Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Partilha - Por Carlos Eduardo Esmeraldo


Vivemos num mundo capitalista, onde o principal valor é o ter. As pessoas geralmente são valorizadas pelo que têm e não pelo que realmente são. Há séculos que é assim! Sem que se perceba, os filhos vão sendo formados impregnados do desejo de acumular riquezas. E a afeição filial, a preocupação com os pais já idosos chegam a ser colocadas em segundo plano.
Há cerca de quinze anos, eu li num dos jornais de Fortaleza uma história ocorrida no final do século dezenove, que não me recordo quem foi o autor, mas que ficou guardada em minha memória. Reproduzo-a aqui ao meu modo:

Numa tarde quente de verão do final do século XIX, Mundico Silveira Barbosa, sentado na porteira do curral, observava meia dúzia de vaquinhas magras. Sentia na alma um grande vazio pelo desprezo a que fora submetido por seus doze filhos, após a partilha de todos os seus bens.

No passado, Mundico fora um dos maiores donos de terra daquela ribeira e um grande criador de gado. Quando completou setenta anos, sentindo-se cansado e provavelmente próximo do fim, não querendo deixar motivo de intrigas para os filhos, resolveu antecipar a herança que lhes deixaria. Ficou apenas com pouco mais de cem tarefas de terra e umas cinqüenta reses, que aos poucos foram minguando. Agora ele e Madalena, sua velha, passavam por necessidades nunca antes experimentadas.

A produção da terra era insuficiente para alimentação do casal idoso e os bois que escapavam da falta de pastagem, foram aos poucos sendo vendidos para assegurar a manutenção da fazenda. Mas o que mais doía no coração de Mundico era a falta dos filhos. Há mais de três anos que nenhum deles fazia sequer uma visita aos pais.

Estava Mundico imerso nesses pensamentos, quando ouviu ruídos do trotear de um cavalo. Era seu vizinho, compadre e grande amigo, o coronel Rondon Brandão. Sabedor da ingratidão dos filhos do compadre Mundico e das dificuldades pela qual ele passava, resolveu encontrá-lo, para comunicar ao amigo um modo de fazer com que os filhos passassem a visitar os pais.

Ao apear-se do cavalo, o coronel Brandão foi direto ao assunto, fazendo a seguinte proposta:
– O compadre vai oferecer um almoço para os seus filhos no próximo domingo. Pois sendo pra comer todo mundo vem! É o seguinte: vou lhe dar um boi e mandar meus empregados para matar o danado e preparar o almoço. Depois vou lhe emprestar um saco de moedas, contendo duzentas libras de ouro. O compadre ainda tem um cofre?
– Sim. - Respondeu Mundico.
– No dia do almoço você vai mandar colocar o cofre na sala de jantar, num lugar que fique bem à vista de todos. Depois mande quebrar um bocado de garrafas em pedacinhos do tamanho de moedas. Com esses cacos de vidro, o compadre vai encher saquinhos iguais aos das moedas. Bote tudo dentro do cofre, de modo que ele fique bem abarrotado, com o saco das moedas de duzentas libras bem na frente. Na hora do almoço vai chegar um portador meu com uma carta lhe pedindo duzentas libras de ouro emprestado. Leia a carta em voz alta. Eu lhe garanto que as visitas dos seus filhos não irão faltar.

Conforme o combinado, os filhos, genros, noras e netos compareceram todos ao almoço. No momento em que estavam sentados à mesa do banquete, chegou o portador do coronel Brandão com a carta que foi lida em voz alta. Os filhos ficaram atentos, observavam o cofre cheio e se entreolhavam num misto de curiosidade e satisfação. A tudo assistiam com redobrada atenção. Ao retirar o saquinho contendo as duzentas libras de ouro, Mundico disse ao portador:
– Avise ao meu grande amigo, compadre e irmão, coronel Brandão, que não se preocupe com o pagamento. Ele paga quando puder e quiser.

Terminado o almoço, os filhos por lá ficaram a tarde toda, somente se retirando ao por do sol.

No dia seguinte, logo pela manhã, três filhos chegaram para uma visita. Pois graças ao coronel Rondon Brandão, Mundico Silveira pode receber outras tantas visitas dos seus filhos, genros, noras e netos. Até o final de seus dias.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Nota: Os nomes dos personagens são fictícios.

Versos Ralos

Cortei as unhas.
Mas não tirei a barba.

Não tenho anéis.
Nem cavanhaque.

Meus dentes amarelos.
Meu hálito estonteante.

Ocupo-me basicamente
com a renovação do meu harém:

lagartixas se foram,
agora flerto um besouro.

Sou vândalo, pois sim.
Encostado ao canteiro
meu pégaso come capim.

Já mudo de pele.
Deixo o verniz dos sonhos
sobre os ombros do roedor.

Lá vai o esquilo
com minha muda
em volta do pescoço.

Os sapos uivam,
os lobos coaxam:

tarde da noite
na floresta
quem sabe
do poeta?

Cortei as unhas.
Mas não passei esmalte.

O cheiro lembra
meu primeiro ópio.

E eu sequer sabia
que a mentira reina
e o mundo não é distante.

25 de janeiro - Dia do Carteiro

Show de Maria Bethania e Omara Portuondo


Maria Bethania interpreta "Mensagem" ( Cícero Nunes e Aldo Cabral - 1946 ), e "Todas as Cartas de Amor..." ( Fernando Pessoa ), no Teatro Castro Alves, em Salvador, no dia 26/04/2008.




Pensamento Prá Hoje,25/01/10-Gris-Ália Terra.

"O Céu derrama...
A terra submissa permite
que a exuberância do verde
vista o sapecado pequizeiro,
recomponha os ipês,
cubra todo o chão...
Bêbada e escorregadia,
ela mantém a claridade
à espera do sol."

LUA EM GÊMEOS - SARAUSANDO EM BLOG




UM SARAU EM BLOG? UM BLOG COM SARAU?
SIM E NÃO
É UM BLOG SARAUSANDO
DIVERSAS LINGUAGENS
PRENHE DE DEMANDA DA LUA GEMINIANA
MULTIFACETADA
EVASIVA
DISPERSA
DIVERSA EM SEUS TONS E CORES
QUERERES E HUMORES
É assim que quero estar no Cariricaturas, com a minha lua geminiana. Criei até uma marca. Quando nasci a Lua estava no signo de Gêmeos, por isso compactuo tão bem com o poema de Cecília Meireles, “Lua Adversa” que tem uns versos assim: “Tenho fases, como a lua/ fases de andar escondida,/fases de vir para a rua.../ Tenho fases de ser tua,/ outras tantas de ser sozinha.”
Pois é, tem dia que sou Stela Estrelada, noutros sou Bisaflor; tem dias que choro e noutros canto, encanto e rio. Semeio estrelas. Quase sempre sou Stela. Por hoje é só, pois minha lua geminiana já tá me puxando pra outra atividade.

Muito Claro

É claro, é muito claro
Que as hastes das rosas envergam
Quando os ventos sibilam nos prados
Que os olhos reluzem como o orvalho
Em prisma, quando olhos outros
Farejam e fitam o mesmo olhar.
É claro que o tato, que a pele-veludo
Sente o toque, o lábio pousado no lábio
Como conchas que se fecham
Para nascer à pérola do toque das línguas
No côncavo e o convexo dos beijos.
Tão claro é que os cheiros dão pistas
Para os faros atentos, que cercam
As peles, os cabelos ao vento,
Ao perfume que lateja no ar...
É claro que ainda te vejo,
No aroma do café que eu bebo,
No vôo do pássaro,
E em lágrimas que por vezes
Insistem em brotar.

Imagem: Claudia Morais

FESTA DA BAIXA RASA, acontece hoje!

Informativo!

Arco
- Claude Bloc -

Estou de volta. Em torno de meu espaço pequenos céus, pequenos horizontes. Na verdade não assim tão pequenos. É que são peculiares, meus apenas. Poucos, na verdade, mas para mim há neles relativa grandeza.

Pois é, estou de volta. Eu e o tempo: de hoje e de ontem. Lembranças, pensamentos. Encontros e reencontros permeados de desencontros. Situações em que o silêncio reflete sutilmente os tons brancos de uma solidão latente. Silêncios embebidos de sentimento. Acolhedores, sim. Frios, nunca.

Revejo histórias repetidas, de pertencer e deixar de pertencer, de estar e deixar de estar, de ser e deixar de ser. Um desfilar contínuo de pendências e dependências. Questões existenciais por vezes, tão pueris quanto a vida. Palavras poucas, que se vão libertando, como passos dados na areia que o mar vai varrendo, como um passado proscrito de quem não olha para trás. Tempo em que o presente renova em significado, o já foi eventualmente dito, em outros tempos, tornando tudo novo. Brilho e vida, por se ser e pertencer.

Estou de volta e me ponho a observar esses arcos quase perfeitos que me resguardaram do sol, na sua frescura e segurança e que, de forma indelével, me sorriem, trazendo o som em compassos expirados, sufocando a memória de um tempo em que a vida era leve e que, dessa janela, me trazia um par de olhos perplexos e felizes revelando a interioridade do silêncio.

Estou de volta. Eu e o repetido prazer de encontrar em janeiro, aquele céu noturno, imenso, brilhante, de estrelas com nome de familiares, gravados em minhas lembranças. Vidas recriadas por conversas de quem tem memória viva e que, de certa forma, permitiu que um sorriso pudesse encontrar continuidade na sua forma de sorrir.

Estou de volta e dessa janela, de curta vista, voaram alguns dos meus sonhos e desejos sem retorno. Breves como palavras, que me voltaram intactas, como se viessem ao encontro de um par de olhos juvenis, ali plantados, expectantes. Um olhar celeste mirando através de uma janela, como uma estrela nova, palpitante. Uma estrela nova, um novo momento de vida, nessa louca correria. Um enrodilhado quase perfeito, uma quase certeza de que apenas uma ínfima porção da nossa vivência faz sentido, por termos consciência da sua causa e do seu efeito.

Estou de volta e tenho abrigado, delicadamente, no interior desse novelo que me enche o peito o tempo em que almejava guardar estrelas nos meus sonhos, estrelas que se refletiam no meu destino.

Estou de volta e vou ao encontro dos meus passos de menina deixados na areia, nas margens dos rios, na beira do mar, como pinceladas numa tela. Quem sabe lá encontrei os teus...!

Claude Bloc