Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Arco
- Claude Bloc -

Estou de volta. Em torno de meu espaço pequenos céus, pequenos horizontes. Na verdade não assim tão pequenos. É que são peculiares, meus apenas. Poucos, na verdade, mas para mim há neles relativa grandeza.

Pois é, estou de volta. Eu e o tempo: de hoje e de ontem. Lembranças, pensamentos. Encontros e reencontros permeados de desencontros. Situações em que o silêncio reflete sutilmente os tons brancos de uma solidão latente. Silêncios embebidos de sentimento. Acolhedores, sim. Frios, nunca.

Revejo histórias repetidas, de pertencer e deixar de pertencer, de estar e deixar de estar, de ser e deixar de ser. Um desfilar contínuo de pendências e dependências. Questões existenciais por vezes, tão pueris quanto a vida. Palavras poucas, que se vão libertando, como passos dados na areia que o mar vai varrendo, como um passado proscrito de quem não olha para trás. Tempo em que o presente renova em significado, o já foi eventualmente dito, em outros tempos, tornando tudo novo. Brilho e vida, por se ser e pertencer.

Estou de volta e me ponho a observar esses arcos quase perfeitos que me resguardaram do sol, na sua frescura e segurança e que, de forma indelével, me sorriem, trazendo o som em compassos expirados, sufocando a memória de um tempo em que a vida era leve e que, dessa janela, me trazia um par de olhos perplexos e felizes revelando a interioridade do silêncio.

Estou de volta. Eu e o repetido prazer de encontrar em janeiro, aquele céu noturno, imenso, brilhante, de estrelas com nome de familiares, gravados em minhas lembranças. Vidas recriadas por conversas de quem tem memória viva e que, de certa forma, permitiu que um sorriso pudesse encontrar continuidade na sua forma de sorrir.

Estou de volta e dessa janela, de curta vista, voaram alguns dos meus sonhos e desejos sem retorno. Breves como palavras, que me voltaram intactas, como se viessem ao encontro de um par de olhos juvenis, ali plantados, expectantes. Um olhar celeste mirando através de uma janela, como uma estrela nova, palpitante. Uma estrela nova, um novo momento de vida, nessa louca correria. Um enrodilhado quase perfeito, uma quase certeza de que apenas uma ínfima porção da nossa vivência faz sentido, por termos consciência da sua causa e do seu efeito.

Estou de volta e tenho abrigado, delicadamente, no interior desse novelo que me enche o peito o tempo em que almejava guardar estrelas nos meus sonhos, estrelas que se refletiam no meu destino.

Estou de volta e vou ao encontro dos meus passos de menina deixados na areia, nas margens dos rios, na beira do mar, como pinceladas numa tela. Quem sabe lá encontrei os teus...!

Claude Bloc

Um comentário:

Edilma disse...

Claude,
Ainda bem que temos você como nossa estrela brilhante a iluminar nossas dôces lembranças de um passado feliz, em que no nosso mundo não existia esta louca correria de agora. E que viajamos com você por esta janela numa linda visão aqui no Cariricaturas.
Bom dia !