Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Temor nas cidades – por Cláudio Lembo (*)

A insegurança social se amplia por toda a parte e se acentua na América Latina. O fenômeno não é apenas brasileiro. Encontra-se presente por todos os países em graus diversos. Alguns sofrem as intervenções do narcotráfico com intensidade. Outros, os conflitos entre gangs. Muitos ainda são afrontados pelos meliantes que assaltam e não poupam vidas.

Há um indiscutível mal-estar permeando as sociedades. Muitas vezes, aqui como em outros continentes, os governos são causadores deste sentimento de fragilidade.
Governantes corruptos ou indecisos conduzem mal os assuntos de Estado. Levam à sociedade uma ideia de fraqueza e oportunismo. A política conduzida, como "cosa nostra", envolve e enfraquece a todos. Esta vulgarização dos assuntos políticos, tratados como tema de submundo, empobrece o conteúdo ético da missão do político. Este deve ser exemplo de conduta. Não pode se utilizar do código dos malfeitores.

Tudo apodrece. As relações sociais. Os relacionamentos entre empresários. A ligação entre alunos e professores. Os vínculos trabalhistas. Até mesmo as crenças religiosas. Avança este mal-estar por todos os segmentos sociais. Alunos se revoltam contra as autoridades universitárias. Populares entram em confronto sangrento com polícias, como se deu no Paraguai. Tratados internacionais não são respeitados, mesmo que preserve quem não deveria, em tese, receber proteção, tal como se dá nas relações entre Bolívia e Brasil, no momento.

O narcotráfico age com desenvoltura na Colômbia e no México. Mata. Corrompe. Destrói a legalidade. Em outros países, governos cerceiam a liberdade de expressão. As pessoas se encontram vulneráveis. Expostas a todos os riscos. As autoridades proferem belas palavras. Agem com extrema parcimônia contra a delinquência. É estranha a situação. As pessoas, no decorrer dos séculos, concentraram-se nas cidades em busca de segurança física. Procuraram conquistar segurança política: ao conquistar o voto e livremente expressar suas vontades.

Perderam, paradoxalmente, a autoestima. Todos se sentem ameaçados. Agredidos. As autoridades não expressam com clareza suas posições. Tudo em circunlóquio. Nada é direto. Capaz de trazer conforto psicológico. A cidade, construída para oferecer segurança, tornou-se a armadilha para os cidadãos de boa conduta. Desarmados, sofrem os ataques da má vida. O episódio é universal. Mais acentuado nesta América Latina. Seria oportuno que as universidades – despidas de ideologias – examinem os acontecimentos de todos os países e de maneira especial os ocorridos no Brasil.

Assaltos a residências. Arrastões em bares e restaurantes de todas as categorias. O estouro de caixas eletrônicas. Os sequestros relâmpagos. Enfim, um amontoado de violências. As autoridades se mostram frágeis. Incapazes de enfrentar com clareza a situação. Fazem reuniões palacianas. É pouco. Deviam consultar especialistas. Ouvir a experiência de policiais acostumados ao diuturno da tragédia humana. Dar-lhes palavras de incentivo. Oferecer equipamento qualificado para as operações contra a criminalidade. Os meios de comunicação, por seu turno, deveriam, a partir de um Código de Conduta próprio, compreender que o assunto segurança precisa ser tratado com limites.

O noticiário alarmante – mesmo que baseado na verdade dos fatos – conduz a uma histeria coletiva de consequências amargas. A sociedade fica estática. Apavorada. Sem ação. Todos têm motivos para colaborar em uma busca da segurança cidadã. Ninguém pode fugir a sua responsabilidade: principalmente os governantes.
(*) Cláudio Lembro é ex-governador do estado de São Paulo.