Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Amor imponderável - Por Socorro Moreira



Acho sincero o silêncio do amor não declarado.Por mais sutil que seja a sentença, ela considera o imponderável.
O amor decantado vive da própria essência e prolifera num habitat especial , paralelo à realidade.
Ele é incerto, sendo unilateral.
Ele é completo , no percurso das heras.Ele não vive na espreita, sabe a falta do encalço.Não posso condena-lo, se o campo é imaginário.Meu juízo perdoa a falta de reciprocidade.Levianamente extrapolo em palavras, e deito no rio dos sentimentos as pedras que nos separam. Permeia  águas correntes, que deslizam, nos mares dos prazeres.Unificar o amor é objetivo perene.Objetivvá-lo  é deixa-lo livre, na corrente que circunda  fios interiores.
Quando um dia passar, vou entender que foi vivido, no fórum da eternidade.
Macacos me mordam, coruja guarde os meu segredo...Meu amor é crédito, sem cartão de saque.
É previdência , na providência do vazio, quando se instala.
Nada trágico. Tudo dentro do previsto mensal. E assim os anos e ânimos se sucedem. Começou em Janeiro de um ano infindo. 

socorro moreira

Os filósofoa da Batateira e a física se revolucionando - José do Vale Pinheiro Feitosa

Lá no Alto do Urubu, na clareira que reúne os Filósofos da Batateira, houve uma reunião de súbito. O grande Chico Preto convocara às pressas. Pretendia fazer um comunicado à assembléia dos pares: Mitonho, Zé de Dona Maria, Chambaril, Chico Breca, Fan, Lô, Placa Branca, Dedé, Maninho e Bacurin. Os convocados lá estiveram.

Chico abre o comunicado: com satisfação anuncio que o mundo é igual. Que as coisas são diferentes entre si, mas iguais em todos os lugares do espaço. Já sabíamos das ilhas de nebulosas, que elas se repetiam até os confins de suas fugas em expansão do universo. Mas agora já se conhecem tantos planetas fora do sistema solar, que a banalidade é como feijão no prato. Mas agora tudo ficou mais afirmativo ainda. Foi descoberto um planeta fora da via láctea. O que existe aqui, também existe lá, e o que existe lá acontece além.

Mitonho toma a palavra para perguntar qual o significado exato desta igualdade.

É que nada é especial. Não existem escolhidos. Se eu sou negro como sou e você tem cara de índio como tem e Chico Breca cara de branco como é, nada acaba nesta pluralidade. Lá adiante existem tantos outros negros, índios e brancos como nós aqui. É isso.

Chambaril apenas comenta: só precisa ser assim no de comer.

Reunião curta? Qual o quê! Zé de Dona Maria tem algo a comunicar também. E bote fala difícil é sobre o Colisor de Hádrons. Nem olhem para o lado com esta cara de enfado. Zé já está dizendo: os caras estão conseguindo, acelerando átomos de chumbo, formar um plasma extremamente quente e denso. Um plasma que é uma sopa de partículas que já não se atraem mais. Assim é possível entender como funciona a força que atrai as partículas na massa dos átomos. A rapidez com que estão chegando aos segredos do infinitamente pequeno vai gerar um mundo muito diferente de tudo que conhecemos. Um mundo com energia abundante, mas uma civilização extremamente organizada para que as partes não desagreguem.

A relação entre a física a sociedade humana estava por demais evidentes quando Chico Preto resolveu antecipar a sua fala da próxima reunião. Ele disse: cientistas conseguiram obter átomos de antimatéria. Como vocês sabem a antimatéria é a imagem invertida da matéria: têm massa idêntica à sua partícula, mas com carga elétrica inversa. Mas o danado é que não tem motivo para a escolha do universo: tem mais matéria do que antimatéria, pois esta é instável e logo desaparece. Onde tudo se transforma, existe algo que desaparece. Então os cientistas conseguiram capturar e examinar átomos de anti-hidrogênio em laboratório. Isso tem uma implicação imensa, pois comprova o que a teoria já descobrira que existia, além de demonstrar que é possível criar condições usando os elementos do mundo para provocar algo que apenas se imagina ter existido no início dos tempos. Ao trazer o início para o meio, não estão dando conta que estão embaralhando a linha do tempo das coisas. Se repetimos o princípio agora, é que este princípio não é substrato findo. Ou seja, a linha não seria mais de princípio e fim. Estes, o princípio e o fim, apenas passariam a mera categoria de convenção.

Pois ontem eles desceram o morro com a cabeça dando nó em pingo d´água.
sonetilho

estou vendo no seu texto

no seu verso avexado
de abraço roxeado
de saudade rodeado

estou vendo seu apreço
sua pressa seu enredo
sua conta que arredonda
a partilha toda pronta

releve, não tenha pressa
rabisque um novo poema
receito nova compressa

outro unguento mais preciso
da Vida, um doce dilema
ser espelho sem Narciso

Frases famosas de Tolstói

A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família. [ Leon Tolstoi ]
Cada um viveu tanto, quanto amou. [ Leon Tolstoi ]
A mulher é uma substância tal, que, por mais que a estudes, sempre encontrarás nela alguma coisa totalmente nova. [ Leon Tolstoi ]
Os atos de uma pessoa tornam-se a sua vida, tornam-se o seu destino. Tal é a lei da nossa vida. [ Leon Tolstoi ]
O mal não pode vencer o mal. Só o bem pode fazê-lo. [ Leon Tolstoi ]
Dizer que a gente vai amar uma pessoa a vida toda é como dizer que uma vela continuará a queimar enquanto vivermos. [ Leon Tolstoi ]
Aquele que conheceu apenas a sua mulher, e a amou, sabe mais de mulheres do que aquele que conheceu mil. [ Leon Tolstoi ]
Eu escrevo livros, por isso sei todo o mal que eles fazem. [ Leon Tolstoi ]

Tolstói



Liev Tolstói, também conhecido como Léon Tolstói ou Leão Tolstoi ou Leo Tolstoy, Lev Nikoláievich Tolstói (Yasnaya Polyana, 9 de setembro de 1828 — Astapovo, 20 de novembro de 1910) é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos.

Além de sua fama como escritor, Tolstoi ficou famoso por tornar-se, na velhice, um pacifista, cujos textos e ideias batiam de frente com as igrejas e governos, pregando uma vida simples e em proximidade à natureza.

wikipédia

Dia 20 de Novembro- Parabéns, Sophia !






Hoje  está completando 2 anos  que ela abriu seus olhinhos claros  pela primeira vez.Entre lágrimas, risos, pula-pula, mamadas e frutas foi arteando passos , no começo do caminho.
Imita "Bibi" em todos os atos e palavras.. Nas cambalhotas, nos movimentos dançantes, nas sílabas mais fortes. Parece com o André quando tinha a sua idade... André inquieto, persistente nos desejos, e ao mesmo tempo resignado com as negativas finais, necessárias.
Arrancar-lhe um sorriso é a coisa mais fácil. Basta falar de bonecas, sorvete, passeios, e da chegada do pai..
Seu abraço é abandonado em meus braços. Ela reconhece um carinho de avó !.
Que você cresça, Sophia , antes que o mundo melhore em qualidade. Que a felicidade seja tua amiga inseparável, até nos dias sombrios, quando a chuva molhar  teus sapatos..

socorro moreira

19 de Novembro - Por Norma Hauer

Na data de hoje comemora-se a Bandeira do Brasil, criada 4 dias após a Proclamação da República.
Embora republicana, na bandeira foram mantidas as cores da bandeira do Império. Cores que representavam as diversas fases da´ Monarquia portuguesa.

Bem mais tarde, para não alterar as cores, alguém resolveu dizer que elas representam nossas matas, nosso ouro, nosso céu azul com as estrelas que se viam no céu no dia 15 de novembro. O lema escrito na faixa branca é de origem positivista e foi criado por Augusto Comte que o tinha como lema:

"O amor por princípio. A Ordem por base, o Progresso por fim.

Analisando bem, nossa Bandeira não é muito brasileira.
Já o HINO À BANDEIRA, escrito por Olavo Bilac e recebendo música de Francisco Braga,
retrata bem nossa terra e o amor à Bandeira quie a representa.

Eis a letra:

Salve lindo pendão da esperança!
Salve símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.

II.
Recebe o afeto que se encerra
em nosso peito juvenill (ou varonil),
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!

III.
Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.

IV.
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever,
E o Brasil por seus filhos amado,
poderoso e feliz há de ser!

V.
Sobre a imensa Nação Brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
paira sempre, sagrada bandeira
Pavilhão da justiça e do amor!

Em tempos que já ficaram para trás, esse e os outros hinos eram cantados em nossas escolas.
Também um grupo de estudantes de várias escolas participava de uma homenagem à bandeira, no pátio do Ministério da Educação.
E depois eram distribuídos picolés da Kibon.
Eu, como funcionária do MEC, tirava minhas "casquinhas" do sorvete.


norma

Getúlio Macêdo e Lourival Faissal - Por Norma Hauer


GETÚLIO MACEDO E LOURIVAL FAISSAL
ASSIM SE PASSARAM 10 ANOS...


Em 13 de novembro de 1922 nasceu, no Estado do Espírito Santo Getúlio Benício, que ficou conhecido no meio musical como o compositor GETÚLIO MACEDO.
Em 1938 veio para o Rio e 4 anos depois já se encontrava como Conselheiro da UBC (União Brasileira de Compositores).
Com um repertório predominantemente romântico, compôs boleros, samba-canção, fox, mambo, samba e rumba.

Quatro dias depois, em 17 de novembro do mesmo ano, nasceu LOURIVAL FAISSAL, que fazia parte da Família Faissal, que brilhou na Rádio Nacional.

Ambos compositores, fizeram uma dupla criadora de inúmeros sucessos no tempo áureo do rádio. E ambos compuseram centenas de músicas de diversos ritmos, como o bolero "Covarde", o mambo "A louca", o bolero "Intenção", e a marcha "Nosso Natal".

Entre seus intérpretes estão Carlos Galhardo, Emilinha Borba, Marlene, Ângela Maria, Adelaide Chiozzo e Ellen de Lima, entre outros.

Em anos passados, o “Dia das Mães” vinha sendo comemorado, primeiro em família; depois o comércio descobriu a “galinha dos ovos de ouro” e começou a explorar a data oferecendo “presentes” para as mães.

Mas faltavam músicas para comemorar essa data.

Foi quando Getúlio Macedo compôs uma letra e pediu a Lourival Faissal que fizesse a música de uma valsa para essa comemoração.
E assim surgiu “Mãezinha Querida” e Carlos Galhardo foi escolhido “a dedo” para gravá-la. Isso foi em 1952. e essa valsa foi a pioneira nas homenagens às mães e que se tornou um clássico do cancioneiro popular.

. No mesmo ano, Linda Batista gravou na RCA, o samba-canção "Divórcio", também da parceria Lourival Faissal e Getúlio Macedo.

Em 1953, Gilberto Milfont gravou o samba-canção "Confissão" e Francisco Carlos o samba-canção "Primeiro amor" e o samba "A saudade eu vou levar", os três da mesma parceria.
No mesmo ano, Carlos Galhardo gravou a valsa "Tanta mentira" parceria de Getúlio com Mário Lago e Emilinha Borba e Trio Madrigal gravaram o mambo "É o maior", parceria com Bené Alexandre.

Em 1954, Orlando Melo gravou pela Odeon, ainda da parceria Lourival Faissal e Getúlio Macedo a toada "A canção do Jerônimo", abertura da famosa novela da Rádio Nacional "Jerônimo, o herói do sertão".
Mas a gravação de “Jerônimo” que ficou mais conhecida foi a de Emilinha Borba

No mesmo ano Nelson Gonçalves gravou na RCA Victor o samba-canção "Como eu previa". Em 1955, Jorge Veiga gravou, o "Hino da torcida do Flamengo”.

Continuaram compondo e gravando, até que em 1960 Carlos Galhardo gravou de ambos, o samba-canção “Presença viva do Amor”, e em 1962, ainda Carlos Galhardo gravou o bolero “Tu e Eu”, de Getulio Macedo,desta vez com Irani de Oliveira,

No mesmo ano, Ellen de Lima gravou o samba-canção “Meu Amor lhe Acompanhará”, de Getúlio Macedo, desta vez com Irani de Oliveira enquanto Carlos Galhardo gravou o bolero “Tu e Eu”, ainda em parceria de Getúlio com Irani de Oliveira.

Foram mais de 100 composições que Getulio Macedo e Lourival Faissal viram gravadas por vários intérpretes do tempo áureo do rádio.
O maior sucesso de Lourival Faissal foi gravado por Emilinha Borba: uma versão que “estourou” quando Emilinha cantou

Assim se passaram dez anos
Sem eu ver teu rosto
Sem olhar teus olhos
Sem beijar teus labios, assim
Foi tão grande a pena
Que sentiu a minha alma
Ao recordar que tu
Foste meu primeiro amor.

Recordo junto a uma fonte
Nos encontramos
E alegre foi aquela tarde para nos dois
Recordo quando a noite abriu seu manto
E o canto daquela fonte nos envolveu
O sono fechou meus olhos, me adormecendo
Senti tua boca linda a murmurar
Abraça-me por favor minha vida
E o resto desse romance só sabe Deus.

Essa é uma das composições que não tem rima, ao lado de “Súplica”, gravada por Orlando Silva; “Ausência”, gravação de Sílvio Caldas e “Boa Noite”, gravada por Carlos Galhardo.

Getúlio Macedo parou um pouco de compor para se dedicar à Televisão, tendo atuado nas TVs Tupi, Excelsior e Globo, compondo vinhetas e jingles para esses canais televisivos.

No momento, encontra-se afastado dessas atividades,e, segundo soube (mas não tenho certeza) retornou a seu Estado Natal (o Espírito Santo).

Enquanto Lourival Faissal também se afastou das composições, principalmente depois de 1964, quando a Rádio Nacional perdeu quase todo seu “cast” demitido pelos militares que assumiram a diretoria da emissora.

Com isso, a Rádio praticamente desapareceu, tentando agora, 40 anos depois, renascer das cinzas.
Mas como a Fênix, está-se reerguendo aos poucos.

norma

PERFIL DE AMIGOS -POR SOCORRO MOREIRA



Lembro de uma figura loira
Cabelos compridos e encaracolados,
Como os do João do Crato...
Sabia voar,
E chegou perto dos altos.
Arte elegante
Charme e originalidade nos detalhes
Pensamento voltado para o coletivo,
Mesmo quando se destaca 
Como estrela principal.
Seu dom interpretativo
O torna mil em UM !
Lu(i)z que faz da nossa Chapada
Uma nave 
Ao encontro das artes !

Ela  chegou do passado
Com sotaques diferentes...
Na mala
Uma caixa de versos
Um caderno de saudades.
Carrega nas costas
A vontade de viver
Que guarda no coração.
Faz aqui
Faz ali
Torna-se ar
Água e terra...
Uma luz que lhe é própria
Ilumina a  nossa tela
Penso na sua poesia,
E encontro a mulher
Olhos abertos
pras belezas do mundo !

Ele pegou carona com o Marcos.
Fincou  entre nós
Sua bandeira de poeta
Nas curtas loas
Ele acerta a seta
Derrete nosso coração 
Em águas que chiam
Encalacradas de inspiração.
Deixa-nos lívidos,
Quando evoca uma canção !
(O olho do sol que pisca
È o Aloísio !)



Roberto tem nos olhos
Azul Cariri.
Em nosso céu , sobrevoa ,
com as asas da poesia.
Escreve o que o coração dita ...
Natureza delicada
Sabe da dor e do amor...
É sábio por tudo isso
É feliz, apesar  disso.

Mas que almoço indigesto! – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Quando estudante em Salvador, entre os companheiros de residência, havia um jovem de Alagoinhas, Wedner Costa, um amigo que não vejo há mais de quarenta anos. Soube que hoje ele é um conceituado cardiologista na capital baiana.

Na Semana Santa de 1965, a convite de Wedner, conheci Alagoinhas. Bem depressa fiquei encantado com a beleza da cidade, pois me lembrou o nosso querido Crato. Cidade quase do mesmo tamanho da nossa, igualmente limpa, bem arborizada, repleta de praças acolhedoras com jardins bem cuidados. Além do mais, o português Agostinho Ribeiro da Silva, meu quinto avô pelo lado Esmeraldo, se fixou em Alagoinhas, tão logo chegou ao Brasil ai pelo final do século XVII. Além de tudo isso, fui distinguido com fidalguia pela hospitalidade dos pais de Wedner.

Foi uma semana inesquecível em que vivemos noitadas memoráveis. Depressa fiz amizade com dois jovens de Alagoinhas, ex-colegas de Wedner: Zenon e Homero, que posteriormente foram meus colegas na Escola Politécnica. Como a maioria dos baianos, eles tocavam violão e Homero tinha uma excelente voz. E todas as noites eu os acompanhava em serenatas pelas ruas da cidade até altas horas. Durante o dia, as moças pediam para que eles fizessem serenata na rua em que elas moravam.

No domingo pela manhã, dia do nosso retorno a Salvador, o senhor Lourival, pai do Wedner, me perguntou se eu já havia comido carne de sariguê. Perguntei a ele o que era sariguê, pois nunca ouvira tal nome. E ele me respondeu que era uma pequena caça que havia em abundância por lá e que iria ao mercado para comprá-la.

Achei o almoço delicioso. A carne preparada ao molho parecia com galinha cozida no caldo. Comi e ainda repeti.

Quando terminei o almoço, o pai do Wedner me perguntou por que no Ceará a gente não comia sariguê. Respondi que não existia essa caça em nossa terra. Ele então me disse que tinha, e que sariguê era conhecido no Ceará por “cassaco” ou “gambá”. Passei o resto da tarde contendo a reviravolta do meu estômago.

Mas sariguê não foi o único prato indigesto que degustei na minha vida. Quando trabalhava na Coelce, tinha como atribuição principal o atendimento aos políticos de todas as cores e ideologia um tanto quanto paupérrima. Então me especializei em engolir “sapos”. Por isso faço questão de passar longe de um cururu. E por segurança, não aceito comidas exóticas, pois pode ser que em algum lugar cachorro ou macaco tenham nomes que sugiram algo bem apetitoso.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Bacalhau gratinado ao molho de alcaparras





Ingredientes

* • 800 g de lombo de bacalhau
* • ½ xícara (chá) de alcaparras
* • 1 colher (chá) de pimenta-do-reino moída na hora
* • 1 colher (sopa) de suco de limão
* • 1 colher (sopa) de vinagre de maçã
* • 8 colheres (sopa) de azeite de oliva
* • 100 g de cebola pérola

Preparo da Receita

Corte o bacalhau em 4 pedaços, lave-os cuidadosamente em água corrente e coloque numa tigela com 2 litros de água fria. Deixe de molho na geladeira por 36 horas, trocando a água no mínimo 4 vezes. Escorra a água e reserve as postas. Descasque as cebolas, lave-as e reserve. Leve ao fogo uma frigideira funda com a metade do azeite de oliva até aquecer. Junte as postas de bacalhau e deixe grelhar dos dois lados. Vire as postas com cuidado, com a ajuda de duas espátulas, para não rompê-las. Retire do fogo e mantenha as postas aquecidas. Adicione na mesma frigideira as cebolas, as alcaparras, o vinagre de maçã e o suco de limão e cozinhe até o vinagre e o suco de limão evaporarem. Regue com o azeite restante e espalhe a pimenta-do-reino. Cozinhe por mais 1 minuto e retire do fogo. Distribua as postas do bacalhau nos pratos e regue com o molho.

Fonte: Revista Água Na Boca


Ando sem saco para cozinhar. Isso é novidade... Provar o feijãozinho da minha secretária, todos os dias. !Ela repete sempre o mesmo macarrão talharim, uma omelete de quebra, uma carne gratinada e uma salada verde pra colorir o cardápio. Hoje fiz um bolo de pacote ( sabor laranja), e me dei conta do absurdo. Fiz uma cobertura de brigadeiro, e umedeci o coitadinho com  um glacê de laranja , pra tirar a suja. Daí, voltei aos meus livros de receita e prometi-me um cardápio especial para o dia de amanhã :
Arroz com brócolos
Bacalhau gratinado ao molho de alcaparras
Batatas coradas na cebola , queijo e manteiga,  e uma salada com tudo que se tem direito : folhas, tomate cereja, azeitonas, abacaxi, maçã,palmito ,   regada ao molho shoyo, limão, gengibre , ervas finas e azeite..
E pra completar ,  uma sobremesa de morangos com suspiros.
É pecado passar mal, quando a gente sabe transformar de vez em quando,  o trivial, num prazer ?
Dizem que a gente é o que come. Não quero ser iogurte ou banana !

socorro moreira

Curtas - X - Aloísio


Lívida
Não leu
O que ensina a vida

A ESPADA DE DIOMEDES - COLABORAÇÃO DE EDMAR CORDEIRO



Era uma vez um rei chamado Dionísio, monarca de Siracusa, a cidade mais rica da Sicília.

Vivia num palácio cheio de requintes e de belezas, atendido por uma criadagem sempre disposta a fazer-lhe as vontades.

Naturalmente, por ser rico e poderoso, muitos siracusanos invejavam-lhe a sorte. Dâmocles estava entre eles. Era dos melhores amigos de Dionísio e dizia-lhe frequentemente:

Que sorte a sua! Você tem tudo que se pode desejar. Só pode ser o homem mais feliz do mundo!

Dionísio foi ficando cansado de ouvir esse tipo de conversa.

Assim, certo dia propôs ao amigo a experiência de passar um dia, um dia apenas em seu lugar, como monarca, desfrutando de tudo aquilo.

Este aceitou imediatamente com alegria.

No dia seguinte, Dâmocles foi levado ao palácio e os criados reais lhe puseram na cabeça a coroa de ouro, e o trataram como rei.

Recostou-se em almofadas macias e sentiu-se o homem mais feliz do mundo.

Ah, isso é que é vida! - Confessou a Dionísio, que se encontrava sentado à mesa, na outra extremidade.

Nunca me diverti tanto.

Subitamente, Dâmocles enrijeceu-se todo. O sorriso fugiu-lhe dos lábios e o rosto empalideceu. Suas mãos estremeceram. Esqueceu-se da comida, do vinho, da música. Só queria ir embora dali, para bem longe do palácio, para onde quer que fosse.

Percebeu que pendia bem acima de sua cabeça uma espada, presa ao teto por um único fio de crina de cavalo. A lâmina brilhava, apontando diretamente para seus olhos.

Ficou paralisado, preso ao assento. Tentou levantar, mas não conseguiu, por medo de que a espada, com um movimento seu, pudesse lhe cair em cima.

O que foi, meu amigo? - Perguntou Dionísio. - Parece que você perdeu o apetite.

Essa espada! Essa espada! - Disse o outro, num sussurro. – Você não está vendo?

É claro que estou. Vejo-a todos os dias. Está sempre pendendo sobre minha cabeça e há sempre a possibilidade de alguém ou alguma coisa partir o fio.

Um dos meus conselheiros pode ficar enciumado do meu poder e tentar me matar. As pessoas podem espalhar mentiras a meu respeito, para jogar o povo contra mim. Pode ser que um reino vizinho envie um exército para tomar-me o trono.

Ou então, posso tomar uma decisão errônea que leve à minha derrocada. Quem quer ser líder precisa estar disposto a aceitar esses riscos. Eles vêm junto com o poder, percebe?

É claro que percebo! - Disse Dâmocles. Vejo agora que eu estava enganado e que você tem muitas coisas em que pensar além de sua riqueza e fama. Por favor, assuma o seu lugar e deixe-me voltar para a minha casa.

Até o fim de seus dias, Dâmocles não voltou a querer trocar de lugar com o rei, nem por um momento sequer.

* * *

Antes de deixar que a inveja cresça em nosso coração, lembremos da espada de Dâmocles.

Toda riqueza, todo poder, toda fama vem com uma série de decorrências naturais que devem ser consideradas.

Não nos deixemos consumir por esta luta incessante do orgulho, da vaidade não satisfeita.

* * *

A inveja é uma das mais feias e das mais tristes misérias do nosso globo. A caridade e a constante emissão da fé farão desaparecer todos esses males.


Aprendizes da Vida, Operários do Nada


I
Existem poucas profissões tão especiais como a de agente funerário. A convivência próxima e diuturna com a morte , às vezes, faz desses seres figuras folclóricas, com cara de outro mundo. Poucos , porém, vêem de tão perto a fugacidade da vida e sentem como a transitoriedade da existência leva tão rápido ao socialismo final: reduzindo ao mesmo pó a ambição, o egoísmo , a miséria e a abastança do homem. Um amigo do ramo me conta das dificuldades do seu meio de vida. Primeiro, é difícil encontrar uma razão social para a empresa, pois é árduo fugir do aterrorizante, do mórbido e, muitas vezes, mesmo do ridículo. Nomes do tipo: “Funerária o Sorriso do Finado”, “Funerária Disparado para o Paraíso”, “Funerária Defunto Feliz”. Segundo, -- ensina ele -- é melhor evitar os slogans, por motivos idênticos : “Onde o Defunto tem vez” , “O defunto é duro, mas o pagamento é mole”, “Leva você ao céu e não pro beleléu”. Em terceiro lugar, -- explica ele com ar professoral-- o agente funerário deve evitar fazer visitas a doentes, porque sempre pode parecer que está ali por um escuso e misterioso interesse e o paciente poderá concluir que o volume que ele carrega no bolso, ao invés da carteira, seja a trena . Em quarto lugar, frisa o nosso fúnebre amigo, não é também de bom feitio lançar promoções como: “Pague um, leve dois” , “Compre o do sogro que a urna da sogra é grátis” e coisas do gênero. Não é de bom alvitre , por outro lado, aparecer como patrocinador de excursões, esportes radicais, etc. , já que o povo pode concluir que aquilo não é um patrocínio, mas sim um investimento. Por fim, o nosso papa-defuntos , como se desse o fecho em uma tese de mestrado, conclui: o gerente dessa mortuária atividade deve evitar falar , publicamente: “O comércio está fraco”, “Já não acontecem acidentes como antigamente”, bem como mandar brindes no Natal para os cardiologistas, os neurologistas e os mototaxistas ( decerto seus maiores fornecedores). Sempre achei esta profissão inóspita, talvez porque, como médico, ela seja uma extensão da minha e começa sempre onde meus cuidados terminam , como se fora um atestado da minha impotência como esculápio.

II
“katacumba”(este é o apelido profissional do meu amigo), para os íntimos “Katá”, me conta um caso acontecido na Paraíba. Uma funerária contratou uma doméstica de uma residência vizinha a um Hospital. Sempre que esta ouvia movimento no Necrotério, telefonava , e os agentes vinham, pronta e rapidamente, oferecer seus préstimos. O convênio vinha funcionando azeitadamente, até um belo dia, quando faleceu uma pessoa influente na cidade. A família, com previsão do êxito desfavorável, já tinha contactado uma outra Agência . Alertados pela empregada, ao chegarem ao Hospital, eis que os agentes conveniados topam com a outra funerária já em plena atividade. Abriu-se a discussão e, em pouco, as partes se engalfinharam, em meio às rosas, às velas e às orações. Os familiares do falecido correram e, quando abaixou a poeira, o resultado da batalha: alguns braços quebrados, hematomas vários e o falecido de cócoras, no canto da sala, olhando para tudo aquilo com um distante olhar de sarcasmo. Como “Katacumba “ mesmo diz: poucos conhecem tanto a alma humana como nós, manipuladores da morte e do seu séquito: hipocrisia, dor, sado-masoquismo, flores tristes e inocentes, religiosidade doentia, pérfidos interesses-- servidos em meio ao caldo, aos risos , às lágrimas e ao desespero...

III
Uma outra história ele nos narra, ainda dos tempos em que vivera em Várzea Alegre. Morrera um seu amigo em um sítio próximo e ele fora convidado para o velório. Defunto pobre e sem herança a deixar. Os colegas reunidos , como sempre acontece, passaram a encher a cara de cana, na tentativa de afogar as próprias mágoas e, também, claro, prestando uma homenagem àquele pau-d’água que se livrava do mundo. Acontece que o sítio era separado da cidade pela íngreme Serra dos Cavalos e, quando por fim, resolveram transportar o caixão para o cemitério varzealegrense, os amigos estavam todos bêbados: “mais cheios de pau que caixa de fósforo”. Na primeira rampa já não restava uma única flor por sobre o féretro. Na subida da serra, o caixão já ia sem tampa e, ao entrar em Várzea Alegre, sob o som alegre de “Alá, Meu Bom Alá...”, o finado já vinha galhardamente sentado no caixão e, jura “Katá”, por aqueles olhos que um dia o álcool haverá de comer, vinha respondendo em coro ao refrão:
--“Ô que calor, ôôôô, ôôôô...”

IV
“Katacumba” tem um capítulo só para historiar as falsas ressureições. No Sítio São Vicente aqui em Crato em pleno velório, entre uma e outra “incelença”, alguém notou que o finado que repousava na sua própria cama, como que elevava a mão por baixo do lençol . Aí o mais próximo gritou: --“Tá Vivo! ”, e foi uma debandada geral. Em pouco tinha gente passando na carreira em Nova Olinda; três trepados no mesmo coqueiro na Ponta-da-Serra e consta que até um aleijado jogou para longe as muletas que o atrapalhavam e era o pole-position na Prova de Fuga ao Defunto. Só pela manhã, um bêbado se aproximou e descobriu o estranho milagre da movimentação embaixo das cobertas: um pinto pulara do terreiro por sob a mortalha, tentando bicar algumas sementes que piedosamente pendiam das flores que circundavam o falecido.
De uma outra feita, num enterro concorrido, disserta Katacumba, o filho da falecida, debulhando-se em lágrimas, não desgrudava do féretro. Quando este já se encontrava na beira da cova, nas despedidas últimas, o rebento choroso se abraçou pela derradeira vez com a urna, inconsolável. A terra fofa do cemitério fez com que o rapaz escorregasse e o caixão, desequilibrando-se com o peso, caiu dentro da cova com rebento da finada, por cima . No impacto, soou aquele barulho grave e cavernoso, como de um surdo que prestasse a última homenagem à falecida.. Nisso alguém, impressionável, nas últimas fileiras, gritou: --“D. Maria enviveceu!!! “ Aí foi uma correria geral, tendo na frente do primeiro pelotão o inconsolável filho, que saltara da cova, num átimo, engatara a primeira e em pouco, certamente, receberia a bandeirada da vitória.
Uma outra história não menos insólita, nos traz Katá de Assaré. Uma velhinha muita cambota fora encontrada sem vida pelos familiares. De poucas posses, compraram um caixão barato, com ajuda de amigos piedosos. Na hora de pôr a carta no envelope, no entanto, notaram que era impossível: as pernas já rígidas, em forma de arco, não entravam na urna. A solução então foi cortar um pedaço da corda do cacimbão e, com ajuda de alguns circunstantes, forçar as pernas uma de encontro à outra, sob pressão e atarando-as com a corda para mantê-las assim. Deste modo conseguiram colocá-la dentro da fôrma que a aguardava para última viagem. As exéquias vararam a noite. De madrugadinha , em meio às rezas, o pedaço de corda ( já puído pela ação da umidade da cacimba) esgarçou subitamente. Aí as pernas, agora livres da contenção, pularam de repente para fora do caixão, como se a defunta fizesse menção de sentar. Foi um espalhafato, negro ganhando a capoeira, até ontem tinham feito a chamada e pelo menos três pessoas que estavam no velório não mais tinham dado notícia. Diz que um está em Canindé, um outro passou por Cabrobó e “Chico Canela Dura”, um sujeito tido como paralítico, que faz ponto na feira , telefonou ainda cansado de Marabá , avisando à família que estava indo embora: sabe Deus para onde.


V
A mais incrível estória contada por “Katá”, no entanto, é difícil de se constatar a veracidade. Segundo ele ,ano passado, a Câmara de vereadores de Belorizonte criou um imposto para os túmulos, uma espécie de IPTU post mortem. Os familiares que não pagassem, parece coisa do outro mundo, veriam seus entes queridos serem arrancados dos túmulos e recolhidos ao ossário público. “Katacumba” relata que, após um dia de intensa atividade, sentou e cochilou, no intervalo de dois sepultamentos. Teve um sonho que mais lhe pareceu uma aparição: Assistiu a uma “Reunião da Associação das Almas desencarnadas e corpos Despejados”. O conclave se passava em uma etérea paisagem e era presidida por um espírito chamado Allan. Falavam sobre a medida tomada pela Prefeitura de Belorizonte que , em pouco, com a voracidade dos prefeitos brasileiros, deveria se estender para todo o país. Caíra por terra um dos mais sagrados direitos, o do “REQUIESCAT IN PACE” . Nem mais na morte se poderá ter paz, os jazigos perpétuos passam a ser Jazigos temporários.
Alguns espíritos reclamavam dos parentes que, se já os só visitavam no finados, agora, que já tinham posto as mãos na herança, não iriam ter nenhum ímpeto em pagar o novo imposto e estariam desobrigados até daquela anual penitência. As almas mais antigas ( se é que é possível pensar em idade, nesse caso) eram as menos preocupadas, elas diziam que ninguém é lembrado depois da terceira geração, até porque poucos tiveram o privilégio de conviver com os bisavós e é quase impossível lembrar-se daquilo que não se conheceu. A união de todos no ossário municipal era ,assim , o socialismo final da natureza, a junção de todos no mesmo pó, a comunhão dos elementos : sem passado, sem história e sem vãs lembranças .
Uma alminha atarracada ralhava com os outros, dizendo tinha acertado quando solicitou em testamento a cremação, destarte ,tinha livrado o Estado e os familiares desse derradeiro contratempo , embora soubesse que suas cinzas estavam lá no sótão da casa , menos lembradas que as do cinzeiro da sala e qualquer dia desses ,certamente , seriam enxotadas numa faxina qualquer.
O depoimento mais surpreendente, no entanto, foi de um espírito andarilho que disse ter nascido no nordeste brasileiro e logo novinho abandonado numa lata de lixo por uma mãe solteira. Por sorte foi resgatado por uma doméstica que morava na Favela “Suvaco do Urubu”, em Recife. Começou cedo a fazer pequenos furtos e foi adotado pela FEBEM de onde o expulsaram com a maioridade. Passou então a trabalhar como vigia de uma pequena indústria , casou, depois de ser despejado de duas ou três casas por não ter podido pagar o aluguel; ganhou no jogo do bicho uma pequena soma e comprou uma casinha, onde passou a morar com a família . Por conta de infidelidade separou-se e , mais uma vez na rua, deixou a casa com a mulher. Viajou ao Pará, na tentativa de melhorar de vida, passou a ser grileiro, até ser expulso ( pensava ele que pela última vez) , massacrado como tanto outros em Eldorado do Carajás . Sem familiares, sem passado, estava ele ali, prestes a ser expulso de novo, como um Ahsverus onipresente, uma reencarnação de Adão, condenado à expulsão eterna do paraíso .
Katá diz, pedagogicamente, não entender porque os homens, sendo livres para tomar os caminhos que melhor lhes aprouverem, passam a vida a criticar as estradas e veredas que os outros escolheram. A estrada, boa ou ruim, pavimentada ou asfaltada , curta ou longa, seja qual for ela, enfim, inexoravelmente termina aqui , conclui ele, apontando para o Cemitério.
“Katacumba” despertou do sono, acicatado por um colega que o chamava para mais um enterro. Olhou para um céu azul resplandecente que o convidava para a vida com todos os seus gozos e marchou, pisando na terra que o tentava sorver com os seus vermes, suas lições de nada e seus mistérios...Saiu.


J. Flávio Vieira

PARA FAZER CRÍTICA NÃO TEM LIMITE

Pedro Esmeraldo

Antes pensava que lutava sozinho, mas noto que tenho seguidores em meu caminho.

Encontrei apoio moral do meu irmão Carlos Esmeraldo, engenheiro, professor que me deixou glorificado com as suas encorajadoras palavras que me vêem incentivar para continuar na luta e seguir com esperança o meu combate em defesa do Crato.

Ambicionava encontrar outra corrente de homens dignos e que queiram elevar o espírito diante da transfiguração de cidadão cratense. Por isso, desejo encontrar com amigos que venham auxiliar-me e levar o barco para fora das águas revoltas.

O que mais me impressiona é ver o Crato gigante e associado ao desenvolvimento que se faz, tornar-se estranho quando se vê a falta de decisão desses políticos que perambulam para lá e para cá, estendendo a mão mirrada aos políticos “inimigos da cidade”, dizendo “amém”, e entregando os pontos com muita facilidade.

Agora mesmo, fico com medo do retorno de um político pré-histórico que vive zanzando nas praças, falando mal de administrações passadas, como se a dele fosse uma figuração importante que fez medo do Crato cair na bancarrota e ficar perdido no seio da sociedade.

Em tempos passados, Crato sofreu da síndrome de homens despreparados para exercerem as funções políticas.

Procuro relembrar alguns homens do passado, já que foram notáveis em seu trabalho. Deixaram marcas indeléveis. Bem que queria vislumbrar o Crato de outrora.

Quero ver o Crato bem alumiado e enaltecido, forçando o cratense a lutar sem medo, gritando quando for preciso, com o desejo de transformá-la em modelo e que não venha cair no mesmo erro do passado, sem coragem de viajar, sem luta e sem arrojo.

Aqui todos são vítimas da perfídia, da discórdia e da calúnia, já que fica isolado dos benefícios governamentais que esperam transformar a cidade no mesmo modelo dos tempos passados, sem luta, apática e desencorajada.

E lembro-me das revoltas dos governadores pertencentes aos estados detentores do pré-sal que, por causa de uma simples perda de royalties alvoroçaram-se com gritos estridentes, reclamando seus direitos.

E agora, o perguntamos: por que esses políticos não lutam em defesa da terra? Por que se calam quando encontram os mais simples obstáculos? Por que em vez de trabalhar pelo filho da terra, preferem dar seu palpite pelo simples fator de permanecerem submissos aos açoites dos poderosos? Por que não reagimos a esses cruéis inimigos, virando as costas, mandando irem pescar em outro lugar?

Infelizmente, essas figuras do Crato estão esquecidas porque o homem pré-histórico acomodou o cratense moderno, amoldando-o à sua maneira, fez-se calar diante dos momentos sombrios e das dificuldades crescentes e que empurram o Crato para cair no abismo do esquecimento.

Crato, 19 de novembro de 2010.

Fragatas aos céus - José do Vale Pinheiro Feitosa

Além do gavião peneirador, quem mais plana nos céus da minha terra é o urubu. E a ave planadora é uma das maravilhas do universo. Aqueles movimentos de giro, de despencar, com um friozinho na barriga, até uma nova lâmina de flutuação. Pairar sobre os ares é o sonho mais sublime destas duas pernas fincadas na gravidade.

Só romper esta força onipresente, é um feito de sublimação desta nossa sólida vida. Horas passava, à sombra da minha casa, com o rosto voltado para o céu azul, olhando os urubus naquelas alturas. Transportando-me em imaginação para o que viam, os largos horizontes que ultrapassavam estas visões rotineiras do imediato mundo.

No Rio de Janeiro levei algum tempo para me despir do planar dos urubus. É que por aqui, especialmente nas zonas costeiras, planava outro tipo de ave. Mais leve e de maior altitude que aqueles urubus, que se apartavam do grupo e iam mais alto que o alto de todos. Levei tempo para me despir, mas desde o primeiro minuto lhe vi como uma ave de formato diferente: as asas eram anguladas e a cauda bifurcada.

Vendo aquele planador estranho tomava como referência os pterodáctilos das profundezas do tempo. Mas os seres voadores iam às alturas. Sobre os céus do Rio de Janeiro. Eram as Fragatas, Tesourões ou João Grande, que habitam as ilhas costeiras como o arquipélago das Cagarras. Que tem semelhança com nome substantivo “cagarraz” o mesmo que mergulhão e também de uma ave que habita a ilha da madeira, mas não se encontra nas Américas. O mais provável, até por que sua primeira notação foi num mapa francês (1730), com o nome de Ilha Cagade e depois um mapa português com o nome de Ilha Cagado. Na verdade o arquipélago é tingido de branco por tanto cálcio dos dejetos das aves comedoras de peixes.

As fragatas pertencem a uma das cinco famílias da ordem dos Pelecaniformes. A família fregatidae tem coloração geralmente preta, asas muito longas, estreitas e angulosas, além das caudas bifurcadas como uma tesoura. São aves de menos peso por unidade de superfície da asa. Os ossos são pneumáticos, leves e elásticos e elas nunca pousam na água pois encharcam rapidamente e nem nas praias. Descansam pousadas em ilhas, empoleiradas ou sobre rochas. E o mais espetacular dos sonhos, descansam planando.

A fragata que vive no Rio de Janeiro é a Fragata magnificens, e confirmo o sentimento do ornitólogo que assim a nomeou. Elas podem atingir 106cm de comprimento e suas asas têm uma envergadura que supera 2m. Na última quarta feira, num dia de chuvas, com tempo de suspender coisas leves nos ares, fui visitar um amigo no Leblon e da varanda do apartamento dele meus sentimentos voaram. Arrebatados do rés do chão das conversas políticas e técnicas.

Centenas de fragatas magnificens, em grupos como as praças do interior em noite de festas, em alturas distintas e separados no espaço generoso do céu. Elas giravam em eixos imaginários em cada grupo. Tomavam os céus do Rio de Janeiro entre o Leblon e o Morro Dois Irmãos. Aquilo efetivamente era um Avatar da natureza, por sobre o concreto armado e distante das pedras onde descansam. Mas não repetirei a ciência: as fragatas não descansavam. Elas festejavam a oportunidade do ar ascendente e nele tirava a seiva lúdica do viver. O lúdico esquecido nesta danação do trabalho cá embaixo entre os homo sapiens.

"FLORESIAS" EM PROSAS E VERSOS - AUTORES DIVERSOS - EDIÇÃO ESPECIAL DO CARIRICATURAS



-Sem ônus para os escritores.
-Número de textos por autor : 2 + release + fotografia
-Reciprocidade : 5 livros para cada autor.


Autores convidados: todos os nossos colaboradores !

-Os textos deverão ser enviados para o e-mail de Stella ,até no máximo, 15 de Dezembro de 2010.
-Fase de revisão : o necessário .

- stelasiebra@yahoo.com.br

"TODOS SERÃO CHAMADOS. MUITOS, OS  ESCOLHIDOS" 

PARTICIPEM DESSE BANQUETE POÉTICO !

Pensamento para o Dia 19/11/2010


“A essência das virtudes, bons pensamentos e amor deve ser oferecida a Deus como um fruto cultivado pelo seu próprio Sadhana (exercício espiritual). O mundo será beneficiado por um indivíduo que tenha boa conduta. Se começa a pegar fogo em uma árvore na floresta, esse fogo não irá parar depois de queimar essa única árvore. O fogo irá se espalhar e queimar a floresta inteira. Do mesmo modo, se há um indivíduo que possui más qualidades, ele irá danificar toda a comunidade, além de se arruinar. Por outro lado, se houver uma árvore que esteja carregada de flores perfumadas, ela irá preencher toda a região com boa fragrância. Da mesma maneira, se houver um indivíduo com um nobre código de conduta, ele não somente irá melhorar a si mesmo, mas também irá melhorar toda a sociedade ao redor dele através de sua boa conduta.”
Sathya Sai Baba

Caos interior- reforma exterior ! - Por Socorro Moreira

Minha casa está um caos. Pintando paredes e portas de cima a baixo, me faz retirar tudo do lugar. Depois tem que limpar a poeira, os vidros , e a arrumar a parte interna.. Isso tinha que acontecer mais dias, menos dias. A Poesia também  resolveu tomar banho de cal.Ficou branca, invisível. Olho para ela  com o coração cansado, mas  é como se dissesse : de ti não desisto.
Há poesia na desarrumação, quando encontramos objetos e sentimentos perdidos.

Edilma podia chegar , e dar um toque com suas mãos de fada, no recolocar das peças no lugar, ou noutros espaços pra mudar a cara do ambiente, que também gosta de posar  para um retrato. 

Perfil de uma amiga 

Edilma é um retrato do bom gosto
Do querer é poder
Do fazer com acertos
Do sentir e superar
Ela decora  casa e coração de todos
Nos múltiplos pendões 
Que possui
É privilegiada  pela natureza
Como artista e amiga ...
Apreciada e querida !

"Mestre, meu Mestre".Por Margareth Monteiro.


Meu Mestre

"Mestre, meu mestre!

Na angústia sensacionista de todos os dias sentidos,

Na mágoa quotidiana das matemáticas de ser,

Eu, escravo de tudo como um pó de todos os ventos,

Ergo as mãos para ti, que estás longe, tão longe de mim!" (Fernando Pessoa)



É mesmo feliz o Homem Marçano?

Enxergar e ver são ações realizadas sem a intencionalidade de quem as pratica. Não exigem reflexão mental, nem análise do objeto. Por isso, nenhuma angústia traz ao Homem. Enquanto, olhar, perceber, conhecer, analisar, criticar, julgar e optar é ações que incitam a dúvida, gerando angústia na alma humana. Enquanto aquelas trazem à alma certeza mediata, estas promovem incertezas ante o desconhecido.

Qual a melhor forma de viver? E qual traz felicidade, livrando das "angústias sensacionistas de todos os dias"?

Não será melhor sofrer a "mágoa cotidiana" à qual o conhecer arremessa o homem, do quer ser um "escravo de tudo como um pó de todos os ventos", inconsciente, sem a percepção de que está indo na correnteza da vida, participando, sim, porém, moldado ao interesse alheio?

O incauto carrega um fardo. Todavia, desconhece sua própria capacidade de conduzi-lo. Ademais, não tem noção de seu volume e dimensões. Já o curioso, melhor dizendo, investigador da realidade em que está incluso, este sabe o que está conduzindo e é conhecedor do volume, tamanho e ainda questiona a sua origem e a utilidade no viver humano.

Na historicidade humana, quem não esperou acontecer, mas fez acontecer, este fez parte, faz parte e sempre fará parte de uma minoria sofredora.

É fascinante a angústia humana frente ao desconhecido.

Margareth Lima


Lembra de seu primeiro Baú? Por:Manoel Severo

Ainda lembro quando Gabriel, meu filho mais velho completou seus dez anos, comemoramos juntamente com o aniversário do irmão Pedro que fazia sete anos. Todas as providências tomadas e lá chegou o esperado momento do pôr-do-sol, com ele também chegavam os primeiros convidados, o lugar estava muito bonito, o esmero da decoração enchia nossos olhos, mas havia algo que não me agradava tanto, na verdade fui induzido e quase obrigado a aceitar aquele instrumento intruso na decoração de entrada da pequena festa: Um grande e largo baú de papelão... Lugar para minha surpresa que teria um guardião quase que eterno: O pequeno Gabriel.

Claro que quem chegasse teria que passar pelos incômodos porteiros, o Baú e evidentemente, Gabriel. Não gostaria de estar na pele de quem não teve tempo de comprar o presente ou a famosa lembrancinha... Um horror! Na verdade os anjos da guarda acabaram vendo essa situação antes de tudo e o fato é que todos levaram seus presentinhos, e Gabriel ali, impassível, “acocorado” ao lado do dito e inesquecível “baú da felicidade...” Se eu soubesse disso não teria contratado palhacinhos, mesa com motivo do He Man, enfim, apenas o querido e imponente Baú.

Quem não tem uma história parecida para contar? Puxa Vida! Quantos presentes ganhamos durante nossa vida? Talvez tenhamos ganhado tantos que não percebemos o valor de cada um deles, nem tão pouco sabemos diferenciá-los, usá-los, agradecer por cada um deles. Presentes sempre nos remetem a mais sublime de todas as virtudes: Gratidão.

Presentes quase sempre nos deixam felizes. Todos? Bem, nem todos, menos aqueles sob forma de um belo e maravilhoso “cavalo de madeira”... Será que desses precisamos manter distância? Mas até esses têm sua razão, sua história, sua missão.É uma pena que depois de tanto tempo ainda não conseguimos perceber o quanto recebemos a cada dia, a cada minuto, cada segundo.

Como não sentir o valor de tudo isso?

Todos quando fomos criados já nascemos dentro do próprio “baú”, e que baú! como pode comportar tanta coisa? Fechemos os olhos e visualizemos o nosso baú, e todos os presentes que ganhamos a cada momento. Consegue perceber? Que bom! Mudei de idéia, talvez o baú tenha sido e será sempre o personagem principal.Viva o baú nosso de cada dia!

Vida! Esse é o maior e mais sublime presente de todos.

Por:Manoel Severo

AVE DE RAPINA - Marcos Barreto de Melo

Como ave de rapina
Você chegou sorrateiro
Naquela madrugada fria
Sem estrela e sem luar
E o dia nasceu cinzento
Sem ter o sol a brilhar

Veio trazendo na bagagem
Dias de amargo sabor
E noites de escuridão
Com o seu jeito indigesto
Marcado por cada gesto
Ao nascer de um novo dia

Ainda tentou me envolver
Com um aceno de paz
Querendo me alegrar
Mas, eu não acreditei
Pois conheço o teu passado
Sei de tudo que é capaz

Ao passar de cada dia
Você foi se revelando
Demonstrando a sua ira
E num gesto traiçoeiro
Num momento de descuido
Colheu tudo o que queria

Não sei se foi por maldade
Ou mesmo por vaidade
De quem procura um troféu
Para exibir lá no céu
Você levou minha prenda
E por isso eu te detesto
Deixando aqui meu protesto
Maldito mês de agosto


Marcos Barreto de Melo
O Gato
- Claude Bloc -

 Eu escrevo versos
Ele...
pula (in)versos
descreve sinuosidades
piruetas, malabarismos

Quando encontro a rima
lá se vem o gato
pisando no meu teclado
borrando o meu bordado
e nessa acrobacia
vai digerindo o tema
(com leveza e graça )


o gato habilmente
conseguiu o seu intento
(produziu o que queria)
ser a inspiração e a sinfonia,
o maestro insigne,
a minha própria poesia.

Claude Bloc
Fotos: pés de Ricardo Rocha
Gato (de Elvira - em D. Quintino - CE)