Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Perfil de amigos - Por Socorro Moreira








Nico e Normando continuam vivos, no reino dos meus afetos. Poderia dissociá-los, porque um é a ausência do outro, ou o complemento.Foram amores diferentes, aos poucos irmanados, num sentimento único: amizade!
Aí chega um terceiro personagem, numa saudade triangular: Lupeu!
Lupeu está registrado no testamento de Normando, como um legado para os amigos que ficaram.
Pensando nisso, me enterneço!
Apresentei Normando a Nicodemos. Nicodemos me apresentou a Lupeu. As impressões são tantas, que não se alojariam no papel.
Impagável o trio:  Nicodemos, Normando e Lupeu!

A casa dos sonhos- Por Socorro Moreira



Ele sabe que de vez em quando entra nos meus sonhos, e faz uma historinha comigo?
Ontem estávamos num dos estúdios de cinema (só pode!).Havia uma casa isolada, como aquela de Katy “, em” Vidas Amargas “. Existiam portas mágicas, nas laterais. A entrada era um sumidouro. A saída, sempre aos meus pés, parecia traze-lo do interior da terra.
O movimento repetiu-se por várias vezes. Nos encontros, aparecíamos numa festa familiar.Muitos rostos conhecidos... Nos abraçávamos indiferentes àquelas presenças. Aposto que ficávamos invisíveis.
Quando acordei senti a impressão de ter vivido um especial momento amoroso. Os olhos dele acordaram comigo, e procuravam a casa e o sonho.
O inconsciente responde-me à interpretação do sonho: existe uma ponte que nos liga. Namoramos noutros planos, onde o amor impossível é possível.
-A realidade encontra sempre um jeito de resolver as pendências dos desejos.

Recordação musical

Marcel Proust


Valentin Louis Georges Eugène Marcel Proust (Auteuil, 10 de Julho de 1871 — Paris, 18 de Novembro de 1922) foi um escritor francês, mais conhecido pela sua obra À la recherche du temps perdu (Em Busca do Tempo Perdido), que foi publicada em sete partes entre 1913 e 1927.
Se sonhar um pouco é perigoso, a solução não é sonhar menos é sonhar mais.
Marcel Proust

A sabedoria não se transmite, é preciso que nós a descubramos fazendo uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar e que ninguém nos pode evitar, porque a sabedoria é uma maneira de ver as coisas.
Marcel Proust

Para quem ama, não será a ausência a mais certa, a mais eficaz, a mais intensa, a mais indestrutível, a mais fiel das presenças?
Marcel Proust

Aleijadinho



Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, (Ouro Preto, c. 29 de agosto de 1730 ou, mais provavelmente, 1738 — Ouro Preto, 18 de novembro de 1814) foi um importante escultor, entalhador e arquiteto do Brasil colonial.

Iberê Camargo




Iberê Bassani de Camargo (Restinga Seca, 18 de novembro de 1914 — Porto Alegre, 9 de agosto de 1994) foi um pintor, gravurista e professor brasileiro.

COMPOSITORES DO BRASIL


O SAMBA CANÇÃO
Parte II

Por Zé Nilton

- Siga a partitura, Zezinho, isto não está ai ! Este foi o meu primeiro carão recebido de um Pe. Ágio furibundo porque ousei inverter uma tonalidade que o meu ouvido pedia no samba canção “Ave Maria no Morro”. Talvez seja por isso que ainda hoje torço o nariz para inversões às vezes descabidas nas estruturas rítmicas e de tonalidades que se fazem em certas músicas. Só fico vidrado nas repetições joãogilbertianas porque ele repete inovando em acorde, em timbre de voz, na batida e vai por aí.

Pode vê, ou melhor, ouvir os 9 minutos e seis segundos de “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, interpretado ao vivo no 19 th Montreux Jazz Festival, no dia 18 de julho de 1985. João se superou em tudo, viveu todas as suas excentricidades neste show.

Bom, mas o assunto aqui é o Samba Canção, e nesta segunda parte vamos seguir um roteiro idealizado pelo mestre Tárik de Sousa.

Nesta quinta feira, às 14 horas na Rádio Educadora do Cariri, no programa Compositores do Brasil, conversaremos, nesta última parte, sobre o ritmo e seus defensores, suas mudanças e permanência, enquanto ouviremos:

A NOITE DO MEU BEM, de Dolores Duran com Dalva de Oliveira
A VOLTA DO BOÊMIO, de Adelino Moreira com Nelson Gonçalves
BOM DIA TRISTEZA, de Adoniran Barbosa e 12. VINGANÇA, de Lupicínio Rodrigues com Linda Batista Vinicius de Moraes com Aracy de Almeida
MATRIZ OU FILIAL, de Luiz Cardim com Angela Maria e Cauby Peixoto
ME DEIXE EM PAZ, de Monsueto Menezes com Milton Nascimento e Alaíde Costa
OUÇA, de Maysa Matarazo com Maysa
AVE MARIA NO MORRO, de Herivelton Martins com Dalva de Oliveira e o Trio de Ouro
SE ALGUÉM TELEFONAR, de Alcyr Pires Vermelho e Jair Amorim com Lana Bittencourt
CHUVAS DE VERÃO, de Fernado Lobo com Caetano Veloso
RONDA, de Paulo Vanzoline com Maria Bethania
CONCEIÇÃO, de Dunga e Jair Amorim com Cauby Peixoto
VINGANÇA, de Lupicínio Rodrigues com Linda Batista

Quem ouvir verá.
Compositores do Brasil
Rádio Educadora do Cariri(www.radioeducadoradocariri.com)
Acesse: www.blogdocrato.com
Quintas-feiras. De 14 às 15 h.
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Direção Geral: Dr. Geraldo Correia Braga

Pedacinhos de sonhos - Por Rosa Guerrera



“Quero uma casinha branca com varanda/um quintal e uma janela /para ver o sol nascer ...”
Que maravilha ! Acordei hoje escutando ( vinda possivelmente de um rádio um pouco distante ) essa música .
Fiquei como se diz na gíria , curtindo o momento e construindo na minha mente essa casinha em algum lugar .

Como seria bom , parar de repente de escutar o buzinar antipático dos carros , o corre corre dos transeuntes pelas avenidas , não enfrentar as filas nos bancos, nos elevadores , nos super mercados , ter facilidade em encontrar um local para estacionar o carro , caminhar sem medo dos assaltos , e sentir dentro da gente aquela paz interior de morar nesse local imaginário , onde deitada numa rede na varanda , pudessemos apreciar a magnitude do sol nascer ....
Quem não sonha essa beleza de paisagem !
Isso me faz lembrar agora uma frase que alguém um dia me falou e que nunca esqueci : “A vida vale a pena ser vivida porque nela cabe pedacinhos de sonhos” .
E é uma grande verdade ! Não fossem os sonhos , as esperanças , a crença em dias melhores , valeria a pena a nossa luta diária, as nossas lágrimas, as construções de novos planos, a aceitação das decepções , as despedidas , os encontros , ou ainda os momentos em que procuramos eternizar o amor. ? Valeria a pena ?
Enquanto eu aqui escrevendo, sonho com essa casinha branca com quintal , com janela , quantos outros sonhos não estão sendo alicerçados no âmago de cada coração!
O importante mesmo é não deixarmos jamais de sonhar .

E repetirmos para nós mesmos ,a frase que até hoje ainda é o alicerce dos meus dias : ‘ A vida vale a pena ser vivida porque nela cabe pedacinhos de sonhos “. : .

rosa guerrera

Nonato Luiz - Emerson Monteiro



Neste próximo dia 20 de novembro, sábado, às 20h, no Teatro Salviano Arraes, em Crato, dar-se-ão show e lançamento do cd Estudos, Peças e Arranjos, do artista cearense Nonato Luiz. Consagrado no mundo inteiro, Nonato Luiz retorna ao Cariri para reencontrar seu público em noitada musical de alto nível, como avaliaram noutros lugares os melhores críticos.
Um dos onze filhos de Pedro Luiz, agricultor, violeiro e repentista, Raimundo Nonato de Oliveira nasceu em 1953, no vilarejo de Aroeiras, município de Lavras da Mangabeira, sul do Ceará. Ainda na infância, ganharia um cavaquinho e descobriria a música através do rádio e das apresentações dos tocadores do sertão, músicos que marcariam sua vida, sanfoneiros que animavam as festas do lugar onde vivia. Aos 11 anos mudou-se com a fimília para Fortaleza. Dois anos depois, começaria estudos de violino junto ao Conservatório Alberto Nepomuceno, da Universidade Federal do Ceará, quando se desenvolveu na técnica, sendo, então, convidado pelo maestro Orlando Leite para a Orquestra Sinfônica Henrique Jorge, na qual permaneceria por dois anos. Observou, nesta fase, sua indentificação instrumental com o violão. Aprofundou conhecimentos musicais por meio dos autores clássicos, dentre eles, com destaque, Mozart e Beethoven, distinguindo sua intuição voltada também para as origens populares da nossa música, escutando Valdir Azevedo, Jacob do Bandolim, Pixinguinha, Luiz Gonzaga e outros intérpretes.
- Numa fase mais madura, interessei-me pelo trabalho de Baden Powell, no campo do violão popular, e Andrés Segóvia, na área erudita.
Também foi importante meu convívio com o violonista clássico Darcy Villaverde, amigo e parceiro carioca, com quem percorri grande parte do Brasil, em inesquecível turnê – afirma Nonato Luiz.
No ano de 1977, iniciou o Curso de Licenciatura em Música, também na Universidade Federal cearense, que interrompeu dois anos depois, ao se transferir para o Rio de Janeiro e iniciar carreira profissional como violonista. Das aulas, no entanto, obteve muitas informações sobre teoria musical, harmonia, arranjos e sobre outros instrumentos. Como autodidata, estudou intensamente a obra dos compositores brasileiros.
- Assim os adaptei para o violão e executei, como o faço até hoje, as maravilhosas composições desses mestres. Ao mesmo tempo, recebi deles a influência que dá alicerce às minhas composições – assegura o artista.
Nonato Luiz é ocupante da cadeira n.º 18 da Academia Lavrense de Letras, possui mais de 500 composições musicais e de 30 discos gravados e viaja noutros países a propagar o tesouro musical brasileiro, a demonstrar a qualidade do talento por todos respeitado.
Este trabalho que lançará no Cariri neste dia 20 de novembro, Estudos, Peças e Arranjos, contém seis estudos, dois arranjos, além de outras peças autorais de variados estilos, frevo, choro, valsas, sendo quase todas inéditas e algumas composições recentes.

HOMENAGEM A RAQUEL DE QUEIROZ

Hoje me lembrei de um encontro que tive com Raquel de Queiroz. Nessse dia, podem crer, mergulhei no seu silêncio, na paz dos idos, na ausência abnegada do seu sorriso manso. Escutei todos os apelos dessas palavras mudas que pousam por aí, nas coisas, na memória. Escutei o coração de Raquel e os sons da saudade proferidos ao vento. Ventura ! Ventania !

Raquel estava doce, presa ao banco da praça, no final de tarde. Esperava a visita dos passantes. Um dedo de prosa, um sorvete pra refrescar as agonias da tarde fortalezense...

Pois é, hoje me lembrei de um encontro que tive com Raquel de Queiroz...
Foi boa a prosa. Uma boa conversa em que as palavras nem precisavam ser ditas e/ou ouvidas, apenas sentidas...
Claude Bloc




Telha de vidro
( RAQUEL DE QUEIROZ )


Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda, na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...


A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...


Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que - coitados - tão velhos
só hoje é que conhecem a luz doa dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.


Que linda camarinha! Era tão feia!
- Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!




Geometria dos ventos


Eis que temos aqui a Poesia,
a grande Poesia.
Que não oferece signos
nem linguagem específica, não respeita
sequer os limites do idioma.
Ela flui, como um rio.
como o sangue nas artérias,
tão espontânea que nem se sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada -
feito uma flor na sua perfeição minuciosa,
um cristal que se arranca da terra
já dentro da geometria impecável
da sua lapidação.
Onde se conta uma história,
onde se vive um delírio;
onde a condição humana exacerba,
até à fronteira da loucura,
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra de Eva Braun, envolta no mistério ao
mesmo tempo
fácil e insolúvel da sua tragédia.
Sim, é o encontro com a Poesia


 ( RAQUEL DE QUEIROZ )

A mão, o fio, a renda...


Feliciano cambaleava na cozinha. Da boca saía uma gosma escura e amarga. Escoava-lhe o fel dos últimos anos de vida. Olhava fixo para a velha mesa que girava vertiginosamente e o levava junto num agônico carrossel. Uivos agudos intercalavam-se com graves grunhidos formando a partitura dos sinos anunciadores da morte. Repentinamente, do nada, apareceram sombras que ganharam forma e alma: personagens que povoaram os anos dourados da sua vida. Os olhos arregalados acompanhavam os movimentos fantasma da mulher que enterrara num verão longínquo. Seguiam também a carreira de um garotinho vestido de marinheiro – orgulho de pai coruja -- que não o vinha visitar desde quando trocara a boina de marujo por uma beca de advogado. Mas nada disto importava , estavam ali, juntos, alegres e carinhosos : como se a vida não os houvesse separado. Acabava-se, por fim, o paradoxo de tantos anos : Feliciano era feliz !
Mal a faxineira entrou no apartamento, o grito estridente ecoou nos corredores do prédio. O porteiro acudiu rápido e, protegido pelo colarinho da camisa, controlou o mal-estar que o dominava. Ela tomou o caderninho do telefone, jogado sobre a mesinha da sala, tentando encontrar o número do único herdeiro de Feliciano. Do outro lado da linha, uma voz mecânica e repetitiva informava ser impossível completar a ligação. O porteiro, trêmulo, chamou a polícia. Agiu rápido para não correr o risco de quebrar a rotina dos moradores.
Nem lágrimas, nem flores, nem velas, nem preces. Apenas o arrastado da pá rangia no chão duro e frio.
No bairro a notícia ganhou o mundo. De boca em boca, um só alarido: um homem encontrado somente após duas semanas do falecimento. Apenas isso. Ninguém se lembrou da ausência de um filho, de um amigo, de um vizinho, de um cobrador que fosse. Nenhuma reflexão se fez sobre a existência de homens ilhados, esquecidos, descartados, perdidos em labirintos traçados por aquilo que se convencionou chamar de modernidade. Nem se pensou que, se com uma mão a humanidade tece complicadas redes de fios metálicos, com a outra desfaz a delicada renda da solidariedade. Enfim, não desconfiavam de que, num futuro próximo, o grito estridente da faxineira iria ecoar dentro de suas próprias casas.
J. Flávio Vieira

Fractais- Por Everardo Norões



Pelo mergulho

das sombras

calculo o itinerário da luz.

Meço

os contornos de nossas ruínas

na matemática particular

dos desesperos.

Abro a janela

Da página do sonho:

Soletro devagar, o Aywu rapitá:

o ser do ser da palavra

(flor pronunciada

entre as estrelas.)



A noite

Desaba sobre as telhas

Na explosão de um meteoro.

Conto estilhaços,

recomponho parábolas:

um mínimo do que sou

lembra as fronteiras

do Universo.


De
RETÁBULO DE JERÔNIMO BOSCH


De Wellington de Melo

“Os vivos, quando voltam do enterro, estão mortos”

por Wellington de Melo



Só esse verso de Miró, só ele, é o suficiente para calar a boca de quem acha que a poesia dele se perde sem a performance. Mas não quero falar de enterros, nem de mortos, nem de vivos. Nem de Miró. Esse verso me levou para outro lado, para outra coisa. É como acontece com os grandes textos, essa epifania de terça-feira. Coincidência ser o Dia de Finados, coincidência. Principalmente em se tratando dessa cidade, que se imagina tão viva. Mas a verdade é outra. A minha, talvez. Ou é tudo mentira. É. E no final das contas o que importa é essa minha viagem, é passear por tudo o que me vem agora.

Estou cansado.

Cansado ao ponto de nem querer explicar por que estou cansado. Cansado ao ponto de querer parar. Tudo. Mas é Marte em Leão que me faz assim. E ser Gêmeos com ascendente em Gêmeos. Façam as contas os astrólogos aí, façam as contas. É uma roda viva, não tem como parar. Ou tem, mas é como perder um braço ou um filho. Ou os dois. Achar que ser medíocre é o normal é o que incomoda. Muito. Mas Marte em Leão é o cão. Vá por mim.

Aí eu insisto, contra tudo e todos, vou-me embora. Porque não posso parar para ouvir lamúria. Não dá. Nem para aguentar ego ferido, língua ferina etc. e tal. Não dá para parar e chorar os mortos. Nem isso, dá pra imaginar? Eu não choro meus mortos desde sempre. Isso não pode estar certo, não pode. Eu talvez sim, possa. Porque tudo pode, até dizer que coluna social é poesia. Até dizer que poesia é o que tem rima. No século vinte e um pode. Tudo. Vale até trocar o nome do escritor, porque o que importa é lançar o livro e sair a nota. Não devia ser assim. Você deve concordar.

É que quando o olho não alcança, ou você pega um binóculo ou vai mais pra frente. Olhar de longe e confundir o nome da praia não dá. Não dá para dizer que o que é novo é assim ou assado sem nem ler. Ou dizer que se escreve para aparecer, porque quando o que acontece é que você não alcança mais, a vista não alcança. Ouvi de um professor uma vez que o crítico precisa ter consciência quando não dá conta de entender certa obra. Aí o problema não é mais a obra, é o grau do binóculo, é o foco.

Mas minha inveja é de Everardo Norões. Queria ser silêncio, assim, feito ele. Mas Marte é foda, Marte é foda. Nem sei por que não chamei este texto de “Marte em Leão”. Mas não quero voltar. Não. Nada. Ser assim, sem volta, também é um quarto escuro. Eu queria o aconchego de virar uma parede apodrecida pela umidade, me dissolver ao toque, com aquelas bolhas de mofo, o reboco fofo que quebra com um cascudo. Everardo Norões tem esse dom do silêncio que tanto faz falta nesse meu tempo, esse dom que invejo. A pena é querer que ele falasse mais, mas aí não seria ele, e talvez ele não tivesse tempo de urdir poesia como urde. Dessa poesia que é macerada em dor e em olhar. Essa poesia mínima, como tudo o que interessa. Inveja, Everardo, inveja.

E ouvi de outro professor, outra vez, que a gente vive em grandes espaços, grandes eventos, grande, grande. Quando o que faz falta são os pequenos espaços, as conversas ao pé do ouvido. O mínimo. Everardo, perdão pela verborragia. Voltemos ao invisível, ao essencial. Não é intertexto. Não.

Estou cansado.

Cansado demais para voltar, cansado demais para ir em frente. É o barato do marasmo. E não é esse o fim de tudo? Quero agora deixar o limo correr, deixar o limo virar a nova bossa, o novo caviar. Porque tudo o que se faz é para virar nada no dia seguinte. Feito o jornal que boto para meu cachorro mijar. Então é só o limo. Que tudo permaneça no limo, que todos o lambam, feito aqueles peixes chupa-pedra, com aquelas bocas enormes. Lamber o limo por todo o sempre. Amém.



Protetorado Soberano da Nova Bulgária, 02 de novembro de 2010.

Pérola nos bastidores- Por Zé Nilton Figueiredo


Outro dia eu a vi passar,
numa carreira...
Não a poeta, e sim
Socorro Moreira.
Poeta não corre, nem anda assim, assim.
Mas senti o seu ser poeta
Flutuar dentro de mim.


Gilberto Gil- Grande Poeta !- Letra de música sugerida por Aloísio. Linda !


Amarra o Teu Arado a uma Estrela
(Gilberto Gil)

Se os frutos produzidos pela terra
Ainda não são
Tão doces e polpudos quanto as peras
Da tua ilusão
Amarra o teu arado a uma estrela
E os tempos darão
Safras e safras de sonhos
Quilos e quilos de amor
Noutros planetas risonhos
Outras espécies de dor

Se os campos cultivados neste mundo
São duros demais
E os solos assolados pela guerra
Não produzem a paz
Amarra o teu arado a uma estrela
E aí tu serás
O lavrador louco dos astros
O camponês solto nos céus
E quanto mais longe da terra
Tanto mais longe de Deus

"Crato é final de linha" - José Nilton Mariano Saraiva

Condição “sine qua non” de todo administrador público que se preze, a probidade administrativa (ou honestidade no tratamento da coisa pública) encontra bons e imprescindíveis aliados no comedimento, recato, bom senso, transparência, equilíbrio e, principalmente, ponderação na hora da tomada de decisões ou na simplicidade do ato de expressar-se perante os munícipes.
Em sentido contrário, sob pena de inviabilizar suas ações, obstando-lhe o acalentado caminho em busca de vôos políticos mais altos (e não venham com o papo furado de que nem todo político sonha com isso), a improbidade administrativa, possessividade, cabeça quente, falta de controle, pessimismo e afobação não devem constar do dicionário de referida autoridade, por mais pressionada que se encontre.
As reflexões acima têm a ver com um acontecimento recente (menos de dois anos), vivenciado aqui em Fortaleza, quando o prefeito do Crato, atendendo convite da Associação dos Filhos e Amigos do Crato (AFAC), compareceu ao auditório da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), a fim de falar sobre sua gestão à frente da municipalidade.
Depois de muita rasgação de seda nas preliminares, da exibição de belos slides da cidade (e o Crato tem muita coisa bonita, sim, mas que se degradam dia-a-dia), lá pras tantas, e aí já visivelmente incomodado com as interrupções da sua fala e os recorrentes questionamentos a respeito do marasmo da sua administração ou do “porque” do Crato não conseguir acompanhar o pool desenvolvimentista da cidade vizinha, Sua Excelência literalmente perdeu as estribeiras e foi incisivo, curto, grosso e contundente (ipsis litteris): “Pessoal, vocês têm de entender que o Crato é final de linha; só vai ao Crato quem tem negócios lá”.
Ou seja, não mais que de repente - e um tanto quanto surrealistamente, vocês hão de convir - a posição geográfica do Crato (em relação à capital ???) era usada e atestada como justificativa primeira e única para a sua visível estagnação, seu progressivo esvaziamento, sua parada no tempo (só não nos foi explicitado como é que a cidade vizinha, que dista apenas 12 quilômetros da nossa, tudo consegue, o tempo todo e com relativa facilidade).
Estupefatos, os componentes da platéia se entreolharam abismados e pasmos, num misto de espanto e decepção, à procura de entender aquele testemunho sublinear de capitulação, acomodação ou simples descaso com o destino da cidade.
Definitivamente, não estávamos ali para ouvir aquilo. E no entanto, a verdade é que, ao vivo, perante todos nós, aquele que deveria representar a esperança e o porvir de novos tempos se nos mostrava a impotência em forma de gente, o pessimismo em estado latente, a afobação nua e crua, a desesperança em sua mais completa acepção, a incapacidade de alinhavar palavras minimamente confortadoras (e depois dizem que somos pessimista).
E então nos vem à lembrança o testemunho de um dos integrantes da comitiva que esteve em Fortaleza quando da reunião com o reitor da UFC, onde definitivamente se bateria o martelo na definição da localização do campus Cariri da UFC: segundo ele, o prefeito do Crato estava, sim, em Fortaleza, naquele dia, mas teria se negado terminantemente a comparecer àquele importante e decisivo evento, sob a estapafúrdia justificativa de que, de véspera, a decisão já houvera sido tomada, e sua presença, portanto, não alteraria em nada o rumo das coisas, o desenrolar do processo. Que os “bois de piranha” galhardamente enfrentassem a travessia do rio, sozinhos.
E, como pimenta nos olhos dos outros é refresco, o que agora se comenta, aqui em Fortaleza, é que o Crato perdeu também a sonhada Faculdade de Odontologia e tende a ficar sem a Faculdade de Agronomia (e as instalações do Colégio Agrícola, vão servir mesmo pra quê ???).
Por qual razão ??? Onde vamos parar ??? Vamos ficar com o quê ??? Só com o "lixão" do Cariri ??? Querem matar o Pedro Esmeraldo do coração ???

TODOS DEVEM TER FORÇA PARA AGIR

Pedro Esmeraldo

Muitos não me compreendem. Pensam que quero falar como pessoa maldosa e revoltada, querendo esmorecer o meu semelhante. Nada disso acontece comigo. Tudo que faço é em benefício da cidade e ao mesmo tempo desejo acordar o cratense, alertando-o para não cair no sono e não se descuidar dos sérios problemas que se sucedem frequentemente nesta cidade.

Finalmente, os políticos dormem juntamente com o povo e não procuram solucionar os problemas.

Na crônica anterior, intitulada “uma cidade esquecida”, recebi uma saraivada de protestos em meio de tempestade de palavras ”de baixo relevo” com vocabulário que passo a incriminar como sendo pessoa de pouca altura e que não sabe utilizar as palavras mais dóceis e amigáveis.

Recrimino com o som articulado e de gestos amáveis o rebuliço provocado por pessoa do sexo feminino ou masculino e que tem o nome de Janaína. Veio me insultar com esse vocabulário baixo e indigno, acometido por mulher de péssimo comportamento moral. Considero-a pessoa de caráter fora do normal no meio da sociedade.

Aconselho a essa senhora ou senhorita que da próxima vez venha com melhores modos e pratique melhor o uso da palavra. Aviso para ela, “a Janaína”, que não gosto de maltratar ninguém.

Quando defendo a minha terra, é porque fico com ansiedade e espero que o povo reaja às ocorrências funestas que ora acontecem nesta praça. O meu maior desejo é livrar o Crato desse esfacelamento provocado por essa massa que invade a cidade constantemente.

De há muito tempo, desde quando o Dr. Figueiredo Filho era vivo, me empurrava para o lado do jornalismo, dizendo que queria ver a juventude defender a cidade. Daí então, comecei a escrever com um português frágil e sem ânimo, mas fui à frente com muita garra.

Certo tempo depois, por causa de uma desavença política, deixei de lado a escrita. Com o ocorrer do tempo, observando o esfacelamento do Crato, resolvi voltar a lidar com a escrita.

Infelizmente, não sou compreendido e não possuo valor algum em minha terra, já que permaneço no ativismo e desligado da vida cotidiana.

Isto para mim é um gesto amargo investido por pessoas maldosas, inimigas do Crato.
Peço a Janaína ou Janaino, que seja mulher ou homem guerreiro, não venha ofender a ninguém, saiba respeitar o seu semelhante e na próxima vez diga o nome completo.

Lembrando as incongruências do passado, praticados por pessoas pertencentes à época trogloditiana, o Crato estaria tão à frente que ninguém seria capaz de alcançar. Olhem bem senhores; o Crato perdeu a Faculdade Leão Sampaio, o Campus Universitário da UFC e por último a Faculdade de Odontologia, tudo culpa da força negativa da nação troglodita.

E o pior é que esse homem pré-histórico foi empurrado pelo próprio povo e que hoje paga as inconseqüências provocativas provindas do atraso de políticos inconvenientes pertencentes à era passada.

Agora, com muita dificuldade, os políticos têm que readquirir um pouquinho do novo patrimônio, quer econômico, quer moral, empuxado pela força de vontade de todos os cratenses “se houver”, o Crato crescerá com força de vontade, a fim de poder elevar-se com o desejo de igualar-se a outros municípios gigantes, seguindo a trilha do caminho real, digno de cidade civilizada, atestando o populismo do desenvolvimento.
Para conseguir isso, é necessário que busque mais indústrias, façam impulsionar com modernidade o comércio, procurem ter uma educação digna e avançada e por fim cuidar bem da saúde de todo pessoal que é morador da cidade.

Crato, 12.11.2010

Pequenas.Liduina Belchior.

Sorrir é amar
dançar é amar
pular é amar
sussurrar é amar
vibrar é amar
brilhar é amar
acordar é amar
escrever é amar
viver é amar.
Quer mais?
Então, AME!

As despedidas de Socorro - José do Vale Pinheiro Feitosa

Ah! Estes termos. Despedir, por exemplo. Tanto pode ser um ato de quem toma a iniciativa como é o mesmo de quem é mandado embora. Para os crentes num Deus que é a causa de todas as coisas, que imaginam um sopro sobrenatural que sobrevive ao ser, estes dois conceitos se resumem num só: Deus, aquele que nos despede de tudo e a todo o momento.

Se em português Despedidas tem uma solenidade de separação, solidão, saudade, não menos é o termo um ato de movimento. Um afastar-se de um núcleo de ação para uma promessa de outra contingência. Na verdade a “despedida” é uma reação a um status determinado, não importa que valor tenha para quem nele se encontrava. Embora tenha a qualidade comparativa do antes e do depois, não se pode negar um movimento que cortou o status único e dito inescapável em um antes que não mais totaliza o depois.

Quando imagino Liborinho, um antigo comerciante do Crato, que vendia sua mercadoria na própria casa, penso na despedida. Daquele sertão imenso dos Inhamuns sem qualquer seiva para promover-lhe o futuro que sonhava. Ele queria muito mais que o sertão lhe poderia. E de subterfúgio, numa madrugada de lua cheia, para brilhar as trilhas de fuga, sem despedir-se, pedir a bênção aos pais, solitariamente desapareceu do terreno patriarcal e enfrentou as “léguas tiranas”.

Como imagino Helena, cabocla carregada de crias e seu marido subindo os pequenos degraus da Viação Varzealegrense. Tanta gente por despedida. Tantas promessas de mal traçadas linhas. Os mais radicais se apartando até o “Dia de Juízo”. Pois é, o nosso nordeste é terra da esperança, não existe a despedida definitiva, um dia todos nos encontraremos. Mesmo que na terrível sentença de um Deus, já naquela altura da narrativa bíblica, não mais com a expansão de seu dom criativo, mas como juiz de suas criaturas. Um Deus que pareceu ter se tornado um latifundiário do patrimônio humano.

E por que estou falando isso tudo mesmo? É que a Socorro deu a senha de despedida para nos juntar. E não é que juntou? Também logo a nossa querida, frágil, constante, apaixonada, companheira destas jornadas virtuosas do Cariricaturas.

No início era o Verbo Por:Manoel Severo

"No início o Universo era pleno de Harmonia, Saúde e Prosperidade”, com certeza nem todos conseguem entender o profundo significado de tão simples e bela revelação. Na verdade, nem os mais avançados recursos tecnológicos e científicos, fórmulas, telescópios e mentes brilhantes, apinhadas nas mais renomadas estações de pesquisas científicas e espaciais conseguem nos mostrar em sua essência o mistério que envolve os mais maravilhosos sete dias da história, aliás, seis! No sétimo Ele descansou!

Como decifrar a ciência magnânima que mantém esta bola de Terra viva? Viva e tão cheia de vida? Como explicar o maravilhoso mecanismo da mais incrível dança de roda do universo, onde brincam de mãos dadas, espalhafatosamente, o grande Sol, a romântica Lua e a incrível Terra, cada um desempenhando sua coreografia, como que reverenciando seu Criador? Ah... Belo universo, como és cheio de mistério!

Qual o botão ou tecla que precisamos apertar para que tudo comece a funcionar? Será que o astro rei hoje vai se atrasar? Será que o ar que respiramos resolverá não aparecer? Dormimos e acordamos sem nos preocupar com esses detalhes... Detalhes tão pequenos de nós dois... Tão incrivelmente simples e maravilhosos oriundos deste mecanismo criador, a Ciência Divina. “No início era o Verbo...” E depois criamos tantos verbos para tentar encontrar a harmonia perdida ao longo de tantos e tantos bilhões de anos... Bilhões de anos? Sim, aqueles seis ou sete misteriosos dias se tornaram milhões, bilhões, e daí a bola de Terra ganhou sementes, plantas, grandes árvores, oceanos, rios, montanhas, insetos minúsculos e maiúsculos, feras selvagens e mansas, e aí a bola de Terra ganhou o homem, e a bola de Terra ganhou a mulher, e todos ganhamos...


Só mais uma coisa... Ele não descansa, Ele nunca descansou, nem no sétimo dia, nem nunca!

Por: Manoel Severo


Jane Duboc


Jane Duboc Vaquer (Belém do Pará, 16 de novembro de 1950) é uma cantora e compositora brasileira.


Languidez
Jane Duboc
Composição: Irinéia maria e Sueli Corrêa

Bem queria saber de nada
Dos bichos, das águas,
Das matas, do ar

Só queria ficar calada
E te namorar, namorar

Bem queria saber do mundo
Das guerras, dos crimes, de tudo que há

Só queria mergulhar no fundo
Do teu olhar, teu olhar

E descansar de mansinho em teu corpo,
Sorrir e espreguiçar
E ronronar bem mansinho e gostoso,
Feito uma gata angorá, angorá

Só queria falar besteira
Cantar, sorrir, dormir e sonhar

Só queria deitar na esteira
E ta amar, me entregar, te adorar

E descansar de mansinho em teu corpo,
sorrir e me espriguiçar
e ronronar bem mansinho e gostoso
feito uma gata angorá


Heitor Villa-Lobos


Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 5 de março de 1887 – Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1959) foi um maestro e compositor brasileiro.

Destaca-se por ter sido o principal responsável pela descoberta de uma linguagem peculiarmente brasileira em música, sendo considerado o maior expoente da música do modernismo no Brasil, compondo obras que enaltecem o espírito nacionalista onde incorpora elementos das canções folclóricas, populares e indígenas

wikipédia

Raquel de Queiroz



Rachel de Queiroz (Fortaleza, 17 de novembro de 1910 — Rio de Janeiro, 4 de novembro de 2003) foi uma tradutora, romancista, escritora, jornalista e importante dramaturga brasileira.

Autora de destaque na ficção social nordestina. Foi primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Em 1993, foi a primeira mulher galardoada com o Prêmio Camões, equivalente ao Nobel, na língua portuguesa. É considerada por muitos como a maior escritora brasileira.

São seis horas da manhã ...

"Um trem para as estrelas..." - por Socorro Moreira



Já não tenho pernas pra alcançar o trem, 
mas tenho pensamentos na velocidade incerta,
para  alcançar meus momentos.

Desejo apenas uma lambida ,
no sorvete de rapadura...
Também  quero todas as músicas,
e o contraponto do silêncio, 
no prato da balança.

Quero viajar nas estrelas,
imaginando uma vida impossível,
e aceitando que, no aqui, 
as possibilidades são inimagináveis...
Uma delas é não ter idade.

Ser o que o coração computou
Transformando-me
no que sou
Transportando-me
do que sou.

Pérolas nos bastidores - Por Claude Bloc


Perfil de uma amiga

Você é ...
mais que palavras
mais que um sorriso
atônito, perdido.


Você é
lágrima,sorriso,
olhar distante...
é muito mais
que esses fragmentos
de um tempo que já passou...
Você é passado e presente
Assim, assim mesmo
Dessa forma que é...

Você é presença
Inteira, única...
frágil quando sonha
forte quando quer mais da vida.

Você é dar-se
sem nada ter.
Você é o livro
por ler,
Metáfora-mulher
Enigma
Sintagma
Sinal.

Você é
mais que palavras,
mais que essa voz
que se perde no espaço
e diz quase nada
do muito que é.

Claude Bloc