Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Odete Lara




Odete Lara nasceu no dia 17 de abril de 1929, no bairro da Bela Vista, na capital paulista. Era filha única de imigrantes vindos do norte da Itália. Seu pai, Giuseppe Bertoluzzi, era de Bellusp. Sua mãe, Virgínia Righ era também italiana. Ela se suicidou , quando a filha Odete tinha apenas 6 anos de idade. Odete foi internada num colégio de freiras e em seguida morou com a madrinha. Depois se apegou ao pai e foi morar com ele. Mas este também se matou, quando Odete tinha 18 anos. Desesperada, Odete foi ser secretária e datilógrafa , para se manter. Arranjou emprego no Museu de Arte Moderna de São Paulo . A beleza extraordinária de Odete impressionou Pietro Maria Bardi, presidente do Masp, e também. Otomar dos Santos, se diretor. E a moça foi encaminhada por eles à TV TUPI de São Paulo. Ali foi ser garota-propaganda do "Mappin-Movietone", em substituição à Vida Alves, que entrava em licença maternidade. Odete se saiu bem e logo passou a participar dos TVs de Vanguarda, principal teleteatro da época. A partir daí sua carreira deslanchou. Seu próximo passo foi o cinema. E Odete Lara participou ao todo em 32 filmes. Trabalhou em obras que se tornaram clássicas. Foi dirigida por grandes nomes, dentre os diretores de cinema. Ela se transformou em musa do Cinema Novo. Dentre os principais filmes, citemos: "O gato de Madame"; "Arara Vermelha"; "Absolutamente Certo"; "Uma Certa Lucrécia"; "Moral em Concerto"; "Dona Violeta Miranda"; "Esse Rio que eu Amo"; "Sete Evas"; "Boca de Ouro"; "Bonitinha, mas Ordinária"; "Noite Vazia"; "Mar Concordata"; "Vai Trabalhar Vagabundo" ; "A Rainha Diaba"; "Assim era a Atlandida"; "Um Filho 100% Brasileiro"; "A Estrela Sobe"; "Barra 68- sem perder a ternura", e vários outros. Apareceu no filme: "Lara, sobre vida". Recebeu no Festival de gramado, o prêmio "Oscarito", por sua contribuição ao desenvolvimento do cinema brasileiro. Embora sua vida artística tenha sido sempre ascendente, sua história pessoal foi dramática desde o começo e então ela, num certo momento da vida, resolve-se converter ao budismo e partiu para um auto-exilio, num sítio montanhoso do Rio de Janeiro. Ela publicou três livros autobiográficos. Os nomes deles: "Eunua"; "Minha Jornada Interior" e "Meus passos a busca da paz". Ela também traduziu livros sobre o budismo. Odete Lara foi casada com Oduvaldo Vianna Filho, e depois com Antônio Carlos Fontoura. Depois disso ela apareceu algumas vezes apenas em teledramas na Rede Globo. Recebeu ainda o Prêmio APCA, como melhor atriz, em 1975.

Linda Batista

Linda Batista nascimento 14/06/1919 falescimento 18/04/1988
Filha do humorista e ventríloquo Batista Júnior, começou no meio artístico muito cedo, assim como a irmã, Dircinha Batista. Na adolescência, Linda acompanhava Dircinha ao violão, até que um dia, em 1936, por causa de um atraso da irmã, apresentou-se como cantora no programa de Francisco Alves na Rádio Cajuti, iniciando uma carreira de muito sucesso. Linda foi a primeira Rainha do Rádio a ser eleita, e manteve o título por 11 anos. Atuou em filmes e foi crooner do Cassino da Urca até o seu fechamento, em 1946. Nos anos 50 apresentou na Rádio Nacional o seu próprio programa, Coisinha Linda. Também foi compositora de sambas-canção, e afastou-se da vida artística nos anos 60, depois da fase áurea do rádio. Entre seus maiores sucessos estão "Risque" (Ary Barroso), "Vingança" (Lupicínio Rodrigues), "Tudo É Brasil" (V. Paiva/ Sá Róris), "Batuque no Morro" (Russo do Pandeiro/ Sá Róris), "No Boteco do José" (W. Batista/ A. Garcez) e "Nega Maluca" (Fernando Lobo/ Evaldo Rui).



Por Heládio Teles Duarte

Hospital Regional do Cariri: uma obra a todo vapor!‏
Centro de abastecimento : Ceasa / a lentos passos.‏

Conversando com Abel Silva - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Coração sem perdão,
Diga fale por mim,
Quem roubou,
toda a minha alegria.

Um das mais gratas tecnologias dos tempos atuais foi a digitalização das antigas e novas gravações da discografia mundial. Com elas tivemos a realização da vontade, a satisfação de ouvir qualquer canção que desejássemos. Sem aquele sentimento de raridade, sem aquelas portas por aonde as canções iam ao tempo e só de raro novamente a ouvíamos.

O amor me pegou,
Me pegou,
Prá valer,
Ai que a dor do querer,
Muda o tempo e a maré
Vendaval sobre o mar azul.

Assim foi que comprei um CD que era uma coletânea de 15 belíssimas canções na voz, mais bela ainda que as canções, a de Naná Caymmi. Aqueles apanhados da EMI chamados de “Meus Momentos”. E na faixa 11 uma canção intitulada “Neste Mesmo Lugar”, composição de Armando Cavalcanti e Klécius Caldas.

Tantas vezes chorei,
Quase desesperei,
E jurei, nunca mais
Seus carinhos.

Acontece que por isso mesmo comprei um CD “O Essencial de João Bosco” e na faixa 7 estava lá “Quando o Amor Acontece”, composição de João Bosco e Abel Silva. O João é do conhecimento geral e, dos entendidos, também o Abel Silva. Poeta, letrista de grandes compositores dos anos 80 e 90, ele acreano e profundamente carioca.

Ninguém tira do amor,
Ninguém tira,
Pois é,
Nem Doutor,
Nem Pajé,
O que queima e seduz,
Enlouquece,
O veneno da Mulher.

E estávamos numa mesa na mais duradoura e hoje inexistente casa noturna da Lagoa Rodrigo de Freitas. Era o Mistura Fina cujo terreno se transformou num edifício para a alta classe média. Um aniversário com metade da casa ocupada pelos convidados. Na mesa em que me encontrava, entre outros o Abel Silva e a sua companheira.

O amor quando acontece,
A gente esquece logo que sofreu um dia,
Ilusão,
O meu coração marcado,
Tinha um nome tatuado,
Que ainda doía.

Conversa sobre o geral e o particular. Até que entre um dado e outro da vida perguntei ao Abel sobre a dúvida que havia da capa dos dois discos. Afinal a composição era ou não dele e do João Bosco?

Pulsava só,
A solidão,
O amor quando acontece,
A gente esquece logo que sofreu um dia,
Esquece sim,
Quem mandou chegar tão perto,
Se era certo outro engano,
Coração cigano.
Agora eu choro,
Assim.

Ele tomou-se de brios pela sua composição. Queria saber do disco da Naná. Abel Silva, na altura em que se encontrava, não era diferente de qualquer artista na mais remota e esquecida região. Era como todos nós, ciente da sua propriedade. Agora coletiva, além e muito depois daquele momento em que a realizamos.


POST SCRIPTUM


Se tivesse ido à internet estava lá:

Aqui, neste mesmo lugar
Neste mesmo lugar de nós dois
Jamais poderia pensar
Que voltasse sozinha depois
O mesmo garçom se aproxima
Parece que nada mudou
Porém qualquer coisa não rima
Com o tempo feliz que passou
Por uma ironia cruel
Alguém começou a cantar
Um samba-canção de Noel
Que viu nosso amor começar
Só falta agora a porta se abrir
E ele ao lado de outra chegar
E por mim passar
Sem me olhar.

Mas ainda era muito ligado nas mídias locais ao invés da rede.

Vinde a eles as criancinhas? - por Frei Betto

As sucessivas denúncias de pedofilia e abuso sexual cometidos por sacerdotes e acobertados por bispos e cardeais envergonham a Igreja Católica e abalam a fé de inúmeros fiéis. No caso da Irlanda, onde mais de 2 mil crianças entregues aos cuidados de internatos religiosos foram vítimas da prática criminosa de assédio sexual, o papa Bento XVI divulgou documento em que pede perdão em nome da Igreja, repudia como abominável o que ocorreu e exige indenização às vítimas.

Faltou ao pontífice determinar punições da Igreja aos culpados, ainda que tenha consentido em submetê-los às leis civis. O clamor das vítimas e de suas famílias exige que a Santa Sé aja com rigor: suspensão imediata do ministério sacerdotal, afastamento das atividades pastorais e sujeição às leis civis que punem tais práticas hediondas.

A crescente laicização da sociedade europeia reduz drasticamente o número de fiéis católicos e a freqüência à igreja. O catolicismo europeu, atrelado a uma espiritualidade moralista e a uma teologia acadêmica, afastado do mundo dos pobres e imbuído de um saudosismo ultramontano que o faz ignorar o Concilio Vaticano II, perde sempre mais o entusiasmo evangélico e a ousadia profética.

Dominado por movimentos fundamentalistas que cultivam a fé em Jesus, mas não a fé de Jesus, o catolicismo europeu cheira a heresia ao incensar a papolatria e encarar o mundo não mais como vale de lágrimas e sim como refém de um relativismo que corrói as noções de autoridade, pecado e culpa. Ao olvidar a dimensão social do pecado, como a injustiça, a opressão, o latifúndio improdutivo ou a apologia da desigualdade, o catolicismo liberal centrou sua pregação na obsessão sexual. Como se Deus tivesse incorrido em erro ao tornar a sexualidade prazerosa.

Como o Espírito Santo se vale de vias transversas para renovar a Igreja, tomara que as denúncias de pedofilia eclesiástica sirvam para pôr fim ao celibato obrigatório do clero diocesano, permitir a ordenação sacerdotal de homens e mulheres casados e ultrapassar o princípio doutrinário, ainda vigente, de que, no matrimônio, as relações sexuais são admissíveis apenas quando visam à procriação.

Ora, tivesse Deus de acordo com tal princípio, não teria feito do gênero humano uma exceção na espécie animal e, portanto, destituiria o homem e a mulher da capacidade de amar e expressar o amor por meio de carícias e incutiria neles o cio próprio dos períodos procriatórios dos bichos, o que os faz se acasalar.

Jesus foi celibatário, mas é uma falácia deduzir que pretendeu impor sua opção aos apóstolos. Tanto que, segundo o evangelho de Marcos, curou a sogra de Pedro (1, 29-31). Ora, se tinha sogra, Pedro tinha mulher. E ainda foi escolhido como primeiro cabeça da Igreja.

Os evangelhos citam as mulheres que integravam o grupo de discípulos de Jesus: Suzana, Joana etc. (Lucas 8, 1-3). E deixam claro que a primeira pessoa a anunciar Jesus como Deus entre nós foi uma apóstola, a samaritana (João 4, 39).

Nos seminários e casas de formação do clero e de religiosos é preciso avaliar se o que se pretende é formar padres ou cristãos, uma casta sacerdotal ou evangelizadores, pessoas submissas ao figurino romano ou homens e mulheres dotados de profunda espiritualidade evangélica, afeitos à vida de oração e comprometidos com os direitos dos pobres.

No tempo de Jesus, as crianças eram desprezadas por sua ignorância e repudiadas pelos mestres espirituais. Jesus agiu na contramão dos preceitos vigentes ao permitir que as crianças dele se aproximassem e ao citá-las como exemplo de fidelidade a Deus. Porém, deixou claro que seria preferível amarrar uma pedra no pescoço e se atirar na água do que escandalizar uma delas (Marcos 9, 42).

As sequelas psíquicas e espirituais daqueles que confiaram em sacerdotes tarados são indeléveis e de alto custo no tratamento terapêutico prolongado. As vítimas fazem muito bem ao exigir indenização. Resta à Igreja punir os culpados e cuidar para que tais aberrações não se repitam.

Companheira de viagem (curiosa)
- Claude Bloc -

Uma meninha passou a viagem me espreitando e ganhando minha simpatia.

Ganhou rosquinhas de goma em Itapajé e passou a acompanhar meu "percurso fotográfico"

Quem são estas pessoas?
- Claude Bloc -
Passei terça-feira por uma banca de qualificação do meu Projeto de Pesquisa para o Mestrado em Ciências da Educação. Pois é, foram dois “ferozes algozes” (até rima) que decidiram meu destino e o de outros/as colegas de Mestrado nesse dia.

Fomos chamados/as de surpresa na sexta-feira passada e tivemos que nos organizar, em pleno período de aula, para irmos a Teresina e ainda por cima deixarmos atividades para suprir nossos alunos e não os deixarmos em vacância na nossa ausência.

A correria e o estresse foram inegavelmente grandes. Não é brincadeira criar algo substancial para preencher uma aula em que o professor não esteja presente e fazer jus a essa ausência de forma absolutamente entendível e aplicável, sem “encheção de linguiça”. Aluno não é bobo e não se obriga a fazer o que não lhe serve. E a professora aqui é comprometida com seu trabalho...
.
Enfim, tudo pronto. Zarpamos de ônibus: duas colegas e eu. Na segunda à noite, demos aula até 21:30 e saímos de Sobral às 23:30. Uma viagem confortável de 6 horas de duração.
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Amanhecemos em uma Teresina amena (chegamos às 5:30). Tomamos café na rodoviária pra fazer hora, pois o FORUM-APROCEFEP – nome do nosso curso de mestrado – só abre às 7:15h e as aulas começam a acontecer às 8:00h. Tomamos um bom banho para recompor as energias e despertar do sono entrecortado da viagem. Tomamos mais um café para nos mantermos de olhos e mente acesos e fomos à “forca”.

A Professora Doutora Áurea Adão (professora portuguesa da Universidade Lusófona – Lisboa-Pt - inclemente e incisiva) e o Professor Doutor Emmanuel Sabino (diretor do nosso curso – também português e inclemente) estavam a postos para nossa agonia. Havia 6 cearenses na sala. Alguns ficaram, por motivos diversos, para se qualificarem em agosto.

Áurea foi chamada. Brilhou! Acho que subestimam muito os nordestinos lá pela Europa. A ordem era alfabética. Não havia mais “A” nem “B” na lista de alunos e foi o “C” de Claude a ser chamado em segundo lugar. Eu nem sabia que ia ser qualificada naquele momento, pois ainda devo fazer um (meio) módulo de 30 horas de Metodologia em maio (fui a Crato em Janeiro e posterguei o curso).

Pois é, mas a surpresa me fez bem. O fato de achar que aquilo seria apenas um treino me deixou tranqüila e o café me deixou lúcida o suficiente para responder com clareza a sabatina a propósito de meu projeto de pesquisa. Fui qualificada! Uau! Apenas devo fazer o módulo que está em débito, para receber a titulação... Ufaaaaa! (ei! e a dissertação?)
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Claude Bloc

Canção de Amor

Vamos lembrar Canções de Amor ?

A PERFEITA CANÇÃO DE AMOR - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Hoje, uma chamada do Bom Dia Brasil da TV Globo foi que o Roberto Carlos pretenderia compor a mais perfeita canção de amor. Foi a chamada, mas não vi a matéria e posso estar enganado. Mas vamos que seja a “perfeita canção de amor”.

Que não é a mesma coisa da canção do amor perfeito, ou o amor perfeito na canção, ou o amor na canção perfeita. No primeiro caso trataria de compor uma canção que representasse o amor perfeito. No segundo iria listar todas as canções que trataram do amor perfeito e no terceiro trataria de listar as canções perfeitas que trataram do amor.

A perfeita canção de amor como a chamada queria que o Roberto compusesse tem lá os seus problemas. Vamos começar pelo problema principal: o amor. Abramos o dicionário e tomemos um susto pela quantidade acepções que existe para ele. São 14 acepções gerais no Houaiss e mais 10 secundárias. Por isso mesmo são 3 derivações por extensão de sentido, 3 por metonímia e uma de sentido figurado. Existem 8 rubricas, sendo 4 de religião, 2 de mitologia e 2 botânica.

De qualquer modo tantas acepções já se originavam no Latim, onde se encontra a etimologia da palavra. O latim já tinha as seguintes: amizade, dedicação, afeição, ternura, desejo grande, paixão, objeto amado. Seguramente que qualquer filósofo diria que são afins, mas há de se considerar que objeto amado não é a mesma coisa de desejo grande e tampouco de paixão.

Se não bastante tanto para o Roberto Carlos, ainda haveria o largo problema de que o amor tem sido tratado nas canções tanto como agonia do impossível quanto a fastio do seu exercício. Não é incomum que se trate dos conflitos provocados em razão da sua prática. Do desejo de vingança pelo amor perdido. Da profunda dor de seu fim ou de sua distância.

Uma perfeita canção de amor deveria resolver dois problemas o da perfeição da canção e do amor. Talvez se houvesse um modo de resumir tantas acepções do amor. Não basta escolher uma só, mesmo que o Roberto apenas queira compor, com é comum, uma canção de gênero, do amor entre homens e mulheres. Mas não existe nada de menos, ou menor, no amor dentro do mesmo sexo, como o amor homossexual, cujas acepções tratam da mesma base sentimental.

De qualquer modo, num esforço ligeiro, os blogs são rápidos no tema, consegui breve senso comum que é a afetividade. A afeição como algo que permeia todas as acepções. Mesmo isso seria vago. Talvez a solução para o termo não se encontre no dicionário.

Talvez se encontre mesmo neste imenso desejo de eternidade dos seres humanos, mesmo reconhecendo o seu fim. Todo o exercício do amor é uma compulsão pela permanência, não apenas a imanência, mas esta localizada no tempo e no espaço.

Amo-te sobre as dunas de Paracuru nesta noite de lua cheia.

O caso de um herói

Por , quinta-feira, 15 de abril de 2010

Cleber Nunes leciona seus filhos Davi e JonatasNeste fim de semana, no I Seminário de Escola Austríaca no Brasil, ocorrido em Porto Alegre, tivemos o imenso privilégio de assistir à palestra de Cleber Nunes, pequeno empreendedor mineiro, agora residindo numa cidadezinha interiorana, que retirou seus filhos da escola para aplicar o método de homeschooling, ou ensino domiciliar. O ensino domiciliar é um tradicional e incomparável método nos EUA, porém considerado crime por esta terra avessa à liberdade e tão necessitada da tutela oficial do estado em praticamente todas as esferas da vida. A tragédia da educação no Brasil praticamente não altera nossa concepção.
O sucesso do homeschooling nos EUA em relação ao ensino transmitido nas escolas regulares (sejam públicas ou privadas) tem tornado esta prática cada vez mais popular em todo território americano. A principal razão disso é a vertiginosa queda na qualidade do ensino daquele país, que se acentua à medida que ele se torna cada vez mais controlado pelo Ministério da Educação.
Mas, voltando ao Brasil, o caso dos garotos Davi e Jonatas, hoje com 16 e 17 anos, é emblemático. Durante uma conversa antes de sua palestra, Cleber relatou que ele e sua esposa foram condenados pelos magistrados por cometerem crime de abandono intelectual (Estatuto da Criança e do Adolescente). Detalhou que, nas entrevistas que seus filhos prestaram ao promotor na presença dos membros do Conselho Tutelar, o magistrado frequentemente pressionava-os psicologicamente, insistindo em perguntar se os pais lhes coagiam a estudar em casa e a não frequentar a escola. Insatisfeitos pela tranquilidade e maturidade com que os garotos respondiam as questões - reafirmando a disposição voluntária e realçando todas as vantagens comparativas no ensino domiciliar - as autoridades apropriadamente resolveram aplicar uma prova para testar os conhecimentos dos garotos, já há dois anos fora da escola.
Então, recentemente, o Ministério Público encomendou da Secretaria da Educação uma bateria de provas que versava desde a análise de uma obra de arte de Da Vinci até questões teóricas de educação física, além das disciplinas tradicionais do ensino. Para espanto das autoridades, segundo relata Cleber: os meninos "detonaram".
Infelizmente os burocratas são insaciáveis. Além de apelarem para insinuações de que os pais eram desequilibrados e coisas do gênero, o veredicto condenou os pais dos garotos por um crime que nem existe na Constituição Brasileira, apenas no ECA - acredite se quiser.
Ora, nitidamente tal crime atenta contra a sensibilidade paternal do estado, esta entidade tão inclinada e competente para proteger e educar nossas crianças - muito mais competente que os pais, evidentemente. Claro que o excelente resultado que Jonatas e Davi obtiveram nas provas foi um vexame para as autoridades estatais. Vergonhoso porque expõe - também deste ângulo - o fracasso do monopólio do Estado em controlar a educação. Com todas as linhas, os garotos mostraram que não apenas é possível, mas muito superior o ensino domiciliar não submetido ao cabresto da burocracia educacional.
Não posso deixar de mencionar que Cleber Nunes e sua esposa têm sofrido muita pressão de familiares e amigos, sem falar da própria sociedade. Todavia, sustentou que seus filhos não estão dispostos a voltar para a escola, e ele tampouco os obriga a isso. Ao contrário, encoraja-os fornecendo todo apoio para estudarem em casa e desenvolverem proveitosamente suas habilidades que seriam tolhidas no ambiente escolar.
Só pra constar, conheci Jonatas e Davi. Pasmem, os garotos não me pareceram como ETs. Ao contrário, são simpáticos e muito espontâneos. Possuem amigos como qualquer garoto da sua idade, com quem gostam de andar de skate nos horários de folga dos estudos. Entretanto, quero enfatizar que não acho que a falta de simpatia e de espontaneidade, ou mesmo a preferência por estudos ao invés esportes, tenham em si alguma relevância que possa impugnar o ensino domiciliar. É que é comum os inimigos da liberdade fazerem tal apelo, como que zelando pela importância insubstituível da escola convencional em favorecer o convívio social e a tessitura do caráter moral do indivíduo. Não nego, porém, que possa haver vantagens relativas nas escolas, mas, francamente, acho que se houver são próximas de nula. Se, entretanto, admitirmos que possa haver, estas de modo algum chegam a se sobrepor às vantagens do ensino domiciliar ao ponto de as autoridades terem motivos para criminalizarem esta prática.
Convenhamos: o que está em jogo é a transferência de poder - das famílias e indivíduos para o estado. Num mundo em que os indivíduos são tratados pelo estado cada vez mais como mentecaptos incapazes de fazerem escolhas (para escolher políticos, todavia, somos sábios desde os 16 anos) torna-se inadmissível que os pais ensinem seus próprios filhos. Por isso o teor despropositado do veredicto.
A família de Cleber está travando uma luta admirável e que merece todo o nosso apoio. Talvez poderíamos começar por pedir que nosso Presidente da República realizasse as provas a que Jonatas e Davi foram submetidos. Que tal?

PÁSCOA NO CARIRI - Por Aloísio Paulo

Amigo Marcos

Veja este texto que escrevi abaixo e que reflete um pouco do imenso prazer que foi estar lá no Cariri:

PÁSCOA NO CARIRI

Isto agora que escrevo
Não passa de uns trovejos
Gritos jogados ao ermo
Sacudindo um coração
Procurando pela sala
O que está escondido no quarto
Crescente da amplidão
Espalhado pelo chão

Como o tempo vai passando
Estamos aqui chegando
Tudo é de infinda beleza
O céu, a mata, a natureza
Tudo que viceja aqui
A luz da lua apontando
O caminho que vai dando
Nas terras do Cariri

Esta passagem sabia
Não podia prolongar
Pois já estava marcada
A hora de retornar
Tudo foi para mim
Novidades e bons momentos
Agora vão meus abraços
Com ternos agradecimentos


Aloísio Paulo
SSA, 07/abril/2010