
Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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terça-feira, 17 de novembro de 2009
Se eu fosse ... - por Rosa Guerrera

A poesia de Domingos Barroso
Ao teu redor
as flores sorriem
e a hóstia suplica
um pouco de vinho.
Não estás salvo,
foge -
mergulha a cabeça
dentro do vaso sanitário.
Conta até 60.
Não acredito:
nem um minuto consegues
debaixo do teu próprio mijo?
Antigamente
com a concha da mão cheia
curavas até tua dor de ouvido.
Lembras?
Deixa de nojo patético
e mergulha -
Agora conta até 120.
Celibato
Os óculos sujos
com a banha dos cílios.
Um canguru no ventre
esquentando meu sangue.
Ainda tenho que ensinar ao meu filho
sua tarefa escolar, oxalá, ele não durma.
O pequeno é péssimo
em matemática.
Pressinto um crepúsculo
de dor de cabeça,
palmadas,
castigo.
Domingos Barroso
Lourival Faissal - por Norma Hauer
Foi a 17 de novembro de 1922 que LOURIVAL FAISSAL nasceu, fazendo parte de uma família que foi importante no tempo áureo da Rádio Nacional: seus irmãos Floriano e Roberto.
LOURIVAL FAISSAL dedicou-se mais às composições e versões de letras de melodias estrangeiras que estavam fazendo sucesso.
Como compositor , ao lado de Getúlio Macedo, compôs a primeira música feita especialmente para o "Dia das Mães":"Mãezinha Querida" que teve em Carlos Galhardo seu primeiro intérprete.
Fazendo versões, foi responsável por um dos maiores sucessos de Emilinha Borba "Dez Anos"
"Assim se passaram 10 anos
Sem eu ver teu rosto,
Sem olhar teus olhos,
Sem beijar teus lábios, assim..."
Emilinha gravou,ainda outras versões de Lourival Faissal, como "Acapulco";"Canção de Dalila";"Bandolins ao Luar";"Arranca minha Vida"; "Chuvas de Abril"...
Um programa que marcou uma fase da Rádio Nacional, de nome "Jerônimo,o Herói do Sertão", teve, na voz de Emilinha Borba a música-tema de Lourival Faissal, ainda em
parceria com Getúlio Macedo:"Jerônimo".
Carlos Galhardo gravou, também de Lourival Faissal, "Te Quero Tanto" e outra música
para o "Dia das Mães", de nome "Mamãezinha".
Apesar da importância de Lourival Faissal em nossa música popular, pouco há sobre ele na Internet ou nos livros sobre a Rádio Nacional.
Assim se passaram 10 anos !
Clube Regatas do Flamengo - por Norma Hauer
Não sou a melhor pessoa para falar sobre o Flamengo, afinal não estou incluída dentro da maior torcida do Brasil, quiçá do mundo.
Como ninguém se habilita...
Entrei aqui "de gaiata" para dizer que a fundação do CLUBE REGATAS DO FLAMENGO em 17 de novembro de 1895, foi para disputar regatas, daí o nome e daí o local onde foi criado:junto à Praia do Flamengo.
Em frente a sua sede naquela praia, havia uma rampa que chegava a um certo ponto do mar por onde os sócios caminhavam para embarcar em seus "iates". Essa rampa foi desmanchada quando o local foi aterrado formando o "Aterro do Flamengo", a partir de 1955.
Depois a sede transferiu-se para um grande prédio em torno do Morro da Viúva, na "conjunção" das Avenidas Rui Barbosa e Oswaldo Cruz. O estádio (que nunca foi no Flamengo) foi construído junto à Lagoa Rodrigo de Freitas.
A parte de futebol, incluída no time de regatas (que manteve o mesmo nome) só foi criada em 1912, quando o futebol estava se desenvolvendo no Brasil e já existiam aqui no Rio, o Vasco da Gama (que também começou como regatas), o Fluminense, o América, o Mangueira, o São Cristóvão...
Em 1912, houve uma desavença no Fluminense e um grupo o abandonou indo formar o time de futebol do Flamengo que, estreando derrotou o Mangueira por uma goleada
(goleada mesmo) de 16x0 .
Foi uma grande estréia. E o jogo foi no campo do "meu" América.
A partir daí...nada mais a dizer.
Sou uma torcedora que nem sofre mais, do América Futebol Clube, criado em 18 de
setembro de 1904
Gesta de Arrebol

Manoel de Barros
Hoje tudo isso me veio à mente, quando o maior dos mestres -- o tempo-- levou na sua lufada um de seus colegas. Chamava-se Alderico de Paula Damasceno. Ele exerceu o magistério entre nós por mais de sessenta anos. Discípulo do maior historiador caririense , o Padre Antonio Gomes, o professor Alderico foi um visionário. Ensinava história crítica nos anos 60-70, em plena Ditadura Militar, num tempo em que a cadeira de história, em geral, se confundia com a de Contos de Fadas e Histórias da Carochinha. Exigia, com veemência, de todos os seus alunos, uma clara e pessoal opinião sobre pontos específicos da História Geral e do Brasil . Tinha verdadeiro pavor ao que ele chamava de “Decoreba”. Premonitoriamente, antevia os rumos da modernidade onde tudo se imita, se copia-cola, se macaqueia. O professor ensinava que os livros de história apresentavam apenas a versão oficial e que era imprescindível ,a quem desejasse entender o mundo, levantar o véu da aparente normalidade e descobrir as íntimas razões dos fatos que geralmente se encontravam depositadas no baú da Economia. Trabalhava com provas abertas, tinha pavor da loteria da múltipla escolha e mais: subtraía preciosos pontos a cada erro de português cometido. Entendia que o conhecimento da Língua era condição sine qua non de sobrevivência , soberania e cidadania.
Devemos ao professor Alderico ainda uma outra descoberta igualmente mágica. Aficionado da Educação Física ele cobrava dos seus alunos condicionamento e terá sido um dos pioneiros, entre nós, em associar a Atividade Física Regular a uma melhora na saúde humana. Como treinador da nossa Seleção Cratense – um das suas paixões – o professor Alderico já entendia a importância do treinamento físico regular na melhoria do desempenho esportivo, em tempos que isto era mera especulação e a Medicina Esportiva ainda engatinhava. Esta faceta de sua personalidade terminou lhe proporcionando a energia hercúlea que o acompanhou por noventa anos , enfrentando uma terrível queda de braço com a “Indesejada das Gentes” por cinco meses. Gostava da vida e, percebo, era esse amor que o mantinha vivo e esperançoso mesmo ante todas as vicissitudes e limitações da idade.
Inúmeras gerações de jovens foram forjadas pelo professor Alderico: Professores, engenheiros, médicos, juízes,promotores, artesãos, comerciantes, filósofos, um sem número de profissionais das mais diversas atividades, espalhados pelos recantos mais recônditos do país. Fundidos pela têmpera do Mestre, todos carregam consigo um pouco daquela determinação e vigor. Simplesmente porque Alderico não era um simples professor de História ou Educação Física. Seus ensinamentos sobre passavam as páginas dos livros , a mera grade curricular, ele ensinava uma matéria dificílima e rara chamada : “Vida”.
O professor Alderico fecha um ciclo áureo da educação cratense que contou com : Pe Gomes, Pe David, Vieirinha, Zé do Vale, Adalgisa Gomes, Luiz de Borba, Eneida Figueiredo, Ivone Pequeno, Gutemberg Sobreira e muitos outros. Fecha-se apenas um parágrafo, a história continua indefinidamente em aberto e continua sendo escrita, criticamente, por seus incontáveis discípulos. Hoje, triste, sei que falo de crepúsculos, mas carrego no coração a perfeita certeza, que este por-de-sol é apenas o prenúncio de muitas auroras por vir. No horizonte, em meio ao negror da noite, já se percebem os sanguíneos raios que defloram a escuridão e emprenham o arrebol vindouro de claridade e de luz.
J. Flávio Vieira
OS ENSINAMENTOS DE DON JUAN E CARLOS CASTÃNEDA: OS PONTOS DE AGLUTINAÇÃO E O PODER INTERIOR (PARTE I)
obs>: As figuras foram extraídas do livro MÃOS DE LUZ de Barbara Ann Brenam e de algumas revistas da área espiritualista.

“Disse [D.Juan] que nós, como homens comuns, não sabíamos, nem jamais iríamos saber, que havia algo inteiramente real e funcional - nosso elo de ligação com o intento - que nos dava nossa preocupação hereditária com o destino. Assegurou que durante nossas vidas ativas nunca temos a chance de ir além do nível da mera preocupação, porque desde tempos imemoriais a rotina dos afazeres diários nos entorpeceu. É apenas quando nossas vidas quase se encontram para terminar que nossa preocupação com o destino começa a assumir um caráter diferente. Começa a fazer-nos ver através da neblina das ocupações diárias. Infelizmente, esse despertar sempre vem de mãos dadas com a perda da energia causada pelo envelhecimento, quando não temos mais força para transformar nossa preocupação em descoberta pragmática e positiva. Nesse ponto, tudo que é deixado é uma angústia amorfa e penetrante, um desejo por algo indescritível, e simples raiva por ter errado o alvo” (p. 64)
“Segundo ele [D.Juan], os poetas eram profundamente conscientes de nosso elo de ligação com o espírito, mas que essa consciência era intuitiva, não de modo deliberado e pragmático dos feiticeiros.
- Os poetas não têm conhecimento de primeira mão do espírito - continuou .- É por isso que seus poemas não podem realmente atingir o centro dos verdadeiros gestos para o espírito. No entanto, atingem muito perto dele.” (p.65).
“Don Juan explicou que a percepção é o gonzo para tudo que o homem é ou faz, e que essa percepção é governada pela localização do ponto de aglutinação [identifico como sendo os 7 CHAKRAS]. Portanto, se esse ponto muda de posição, a percepção de mundo do homem muda de acordo. O feiticeiro que conhecesse exatamente onde colocar seu ponto de aglutinação podia transformar-se em qualquer coisa que desejasse.

A proficiência do nagual Julian em mover seu ponto de aglutinação era tão magnífica que ele podia realizar as transformações mais sutis - continuou D.Juan. - Quando um feiticeiro se transforma num corvo, por exemplo, esta é definitivamente uma grande realização. Mas isso implica uma vasta e portanto grosseira mudança do ponto de aglutinação. Entretanto, movê-lo para a posição de um homem gordo, ou um homem velho, requer a mudança mínima e o conhecimento mais aguçado da natureza humana” (p.71)
“D Juan explicou-me que a implacabilidade, esperteza, paciência e docibilidade eram a essência da espreita. Eram o básico que com todas as suas ramificações precisava ser ensinado em passos cuidadosos e meticulosos.
...Salientou repetidas vezes que ensinar a espreitar era uma das coisas mais difíceis que os feiticeiros faziam. E insistiu que não importa quanto eles próprios fizessem para ensinar-me espreitar, e não importa quanto eu acreditasse no contrário, era a impecabilidade que ditava seus atos.
... Don Juan reiterou que um ponto muito importante a considerar era que, para um observador, o comportamento dos feiticeiros podia parecer malicioso, quando na realidade seu comportamento era sempre impecável.
- Como pode saber a diferença, quando está no lado que recebe? - perguntei.
- Atos maliciosos são executados por pessoas pelo ganho pessoal - explicou. - Os feiticeiros, no entanto, têm um propósito ulterior para seus atos, que nada tem a ver com ganho pessoal. O fato de que se divertem com seus atos não conta como ganho. Antes, trata-se de uma condição de seu caráter. O homem comum age apenas se há oportunidade de lucro. Os guerreiros dizem que agem não pelo lucro, mas pelo espírito.
Pensei a respeito. Agir sem considerar ganho era realmente um conceito estranho. Eu fora educado para investir e ter esperança por alguma espécie de retribuição por tudo que fazia.
Don Juan deve ter tomado meu silêncio e compenetração como ceticismo. Riu e olhou para seus dois companheiros.
- Tome a nós quatro, como exemplo - continuou. - Você, você próprio, acredita que está investindo nessa situação e no final irá lucrar com ela. Se ficar bravo conosco, ou se nós o desapontarmos, você pode recorrer a atos maliciosos para tirar sua desforra, pois nós, pelo contrário, não pensamos em ganho pessoal. Nossos atos são ditados pela impecabilidade, não podemos ficar zangados ou desiludidos com você.”(p.90)
“Os feiticeiros têm uma regra básica: dizem que quanto mais profundamente se move o ponto de aglutinação, tanto maior a sensação que um indivíduo tem conhecimento, mas não as palavras para explicá-lo. Ás vezes o ponto de aglutinação de pessoas comuns pode mover-se sem uma causa conhecida e sem eles estarem conscientes disso, exceto que ficam com a língua presa, confusos e evasivos.
Vicente interrompeu e sugeriu que eu ficasse com eles um pouco mais. Don Juan concordou e voltou-se para encarar-me.
_ O primeiríssimo princípio da espreita é que um guerreiro espreita a si mesmo. Espreita a si mesmo implacavelmente, com esperteza, paciência e docilmente.
Eu queria rir, mas ele não me deu tempo. De modo muito sucinto definiu a espreita como a arte de usar o comportamento de maneiras novas para propósitos específicos. Disse que o comportamento humano normal no mundo da vida cotidiana era rotina. Qualquer comportamento que escapava à rotina causava um efeito incomum em nosso ser total. Esse efeito incomum era o que os feiticeiros buscavam, porque era cumulativo.
Explicou que os feiticeiros videntes dos tempos antigos, através de sua visão, primeiro haviam notado que o comportamento incomum produzia um tremor no ponto de aglutinação. Breve descobriram que se o comportamento incomum era praticado sistematicamente e dirigido com sabedoria, forçava no final o movimento do ponto de aglutinação.
O desafio real para aqueles feiticeiros videntes - continuou Don Juan. - era encontrar um sistema de comportamento que não fosse mesquinho nem caprichoso, mas que combinasse a moralidade e o senso de beleza que diferencia os videntes feiticeiros das bruxas comuns.

Parou de falar, e todos olharam para mim como que buscando sinais de fadiga em meus olhos ou rosto.
- Qualquer um que tenha sucesso em mover seu ponto de aglutinação para uma nova posição é um feiticeiro - continuou Don Juan.- E a partir dessa nova posição, pode fazer todos os tipos de coisas boas e más aos seus semelhantes. Ser um feiticeiro, portanto, pode ser o mesmo que ser um sapateiro, ou um padeiro. A causa dos feiticeiros videntes é ir além dessa posição. E para fazê-lo necessitam de moralidade e beleza.
Disse que, para os feiticeiros, a espreita era o alicerce sobre o qual tudo o mais que faziam era construído.” (p.92-93).
“ [Don Juan] : _ O quarto cerne abstrato é o ímpeto total da descida do espírito. O quarto cerne abstrato é um ato de revelação. O espírito revela-se a nós. Os feiticeiros o descrevem como o espírito postado em emboscada e depois baixando sobre nós, sua presa. Os feiticeiros dizem que a descida do espírito é sempre oculta. Acontece, e no entanto parece não ter acontecido de maneira nenhuma.”(p.98)
“_ Há uma passagem que uma vez cruzada não permite regresso. Ordinariamente, desde o momento em que o espírito assalta, passam-se anos antes que o aprendiz atinja essa passagem. Às vezes, entretanto, a passagem é atingida quase que de imediato. O caso do meu benfeitor é um exemplo.
Don Juan disse que todo feiticeiro devia ter uma memória clara dessa passagem de modo que pudesse lembrar do seu novo potencial de percepção. Explicou que não era necessário ser aprendiz de feitiçaria para alcançar essa passagem, e que a única diferença entre um homem comum e um feiticeiro, em tais casos, é o que cada um enfatiza. Um feiticeiro enfatiza o cruzamento dessa passagem e usa a lembrança do fato como ponto de referência. Um homem comum não atravessa a passagem e faz o máximo para esquecer tudo a seu respeito.“(pp.98-99)
[Don Juan]: “_ Os feiticeiros dizem que o quarto cerne abstrato ocorre quando o espírito corta nossas cadeias de auto-reflexão. Cortar nossas cadeias é maravilhoso, mas também muito indesejável, pois ninguém deseja ser livre”(p.99)
[Don Juan]: _ Que sensação estranha: perceber que tudo que pensamos, tudo que dizemos depende da posição do ponto de aglutinação - comentou.”(p.99)
[Don Juan]: Sei que nesse momento seu ponto de aglutinação moveu-se e que você compreendeu o segredo de nossas correntes. Elas nos aprisionam, mas mantendo-nos pregados em nosso confortável ponto de auto-reflexão, defendem-nos dos assaltos do desconhecido.
...Uma vez que nossas correntes são cortadas - continuou Don Juan -, não estamos mais presos pelas preocupações do mundo cotidiano. Permanecemos num mundo cotidiano, mas não pertencemos mais a ele. Para isso ocorrer, devemos partilhar das preocupações das pessoas, e sem correntes não conseguimos.
Don Juan contou que o nagual Elias explicara-lhe que o que distingue pessoas normais é que partilhamos de um punhal metafórico. As preocupações de nossa auto-reflexão. Com esse punhal, cortamo-nos e sangramos; e o trabalho de nossas cadeias de auto-reflexão é proporcionar-nos a sensação de que estamos sangrando juntos, que estamos partilhando de algo maravilhoso: nossa humanidade. Mas se fôssemos examiná-lo, iríamos descobrir que sangramos sozinhos; que não estamos partilhando nada; que tudo o que estamos fazendo é brincar com nossa reflexão, manipulável e irreal, feita pelo homem.
_ Os feiticeiros não se encontram mais no mundo dos afazeres diários - continuou Don Juan - porque não são mais presa de sua auto-reflexão”(p.100)
“Ouvi [Castãneda] seus pensamentos como se fossem minhas próprias palavras, enunciadas para mim mesmo.
Senti um comando que não estava expresso em pensamento. Algo coordenou-me a olhar de novo para a pradaria.
Quando olhei para a maravilhosa paisagem, filamentos de luz começaram a radiar de tudo, naquela pradaria. No início foi como uma explosão de um número infinito de fibras curtas, depois as fibras se tornaram longos feixes filamentosos de luminosidade reunidos em faixas de luz vibrante que alcançaram o infinito. De fato não havia modo de extrair o sentido do que estava vendo, ou de descrevê-lo, exceto como filamentos de luz vibratória. Os filamentos não estavam misturados ou entrelaçados. Entretanto saltavam e continuavam a saltar, em todas as direções, e cada um era separado, embora todos estivessem inexplicavelmente enfeixados.
Mente - Domingos Barroso
é a carambola com seus grandes lábios
maduros ou verdes
sempre sensíveis ao toque.
A maçã não tem culpa.
A maçã é uma pobre coitada.
A carambola carnal reina soberana
com seus grandes lábios entreabertos.
Nem a serpente lhe recusa uma mordidela
embora distante o perfume -
nem eu me lembro do seu gosto,
apenas uma vaga lembrança.
Mostra Sesc Cariri: programação de hoje, dia 17/11

Música da Macedônia e peça com bonecos
A Mostra Sesc Cariri de Cultura continua e, nesta terça-feira (17), traz uma atração musical bem curiosa. São os cariocas do Brasov, que lançam o CD “Uma Noite em Tuktoyaktuk”. Em seu show, eles tocam desde música cigana Macedônia até um cover da Gretchen, passando por uma canção do Leste Europeu. A apresentação acontece a partir das 20h30, no Terreiro de Mestra Margarida, no Sesc Juazeiro.
Um pouco antes, às 20h, na RFFSA, em Crato, a Companhia Amok de Teatro, do Rio de Janeiro, encena o espetáculo “O Dragão”. A peça, a partir de depoimentos reais, trata da guerra entre palestinos e israelenses, mostrando que atrás de toda a violência e crueldade há espaço para uma real humanidade.
Na cidade de Nova Olinda, às 20h30, acontece o show dos paulistas do Mamelo Sound System, que tocam - no Armazém do Som na Praça - um ritmo musical denominado por eles próprios como “hip-hop afro-futurista brasileiro”. Em Barbalha, no Teatro Neroly, a Companhia PeQuod de Teatro, do Rio, apresenta a peça de bonecos “O Velho da Horta”, baseado na obra do escritor Gil Vicente.
Um cortejo da Cultura Popular nas ruas de Juazeiro do Norte acontece na tarde de hoje, na principal via da cidade, a partir das 15 horas, com concentração no SESC. O evento promove uma integração entre os artistas e a população, nessa grande festa que tem sido a Mostra SESC de Arte e Cultura.
Em Juazeiro, nos locais como Marquise Branca, Marcus Jussier, no Pirajá, e Casa da Rua da Cultura, na rua do Cruzeiro estão sendo realizadas várias apresentações.
Agenda do dia 17 de novembro
>Juazeiro do Norte:
. Memorial Padre Cícero
- 20h30: Madre Couraje (Mérida Urquia-Cuba).
. Largo do Memorial
- 17h: Reprise (La Mínima-SP).
. Marcus Jussier (Pirajá)
- 17h: O Hipnotizador de Jacarés (Circo Girassol-RS).
. Quadra do Sesc Juazeiro
- 18h: Rito de Passagem (Índio.Com Cia de Dança-AM).
. Teatro Marquise Branca
- 18h: Esparrela (Teatro Bigorna-PB).
. Conexão Brasil CCBNB
- 19h: Merci (Ana Barroso-RJ).
. Teatro Patativa do Assaré
- 23h: Ele Precisa Começar (Felipe Rocha-RJ).
. Terreiro de Mestra Margarida e Armazém do Som
- 18h: Segunda Toada para João e Maria (Núcleo Dois-SP).
- 20h30: Uma Noite em Tuktoyaktuk (Brasov-RJ).
. Casa da Rua da Cultura
- 22h: Residência da Casa da Rua da Cultura (Cia de Teatro Stultífera Navis-SE).
- 22h: O Abajur Lilás (Grupo Imagens-CE).
. Programação Especial (Sesc Juazeiro)
- 14h: Seminário Arte & Pensamento – A Reinvenção do Nordeste. Dr. Luizan Pinheiro: “Ontologia do Cariri: a cidade atravessada por múltiplos olhares”.
- 15h15: Seminário Arte & Pensamento – A Reinvenção do Nordeste. Dr. Luís Manoel Lopes: “Barbaramente estéreis; maravilhosamente exuberantes: os sertões em variações”.
- 18h: Laboratório de Troca de Afagos – LATA (Conversas Gravadas na UFC). Entrevistas com Ricardo Guilherme.
>Crato:
. Teatro Municipal
- 20h: O Dragão (Cia Amok de Teatro-RJ).
. Praça da Sé
- 16h: Lançamentos e performance dos Cordelistas Mauditos.
- 17h: Performance do poeta CHACAL.
. Terreiradas
- 16h: Terreiro de Mestre Aldenir – Bairro Vila Lobo. Coco da Mestra Marinês/Banda Cabaçal São João Batista/Reisado Congo do Assentamento Olho D’Água.
. Mostra nos Bairros- Bairro Populares
- 17h: O Santo Guerreiro e o Herói Desajustado (Cia São Jorge de Variedades-SP).
- 18h30: Soldadinho do Araripe (Aquasis-CE).
. RFFSA
- 17h: Silêncio Total (Cia Riso da Terra-PB).
- 18h: Viagem Instrumental (Mandrágora-DF).
. Sesc Crato
- 22h: Santiago do Chile, 1973(Grupo de Dois-RJ).
. Galpão das Artes
- 23h: Encantrago (Ver de Rosa um Ser Tão Expressões Humanas / Teatro Vitrine-CE).
. Crato Tênis Clube
- 22h: Mangiare (Grupo Pedras-RJ).
- 23h: Lenynha Vas (CE).
- 01h: Fóssil, Cabaça: Reggae Cariri (Liberdade & Raiz-CE).
>Nova Olinda:
. Teatro Violeta Arraes
- 19h: Inventário (Roda Gigante-RJ).
. Armazém do Som na Praça
- 20h30:Mamelo Sound System-SP.
. Artes Visuais
- 14h: Exposição Pina Bausch (Fotografia Dada Petrole).
>Barbalha:
. Praça Central
- 17h:Ciclopes (Cia Mystério e Novidades-RJ).
. Teatro Neroly
- 19h: O Velho da Horta (Cia Pequod de Teatro-RJ).
. Escola de Artes Reitora Violeta Arraes Gervaiseau – URCA
- 21h: O Hospício (Matulão de Artes Cênicas-CE).
"Conclamo à juventude que estude"

E Mário Ferreira dos Santos, meus amigos, foi um destes homens.
"A luta toda se resume em impor uma escala de valores. Por exemplo, a juventude brasileira por qual escala de valores vai lutar? Ela precisa saber. Vai pela utilitária? Pela nobre? Ou pela sagrada? Ela tem que saber, ela tem que escolher uma escala de valores pela qual vai lutar, já que tem no Brasil um papel importante, porque o Brasil é um país sem elite e a juventude universitária é a elite. (...) O Brasil não deve se preocupar com os pseudos valores, quer dizer com aqueles valores que não são genuinamente nossos, e este é um tema que merece ser estudado".
Trechos de palestra no Centro Convivium, em 1967
A mínima maturidade que o jovem precisa possuir é aquela que o convença a estudar. A essência humana não se constrói sem uma caminhada filosófica, sem uma dedicação ao melhor entendimento da verdade. A única vantagem da “juventude de espírito” é o seu vigor, e só neste sentido é que o homem deveria permanecer jovem por toda sua vida.
Foi este vigor que nos impeliu a idealizar a revista eletrônica Filosofia Concreta. Foi esta nossa juventude de espírito que nos fez entender que algo deve ser feito para resgatar o pensamento desse grande filósofo, que nos ajudará também a resgatar o respeito pela verdade e pelo estudo.
O abandono a que Mário foi relegado nos últimos 30, 40 anos a nós parece um fenômeno aterrador da natureza, como um milagre virado do avesso. Por que sumir com um homem de tamanha erudição e temperança, dedicado a aproveitar os fachos de verdade existentes em cada filosofia estudada, sem jamais romper com toda a potencialidade do pensamento humano? Por que esquecer um filósofo tão sábio em seu ecletismo, capaz de unir satisfatoriamente Pitágoras a Hegel, Aquino a Nietzsche, Suárez a Proudhon? Por que negligenciar uma obra que conta com mais de 60 títulos, abarcando temas como Ontologia, Gnoseologia, Lógica, Teologia, Simbólica, Psicologia, Sociologia, Economia e até Oratória? Como se reduz a quase nada a importância de um empreendimento como a Filosofia Concreta? Talvez estas perguntas sejam só mais umas entre as tantas cujas respostas só o estudo dedicado nos forneça. Atendendo à conclamação de Mário, apresentaremos aqui alguns dos frutos de nossos estudos. O espaço é dedicado à exposição e investigação dos temas que o pensador brasileiro propôs, mas o nosso grande objetivo é mesmo alimentar o prazer pela investigação filosófica em si, esta que é a mais nobre atividade do intelecto humano, e sem a qual não pode haver resgate de coisa alguma. Convidamos a todos para participarem de tal empreitada.
Renan Santos, 15 de novembro de 2009
duas palavras
para que servem?
não seria melhor um canivete?
talvez uma marreta
tivesse maior serventia
para arrebentar o muro
de cristal entre os olhos
desencontro de nossas mãos frias
cabeças de vento
cheias de paisagens danificadas
isso de ser sozinho no metrô
acaba com a gente
de estação em estação
silêncio estagnado
na palma da mão
duas palavras no bolso
não valem um vintém
a praça se mostra um crime
não obstante a catedral
com todas as promessas de salvação
duas palavras que não cabem numa reza
duas palavras que sujeitam
às regras do dia: rapidez e medo
duas palavras que não se combinam
nem podem ser trocadas
contrariando o destino
Semibreve

Decidi me enclausurar. Quero viver dos discos, livros, filmes e nada mais. E isso não é, de todo, ruim. Vou viver de mim por uns tempos. Ando cansada da noite e do vazio que as pessoas me trazem.
Vou vasculhar as possibilidades que há em mim, quero me desdobrar. Não é egocentrimo, tampouco prepotência, mas tem sido entediante sair por aí e ver tanta gente parecida, voltada para o próprio umbigo e para aquilo que se convencionou ser atrante ou interessante. Vou me embriagar da minha casa e digladiar com meus fantasmas, conviver com minhas indagações, explorar meu universo. Revirar minhas gavetas, me transfigurar nas personagens todas que me habitam e gritam, desesperadamente, que eu me rebele.
Quero ser outra. Muitas. Diversamente ambígua.
Arrogante,
atrevida,
misteriosa,
dramática,
nostálgica,
estúpida,
louca,
exagerada,
ríspida.
Ah, chame do que quiser chamar!
Nomeie!
Defina!
Rotule!
Rótulo por rótulo, nada vai se alterar, "mero incidente corriqueiro ser mulher a vida inteira".
Tenho direito de fazer acontecer o que eu quiser. Sem mais, vejo você amanhã, depois do temporal...
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SemibreveOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Semibreve é o nome da Nota musical de maior duração na notação musical padrão. Por ser a nota mais longa em uso (só é mais curta que a breve, arcaica), ela é usada como referência para as durações relativas de todas as demais notas. Quando dividida em duas, quatro, oito, dezesseis, trinta e duas ou sessenta e quatro partes, obtemos, respectivamente, a mínima, semínima, colcheia, semicolcheia, fusa e semifusa.
A semibreve também é a nota usada como referência para a duração do compasso (música). O denominador da fórmula de compasso indica em quantas partes uma semibreve é dividida para obter a unidade de tempo da composição. Por exemplo, um compasso 4/4 indica que a semibreve foi dividida em quatro partes e que a unidade de tempo é a nota com duração de 1/4 da semibreve. (ou seja, a semínima)
Focinho atento - Domingos Barroso
ilusão as águas mansas,
a um palmo
debaixo dos teus pés -
areia movediça,
buraco negro.
Não te enganes,
o livre-arbítrio
é mão dupla -
menos se espera
surge bêbado um cavalo alado
atravessando o caminho,
e o abismo continua
nostálgico,
plantado entre orquídeas
e ervas daninhas.
Brandura - Domingos Barroso
grana, mulher, as sete virtudes.
A felicidade percebo
é esse sobrado aberto -
sem nuvens no alto,
sem folhas secas pisadas.
Basta meu cafezinho quente
e o riso do meu filho
antes de ir à escola.
O dedo no nariz,
uma melequinha aprazível.
O meu anjo da guarda me diz
que não é de todo seguro
essa túnica transparente
enquanto meu lado sombrio
rói as unhas neurótico.
Agora sou eu
quem limpa o nariz
e sorri de soslaio.
Também não desejo
essa falta de querência
por eternidade.
O Perfume - Maria Amélia Pinheiro de Castro
O PERFUME
Desde os primórdios da humanidade que a procura de aromas diferentes e agradáveis, e a conseqüente utilização de essências de plantas, faz parte da história da civilização.
Pensa-se que a arte da perfumaria se terá iniciado ainda na Pré-História, quando o homem primitivo aprendeu a fazer o fogo e descobriu que certas plantas libertavam fragrâncias agradáveis quando queimadas. Os primeiros perfumes terão pois surgido sob a forma de fumo, o que é aliás confirmado pelo próprio étimo "Perfume", que deriva do latim "Per fumum" ou "pro fumum", significando "através do fumo".
A queima de plantas raras e resinas aromáticas estava em geral associada a cerimônias religiosas, sobretudo aos sacrifícios rituais de animais, em que serviria para disfarçar os odores incomodativos do animal morto. Com este objetivo eram utilizados o sândalo, a casca de canela, as raízes de cálamo, bem como substâncias resinosas como mirra, incenso, benjoim e cedro do Líbano.
Na civilização mesopotâmica, o ato de perfumar era tido como um ritual de purificação. Por esse motivo, os homens tinham a obrigação de oferecer perfumes às mulheres durante toda a vida.
Os Hebreus também utilizavam o perfume na vida quotidiana e no culto. Uma das suas fórmulas está registrada na Bíblia, no livro do Êxodo, capítulo 30. A composição utilizava quatro ingredientes naturais, muito empregados nos dias de hoje, mas de forma mais refinada: mirra, cinamomo, junco odorífero, cássia e óleo de cálamo aromático.
Requintes
Os Egípcios foram o primeiro povo a fazer uma utilização sistemática do perfume. O seu fabrico era considerado uma graça de Deus, sendo por isso confiado aos sacerdotes, que utilizavam os perfumes diariamente no culto ao deus-sol.
Mas começa também a generalizar-se a utilização pessoal do perfume, tendo para isso os Egípcios criado um original sistema, pequenas caixas que se usavam atadas na cabeça e que continham uma fragrância que se dissolvia lentamente perfumando o rosto. Tinha também a função de afastar os insetos.
A rainha Cleópatra, ela própria autora de um tratado de cosmética infelizmente perdido, untava as suas mãos com óleo de rosas, açafrão e violetas - o kiafi - e perfumava os pés com uma loção feita à base de extratos de amêndoa, mel, canela, flor de laranjeira e alfena.
Até os mortos, durante o processo de embalsamamento, eram ungidos com essas misturas. Quando o túmulo do rei Tutankámon foi aberto, encontraram-se no seu interior maravilhosos vasos de alabastro que conservavam ainda a essência perfumada que havia sido colocada neles há cerca de 5 mil anos.
A refinada civilização grega importava perfumes de diferentes partes do mundo, sendo os mais apreciados e caros os oriundos do Egito. Mas também criaram uma técnica própria de perfumaria, chamada maceração, em que o óleo vegetal ou a gordura animal eram deixados durante algumas semanas em repouso juntamente com flores, para lhe absorver os óleos essenciais.
Há 2400 anos, certos escritos gregos recomendavam hortelã-pimenta para perfumar braços e axilas, canela para o peito, óleo de amêndoa para mãos e pés, e extrato de manjerona para o cabelo e as sobrancelhas.
O uso do perfume foi levado a um tal extremo pelos jovens que o legislador Sólon chegou a proibir a venda de óleos fragrantes.
Tal como os gregos, os Romanos eram grandes apreciadores de perfume, usando-o nas mais diversas situações. Como resultado das suas conquistas militares, os Romanos foram assimilando não só novos territórios, mas também novas fragrâncias, procedentes das suas campanhas em terras distantes e exóticas, aromas desconhecidos até então, como a glicínia, a baunilha, o lilás ou o cravo. Também adotaram o costume grego de preparar óleos perfumados à base de limão, tangerinas e laranjas.
Esta paixão pelo perfume esteve na origem do aparecimento do poderoso grêmio dos perfumistas, os famosos e influentes ungüentarii, que fabricavam três tipos de ungüentos: sólidos, cujo aroma contava com um único ingrediente de cada vez, como a amêndoa ou o marmelo; os líquidos, elaborados com flores, especiarias e resinas trituradas, num suporte oleoso; e perfumes em pó, feitos com pétalas de flores que depois se pulverizava e aos quais se juntavam certas especiarias.
Os nobres romanos possuíam inclusivamente escravos para os massagearem e untarem com essências perfumadas e era costume os soldados perfumarem-se antes de entrar em combate.
Conta-se que Nero, no século I d. C., na organização de uma festa, gastou mais de 150 mil euros, em valores atuais, em essências para si mesmo e para os convidados. E, no enterro de sua mulher Pompéia, gastou o perfume que os perfumistas árabes eram capazes de produzir num ano. Chegou ao extremo de perfumar até as suas mulas.
Também a tradição cristã está na sua origem associada ao perfume. Lembremos que uma das oferendas que os reis magos trouxeram ao menino Jesus foi o incenso.
Prof. Carlos Pinheiro
Pensamento para o Dia 17/11/2009

“Nesta vida mundana o amor se manifesta de várias formas, como o amor entre mãe e filho, marido e esposa e entre parentes. Esse amor baseado em relações físicas provém de motivos egoístas e de interesse próprio. Mas o amor pelo Divino é destituído de qualquer traço de egoísmo. É o amor somente por causa do amor. Isso é chamado devoção (Bhakti). Uma característica desse amor é dar e não receber. Em segundo lugar, o amor não reconhece qualquer medo. Em terceiro lugar, é somente por causa do amor e não por um motivo egoísta. Todos esses três ângulos do amor significam, em conjunto, Rendição (Prapatthi). Quando alguém se deleita nessa atitude de Rendição, ele experimenta a bem-aventurança do Divino.”
Sathya Sai Baba
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“O sândalo libera cada vez mais fragrância à medida que é continuamente moído. A cana-de-açúcar libera o suco à medida que é mais e mais mastigada. O ouro fica puro quando é derretido no fogo. Do mesmo modo, um verdadeiro devoto não vacilará em seu amor por Deus mesmo quando enfrenta problemas e obstáculos em sua vida. Deus testa Seus devotos somente para levá-los a um nível mais elevado na escada espiritual.”
Sathya Sai Baba

Na Semana da Música ... " Qualquer Música "

( Fernando Pessoa - Ortônimo )
O prazer da gastronomia - por Socorro Moreira



Ainda não sei nada ... - por Rosa Guerrera

por rosa guerrera
Heitor Vila-Lobos -
"Sim sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil. Eu não ponho mordaça na exuberância tropical de nossas florestas e dos nossos céus, que transporto instintivamente para tudo que escrevo". Este é Villa-Lobos, o maior compositor brasileiro de música erudita de todos os tempos.
Deixou um acervo com mais de 1500 obras. Morreu aos 72 anos, em 17 de novembro de 1959, no Rio de Janeiro.
Auguste Rodin
"A arte é a contemplação; é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que a natureza também tem alma.
Auguste Rodin
O espírito esboça, mas é o coração que modela.
O mundo não será feliz a não ser quando todos os homens tiverem alma de artista, isto é, quando todos tirarem prazer do seu trabalho.
Auguste Rodin
Telha de Vidro - Raquel de Queiroz
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz doa dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
Rachel de Queiroz
"Eu sou o Cego Aderaldo" - Livro apresentado por Raquel de Queiroz
APRESENTAÇÃO
DO LIVRO "EU SOU O CEGO ADERALDO"
ED. MALTESE, 1994
É como ele se assina: Cego Aderaldo. Creio até que registrou a marca, pois é como “Cego Aderaldo” que o povo o conhece e ama.
O último dos grandes cantadores – hoje já não se conhecem cantadores como ele foi e como ele é. Ou se os há de inspiração idêntica, as novas gerações, distraídas com a música comercializada do rádio, com os cantores enlatados, já não os idêntica, as novas gerações, distraídas com a música comercializada do rádio, com os cantores enlatados, já não os identificam nem lhes conferem esse halo de glória que nimbava os famosos cantadores do passado.
Hoje, o prestígio da profissão de cantar improvisado, á rebeca ou á viola, e cantar e, desafio, vai diminuindo, em vias de desaparecer. Só maldo como causa a música dos rádios, que, através dos transistores, chega até aos lugares mais escondidos do sertão.
Onde nunca chegou trem, ou ainda não chegou automóvel nem avião, o rádio já chega. E fica, e grita, e enerva. E porque não tem mais esperança de fama, os moços de inspiração não se dedicam a cantar, não estimulam a veia poética nem se apuram na escola dos desafios.
Nessa decadência geral do oficio de cantador, cego Aderaldo mantém, contudo, o seu prestígio intacto. O povo o adora, o cerca e o festeja onde quer que ele vá. Quando chega a uma fazenda, venha embora o cego sozinho com seu guia, é como se com ele houvesse começado a novena, os foguetes e o leilão.
Aderaldo sentar-se e começa a cantar e até comove ver como a gente o cerca, e ri com ele, e lhe bebe as palavras.
Não aplaudem porque sertanejo não está habituado aplaudir: o artista tem que pressentir, no silencio emocionado que se segue ao se trabalho, o grau de aprovação que suscitou.
Aderaldo é hoje um velho de mais de oitenta anos, espigados, rijo, fala sonora de homem habituado a dominar auditórios.
Tem o riso muito fácil – é um cego alegre. Seu repertório, porque os cantadores não apenas improvisam, mas também cantam versos de lavra alheia, especialmente os da musa popular - seu repertório, com poucas exceções, é bem humorado, quase humorístico.
Isso se verá, aliás, nas páginas adiante, onde o Cego Aderaldo conta a sua vida e dá uma mostra de sua poesia.
Sei que é muito difícil por num caderno de lembranças essa coisa ilusiva e perecível que é a arte de um cantador.
A palavra impressa, coisa de medida, de premeditação e efeito calculado, não conseguirá transmitir ao leitor o impacto produzido pela ação de presença, pela mágica do improviso, pela música do acompanhamento, pelo embalo da cantoria; mas ao menos registrar um pouco, para não perder tudo.
Pelo menos isso – memória da vida, fragmentos de desafios e romances – nos guardado de tudo que ele espalhou por aí em mais de sessenta anos de cantoria. É um documento da sua passagem, uma referencia para futuros estudiosos, e uma pre texto de aproximação e reconhecimento para o povo que o ama e que, quando um dia o perder, gostará de conservar ao menos uma parte dos tesouros lançados ao vento dos desafios, aos pequenos auditórios longínquos e memória, ao caso, das peregrinações do violeiro e cantor.
CONTRACAPA DO LIVRO
EU SOU O CEGO ADERALDO
ED. MALTESE, 1994
Aderaldo Ferreira de Araújo é uma legenda de cantoria nordestina. Cego, tradição de um Homero ou de um Tirésias, cumpriria o destino traçado pelos deuses de ser privado da visão para ser apenas voz. Mas que conheceu a luz e a cor até aos 18 anos.
É a permanência da oralidade que está em foco.
Seu cantar flui, interminável, como uma litania sertaneja.
Ele está sempre apto para a peleja. Maneja voz e viola como armas, com uma destreza de mestre.
O sertão inteiro repete, ainda, de cor, o seu improviso e sabe histórias de repentes com a marca do gênio.
Os grandes nomes da cantoria cantam com ele. Até mesmo pegas que nunca existiram ganharam transmissão oral ou foram transcritos para folhetos de cordel.
Um cego andarilho, que não vendia histórias, papel reservado a eles na tradição européia, mas que ganhava a vida como um “performer” medieval.
O importante não era apenas o que ele dizia, mas como dizia, a eloqüência da voz, ao artifícios da retórica, a verve de quem sempre tinha um argumento a mais para exibir no ultimo instante e fazer calar o rival.
O Cego Aderaldo foi o maior jogral que o Nordeste já teve. E este livro é um esforço de registrar o que se perderia no eco das palavras ou que se transformaria em sementes na recriação deste canto que é de homem e ao mesmo tempo de todas as vozes sertanejas. Um livro para ser lido em voz alta.
Nos mercados, nos patamares das igrejas em tempo de festas, nos terreiros das fazendas, ainda se faz ouvir o tom plangente de sua viola e o matraquear de sua poética.
Aderaldo está cada vez mais vivo no coração e na lembrança de todos os que sabem puxar os fios e tecer essa histórias feita de mil-e-uma noites de rimas, ritmo e agilidade. É um saber tradicional que se cristaliza e se torna monumento feito de palavras e sons.