parentes, que me lembrassem sua fala,
seu modo de apertar os lábios e ter certeza.
Reproduzi o encolhido do seu corpo
em seu último sono e repeti as palavras
que ele disse quando toquei seus pés:
‘deixa, tá bom assim’.
Quem me consolará desta lembrança?
Meus seios se cumpriram
e as moitas onde existo
são pura sarça ardente de memória.


ADÉLIA PRADO. BAGAGEM. Rio de Janeiro: Record, 2005.

Rebrinco - Adélia Prado

As primas vinham ensaboar as de missa.
Enchiam a bacia de espuma, Tialzi cuspia dentro,
ai que nojo. Mesmo assim, tão bonito!
As calcinhas de Tialzi amarelavam no fundo,
dois, três na grama, marronzavam.
Eu andava em círculos, escutava conversa,
interrogava com apertada atenção.
Quando de tão calada me notavam, eram as pragas.
Tão boas, tão como devem ser que eu desinteressava,
ia chamar Letícia pra brincar.
Medo que eu tinha era não ter mistério.


O Chão é a cama

O Chão é a cama para o amor urgente,
O amor não espera ir para a cama.
Sobre o tapete no duro piso,
a gente compõe de corpo a corpo a última trama.
E para repousar do amor, vamos para a cama!

Carlos Drummond de Andrade
"Toda felicidade é construída por emoções secretas. Podem até comentar sobre nós, mas nos capturar, só com a nossa permissão."

(-A minha felicidade não é a sua-)

Martha Medeiros
Um anjo vem todas as noites:
senta-se ao pé de mim, e passa
sobre meu coração a asa mansa,
como se fosse meu melhor amigo.
Esse fantasma que chega e me abraça
(asas cobrindo a ferida do flanco)
é todo o amor que resta
entre ti e mim, e está comigo.

Lya Luft
Não há enganos.
Os acontecimentos que recaem sobre ti,
por muito desagradáveis que sejam,
são necessários para que aprendas
aquilo que precisas aprender.

Cada passo que dás
é necessário para chegar ao local
que escolheste.

Richard Bach

Caderno de Poesias - Clarice Pacheco




Caderno de poesias
é um belo lugar.
Tantas coisas lindas
que eu gostaria de falar.
Eu falo em forma de versos
para todos poderem escutar.
Agora você já sabe
por que os poetas passam os dias
escrevendo em seus cadernos de poesias.

Clarice Pacheco
Escreva um poema ...!!!
A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?

Charles Chaplin

Um poema de Quintana , uma foto de Nívia Uchôa


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mário Quintana
Quereres
- Por Claude Bloc -
.

Buscar o sentido,
sorver as escolhas,
romper as amarras
liberdade, liberdade de onde vens?

Cala-se o tempo
e esse mundo todo
do tamanho dos sonhos
e lá vou eu
eu e meu reflexo
eu e meu avesso
fluxo natural
dos meus quereres.


Claude Bloc

Jeanne Moureau



Jeanne Moureau em 2006 no Festival Internacional de Cinema de San SebastianJeanne Moreau (Paris, 23 de janeiro de 1928) é uma premiada atriz francesa.

Filha de um barman francês e de uma bailarina britânica, teve formação de uma atriz clássica no conservatório, pela passagem pela Comédie Française e pelo Teatro Nacional Popular (TNP).

Foi dirigida por grandes diretores como Michelangelo Antonioni, François Truffaut, François Ozon, Louis Malle e Orson Welles, entre outros.

Foi a primeira atriz não norte-americana a aparecer na primeira página do Time Magazine