Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Por Norma Hauer

MI BUENOS AIRES QUERIDO
CARLOS GARDEL

“Chegou a hora da fogueira
É noite de São João
O céu fica todo iluminado,
Fica o céu todo estrelado
Pintadinho de balão.”

Uma grande fogueira na cidade colombiana de Medelín, na noite de 24 de junho de 1935 destruiu um ídolo da música popular argentina conhecido e admirado em todo o mundo.
Morreu CARLOS GARDEL
Gardel se apresentara fazendo muito sucesso em New York onde estrelou dois filmes (“El Dia que me Quieras” e “Tango Bar”).
Faria uma excursão por alguns países da América Latina, iria à Europa, retornaria aos Estados Unidos e só depois voltaria a sua “Buenos Aires Querida”.
Mas um acidente acabou com seus sonhos e uma fogueira com sua voz.
Aliás, esta ficou em suas gravações que continuam sendo lançadas em Buenos Aires, onde os argentinos dizem que ele “canta cada vez melhor”.
Talvez a “geração” Maradona já não o ame tanto, mas há casas como o Tortoni onde se canta e dança o tango original e onde CARLOS GARDEL ainda é o grande ídolo.
Estive em Buenos Aires por ocasião dos 50 anos da morte de Gardel e vi as muitas homenagens que lhe prestaram há 25 anos.
Hoje, mais 25 anos, não sei se ele foi referendado em “sua” Buenos Aires. É tempo de Copa do Mundo e de Maradona.
Será tempo de Carlos Gardel e sua poesia?
Não sei, mas aqui deixo esta pequena homenagem àquele que brilhou no mundo artístico de sua época.
.

O Beijo

Edith Shain partiu neste último domingo, aos 91 anos. Vida longa. Três filhos, seis netos e oito bisnetos gravitavam em torno dela, numa casa em Los Angeles. A idade lhe consumira o frescor dos anos primaveris : Quase não lembrava a mocinha doce que fora enfermeira no Doctor´s Hospital em Nova York , nos anos 40, e, depois, professora de uma creche pública. Sua existência nada teve de muito extraordinário em se comparando com outras mulheres da sua geração. Nada. Trabalho, família constituída, atribulações cotidianas de uma enfermeira com seu ofício e afazeres domésticos. Apenas um fato inusitado, célere, imprevisível, a levou à celebridade. Destes acasos que fogem à perscrutação dos maiores visionários e que , tantas vezes, soprando em vento contrário, fazem com que o raio caia na nossa cabeça, ou pombo, em vôo, nos acerte a fronte com seu excremento. Mesmo assim, Edith manteve o segredo por quase quarenta anos. Temia a exposição às câmaras ou uma interpretação maliciosa por parte dos familiares e da sociedade norte-americana tão afeita ao falso moralismo e à hipocrisia.
Naquele 15 de Agosto de 1945, Shain , como toda Nova York, saiu mais cedo do trabalho e dirigiu-se à Time Square. Comemorava-se o Dia da Vitória , com a rendição final dos japoneses. O fim das agruras da II Guerra Mundial que havia ceifado tantas vidas daquela sua geração e posto sérias interrogações sobre o futuro da humanidade depois das imagens de Auschuwitz, Hiroshima e Nagasaki . Lá, uma alegria epidêmica contagiava a todos: vários militares beijavam as moças nas ruas, prenunciando uma época de aumento nos nascimentos , em todo o mundo, que se chamou, depois de Baby Boom. Como se a vida tentasse recuperar as perdas e estabelecer, claramente, sua soberania sobre a morte.
De repente, um marinheiro tomou Edith nos braços e sapecou-lhe um beijo cinematográfico – em meio à beijação generalizada . Tão vigoroso o ósculo que a curvou, como se iniciasse um processo de levitação. Durou apenas alguns segundos e o militar continuou a comemoração em outras bocas pela 7ª. Avenida. A cena teria se repetido por incontáveis lábios naquele dia e , nas suas velocidade e fugacidade, terá permanecido na memória gustativa dos protagonistas e na lembrança visual, igualmente efêmera, de alguns circunstantes. Em tempos em que a mídia engatinhava e as reportagens externas de TV ainda eram um sonho, pouco restaria daquele momento não fosse uma casualidade mágica. As lentes da Leica de um fotógrafo polonês : Alfred Eisenstaedt. Um clique apenas e estava imortalizado aquele instante único e icônico, uma foto, que por si só, consegue captar , na sua simplicidade, toda a profundidade da história. Aquele poder da imagem de consubstanciar nas suas nuances aquilo que as palavras, por mais que se sucedam, não conseguem resumir.
Por muitos e muitos anos, a foto célebre mantinha um tempero especial. Seus protagonistas eram anônimos, rostos perdidos em meio à turba. Só no final dos anos 60, Edith, com o despojamento que os anos lhe trouxeram, assumiu a participação. O marinheiro, no entanto, ainda é uma incógnita, embora peritos, posteriormente, tenham concluído, com alguma margem de segurança, se tratar de Glenn McDuffie,de Houston, hoje aos 82 anos. Um dia, entrevistada, disse Shain : "O Sol nasce, o Sol põe-se. Não muda nada. Nem foi grande coisa. Afinal meninas bonitas recebem sempre mais do que um único beijo, não é? Foi um bom beijo, longo. Fechei os olhos e não resisti.”
A imutabilidade do universo é apenas uma visão de superfície. Como se olhássemos o rio à distância, sem perceber seu fluxo incessante. Hoje , com a explosão midiática, quebraram-se todas as fronteiras da privacidade. O mundo transformou-se num reality show. A internet com suas webcams devassam todas as alcovas. Os paparazzi invadem todos os banheiros. Câmaras digitais e celulares saltam dos bolsos de cada habitante e registram os mais íntimos movimentos. E mais: as pessoas se expõem de vontade própria, cada um na busca de seu Time Square. Estudantes se filmam em transas e divulgam abertamente as imagens; mulheres e homens põem câmeras em casa e se ligam na net. Artistas registram a lua-de-mel , fingem roubo das fitas , liberando imagens tórridas no youtube. Depois, mostram-se revoltados e indignados. Antes as pessoas se apresentavam com duas máscaras: uma social mais simpática, educada e palatável: o Dr. Jekyll; e uma outra ,privada, onde mostrávamos, para nós mesmos e para uns poucos, nossa verdadeira natureza: o monstro. Agora só nos resta , a transparecer, quebradas os limites da privacidade, o que temos de pior : o Dr. Hyde.
Que distância separa o clique mágico de Alfred Eisenstaedt; da auto-exposição da Cicarelli, nas praias espanholas ou da Geyse na UNIBAN ? Acredito que a espontaneidade. A foto da Time Square eterniza um momento único e etéreo; sem que se tenha montado cenário e sem script pré-estabelecido. Ele é pleno de poesia, pois traz em si a essência plena do poeta, aquela capacidade de perenizar o volátil. Talvez , por isso mesmo, é que ainda hoje o beijo de Glenn e de Edith sabe a uruçu nos lábios de cada um de nós, como se a guerra tivesse acabado agora mesmo e a paz fosse uma verdade única e duradoura.

J. Flávio Vieira

Pensamento para o Dia 24/06/2010


“Por conta do impacto dos objetos externos sobre os sentidos da percepção, a pessoa experimenta prazer e se confunde tomando-o como se fosse néctar. Mas com o tempo, o prazer inicialmente confundido com néctar transforma-se em veneno amargo e desagradável. Esse tipo de felicidade é felicidade rajásica. Se alguém acolhe o prazer sensorial rajásico, sua força, consciência e inteligência para alcançar os quatro objetivos humanos — retidão (Dharma), riqueza (Artha), desejo correto (Kaama) e libertação (Moksha) — são enfraquecidos; o interesse e o desejo de atingir a bem-aventurança divina declinam.”
Sathya Sai Baba

De Encantamento

A solidão é um caso sério
a ser estudado pelo poeta.

Sem mania de fingimento
ou de grandeza.

Entender a solidão
em seu pleno vazio.

Como se observa
uma bola de sabão.

Mas o poeta não sossega
enquanto não chora.

E as lágrimas lhe turvam a vista.

Se não fosse essa farsa
de sofrimento e revelações

O poeta entenderia mais da solidão
do que as botas do silêncio.

Colaboração de Edmar Cordeiro



Capuccino caseiro


Ingredientes
1 lata de leite ninho
1 lata ( pequena) de café soluvél
1 colher de café de bicarbonato
1 lata de Nescal ( pequena) ou Toddy
1 colher de café de canela em pó


Coloque no liquidificador todos os ingredientes e misture bem
Depois de misturado, coloque em potinhos para guardar
Quando quiser tomar misture o tanto desejado no leite bem quente e curta um capuccino gostoso e barato

Mané Danta - Por Mundinha Dantas


“Mané Danta”, um matuto
Mas muito inteligente
Não freqüentou a escola
Mas só falava decente
De grande conhecimento
Amigo de muita gente.

Sua profissão, vaqueiro
Era muito corajoso
Corria em mata fechada
Pra pegar boi perigoso
Seu cavalo “pita manta”
Veloz e muito famoso

Gostava de fazer festa
Com muita animação
No Natal, dia de ano,
Na fogueira de São João
A festona de arromba
Era os anos do patrão

No ano quarenta e sete
Causou admiração
Foi a festa dos vaqueiros
Que tinha na região
Foi a festa mais bonita
Que aconteceu no sertão

Era uma grande latada
De folha de mororó
E dentro dois sanfoneiros
Pra animar o forró
A mulherada aguando
A latada com suor

Os cavaleiros trajados
De perneira e gibão
As damas de vermelho
Com um lencinho na mão
E a cachaça rolando
Perfumando os “pião”

Foi este o tipo de vida
Que Mané Danta levou
Com muita farra e festa
Tudo que tinha gastou
E para seus doze filhos
Só a saudade restou.

Por Mundinha Dantas (filha de Manuel Dantas)

O primeiro São João de Sofia - por José do Vale Pinheiro Feitosa

São João é a festa da fertilidade. Reprodução, música, a dança e o amor. A fertilidade estava no corpo feminino. A primavera, a renovação, os coelhos e ovos coloridos vêm desta tradição. E por que São João?

A fogueira, fogos, brinquedos e comidas. Tudo isso nos liga ao tempo remoto. Sem, necessariamente, linhas diretas, muitas vezes incorporando elementos novos e pelo caminho tomando fragmentos de outros mitos e hábitos culturais. Mas uma coisa é certa, a festa é uma grande rememoração da nossa vida rural.

Por isso no sudeste se vestem como caipiras e no nordeste como sertanejos. No nordeste se o regime das chuvas permite o milho verde, ele é o centro dos festejos, no sudeste sempre é, mas tem o salsichão assado na brasa, bolos de fubá, paçoca (de amendoim) e o tradicional quentão.

Todo mundo dança à moda antiga, pois o rural já é antigamente: de par, homem e mulher. O que era o São João para os agricultores, não mais o é para os atuais urbanos. Se bem que a fertilidade é uma coisa da agricultura, não da pecuária e suas antigas festas de apartação que a maioria nem sabe mais o que seja, afinal as cercas acabaram os campos comuns.

Tem muito mais de urbano. Com a televisão e o cinema, além da literatura, há uma troca de tradições em vastas regiões do Brasil. Mas como as sedes dos meios de comunicação estão no sudeste, hoje são numerosos os pequenos gestos, roupas e estilo que lembram os caipiras enquanto se perderam igualmente a tradição sertaneja. Até aquele linguajar matuto das quadrilhas e danças já reproduzem alguns elementos do caipira do sudeste.

Enfim, a festa de São João talvez seja a mais persistente e abrangente manifestação da cultura tradicional brasileira. O Carnaval, apesar de universal no país, é um festejo urbanos, nascido no país após o século XIX. As demais manifestações são mais temáticas e regionalizadas. O São João não, ele acontece e é estimulado em todo o país.

Este final de semana mesmo, o avô de Sofia não pode ter outro compromisso. Na tarde de sábado, entre vais e vens de costuras, a Sofia vestirá um vestido caipira numa festa de São João de sua escola. E ela que nasceu, culturalmente, quase trezentos anos após o avô.

Festa do Cariricaturas !

Dia 23 de Julho, no Crato Tênis Clube  a partir das 20 h.
Lançamento do livro "Cariricaturas em verso e prosa"
Coquetel
Performances poéticas
Baile com Hugo Linard e seu Conjunto.

Mesas à venda .
preço : 40,00 ( com direito a 4 lugares e um exemplar do livro).
10,00 por pessoa.

Façam as suas reservas pelo e-mail: sauska_8@hotmail.com

-posição em 24.06 : 36 disponíveis

Signo de Câncer


Regente:
Lua

Câncer envia para você o conceito da memória: todos os fragmentos do passado constituem a sua vida, como ela é hoje, e você precisa recolhê-los para compreender a si mesmo. Não basta lembrar do seu próprio passado, mas também recorrer à memória da Humanidade, tão fragmentada e esmagada sob nossos pés apressados.
Sabe por que as pessoas que nasceram entre este período se dizem "cancerianas"? Porque durante esta época do ano, o Sol está passando pelo signo de Câncer no céu. Quando você diz "sou canceriano", está dizendo, com outras palavras, que tem o Sol no signo de Câncer. Mas mesmo aqueles que não nasceram entre estes dias, têm Câncer e todos os outros signos em seu mapa astrológico.

Flores de Nina - Por Claude Bloc



No simples, o belo...

Programação Cariri Cangaço 2010


Hoje trazemos aos nossos muitos leitores de todo o Brasil a esperada Programação do Cariri Cangaço 2010; aqui temos o rol de Conferências, as Temáticas, os Palestrantes, as Mesas de Debates e as respectivas cidades anfitriãs. Sejam bem vindos ao Cariri Cangaço 2010 - Coronéis, Beatos e Cangaceiros.

17 AGOSTO 2010

TERÇA-FEIRA


Abertura – Cine Teatro de Barbalha
19:00 H - Solenidade Oficial de Abertura
19:30 H - Conferência
JOSÉ RUFINO

Antônio Amaury Correia de Araújo – São Paulo

MESA

Lemuel Rodrigues – Mossoró RN

Honório de Medeiros – Natal RN

Aderbal Nogueira – Fortaleza CE

Ivanildo Silveira – Natal RN


18 AGOSTO 2010

QUARTA-FEIRA

Sítio Caldeirão do Deserto – Crato

9:00 H – Conferências

RELIGIOSIDADE, MEMÓRIAS E MOVIMENTOS SOCIAIS

Lemuel Rodrigues Silva – Mossoró RN

ANTONIO CONSELHEIRO – PERFIL

Múcio Procópio – Natal RN

MESA

Manoel Severo – Fortaleza CE

Sávio Cordeiro – Crato CE

Sandro Leonel – Crato CE

Manoel Neto – Salvador BA


Salão de Atos da URCA - Crato
19:00 H - Conferências
OS CORONEIS E OS MISTÉRIOS DO ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ

Honório de Medeiros – Natal RN

THEOPHANES TORRES

Geraldo Ferraz - Recife PE

MESA

Raimundo Marins – Salvador BA

Océlio Teixeira – Crato CE

Paulo Britto – Recife PE

Magérbio de Lucena – Crato CE

19 AGOSTO 2010

QUINTA-FEIRA

Memorial Padre Cícero – Juazeiro do Norte
19:00 H - Conferências

O PACTO DOS CORONÉIS

Renato Cassimiro – Juazeiro do Norte CE

LAMPIÃO EM SERGIPE

Alcino Alves Costa – Poço Redondo SE

MESA

Manoel Neto – Salvador BA

Renato Dantas – Juazeiro do Norte CE

César Megale – Natal RN

Juliana Ischiara – Quixadá CE


20 AGOSTO 2010

SEXTA-FEIRA


Câmara Municipal – Missão Velha
19:00 H - Conferências
DELMIRO GOUVEIA

David Bandeira – Maceió AL

Eloísa Bandeira – Brasília DF

CORONÉIS DO CARIRI

Bosco André – Missão Velha CE


MESA

Ângelo Osmiro – Fortaleza CE

Gilmar Teixeira – Paulo Afonso BA

Carlos Rafael – Crato CE

Rostand Medeiros – Natal RN

21 AGOSTO 2010

SÁBADO


Aurora
9:00 H – Conferência

80 ANOS DA PASSAGEM DE LAMPIÃO EM AURORA

José Cícero – Aurora CE

MESA

Manoel Severo – Fortaleza CE

Bosco André – Missão Velha CE

Honório de Medeiros – Natal RN

Kydelmir Dantas – Mossoró RN

Distrito do Tipi - Aurora

14:00 H – Conferência

MARICA MACEDO DO TIPI

Vicente Landim de Macedo – Brasília DF

Teatro Municipal Salviano Arraes – Crato
19:00 H - Conferências
ANTONIO SILVINO

Magérbio de Lucena – Crato CE

O CANGAÇO NA MÚSICA - RÍTMOS E ESTÉTICA

Wilson Seraine – Teresina PI

MESA

Paulo Gastão – Mossoró RN

Cicinato Neto – Limoeiro do Norte CE

Emanuel Braz – Mossoró RN

Kydelmir Dantas– Mossoró RN

22 AGOSTO 2010

DOMINGO

Teatro Marquize Branca – Juazeiro do Norte
09:00 H - Conferências
LAMPIÃO NO AGRESTE PERNAMBUCANO

Antonio Vilela – Garanhuns PE

AS ARMAS DO CANGAÇO

Alfredo Bonessi – Fortaleza CE

MESA

Aderbal Nogueira – Fortaleza CE

João de Sousa Lima – Paulo Afonso BA

Sabino Bassetti – São Paulo SP

Fernando Pinto – Crato CE

O Cariri Cangaço é uma promoção da Cariri do Brasil, uma realização das prefeituras municipais de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha e Aurora, URCA/PROEX e ainda o apoio da SBEC, do ICC, do Centro Pró Memória, do ICVC, da Fundação Memorial Padre Cícero, do Blog do Crato, da Associação de Cordelista de Crato, do Ponto de Cultura Lira Nordestina, do SEBRAE, do SESC e do Centro Cultural Banco do Nordeste, Grupo Empresarial Guanabara, Revista Nordeste VinteUM e agora GeoPark Araripe.

POR : MANOEL SEVERO

Passando por D. Quintino - por Claude Bloc

Ela nascida nas Alagoas, ele filho da Serra Verde. Gente que me viu crescer. Com quem aprendi o amor ao simples. Gente muito gente.

Nina ama as plantas. Sua casa é sempre florida e bem cuidada. Toinho (Antão) é filho de Manuel Dantas e um grande contador de causos. É daqueles que a gente só falta não parar de rir com as presepadas. Umas verdadeiras, outras aumentadas e outras inspiradas em histórias de Trancoso.
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Passei por lá, segunda-feira. Em Crato, dia do Município (naquele dia). O sinal das transmissoras de celular não chega a D. Quintino. A não ser em alguns pontos e assim mesmo oscilante. Às vezes na altura do punho da rede na parede do quarto. Outras vezes em pé, em cima da cadeira no quintal. Lugares inusitados.
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Mesmo com a surpresa de minha chegada (minha e de Jacques) havia um almoço feito a capricho e uma acolhida emocionada regada a lágrimas de alegria.
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Os papos foram longos. Os sorrisos imediatos. A simplicidade e o carinho, marcantes.
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Nina e Claude

Jacques com sorriso amarelo

Altos papos

O que sobra pra fazer depois do almoço...
Claude Bloc
Voltar
- Claude Bloc -
Voltar sempre traz uma mistura imensa de sentimentos. Lembranças vão se misturando e formando uma massa densa de emoções. O peito vira um torvelinho. As mãos gelam. A gente sente até um friozinho na barriga, como se naquele momento fosse encontrar uma pessoa querida que não vê há muito tempo.
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É esta a sensação que tento passar a cada vez que vou praquelas bandas da Serra Verde. Não me refiro apenas à fazenda em si, mas tudo o que vivo até chegar lá, desde o começo do trajeto quando, aos poucos uma fogueira vai se acendendo e enchendo minha alma de euforia. É, deveras, uma vibração infantil. Deixo o tempo de lado e me deleito permitindo toda essa revolução que me aquece e vai me invadindo de mansinho sem trégua... Vou deixando igualmente a sensibilidade fluir e tomar conta de tudo em mim. Puro bálsamo.
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Os cenários mesmo com o tempo, ainda guardam pedaços preciosos dessa história que vou tentando (re)colher e resgatar. Casas "do tempo do ronca" pela beira da estrada mantendo os mesmos costumes, como se a vida por lá passase sempre devagar, esperando a minha volta, meu olhar de saudade.
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Depois de Ponta da Serra, um marco estratégico: D. Quintino que antes se chamava S. Sebastião. Lá tenho muitos amigos. Grande parte são ex-moradores de Serra Verde. Migraram por falta de apoio à sua labuta e pela falta que Seu Hubert Bloc Boris deixou em todos eles, tanto no trato como no carinho que lhes dedicava.
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De D. Quintino pra frente, uns 6 km de estrada de terra. Há muitas lembranças semeadas naquele percurso e no famigerado Alto do Caboclo com suas ladeiras íngremes e pedregosas. Tem inclusive uma lembrança que sempre me vem. Certa feita, fui à Serra Verde com Seu Pedro Libório e família. O carro era um DKV Vemag (perdoem-me pela grafia, não lembro como se escrevia). Na subida do Alto do Caboclo, o carro deslisava nos pedregulhos com o peso da gente. Não sei se ele tinha tração nas 4 rodas, mas o "bicho" não subia. Ora, Seu Pedro não quis nem conversa. Para não forçar o motor do carro, mandou todo mundo subir a ladeira a pé e lá em cima todos voltaram para o carro, seguindo, enfim, pra Serra Verde.
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Esta é uma das lembranças. Mas tem muita coisa mais. Inclusive os passeios a cavalo com os Saraiva e com meus primos. A gente ia para D. Quintino tomar refrigerante. Tinha até concurso pra ver quem terminava primeiro aquelas CocaColas nas garrafinhas que já existiam antigamente. Eu ganhava todas para ficar apreciando os outros no final do esforço, tomando o restinho da bebida e eu exibindo uma segunda garrafa cheinha, a qual ia descendo com muita parcimônia.
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Bom, todo isto faz parte do arsenal de evocações. Se for puxar, sai um livro inteiro.


Entrada de D. Quintino

Casa na Bréa


Casa na Bréa, quase chegando em D. Quintino

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Nas imediações de Ponta da Serra


Claude Bloc
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É do tempo do Bumba ?

Curso  Ginasial, nos anos 60 , privilegiava  o Francês no seu currículo , os 4 anos. O Inglês só entrava, nos últimos dois anos.
Eu ainda com dez anos, na primeira série do curso ginasial, achava que já estava mandando , e lia toda palavra estrangeira com pronúncia  francesa. Uma precocidade hilária !
Foi assim que  disse para uma prima minha, toda paba, quando passava férias em Recife :
" a música que eu mais gosto é mon rivê !
Ela assustadíssima, corrigiu-me de imediato :
"Moon River", Socorro ! E ria, ria, ria tanto, que até hoje ainda rir !
Acordei ,  correndo pra cá. É que sonhei dançando uma quadrilha com um  vestido igual ao de Fabiana , Olhei tanto pro vestido , que ele entrou no meu sonho. Não olhei com inveja. Olhei com admiração. Tava lindo, lindo, lindo !
Claude  amanheceu comigo, lembrando  coisas ( peças e expressões)  de outras eras :
- Combinação, anágua, vestido redingote, godê duplo, manga cava,  manga japonesa, manga fofa, berloques,decote cavado, ruge, saia plissada, pastinha, pega rapaz, cilion, vestido de fustão, maiô engana mamãe, corpete, meia arrastão, blusa volta ao mundo, tecido JK e saia balon ...!
Completem a lista das memórias, e manguem de todos -do tempo do bumba !

Engraçado... Tenho certeza que vi  rostos amigos , olhando da janela, e rindo muito :Edilma, Walda,  Magali, Rosineide !

Branquinha foi encantada - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Branquinha foi encantada pela enxurrada. Era uma cidade entre os morros surrupiados de sua Mata Atlântica. Até ficou com aquela paisagem de jardim, com algumas ilhas da vegetação original e a modelagem verde clara do canavial sobre os morros. Como um jardim programado, no qual no meio da mesmice canavial a lembrar um gramado, surgem surpresas como um Ipê Amarelo e mais belo quando fazem um grupo de cinco ou seis.

Procure pela sua geografia e verás que Branquinha está a caminho da Serra da Barriga, onde se fez o Quilombo dos Palmares. Ali pelas redondezas ficam duas cidades com a referência dos Palmares. E não sei por que tanto palmeiral se tudo era vegetação da velha Mata Atlântica. Pensando bem, eu sei: tudo se ampliou por causa de Zumbi.

Branquinha é a juntada de muitos sítios que se criaram desde o século XIX às margens do Rio Mundau. Isso foi ocorrendo dentro do município de Murici, mas a partir de 1955, Branquinha queria ser ela mesma, começou a luta de emancipação e a conquistou em 1962. Quando foi encantada, a cidade já andava pelos seus 12 mil habitantes.

Branquinha de vez em quando freqüenta o noticiário dos jornais de Alagoas. Mas isso não a torna diferente de outras cidades do mesmo tamanho que igualmente rompem o anonimato no noticioso. Normalmente são fatos de violência humana que parecem ser uma grande novidade para vender jornal, quando todo mundo sabe o quanto é monótona a repetição destes fatos.

Branquinha se tornou uma referência na Saúde Pública. Não foi por que ali tivesse sido feita uma grande descoberta (assim como Piumhi em Minas Gerais que aparece por que ali Carlos Chagas fez os estudos da doença que leva o seu nome). Nem por que lá tivesse nascido um grande sanitarista. O motivo foi mais prosaico.

Durante a fase de intensificação da campanha de erradicação da varíola Branquinha entrou para história, involuntariamente, por comportamentos humanos condenáveis. Por volta de 1966 chegou à cidade uma equipe de vacinadores com o objetivo de fazer uma vacinação em massa contra a varíola. Ao final das atividades os relatórios vitoriosos mostravam que mais de 100% da população tinha sido vacinada.

Nem bem deu dois meses e a cidade teve um grande surto de varíola. Ninguém entendeu nada e a hipótese é que a qualidade da vacina era ruim. Mas se comprovou ao contrário, era uma excelente vacina. Foram pesquisar se havia cicatriz vacinal (a vacina evoluía e deixava uma pequena cicatriz no local da aplicação) e não havia, menos ainda naquelas proporções do relatório. Aquela falsidade fez o país reestrutura suas ações, incluindo um monitoramente pós vacinação.

Passei neste último dezembro por ela e até a fotografei vista desde a sua entrada na BR 104. Hoje pode ser que ainda tenha a mesma imagem. Só até aí, pois para dentro para os lados do Rio Mundau não poderia mais. Tudo se encantou. E por um tsunami.

Foi o aquecimento global? Foi desmatamento, foi redução do leito de drenagem das águas foi tudo isso. Mas o que parece ter sido mesmo é que as chuvas, apesar de fortes, não justificariam tudo aquilo. O que parece ter acontecido foi uma cadeia de barragens estouradas, uma atrás da outra ao longo dos afluentes e do próprio rio Mundau. Uma catástrofe de engenharia privada, por certo com recursos públicos. A vida precisa mesmo de democracia e cuidados.

Mas poderia ser outra a causa: tanta gente morando às margens dos rios, tantas alterações nos terrenos que formam a bacia de escoamento das águas. Uma cadeia de diversos eventos que um dia explode.

Como se viu em Branquinha e nos demais municípios, até pequenas barragens no fluxo das águas, mesmo que segurem as enchentes, podem ter seu dia Chernobyl.