Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 22 de julho de 2009

Casamento perfeito- Sessão II - Por: Zélia Moreira



"Amar é ter um pássaro pousado no dedo...qualquer hora ele pode voar!"

Esta frase de Rubem Alves ilustra muito bem a cena final de um clássico do cinema mundial.
Dispensa explicações. Qualquer pessoa pode perceder que falo de Casablanca, considerado um dos melhores filmes de todos os tempos.
Quais os ingredientes que fizeram de Casablanca tão fascinante? Uma história de amor impossível, (somente na impossibilidade os amores são eternos), um casal de protagonistas formado pelo carisma, charme, talento de Humphey Bogart,( uma das lendas de Hollywood, vivendo Rick, cínico, inescrupuloso, mas também nobre , generoso) e Ingrid Bergman, no papel de Lisa , com toda sua beleza e ar enigmático. Por fim, sem dúvida, o grande trunfo deste filme, a maravilha de As Time Goes By - música inesquecível !





O filme é dos anos 40, época da segunda guerra mundial, ambientado em Marrocos, ganhou 03 Oscars:Melhor filme, melhor roteiro e melhor direção (Michael Curtiz)

Vamos reviver um trechinho deste filme? Vale a pena!

Grande, grande,grande - Mina Mazzini

Grande, Grande, Grande - Por José do Vale Pinheiro Feitosa

Uma canção que não deve às sujeições do amor da nossa brega canção de quermesse. Composta por A. Testa - T. Renis - 1972 e também cantada por Mina Mazzini e Vikki Carr: Grande, Grande, Grande. Sem categorias de lutas políticas e sociais. Sobretudo a sujeição ao amor, o mais dramático, injusto e verdadeiro ato da humanidade em sua marcha de permanente superação, perdas e reencontros.

Con te dovrò combattere,
non ti si può pigliare come sei.
I tuoi difetti son talmente tanti
che nemmeno tu li sai.

Sei peggio di un bambino capriccioso,
la vuoi sempre vinta tu.
Sei l'uomo più egoista e prepotente
che abbia conosciuto mai.

Ma c'è di buono che al momento giusto
tu sai diventare un altro.
In un attimo tu
sei grande grande grande, le mie pene
non me le ricordo più.

Io vedo tutte quante le mie amiche
son tranquille più di me.
Non devono discutere ogni cosa
come tu fai fare a me.

Ricevono regali e rose rosse
per il loro compleanno.
Dicon sempre di si,
non hanno mai problemi, son convinte
che la vita è tutta lì.

E invece no, invece no
la vita è quella che tu dai a me.
In guerra tutti i giorni,
sono viva, sono come piace a te.

Ti odio e poi ti amo,
poi ti amo, poi ti odio
e poi ti amo.

Non lasciarmi mai più.
Sei grande grande grande, come te
sei grande solamente tu.

Ti odio e poi ti amo,
Poi ti amo, poi ti odio
e poi ti amo.

Non lasciarmi mai più.
Sei grande grande grande, come te
sei grande solamente tu.

Non lasciarmi mai più.
Sei grande grande grande, come te
sei grande solamente tu.

Com esta tradução em Português quase ao pé da letra. Diferente da feito por Zizi Possi:

Contigo deverei combater,
não posso aceitar-te como és.
E teus defeitos são tal modo tantos
que nem mesmo tu o sabes.

És mais que um menino caprichoso,
Queres que sempre vença tu.
És um homem mais egoísta e prepotente
que jamais hei conhecido.

Mas tem de bom que no momento justo
sabes tornar-te um outro.
Num átimo tu
és grande grande grande, minhas penas
não as recordo mais.

Eu vejo tudo quanto minhas amigas
são mais tranqüilas do que eu.
Não devem discutir cada coisa
como tu me obrigas a fazer.

Recebem presentes e rosas rubras
pelos seus aniversários.
Dizem sempre que sim,
não tem nunca problemas, são convictas
que a vida é toda ali.

E ao invés não, ao invés não,
a vida é aquela que tu me dás.
Em guerra todos os dias,
sou viva, sou como agradas a ti.

Te odeio e após te amo,
após te amo, após te odeio
e após te amo.

Não me deixes nunca mais.
És grande grande grande, grande como tu
és grande somente tu.

Te odeio e após te amo,
após te amo, após te odeio
e após te amo.

Não me deixes nunca mais.
És grande grande grande, como tu
és grande somente tu.

Não me deixes nunca mais.
És grande grande grande, igual a ti
és somente tu.


Se um pouco mais, nada como a canção na voz de Mina ou do próprio Tony Renis, nele invertendo o papel do homem pelo de uma mulher. No Youtube é fácil a de Mina.

Poemas de César Vallejo , traduzidos para o Português


Poesia Latina traduzida para o português
O pão nosso (César Vallejo)



Bebe-se o café da manhã…úmida terra
de cemitério cheira a sangue amado.
Cidade de inverno…A mordaz cruzada
de uma carreta que arrastar parece
uma emoção de jejum encadeada!
Quisera bater em todas as portas,
e perguntar por não sei quem, e logo
ver aos pobres, e, chorando quietos
dar pedacinhos de pão fresco a todos.
E saquear aos ricos seus vinhedos
com as duas mãos [...]

Pedra preta sobre pedra branca (César Vallejo)


Morrerei em Paris com aguaceiro,
um dia do qual tenho já a lembrança.
Morrerei em Paris - e não me apresso -
talvez em uma quinta-feira, como é hoje, de outono.
Quinta-feira será, porque hoje, quinta, que proseio
estes versos, os úmeros hei posto
a mau e, jamais como hoje, hei voltado
com todo meu caminho, a ver-me só.
César Vallejo há morto, [...]

Os mensageiros negros (César Vallejo)


Há golpes na vida, tão fortes… eu não sei!
Golpes como o ódio de Deus; como se ante eles,
a ressaca de todo o sofrido
se estagna na alma… eu não sei!
São poucos; mas são… abrem poças escuras
no rosto mais feio e no lombo mais forte,
serão talvez os potros de bárbaros atilas;
os mensageiros negros que nos manda a [...]

Palabras para Vallejo

Everardo Norões

A conhecida revista Martín, da Universidad San Martín de Porres, do Peru, dedicou seu número 18, de outubro de 2008, ao poeta peruano Cesar Vallejo. O editor é o também poeta Hildebrando Pérez Grande. Esta foi a nosssa contribuição, ao lado de intelectuais de vários países, na parte intitulada Palabras para Vallejo:
"A lava da poesia de Cesar Vallejo aquece e ilumina nossa condição humana e sua magia descortina os altiplanos mais extraordinários da criação. Às vezes indaguei a mim mesmo por que me sentia feliz ao ler alguns poemas duros ou tristes do grande peruano. Observei que além da genialidade de concepção, havia sempre a réstia de inusitada generosidade e de indizível beleza a penetrar cada um de seus versos. E dei-me conta que aquela minha alegria havia nascido do sentimento de pertencer à mesma humanidade sem limites de Cesar Vallejo, aquela dos poetas e proletários que, como ele, “morrem de universo”.
_____

Um convite aceito - Edilma Rocha




Recebi uma ligação muito especial da minha amiga de infância Claude Bloc para fazer parte de um blog administrado por ela e a querida Socorro Moreira.

Que honra !

É claro que topei. Será uma parceria cheia de alegrias e amizade verdadeira.

Colocarei aqui toda a emoção vivida numa cidade de interior , repleta de historias inesquecíveis. Vamos fazer algo sério, porém descontraido; alegre e divertido; descobrindo e encontrando amigos perdidos no tempo. Poderemos publicar nossos versos simples e os textos com palavras que expressem o sentimento dos amigos cariris.

A nossa geração tem muito a oferecer e relembrar.

Sinto-me honrada em fazer parte dessa galeria tão brilhante de escritores.


Edilma Rocha

Fã dos Artistas de Cinema - Por: Edilma Rocha





A idade era treze anos , e não queria mais ser menina. A cabeça estava cheia das cenas de amor vividas pelos artistas do cinema que assistia no Casino, Moderno e Educadora. Ao sair de casa, a última parada era no cantinho escondido do portão para mudar o visual. Rapidamente retirava a fita do cabelo e substituía por uma fivela; as meias soquetes ficavam enfiadas dentro de um jarro de planta ; a bainha da saia era dobrada; finalmente um pouco de batom e um par de brincos compridos. Pronto! Agora sim, poderia juntar-se aos colegas que lhe aguardavam na praça Siqueira Campos .

Já era uma mocinha , e não tinham entendido ainda, que a vaidade sempre fora o seu forte e não poderia ser diferente.Os modelinhos de criança, já era!

Mas precisava fazer alguma coisa para fazer aqueles rostos maravilhosos do cinema chegar as suas mãos... E como?

Colecionava umas revistas chamadas Cinelândia, que contava a vida dos artistas da telinha e ainda era repleta de fotos para a sua coleção. Elizabeth Taylor era a sua maior paixão.Ainda hoje tem guardado todos os álbuns que fez. Um dia ,numa dessas revistas, encontrou um modelo de carta ,escrita em Inglês, que pedia ao astro uma fotografia autografada. No mesmo instante já estava na esquina de casa colocando no correio a cartinha para Los Angeles, e esperando ansiosamente a resposta.

Que dura espera ! Mas um dia ao chegar do colégio Santa Teresa, seu coração disparou ao encontrar um envelope enorme com uma foto autografada por Elizabeth Taylor. Quanta emoção e orgulho para uma mocinha de uma cidade do interior do Ceará. Um precioso tesouro nas suas mãos !

Imagino hoje que , qual não foi a surpresa para uma estrela de um pais tão distante encontrar entre as suas cartas, uma do Brasil que para identificar o local teria uma certa dificuldade, pois tão pequeno era o pontinho escrito - Crato.

E depois desta foram muitas que seguiram e que retornaram com fotos autografadas: Richard Burton, Alain Delon, Paul Newmon, Charlton Heston, Marisol e muitos outros. Nunca ficou sem resposta, chegavam de uma em uma e eram disputadas pelas amigas no colégio.

Uma época de sonhos , quando o dia de sábado e domingo era esperado com ansiedade. O vestido novo, a nova apresentação; os cines disputados, e a plateia lotada. A pipoca sempre presente, os chicletes a sofrer ,no mastigar ansioso pela cena seguinte e o lanterninha que vigiava os namorados audaciosos.

P.S.As fotos aqui publicadas são meus originais preciosos , hoje emoldurados , adornam o "home" da minha casa.


Edilma


FELIZ DIA DOS INIMIGOS?

Bernardo Melgaço da Silva


Hoje li num outro blog uma pessoa exaltando o dia do inimigo. Em verdade, essa pessoa queria criar uma polêmica entorno daqueles que exaltam o dia do Amigo (como fiz nesse blog citado anteriormente). Em minha consciência procuro mais uma vez compreender porque exaltamos mais a guerra do que a paz; o confronto do que um aperto de mão; a doença social da luta competitiva do que a saúde social na doação cooperativa solidária; a desgraça do que a graça. Estamos em tempo de ilusão intelectual e “crítica”. A crítica requer sabedoria, ir além do saber do outro com argumentação convincente e fundamentada (ler definição da filósofa Marilene Chauí no livro Convite à Filosofia). E não é o que acontece na maioria dos casos e das críticas. Uma coisa é ser adversário (num jogo de futebol e que no final os jogadores se confraternizam e trocam de camisas), a outra é ser inimigo (p.ex.: o conflito entre traficantes e os policiais) onde o que se pretende no fim da disputa é destruir moral e mortalmente o outro.

Na minha experiência humana tenho muito o que revelar do que aprendi com a minha voz doce e suave (Gandhi afirmou: “o único tirano que aceito em minha vida é uma voz interior doce e suave”). Todos os homens e todas as mulheres carregam dentro de si duas forças ontológicas que podem se completarem ou se projetarem no mundo criando a guerra ou a paz. É só dar vazão ao lado “crítico” dos grandes ditadores de verdades, que teremos uma sociedade vermelha e banhada de sangue. Por isso, vive melhor aquele que tem amigos para abraçar, sorrir, ajudar, viajar, conversar e transcender juntos na grande e maravilhosa jornada chamada Vida.

Posso imaginar a mente doente daquele que exalta o dia do inimigo porque provavelmente nunca teve uma prova de fato em que seu inimigo (inimigo mesmo!) colocou por um instante a sua vida por um fino fio frágil. Nunca teve uma irmã ameaçada de morte; um filho sequestrado; um parente (ou sua própria esposa)) aleijado por uma bala endereçada para aquele fim. E quem faz tudo isso? Um amigo ou um inimigo? Creio, que escrever é uma arte e requer uma prudência sábia. Escrever qualquer coisa para atacar um adversário de quem não gosta mostra mais uma vez o que Kafka disse: “Da vida se tira vários livros [e blogs], mas dos livros [e dos blogs], com rara exceção, não se retira a vida”. Mostra também que ele não sabe usar a sensibilidade com inteligência. Mostra apenas que sabe usar muito bem o seu ego desastroso e infantil.

Precisamos melhorar nossas visões de mundo porque como disse Platão: “Tente mudar o mundo – o primeiro passo é mudar a [visão de] si mesmo”. A diferença na vida social não está entre o amigo e o inimigo, mas entre o Ego e o Self. Tudo começa lá dentro das nossas consciências em mutação e evolução. Para tanto, faz-se necessário ter um boa formação de filosofia, teologia, sociologia, epistemologia, ética etc. Muitos dos que exaltam a parte desvirtuada do ser humano não tem em seu conteúdo a ética verdadeira e o caminho da sabedoria verdadeira: “orai e vigiai [a si mesmo]”.

Eu não quero mais me alongar nessa discussão, mas apenas contribuir com uma reflexão porque plantamos hoje o que colheremos amanhã. Se plantarmos ego teremos ego matando e justificando sua matança porque assim aprendeu e a sociedade deu seu aval nos canais de comunicação (TV, Rádio, Jornal, Blog etc).

“GENTILEZA GERA GENTILEZA” - famoso e sábio personagem das ruas do Rio de Janeiro, AMOR GERA AMOR, ÓDIO GERA ÓDIO, INIMIZADE GERA INIMIZADE, AMIZADE GERA AMIZADE, VERDADE GERA VERDADE.

Por isso, prefiro a letra da música de Roberto Carlos: “Eu quero ter um milhão de Amigos”. Aos ateus e incrédulos “críticos”: Deus existe nas nossas consciências sutis no interior da natureza humana. Devemos desejar – sempre! – o bem de todos e nunca um mundo de confronto e guerra! A dor pode ser insuportável!

Haicais - Anita D. Cambuim


Chove na poça d'água e
na minha cabeça também -
urubus em festa

Ao buscar a lua
Me lembrei de ti -
Ambas distantes, ausentes

Anita D. Cambuim

A Crônica Brasileira - Por: Stela Siebra Brito


CLARICE LISPECTOR E A CRÔNICA

Clarice Lispector escreveu crônicas no Jornal do Brasil, de 1967 a 1973, reunidas no livro A descoberta do mundo, publicado pela primeira vez em 1984. Nestes textos Clarice se mostra mais: “nesta coluna, estou de algum modo me dando a conhecer”, comenta na crônica de 21 de setembro de 1968. “Na literatura de livro permaneço anônima e discreta”. Meses antes, em crônica de 22 de junho, “Ser Cronista”, a escritora afirma: “Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente sobre o assunto” e faz uma série de observações sobre o que é crônica e seu estado de espírito em relação a “ir me tornando pessoal demais”.
Se a crônica é um gênero leve, ameno, de leitura fácil, consegue celebrar o cotidiano e mostrar belezas insuspeitadas, Clarice o fez com sinceridade, sem mudar sua forma de escrever. Na crônica já citada (22 de junho) a autora declara seu desejo de aprofundamento da comunicação na sua escrita consigo e com o leitor e diz estar contente: “agrada-me que ele (o leitor) fique agradado”.
Na crônica de 27 de novembro de 1970, A Antiga Dama, a escritora relata com singularidade e profundidade, mas numa linguagem leve e de fácil leitura, o dia seguinte da visita que uma senhora, moradora de uma pensão, fez à casa do filho, num certo domingo, e onde aí pernoitara e tomara banho na banheira da nora. Neste texto, Clarice trata de um assunto corriqueiro, por isso circunstancial, mas dá-lo um acabamento magistral, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza. De um passeio de uma velha mãe à casa do filho, a autora mostra o retrato de uma mulher que sai do seu dia a dia, e que logo no retorno à pensão está imbuída de uma altivez, de uma certeza de que “a família era a base da sociedade”, para mostrar-se no fim do dia, após vomitar o jantar da casa do filho, antes elogiado como “magnífico”, uma rainha destronada, derrotada.
A marca da escritura de Clarice Lispector está presente, como ela quer, como ela sabe fazer. E assim finaliza a crônica: ”O Rei Lear. Estava quieta, grande, despenteada, limpa. Fora feliz inutilmente”. Eis o texto:

A ANTIGA DAMA
Morava numa pensão da Rua São Clemente. Era volumosa, e cheirava a quando a galinha vem meio crua para a mesa. Tinha cinco dentes e a boca seca, árida.
Sua reputação passada não fora inventada: ainda falava francês com quem tivesse oportunidade, mesmo que a pessoa também falasse português e preferisse não corar com a própria pronúncia. A ausência de saliva tirava-lhe qualquer volubilidade da voz, dava-lhe uma contenção. Havia majestade e soberania naquele grande volume sustentado por pés minúsculos, na potência dos cinco dentes, nos cabelos ralos que, escapando do coque magro, esvoaçavam à menor brisa.
Mas houve a segunda-feira de manhã em que ela, em vez de sair de seu minúsculo quarto, veio da rua. Estava lisa e com o pescoço claro, sem nenhum cheiro de galinha. Disse que passara o domingo na casa do filho, onde pernoitara. Estava de vestido preto de um cetim já fosco. Em vez de ir para o quarto mudar de roupa, vestir um de seus vestidos de algodão barato, e ser apenas uma pessoa sozinha que mora numa pensão, sentou-se na sala de visitas, prolongando o domingo, e disse que a família era a base da sociedade. A propósito de qualquer coisa, referiu-se de passagem a um banho de imersão que tomara na confortável banheira da nora – o que explicava a sua falta de cheiro e o pescoço não encardido. Deixando sem jeito os pensionistas ainda de pijama e robe, ficou sentada horas junto ao jarro da sala, só tendo conversas adequadas a um suposto salão invisível.
De tarde, via-se que os sapatos abotinados já lhe apertavam demais os pés. Continuou, porém, a dama na sala de visitas, levantada a grande cabeça de profeta.
Mas, na hora em que elogiou o jantar magnífico da casa do filho, seus olhos se fecharam de náusea. Depressa foi para o banheiro, ouviram-na vomitar, recusou ajuda quando lhe bateram à porta do quartinho.
Na hora do jantar, apareceu e pediu apenas uma xícara de chá: estava de olheiras marrons, com o largo vestido de estampadinho de ramagem, e de novo sem cinta e soutien. O que ainda restara de estranho era a pele mais clara. Alguns pensionistas evitaram olhá-la e à sua derrota. Não falou com ninguém. O Rei Lear. Estava quieta, grande, despenteada, limpa. Fora feliz inutilmente.


Stela Siebra Brito

MULHER MENINA: UMA BELA FLOR DO CAMPO



Flor de campo
Que desabrocha como encanto
Fragrância menina
De uma Luz-Essência Feminina

Nenhum poeta pode nomear
Nem mesmo contemplando a beleza do luar
Nem mesmo saboreando a luz do sol e a brisa do mar
Somente o sentimento mais profundo sem nada falar

Sorriso fácil
Juventude livre
Inocência divina
Quis Deus que fosse assim tão alegre, linda e (fe)menina

Nenhuma definição pode dizer quem ela é
Nenhuma abstração pode imaginar a sua meiguice
Nenhuma filosofia pode explicar a sua doçura feminina
Somente a sensibilidade da graça divina

É como a natureza na origem da criação
É como a vida na origem da evolução
Não existe um princípio absoluto para explicação
Somente exclamação e admiração: Quanta vida em harmonia!

É um ser feminino de rara naturalidade
É uma explosão solar com brilho e felicidade
É assim que a vejo: tão linda!
Um anjo alegria de pura espontaneidade

Ainda assim mesmo delicada e frágil
E suave como uma flor
Tão amiga-deliciosa que as abelhas a confundem com o seu doce mel
Com certeza recheada de puro Amor

Ao homem cabe apenas contemplar e admirar
E exclamar: ó meu Deus!
Fostes perfeito na criação
Eva é Sua real e bela sensibilidade e visão

Você deveria ser chamada sem nenhum exagero: AMOR, AMOR, AMOR!
Ó Flor de Campo!
A sua presença é pura energia e encanto
Uma flor em forma de luz-explendor em seus 19 anos

A ARTE DE CALAR

(TEXTOS E FIGURAS RETIRADOS DA INTERNET - ANÔNIMO)

CALAR SOBRE SUA PRÓPRIA PESSOA,
É HUMILDADE!

CALAR SOBRE OS DEFEITOS DOS OUTROS,
É CARIDADE!

CALAR QUANDO A GENTE ESTÁ SOFRENDO,
É HEROÍSMO!


CALAR DIANTE DO SOFRIMENTO ALHEIO,
É COVARDIA!

CALAR DIANTE DA INJUSTIÇA,
É FRAQUEZA!

CALAR QUANDO O OUTRO ESTÁ FALANDO,
É DELICADEZA!

CALAR, QUANDO O OUTRO ESPERA UMA PALAVRA,
É OMISSÃO!

CALAR, E NÃO FALAR PALAVRAS INÚTEIS,
É PENITÊNCIA!

CALAR, QUANDO NÃO HÁ NECESSIDADE DE FALAR,
É PRUDÊNCIA!

CALAR, QUANDO DEUS NOS FALA NO CORAÇÃO,
É SILÊNCIO!


CALAR DIANTE DO MISTÉRIO QUE NÃO ENTENDEMOS,
É SABEDORIA!


QUANDO NA ESCURIDÃO DA NOITE PROCURAMOS DEUS
E NÃO O ENCONTRAMOS...

É PORQUE NÃO O PROCURAMOS
EM NOSSOS CORAÇÕES...


LEMBRE-SE QUE ELE JAMAIS ABANDONA
SEUS FILHOS...


TENHA UM LINDO DIA...

UMA NOITE COM MUITA PAZ...

A dialética da compaixão
Everardo Norões

Todas as janelas da literatura de Ronaldo Brito – seja ela conto ou teatro – abrem-se para uma cidade imaginária. No entanto, essa cidade existe. E o que a torna real são seus personagens, seres que habitam ruas, praças e, sobretudo, nossos silêncios. Por onde passei ou vivi, encontrei personagens como Maria Caboré ou Sebastião Candeia, mas que se chamavam, por vicissitudes da geografia ou da cultura, Mustafá ou Mohamed, Ibraimo ou Abdelkader.
Para a literatura, as tragédias humanas necessitam de um cenário; mas pouco importa se esse cenário é Crato, Recife, ou um lugarejo mítico situado em algum cosmos particular, como a Santa Maria de Onetti.
No fundo, ele é sempre o disfarce de um lugar que não existe. E é esse o grande milagre da literatura.
O Crato de Ronaldo é um lugar universal e ao mesmo tempo extremamente seu, porque apenas ele o observa assim: como a Orã de Camus, a Cairo de Taha Hussein, a Maputo de Mia Couto, ou a Recife de Joaquim Cardozo.
Numa visita da banda cabaçal Irmãos Aniceto, ao país do Sul, um de seus integrantes foi levado a um alto edifício. E, então, alguém lhe perguntou o que avistava dali. – O Crato!, respondeu. Ronaldo Brito é feito do mesmo fogo e do mesmo barro desses irmãos Aniceto.
Os personagens de Ronaldo são protagonistas de um sertão destruído, território da desolação, onde os valores arcaicos foram triturados por uma espécie de máquina infernal, mas que sobrevivem pela alquimia da imaginação,
única matriz da literatura. Maria Caboré, que entrava “na simplicidade das pedras do rio, onde sentava para enxugar-se do banho”, é sua Santa Maria Egipcíaca; Sebastião Candeia, personagem de um dos contos do livro, é uma metáfora do sofrimento metafísico do autor: o combate contra si mesmo e contra esse seu mundo desmantelado e perdido. É também a contrapartida do absurdo jogo da criação, no qual ele se percebe o eterno e inevitável perdedor:
por mais que pense ter criado um novo invento acaba por se dar conta de que apenas repete os pequenos dramas do homem de qualquer lugar.
A literatura de Ronaldo Brito, no seu Livro dos homens, opõe-se a uma outra literatura que sugere um sertão de brasões, de fidalgos e de reis, simples liturgia de veneração às sombras. As sombras do que somos.
É uma literatura do real transfigurado, e não a figuração do irreal.
O fio da meada dos contos do Livro dos Homens nos conduz à linhagem clássica de Guy de Maupassant: narrativas com inícios e fins, pontuadas pelas contingências do humano, marcadas pelo sentido da exatidão, o rigor do estilo.
Mas, o que mais surpreende e cativa nestes contos de Ronaldo (entre os quais destacaria Qohélet) é aquela mesma paixão pelo próximo que transborda dos livros de um outro escritor, médico, como ele: Miguel Torga, o grande mestre do conto português.
Em cada uma das histórias deste livro encontramos uma pequena epopéia
da loucura e da desgraça do Livro dos homens, que são, afinal, os eternos alimentos do entretenimento e da compaixão do Leitor.
___

Metamorfose - Por Claude Bloc

Antes de tudo sou mulher
E nesta gama de gestos
Que compõem o meu todo
Sou poeta,
Sou menina
Sou felina
Escrevo e me transformo
A cada palavra.
.
Sou caminho e pensamento
E ponho em versos
As razões todas do meu tempo
... Sou a pausa
...... Sou a pressa
.......... Sou o prumo
...... Sou a prosa...
... Sou urgente nas vontades...
Sou o poema
Em plena metamorfose...
.
Texto de Claude Bloc

Todo sentimento - com Verônica Sabino

Todo sentimento ... o nosso, o seu...



Postado por Claude Bloc

Vamos aos repentes ?- Foto de Pachelly Jamacaru


Café com Everardo

a isca é com Claude Bloc

Trilha cidade do Crato

Do Vale ao sopé da serra

a ponta é da nossa Stela

a caixa é da dona Zélia.


BRINCADEIRA(mote)


(Isto é um convite/desafio aos participantes do CARIRICATURAS .

Entrem neste "repente" completando a roda com mais uma "trova", deixando no final um mote como desafio. )


Se Joaquim e Magali
gostarem da brincadeira
convidam os Rafael,
e também Salatiel ...
e no anel da ciranda
a nossa roda se aperta. (Socorro Moreira)
.
AMADOS (mote)
.
Os tempos passam depressa
Os dias passam voando
A vida passa correndo
Que nem rio, serra abaixo
A saudade se dispersa
Quando chegamos no Crato
e chega como um boato
Se espalhando pelo Vale
Dos nossos sonhos amados. (Claude Bloc)
.
LEMBRANÇAS (mote)
.
(Agora é sua vez...
Faça sua parte criando sua "trova" nos "comentários".
P.S. PARTICIPE ! O resultado será publicado posteriormente. )

Café - Por Everardo Norões


Desencarno arábias

de uma xícara morna

de café.

E um fio negro

me assedia a boca.


( Através da janela

o galho de pitanga

ostenta seu adorno

encarnado).


Viajo pelo negror do pó:

Dar-El-Sadam,

Bombaim,

Áden

Sem Nizan, sem Rimbaud

as colinas ocres,

a poeira dos dias.


De onde vem o grão

dessa saudade?


Desentranho arábias

dessa xícara fria.

Enquanto aguardo o dia

que não chega.


Desacordo e sorvo

a sombra morna

do que sou

na borra

do café.


Texto de Evarardo Norões - do livro Retábulo de Jerônimo Bosch

A Escola e a Sala de Aula- Florestan Fernandes (In Memorian)


FLORESTAN FERNANDES (1920-1995)

Em 1941, ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, formando-se em ciências sociais. Iniciou sua carreira docente em 1945, como assistente do professor Fernando de Azevedo, na cadeira de Sociologia II. Na Escola Livre de Sociologia e Política, obteve o título de mestre com a dissertação A organização social dos Tupinambá. Em 1951, defendeu, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, a tese de doutoramento A função social da guerra na sociedade tupinambá , posteriormente consagrado como clássico da etnologia brasileira, que explora com maestria o método funcionalista.

Uma linha de trabalho característica dos anos 50 foi o estudo das perspectivas teórico-metodológicas da sociologia. Seus ensaios mais importantes acerca da fundamentação da sociologia como ciência serão, posteriormente, reunidos no livro Fundamentos empíricos da explicação sociológica. Seu comprometimento intelectual com o desenvolvimento da ciência no Brasil, entendido como requisito básico para a inserção do país na civilização moderna, cientifica e tecnológica, situa sua marcante atuação na Campanha de Defesa da Escola Pública, em finais da década, em prol do ensino público, laico e gratuito enquanto direito fundamental do cidadão do mundo moderno.

Durante o período, foi assistente catedrático, livre docente e professor titular na cadeira de Sociologia I, substituindo o sociólogo e professor francês Roger Bastide em caráter interino ate 1964, ano em que se efetivou na cátedra, com a tese A integração do negro na sociedade de classes. Como o titulo da obra permite entrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserção da sociedade nacional na civilização moderna, em um programa de pesquisa voltado para o desenvolvimento de uma sociologia brasileira. Nesse âmbito, orientou dezenas de dissertações e teses acerca dos processos de industrialização e mudança social no país e teorizou os dilemas do subdesenvolvimento capitalista. Inicialmente no bojo dos debates em torno das reformas de base e, posteriormente, após o golpe de Estado, nos termos da reforma universitária coordenada pelos militares, produziu diagnósticos substanciais sobre a situação educacional e a questão da universidade pública, identificando os obstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento da ciência e da cultura na sociedade brasileira inserida na periferia do capitalismo monopolista.

Aposentado compulsoriamente pela ditadura militar em 1969, foi Visiting Scholar na Universidade de Columbia, professor titular na Universidade de Toronto e Visiting Professor na Universidade de Yale e, a partir de 1978, professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em 1975, veio a público a obra A revolução burguesa no Brasil , que renova radicalmente concepções tradicionais e contemporâneas da burguesia e do desenvolvimento do capitalismo no país, em uma análise tecida com diferentes perspectivas teóricas da sociologia, que faz dialogar problemas formulados em tom weberiano com interpretações alinhadas a dialética marxista. No inicio de 1979, retornou a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, agora reformada, para um curso de férias sobre a experiência socialista em Cuba, a convite dos estudantes do Centro Acadêmico de Ciências Sociais. Em suas analises sobre o socialismo, apropriou-se de variadas perspectivas do marxismo clássico e moderno, forjando uma concepção teórico-prática que se diferencia a um só tempo do dogmatismo teórico e da prática de concessões da esquerda. Em 1986 e em 1990, foi eleito deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores. Tendo colaborado com a Folha de S. Paulo desde a década de 40, passou, em junho de 1989, a ter uma coluna semanal nesse jornal.

O nome de Florestan Fernandes esta obrigatoriamente associado à pesquisa sociológica no Brasil e na América Latina. Sociólogo e professor universitário, com mais de cinqüenta obras publicadas, ele transformou o pensamento social no pais e estabeleceu um novo estilo de investigação sociológica, marcado pelo rigor analítico e crítico, e um novo padrão de atuação intelectual.

Profa. Sylvia Gemignani Garcia
Departamento de Sociologia - FFLCH/USP




A Escola e a Sala de Aula*

Em vista da próxima elaboração da nova lei de diretrizes e bases de educação nacional, é fundamental que se revejam as práticas imperantes em nosso ensino, especialmente no primeiro e segundo graus. Começamos por importar idéias francesas e alemãs, no fim do século passado; tentamos depois, também, “reproduzir” o que nos pareceu ser o ensino primário norte-americano e o enciclopedismo iluminista de segundo grau francês. Em ambas imitações falhamos. As instituições importadas não podem ser redefinidas, em seu significado, estruturas e funções fora do seu contexto psicossocial e cultural. Empobrecemos as instituições, as práticas que elas engendram e o seu rendimento pedagógico. O meio brasileiro revelou-se muito árido, a mentalidade reinante demasiado tosca – autoritária ao extremo -, reduzindo o professor aos papéis mínimos de transmissor passivo de “saber” importado e os alunos àquilo que os filósofos e os educadores críticos chamaram, negando-a, a célebre “página em branco”. Em alguns estados e em certas cidades, conseguiu-se um padrão de qualidade sofrível, mas às custas de uma relação repressiva entre professores e alunos que deformava ambos. Afastava-se a sala de aula do núcleo de grande experiência pedagógica. Aproximava-se a escola mais das instituições punitivas e carcerárias, que do cerne elementar de uma pedagogia do aprender fazendo. No grupo escolar em que estudei, por três anos, antes do fim da década de 30, a vice-diretora ficou uma vez com a orelha de um aluno nas próprias mãos. Não previra que suas unhas compridas faziam um corte de navalha... Em outros lugares, nem essa violência repressiva de uma escolarização pobre, autoritária e fundada em uma hierarquia de idade e de classe devastadora, mas só o crescimento da ignorância e da brutalidade que privava as gerações ascendentes da aprendizagem sistemática.
Ocorreram mudanças. Mas foram poucas. O que esperar do ensino em uma sociedade na qual a imensa maioria era excluída da educação escolarizada, na qual a mãe de um aluno procura o diretor, como fez dona Maria Fernandes, para recomendar: “Senhor, faça dele um homem e castigue-o como se fosse o seu pai”? depois de mais de cinqüenta anos, as coisas se alteraram. Mas a “revolução na escola e pela escola” ficou nas utopias dos pioneiros da escola nova e dos pedagogos que os sucederam. A escola – e por meio dela a sala de aula – continuaram presas a uma concepção predatória da pessoa que é mandada. A burocratização criou ardis e abismos imprevisíveis e permanecemos com a carência de uma filosofia de educação democrática, que floresça de baixo para cima (da sala de aula para a escola e desta para a sociedade e para as terríveis “autoridades do ensino”), e de dentro para fora (da sala de aula e da escola para a comunidade e para a sociedade civil como um todo).
O importante, hoje, não é o que a nova lei poderá fazer para acabar com os vestígios de uma pedagogia às avessas, pervertida. É o que ela poderá ser para gerar, a partir de nossos dias, uma educação escolarizada fincada na escola e nucleada na sala de aula. Não basta remover os “excessos” de centralização, que substituem a relação pedagógica pela relação de poder. É preciso construir uma escola auto-suficiente e autônoma, capaz de crescer por seus próprios dinamismos. Conferir à sala de aula a capacidade de operar como o experimentum crucis da prática escolar humanizada, de liberação do oprimido, de descolonização das mentes e corações dos professores e alunos, de integração de todos nas correntes críticas de vitalização da comunidade escolar e de transformação do meio social ambiente.
A nossa pedagogia ficou presa ao pseudolegalismo de uma educação subcapitalista. A lei deu continuidade à dominação férrea das elites dos senhores de escravos – mais tarde, dos fazendeiros burgueses, dos comerciantes dos grandes negócios de exportação... Ora, essa não é a função necessária da lei. A hegemonia pré-burguesa na escola passou pela instrumentalização dos bacharéis, pela burocratização que chegou até a incluir o presidente da República na nomeação de “reitores eleitos” (Safa!) e pela redução dos docentes à condição de servos do poder, de agentes da dominação de classe verdadeiramente cega dos de cima.
A lei, se a sociedade civil se civiliza e se democratiza, tem por fim concorrer para a extinção do servilismo, dos privilégios e do clientelismo bárbaro, que não reconhece nem respeita limites. Até o voto converteu-se, em muitos lugares, em mercadoria! O “dono” do poder compra o voto e com ele elabora a democracia à sua imagem.
Por isso, a sala de aula fica na raiz da revolução social democrática: ou ela forma o homem livre ou ficaremos entregues, de forma mistificadora, a um antigo regime que possui artes para readaptar-se continuamente às transformações da economia, da sociedade e da cultura. Dissociar a sala de aula de seu empobrecimento e deterioração brutais á a saída para gerar a escola de novo tipo que, por sua vez, desencadeará e aprofundará a renovação de mentalidade que carecem os de baixo e os de cima.
Deu-se muita importância ao tope, aos organismos do aparato do Estado (o ministério e as secretarias de educação; os conselhos federal e estaduais de educação etc.), ignorando-se que esse Estado se punha a serviço de causas estreitas, mais empenhado na “defesa da ordem” (e dos privilégios que ela atribuiu a ralas minorias), que com a educação. Devemos dar um giro de 360 graus e situarmos o foco vital onde ele deverá estar: na sala de aula, nas relações entre professores e alunos e no influxo que tal situação provocará sobre a transformação da sociedade para a escola (e vice-versa).


* Publicado in: Jornal de Brasília, de 23/03/1989

22 de Julho, dia de Maria Madalena - Por: Ana Lucia Santana



Maria Madalena aparece no Novo Testamento como fiel e ardorosa discípula de Jesus. Ela foi beatificada pelas Igrejas Católica, Ortodoxa e Anglicana, sendo assim festejada no dia 22 de julho, inclusive pelos luteranos.

Provavelmente Santa Maria Madalena é proveniente da cidade de Magdala, situada na margem ocidental do Mar da Galiléia, como bem indica seu sobrenome.
Durante muito tempo ela foi vista como uma prostituta socorrida pelo Messias, logo depois arrependida de seus pecados.

Estas visões do imaginário cristão foram intensamente incentivadas pela Igreja Católica, que segundo alguns pesquisadores a viam como uma ameaça aos princípios dogmáticos acalentados pelo clero, por ter sido possivelmente mais próxima de Jesus do que admitem os Evangelhos ortodoxos.

Alguns crêem que ela pertencia a uma dinastia real, a de Benjamim, e que era esposa do Nazareno, teoria recentemente endossada pelo best-seller O Código da Vinci, de Dan Brown. Esta tese era também reforçada pelos Evangelhos Gnósticos, não aceitos pela Igreja, que tentou destruí-los quando adotou os textos oficiais que comporiam o Novo Testamento.

Há cerca de 60 anos, porém, descobriram-se alguns destes documentos, preservados em vasos de barro, encontrados em cavernas na região do Mar Morto, constituindo desta forma a maior descoberta arqueológica do século XX. Entre eles, o próprio Evangelho de Maria Madalena.

Estas coleções descobertas em Nag Hammadi, no Egito, em 1945, ficaram conhecidas como Os Manuscritos do Mar Morto.

De acordo com outro evangelho, o de Filipe, pertencente a este conjunto de documentos, Maria Madalena era realmente consorte de Jesus, ele a beijava muitas vezes na frente dos companheiros, e dizia amá-la mais do que aos apóstolos.

Outros afirmam, porém, que estas palavras podiam significar que Jesus e Maria Madalena eram apenas companheiros, no sentido de serem muito próximos, de compartilharem os mesmos ideais.

Quanto ao beijo, os textos se encontram muito deteriorados, e há algumas lacunas em trechos fundamentais, como, por exemplo, onde provavelmente estaria impressa a palavra ‘boca’, o que indica que outra palavra poderia substituir o termo deduzido por alguns teóricos. Assim, não é possível precisar em que local o Messias realmente a beijava.

Vários outros escritores, especialmente Henry Lincoln, Michael Baigent e Richard Leigh, que publicaram em conjunto a obra O Sangue de Cristo e o Santo Graal, de 1982, que teria inspirado Dan Brown, vêem Maria Madalena como apóstola e esposa de Jesus, sendo ela inclusive a mãe dos filhos do Nazareno.

Estes eventos seriam conhecidos da Igreja e teriam sido por ela ocultos dos cristãos.

No Novo Testamento, várias passagens reproduzem cenas em que Jesus teria repelido de Maria Madalena pelo menos sete demônios, o que aponta para a presença de uma mulher possuída pelo pecado.

Além disso, ela teria testemunhado o martírio do Messias e sua ressurreição.

Logo depois, de acordo com os Evangelhos tradicionais, ela simplesmente desaparece da história do Cristianismo. Em nenhum momento, porém, se prova concretamente, nos textos bíblicos, que ela seja a prostituta arrependida, pois este episódio relatado por Lucas não cita o nome da mulher em questão.

No Evangelho de Maria Madalena traduz-se um confronto de suma importância entre Maria, provável apóstola de Jesus, que a ela transmitia conhecimentos fundamentais, e Pedro e André, os mais próximos do Mestre, aos quais não eram repassadas estas lições. Isto teria gerado ciúmes e disputas entre eles e a seguidora dos ensinamentos cristãos, o que explicaria a insistência da Igreja em reduzir quase a zero a participação de Maria Madalena nos primeiros círculos cristãos.

Alguns estudiosos acreditam mesmo que ela seja a verdadeira herdeira do Cristianismo, no lugar de Pedro, posição usurpada pelo domínio masculino.