Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

As despedidas de Socorro - José do Vale Pinheiro Feitosa

Ah! Estes termos. Despedir, por exemplo. Tanto pode ser um ato de quem toma a iniciativa como é o mesmo de quem é mandado embora. Para os crentes num Deus que é a causa de todas as coisas, que imaginam um sopro sobrenatural que sobrevive ao ser, estes dois conceitos se resumem num só: Deus, aquele que nos despede de tudo e a todo o momento.

Se em português Despedidas tem uma solenidade de separação, solidão, saudade, não menos é o termo um ato de movimento. Um afastar-se de um núcleo de ação para uma promessa de outra contingência. Na verdade a “despedida” é uma reação a um status determinado, não importa que valor tenha para quem nele se encontrava. Embora tenha a qualidade comparativa do antes e do depois, não se pode negar um movimento que cortou o status único e dito inescapável em um antes que não mais totaliza o depois.

Quando imagino Liborinho, um antigo comerciante do Crato, que vendia sua mercadoria na própria casa, penso na despedida. Daquele sertão imenso dos Inhamuns sem qualquer seiva para promover-lhe o futuro que sonhava. Ele queria muito mais que o sertão lhe poderia. E de subterfúgio, numa madrugada de lua cheia, para brilhar as trilhas de fuga, sem despedir-se, pedir a bênção aos pais, solitariamente desapareceu do terreno patriarcal e enfrentou as “léguas tiranas”.

Como imagino Helena, cabocla carregada de crias e seu marido subindo os pequenos degraus da Viação Varzealegrense. Tanta gente por despedida. Tantas promessas de mal traçadas linhas. Os mais radicais se apartando até o “Dia de Juízo”. Pois é, o nosso nordeste é terra da esperança, não existe a despedida definitiva, um dia todos nos encontraremos. Mesmo que na terrível sentença de um Deus, já naquela altura da narrativa bíblica, não mais com a expansão de seu dom criativo, mas como juiz de suas criaturas. Um Deus que pareceu ter se tornado um latifundiário do patrimônio humano.

E por que estou falando isso tudo mesmo? É que a Socorro deu a senha de despedida para nos juntar. E não é que juntou? Também logo a nossa querida, frágil, constante, apaixonada, companheira destas jornadas virtuosas do Cariricaturas.

3 comentários:

Liduina Belchior disse...

Zé do Vale,

Amei seu texto, essa "despedida"
é para nos juntarmos mais, concordo.
"Louvado Seja Deus, Menino"!

Abraços: Liduina.

socorro moreira disse...

Estávamos todos viajando...
O trem pós-guerra voltou reunindo os sobreviventes.Uma guerra besta...Ninguém morreu.
O Cariricaturas chora a sua alegria.
Paixão e fragilidade combina com humanidade, e segue o caminho do amor itinerante, mas agregador.
Obrigada a Lidu e a Do Vale , instrumentos da solidariedade.

Abraços meus.

Edilma disse...

Do Vale,

Quanto tempo ...
Eu particularmente não gosto de despedidas. Dona Vida já me decretou algumas que estou na saudade até hoje...um irmão, um filho, uma amiga, um tio, um avô, uma sogra e muitas pessoas ligadas a mim, prematuramente...
Gosto de viver e de sorrir !
Quem não me conhece intimamente não pode imaginar os meus caminhos.
Prefiro mostrar a alegria e a solidariedade sem esperar retorno, somente por me fazer bem...
Nunca estamos preparados para uma eterna despedida...
Vamos nos dar as mãos e brincar uma linda ciranda como nos tempos de criança.
Carinhas felizes estarão sorrindo por aqui com certeza.
Tenha um bom dia amigo, Do Vale !