Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 29 de maio de 2010

O CHÃO DA GALINHA OU O CÉU DA ÁGUIA: CADA UM DECIDE O QUE SABER-FAZER-TRANSCENDER EM SI MESMO!


IMAGEM RECEBIDA PELA INTERNET - A GALÁXIA DO CHAPÉU, OU A M 104. FICA À DISTÂNCIA DE UNS 28 MILHÔES DE ANOS-LUZ

Creio que no mundo em que vivemos onde as exigências da vida material nos obriga fixarmos nossas atenções e focarmos nossas energias na construção de um mundo cada vez mais individualista e materialista, nos sobra muito pouco tempo para refletirmos sobre o caminho que estamos realizando de fato. Faz-se necessário, portanto, dedicarmos algum tempo, ou seja, energia e atenção concentrada para outros caminhos alternativos possíveis no sentido de provocarmos uma mudança radical (um novo paradigma) e profunda em nossas convicções e produções de valores humanos.

Já faz alguns anos que o teólogo Leonardo Boff lançou um livro A ÁGUIA E A GALINHA onde procurou mostrar a vida limitada e condicionada que a maioria de nós acredita e segue sem perceber as possibilidades de um poder latente e transcendente no seu interior. Segundo esse autor, podemos viver ciscando e jogando terra para trás (que acaba atingindo os olhos do outro irmão – resultado: confusão!) - limitados e presos ao chão da sobrevivência-razão (o modo de ser GALINHA – segundo Boff) ou se libertar desse chão voando na imensidão da existência em direção ao sol da vida-amor pleno e infinito (o modo de ser ÁGUIA - idem).

A decisão de escolha é de cada um. Ninguém muda e conquista nada se sua maneira de ver o mundo e a si mesmo também não sofrerem uma transformação ontológica radical POSITIVA. Mas, para que isso ocorra de fato, o primeiro passo terá que ser dado saindo da inércia e do comodismo psíquico de acreditar que não existe mais nada a se descobrir ou revelar em si mesmo.

Faz-se necessário, romper com a gravidade e o condicionamento energético racional-instintivo que nos força a vivermos como GALINHAS ciscando e pulando de um lado para o outro na luta pela necessidade da sobrevivência de contínuas conquistas unilaterais materiais efêmeras. A transformação de identidade positiva transcendental (de GALINHA para ÁGUIA) não acontece por acaso, mas porque decidimos com vontade realizar a façanha mais espetacular de todos os tempos que é a autosuperação, ou seja, a superação da identidade de si mesmo: quem sou eu de fato? Águia ou galinha?

Ao animal foi dada a condição de viver preso ao seu instinto (no chão), mas ao homem foi “dado” a oportunidade de usar o seu poder interior para transcender (no “céu”) tanto a sua instintividade (animal) quanto a sua racionalidade (humana). Esse poder é um saber e uma perene filosofia e ciência holística. E sem esse saber maior o homem vive preso a sua condição que é a produção ou replicação de conhecimento inferior, até que movido pelo impulso da força forte interior do Espírito ele se supere para poder-saber-viver uma nova e inédita vida de realização cósmica superior universal. Em outras palavras, não existe conquista maior sem o mérito da persistência na disciplina interior de saber-fazer-transcender (ou saber-agir de forma ascética – práxis) que os hindus denominam de SADHANA. Jesus Cristo foi um mestre dessa ciência maior espiritual. Sai Baba atualmente, na índia, segue essa mesma corrente de sabedoria interior, universal e perene.

Bernardo Melgaço da Silva
Prof. e Pesquisador do Núcleo de Estudos Sobre Ciência, Espiritualidade e Filosofia – NECEF/URCA
"O Zé do Vale tem uma propriedade fantástica que o diferencia dos demais pugilistas do mercado. Ele consegue dar um soco nas pessoas, com uma bala de canhão revestida com uma camada de espuma, para que não deixe marcas no corpo do adversário morto." – Dihelson brincando com meu estilo nos blogs do Cariri


“Todos os homens são mortais” um problema existencial sem solução no romance de Simone Beauvoir. A imortalidade de apenas um quando todos os outros morrem. Sem que o imortal pudesse completar o ciclo de cada geração. Sem os seres que amam: vindo e indo, nenhuma possibilidade de viver como eles, por eles e igual a eles. A imortalidade é o supremo tédio de uma estrela morta, de um buraco negro da astrofísica.

Mesmo que espuma usasse nas balas de canhões, a solidão a que os mortos me levariam, seria um horror maior do que nunca ter vivido. Nascido bem pertinho do leito do Rio Batateira, lambuzado o bucho de garapa e ter sofrido todos os óleos de rícino com os quais as lombrigas retornavam ao solo de onde seus ovos me contaminaram. Não poderia ter as cicatrizes das pedras de baladeira que alguns, só por puro desafio, me criaram.

Jamais ter visto os olhares que derretiam a cratera do meu vulcão interior. Olhares tão intensos e dissimulados, na Praça Siqueira Campos. Elas se recolhiam à proteção de seus pais e eu secava todo o magma da força do amor, sem interrupção de dias e noites, frio e calor, chuvas e guarda-chuvas.

Oh! Meus queridos leitores destas plagas dos Cariris, não quero a morte, não quero a solidão, quero a vida até daquele de mais duvidoso comportamento. Sei que mesmo que assim imagine, resta para ele a dúvida sobre a qualidade da minha classificação, que bem pode estar errada. Eu não sou nada sem que estejam brotando e pulsando cada minuto da vida como desejam a vida para si.

Se vivesse para tocar fogo no rastilho do canhão, iria desejar que a fundição nunca houvesse existido ou que em breve se findasse. Gostaria que nunca tivessem misturado o salitre, com o enxofre e o carvão. Não se pode querer vida sem derrubar os obstáculos a ela.

Quero a vida de todos. E entre todos gostaria de me encontrar. Até quando vida não houver, apenas memória dos filhos e netos. Pois se a quero para mim, não posso ficar calado, paralisar as vibrações de minhas cordas vocais, dizer, mesmo que flechas pareçam, aquilo que vejo e revelo. Apenas revelo por desvelo.
A roda da memória
- Claude Bloc -


Imaginei-me de frente para a porta de saída de minha casa, na Irineu Pinheiro. Fechei os olhos. Da porta onde eu me encontrava naquele momento, já podia ouvir os gritos animados das outras crianças lá fora. Elas pareciam vibrantes.

Aos poucos fui chegando perto até juntar-me ao grupo. Minha chegada deixou toda aquela meninada empolgada. Afinal, eu seria mais uma para alegrar a brincadeira. Todos fizemos um círculo e apontamos os dedos para o centro. Nas mãos só tinha zero ou um. Estávamos decidindo quem ia contar para que os outros pudessem se esconder. A brincadeira pegava fogo. Era gente escondida pra todo lado. Enjoados de brincar de esconde-esconde, optávamos por uma brincadeira mais animada. Pega-pega, lembra? Era uma gritaria só. Meninos correndo atrás de outros tentando tocá-los para fazer “o pega” ser o outro. E assim, continuavam as infinitas brincadeiras. A meninada parecia nunca cansar. Bastava enjoar de alguma coisa, com um tempinho a brincadeira mudava.

Engraçado relembrar essas coisinhas, depois de tanto tempo, sobretudo de como a nossa turminha se envolvia nessas brincadeiras que enchiam a rua e as nossas casas de euforia e alegria. As principais brincadeiras eram: peteca, macaca (amarelinha), mata (queima), pular corda, pique, passa-anel, arraia (pipa), triângulo, bila ou búria, elástico, pião, bilro, boneca, bola, carrinhos de rolimã... tantas! Ou simplesmente subir nas árvores frutíferas para “roubar” a fruta no pé.
Quem não se lembra, de uma forma ou de outra, quando a turma toda se encontrava depois da escola para brincar na rua ou numa praça perto de casa? Aos poucos, porém, essas brincadeiras deliciosas foram sendo esquecidas pela meninada. Com a modificação da sociedade, esses espaços em que nos deleitávamos desapareceram e as crianças passaram a ficar, mais com os brinquedos do que com os amigos. Atualmente muitos de nós vivemos em prédios e nossos filhos ou netos não têm a mesma infância que tivemos. Mesmo tentando amenizar um pouco, sabemos que brincar na calçada da nossa rua, nem pensar - infelizmente não dá.

Sei que os tempos são outros. O computador agora também faz parte dessa brincadeira, assim como a televisão, o mp3, 4, etc. É como se o tempo presente tivesse se esquecido da infância. Hoje menino não corre, não sobe em árvore, não respira ar puro. As escolas são quase mini-presídios, com exíguas salas de aula, recreios limitadíssimos, sem árvores nem espaço para brincar. Mas não podemos mudar o tempo nem as coisas. Eu, por exemplo, ainda sou capaz de me lembrar dos sons das vozes da minha turma na hora das nossas brincadeiras. E você? Do que se lembra?

Convido a todos a entrar na roda da memória: que brincadeiras animaram sua infância?


Claude Bloc

Síntese

Vejo um hematoma invisível
no meio da minha testa.

Sinal sagrado
da santa loucura.

Houve tempos mais estranhos:
beija-flor pela casa,
paredes rabiscadas
por Picasso.

O majestoso inferno da poesia
é um tesouro de pouco valor.

O mundo vive sem seu brilho.
Os entes sobrenaturais indiferentes.

Os versos importantes
apenas para quem os escreve.

A baba escorre da boca entreaberta.
A alma dá pulinhos um adolescente.

Às vezes um espírito penado
derrama uma lágrima
sente-se enamorado.

Mas é raro.

Normalmente quem lê
deixa claro a perda de tempo.

Lê o poema confessando a si mesmo:
"não sou tolo, não sou tolo, não sou tolo..."

Ou quando se arrebata
é tão rápido o êxtase
quanto o gozo
de um coelho.

Medo.

Pavor de ser tragado
pelo sombrio pântano.

De fato causa pânico
um matagal do qual
escapa juntamente
tigre,
serpente,
borboletas.

Se eu não escrevesse versos
certamente seria um covarde.

Escrevo, e apesar da escrita,
sou um covarde.

Imagino aquele que se sustenta
sonhando com suas estrofes
dentro da gaveta.

A temer o abismo.
Tentando de todas as formas
regular o juízo um tanto capenga.

Este hematoma no meio da testa
lembro-me quando surgiu.

Do nada.
Do Vazio.

A partir desse tombo
enlouqueci de vez.
Chocolate
- Claude Bloc -

Entrei na bodega de Seu Pedro Praieira e alguns minutos depois de pagar pelo “Diamante Negro”, fiquei esperando Gracinha terminar suas compras. Eu recebia por semana uns trocados para ir ao cinema, no Moderno ou no Cassino (e esporadicamente na Educadora). Com o troco comprava uma caixinha de Chicletes Adams ou uns dois ou três Pippers, para me entreter durante o filme. Pipocas também eram bem vindas. Mas... no domingo em que não íamos ao cinema, sobravam uns trocadinhos para uma barra de chocolate, meu pecado venial...

Hoje pude comprovar, talvez por isso, que aquele chocolate tinha gosto de infância realmente! Atualmente, mesmo com o paladar mais exigente, ainda fecho os olhos antes de saborear uma barrinha dessas e, nesse momento, me sinto voar para o Crato, para as minhas travessias pela Irineu Pinheiro, sempre meio a galope, indo aqui e ali, trocar um dedo de prosa ou buscar alguma brincadeira junto com a turma do bairro.

Mas, afinal, o que é o “gosto de infância”? Talvez uma mistura de inocência, despreocupação e alegria. Era isso que éramos: ingênuos, alegres, barulhentos e acalorados, sobretudo nas horas em que brincávamos das mais diversas brincadeiras de que dispúnhamos na época.

Ao morder aquele pequeno pedaço de chocolate, aquele que peguei na minha bolsa há segundos atrás, relembrei alguns desses momentos e senti vontade de terminar de comê-lo assistindo a algum filme com Graça, Glória, Judite, Simone, Fátima, Rita, Dominique, Iza... numa interminável apresentação de cinema, e depois, no tempo exato em que o passeio culminava na Praça Siqueira Campos. Como era uma barra generosa, deixei para comer o restante depois. Mas, nesse momento, simplesmente flutuei pelo éter das lembranças e divaguei febrilmente. Faltava-me apenas um laço nos cabelos, pés descalços e um vestido rodado para eu voltar a ser criança.

Cada mastigada era uma lembrança que me levava a uma dessas memórias mais calmas de que me recordava no momento. Os dias de calor em que eu voltava correndo do Pio X e tomava um enorme copo d’água olhando pela janela. Quando observava, extasiada, aquelas nuvens que dançavam em sincronia com as palhas das macaubeiras das redondezas que jaziam, na sua maioria, espalhadas pelo terreno do Teodorico Teles de Quental .

Lembrava também das tardes em que minhas amigas e eu brincávamos pela rua. E das muitas vezes em que íamos ao Granjeiro para nos refrescarmos na piscina. Nesse tempo, éramos meros/as aprendizes da vida, eu sei. Mas esse processo nos transformou no que somos hoje, delineou nossa caminhada e consolidou amizades eternas.

Numa dessas vezes, cheguei em casa com minha barrinha de Diamante Negro e olhando para os olhinhos pidões de Bertrand, dei o último pedaço do meu chocolate ao meu irmão, repetindo uma frase que tinha ouvido de uma amiga. Ele me olhou com estranheza, mas na primeira mordida, compreendeu o “gosto de infância” naquele pedacinho da barra de chocolate.

Claude Bloc

Dennis Hoper


Dennis Lee Hopper (Dodge City, 17 de maio de 1936 - Venice, 29 de maio de 2010) foi um ator e cineasta norte-americano.

Ficou famoso mundialmente ao dirigir e estrelar ao lado de Peter Fonda o filme Sem Destino (1969). Como ator, ele apareceu pela primeira vez no western Johnny Guitar, de 1954.

Em 2010, foi revelado que Dennis Hopper sofria de câncer da próstata em estágio terminal. A doença tornou-se irreversível e o ator faleceu em 29 de maio do mesmo ano.

wikipédia

ESTRELAS E LUARES - Por Xico Bizerra

Ficava na parte alta da cidade e tinha nome de mulher: Cristina’s, assim mesmo, com apóstrofo e tudo. Lugar chique, o jantar era servido à sombra do céu e com a mesa salpicada de luares. Isto é o que me disseram, lá nunca fui. Até que passei pertinho, certa noite, e vi o neon anunciando a casa, mas não entrei; nem podia, era apenas um estudante e só em sonho poderia entrar ali. Soube, tempos depois, que o restaurante fechou: o proprietário vendia ilusão e ilusões. À chegada da Polícia, escondiam-se sob as mesas algumas estrelas brancas e um raio prateado de luar. Os lustres estavam apagados e as toalhas sujas de lagosta. Chovia.
Por Xico Bizerra

Ainda sem destino - Emerson Monteiro

Neste sábado, 29 de maio de 2010, circulou pelos jornais a notícia da morte do ator norte-americano Dennis Hopper, diretor e coadjuvante de Peter Fonda e Jack Nicholson, no filme Sem destino (Easy rider), película que marcou os anos 60 e sua geração perdida.
Esse clássico enfoca, sem meias tintas, o drama daqueles finais de século, numa fusão sintomática de drogas, sexo e ânsias existenciais da juventude, busca desesperada de encontrar o promo do crescimento tecnológico impaciente e recheado de fascismo opressor, frieza inútil da macroestrutura capitalista materialista, institucional, avassaladora.
Ao lado deste, um outro filme, o inglês Depois daquele beijo (Blow-up), do diretor Michelangelo Antonioni, também refletiria com vigor o quadro sem saída que se desenhava no horizonte das eras e previa nuvens de impossibilidades reais da política, no futuro das próximas décadas mundiais.
Eram tempos de profundas divisões de águas, auge do movimento contestatório dos hippies, quando jovens de todas as classes sociais do mundo se espalhariam, a circular feitos formigas atônitas, catando possibilidades apenas imaginárias, a fim de tranquilizar a consciência das intuições que prenunciavam geopolítica infame a subjugar o âmbito das pessoas humanas.
No roteiro de Sem destino, dois fiéis representantes da contracultura viajam de motocicleta entre as cidades americanas de Los Angeles e Nova Orleans, cruzando impávidas o território estadunidense.
No longo itinerário, sentem de perto a liberdade do espírito aventureiro a lhes sacudir os longos cabelos, pelas estradas desertas, imprevisíveis, expostos e submissos às circunstâncias do acaso desafiador, porém confrontam os habitantes reacionários das povoações interioranas por demais preconceituosos.
Campo aberto para avaliações do tempo histórico totalitário da época, o filme apresenta com sucesso as marcas frias da mentalidade que dominaria logo mais os quadros planetárias posteriores à Guerra do Vietnam e, um pouco adiante, à queda do Muro de Berlim, portas atuais de outros absurdos totalitários.
Em rápido apanhado de verdadeiro profeta, ao término da narração, Dennis Hopper chocaria seus contemporâneos, que aguardavam final menos infeliz, com a explosão amarga da destruição dos dois personagens, cena de uma tocha de fogo produzida pelo disparo das armas dos seus perseguidores. Algo equivalente à incapacidade reconhecida de mudar o sistema plenipotenciário em que se reverteu o sonho das realizações ilusórias deste chão que foge ao contato dos nossos pés.
Hopper tinha 74 anos e morreu por volta das 8h15 deste dia, cercado por familiares e amigos, disse o seu amigo Alex Hitz.

Mulheres x Canções - por Socorro Moreira


A nossa essência é um poema...
O caminho para atingi-la é uma fábula!
Temos na mistura feminina
o ingrediente de todas as manhas e dons:


A pureza de Maria;
O olhar de Dulcinéia;
A graça de Isadora;
e, principalmente...
Os mistérios de Clarissa!
Teresa é muito dividida;
Marina só pensa em passar batom;
Januária ganha o mundo na janela;
Carolina não tira o cisco,
que a deixa triste;
Luiza é uma fotografia,
num prisma de sete cores;
A Rita leva o sorriso do povo,
e deixa um violão calado ;
Isaura tem que deixar o outro trabalhar,
afrouxar o laço do abraço;
Doralice já encontrou uma saída,
e deixou de achar que o amor é tolice?
Luciana , e o casaco marrom já poído,
das andanças, em busca da alegria;
Dora precisa entregar a faixa
de rainha do frevo...
Ainda requebra melhor do
que muitas?
Laura , e o sorriso ameninado ,
a flor que não murcha...
Laura, cadê seu amor?
Rosa , imagem de mulher
por Deus esculturada...
Irene, aquela louca ,
que vive no prozac!
E Beatriz?
Por ela,
alguns vivem por um triz !

manhã de sábado

O negócio agora é baixar a cabeça
e caminhar.

Sem olhar para trás.
Sem olhar para frente.

Chutar pedras
gravetos
tampinhas de refrigerante.

Esquecer teu aparelho dos dentes.
Os teus óculos lilases.

Somente uma vez por mês
o célebre porre homérico.

No teu dia.

Enquanto vertes sangue.
Bebo vinho.

O negócio agora é não se deixar morrer
iludido pelos pensamentos.

Dizem que são apenas névoas.
Mas cegam, meu velho.

Preciso abrir logo o olho.
Meter os pés no tênis sujo.

Nem lavar rosto.
Nem beber cafezinho quente.

Escapar do quarto.
Fugir da masmorra.

Até Voltaire se entristece
com tanto silêncio.

O negócio agora é levantar a cabeça
e bater asas.

Não olhar para o teto.
Não cortejar o passado.

Dizem que é apenas vento.
Mas vem junto o cisco.

A lágrima presa é outra estória.
Noutro dia conto.

Vejo da janela um lindo jardim
com pula-pula e carrossel.

Quem sabe não encontro por lá
uma fada esperta ou uma babá
que me abrace e me console
oxalá queira trocar
minha fralda geriátrica.

As formiguinhas do vaso sanitário
sabem que a minha urina é doce.

Portanto venham, oh, minhas fadas
oh, babás do condomínio
peguem pelo braço este poeta
e lhe deem o que beber.

Bateu sede.
Serve um peitinho.

Sem drama angelical.
Sem neurose puritana.

Ultimamente o poeta sofre
espantalho sob noite fria.

Tremem os ossos.
Acorda o coração moído.

O negócio agora é levantar-se.
Cortar as unhas.
Fazer a barba.

A cafeteira me espera.
Ouço seus espasmos.
Ofegantes sussurros.

Amada cafeteira
nunca deixa

o poeta desvalido.

olhos de mel

Até que ponto acreditar
nos meus arroubos.

Se te envolvo em minha lábia
e durmo contigo de novo

que será da realidade
no amassado dos travesseiros?

Eu que nunca te convidei pra jantar fora.
Nunca te ofereci um sorvete.

Vem então essa onda de saudade.
De sujeito cretino.

Faço força no olho direito
para que desça uma lágrima.

Se te conquisto novamente
e acordo contigo

pensaste na inquietude
passado o sonho?

Os travesseiros jogados fora.
Queimados na calçada.

Pensamento para o Dia 29/05/2010


Pensamento para o Dia 29/05/2010
“Para o fogo aumentar ou diminuir, o combustível é a única causa. Quanto mais combustível, mais brilhante será a luminosidade. O fogo tem o poder de produzir luz por sua própria natureza. Do mesmo modo, no fogo do intelecto do aspirante espiritual, o combustível que produz renúncia, tranquilidade, verdade, bondade, paciência e serviço altruísta tem que ser constantemente alimentado de modo que a luz da sabedoria seja produzida. Quanto mais "combustível" for colocado, mais eficaz e refulgente os praticantes espirituais se tornarão. Apenas as árvores que crescem em solo fértil podem render uma boa colheita. As árvores que crescem em solos salinos terão apenas um rendimento ruim. Assim também, é só nos corações que são imaculados que sentimentos santos, poder divino e dádivas brilham em esplendor.”
Sathya Sai Baba

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“Por razões políticas ou outras, algumas pessoas são presas e mantidas em detenção a fim de preservar a lei e a ordem do país. Elas são mantidas confinadas em grandes bangalôs e recebem um tratamento especial por ser próprio de seu status e são fornecidas refeições, bem como artigos de luxo compatíveis com sua classe de vida social e política. No entanto, em torno do bangalô e no jardim, sempre haverá policiais de guarda. Qualquer que seja o padrão de vida desfrutado pelo prisioneiro, ele não é um homem livre. Assim também, uma pessoa confinada na ‘prisão’ do mundo não deve se sentir eufórica sobre o conforto sensual de que pode desfrutar. Ela não deve se sentir orgulhosa por seus amigos e parentes ao redor, mas deve reconhecer e ter em mente que está na prisão.”
Sathya Sai Baba

Hoje é o dia D !


Eduardo Lara Resende

Sonhos

Pesquisa recente, realizada na Grã-Bretanha, revela que os jovens se consideram mais solitários do que adultos com idade superior a 55 anos. Ainda não há razões claras para explicar esse resultado, mas segundo a Mental Health Foundation, entidade que encomendou o levantamento, o declínio na vida comunitária e o foco cada vez maior no trabalho possivelmente sejam causas do problema.

Realizada em 1934 em Belo Horizonte, outra pesquisa – esta envolvendo cerca de 1.400 crianças que cursavam o então 4º ano primário nos Grupos Escolares daquela capital (pesquisa, aliás, já comentada neste espaço) – ao invés de solidões, revelaria pais e professores como modelos para grande número dos pesquisados. Sobre sonhos de futuro, eles se tornariam realidade desde que o sonhador se transformasse em piloto, médico, engenheiro, padre ou em advogado. Embora livros ocupassem o primeiro lugar na preferência dos jovens na hora de ganhar um presente, somente dois deles alimentariam o sonho de se tornarem escritores. Dentre outros, dois queriam ser jornalistas, um deputado, um ministro e um queria ser rei.

Do sonho simples de conhecer o mar, ao desejo humano e geral de ser feliz, todos temos à nossa frente sonhos que, ao lado da fé, nos põem a caminho. Em agosto de 1992, quando o Equador atravessava longo período de dificuldades políticas e econômicas, os muros da cidade de Quito amanheceram pichados com a frase anônima “a noite avança, mas os sonhos não”. Passados tantos anos, sua essência permanece atual para uma época em que pequenos-grandes sonhos se tornam diáfanos, tênues, desfazendo-se ao toque de uma realidade marcada por valores que lançam mão dos ideais da maioria, para a realização dos sonhos de poucos.

Há muito se sabe o que sonhos podem render, assim como onde podem levar quem os manipule com a destreza de um arrombador de fechaduras. Mais que ajudar a vender de tudo, sonhos são importantes para a conquista do poder. Convenientemente plantados, cevados e colhidos, a mesma sórdida crueldade que os induz, surrupia do sonhador as esperanças. E trata de realizar desejos de quem não reconhece nem dignidade, nem necessidades na pobreza dos que sonham um futuro honesto e simples.

A solidão – que para o romancista francês Henri de Régnier só é possível na juventude, época em que temos pela frente os sonhos – pode se tornar irremediavelmente amarga quando a capacidade de sonhar se esgota. A Arte não existiria se não fossem os sonhos – combustível também para as conquistas da Humanidade. E se ainda hoje insistimos em buscar explicações para o Universo, em explorar o Tempo e em conhecer os primeiros capítulos de nossa História, então é porque ainda mantemos viva a capacidade de sonhar.

Proust aconselha a que conheçamos bem nossos sonhos para que não soframos mais com eles. Por seu lado, é a partir de “vestígios de algum sonho dobrado em versos” que nossa escritora e blogueira Claude Bloc descreve o nascimento de um poema. Daí em diante, segundo ela, “o poema vai crescendo, rindo à toa, e o sonho afiado vai se perdendo nos descaminhos da imagem refletida na transparência dos sentimentos”.

Eis aí. Para o escritor Albert Béguin, é a solidão da poesia e do sonho que nos tira de nossa desoladora solidão. E se, no dizer de Bloc, os sonhos podem desaguar em poemas, bem orientados poderíamos – por que não? – voltar a tê-los como estímulo a um futuro melhor.

Para Ana Cecília - Com carinho e amizade

Aniversario


Pai e mãe hoje festejam
Essa criança em você.
A criança se acha grande,
quer fazer tudo o que gosta,
que em sua idade ninguém faz.

Deixa a infância em silêncio
em sossego, esse amor
deixa quieta a saudade
Ora! hoje é seu dia,
Hoje!

Cadê a infância?
Cadê a criança?
Que dormia e sorria em paz?
A criança de outros tempos
Que outras crianças apraz...
Aquela criança tranqüila
Aquela menina feliz
Que tanta lembrança nos traz...


Mas hoje é dia de festa
Dessa criança em você
Todos hoje celebramos:
Parabéns, parabéns
Abraços de bem querer.

(por Claude Bloc)

Ana Cecília o Cariricaturas abraça você.

A poesia de Ana Cecília S.Bastos





AZUL E DORES


É maio.
E faltam-me
pára-raios.



AZUL E AMORES

É maio.
Nada é mais importante que o puro azul de seus dias.

Quem lavou os dias
dos dias de maio?
Qual laboratório revelou a pura
cor do tempo?

Publicado em Uma Vaga Lembrança do Tempo.
Foto de MVítor.

Um poema de Everardo Norões

Poema VII


Restos de falas na mesa

e a náusea matinal.

O bule, a xícara, os copos.

A mão, submersa no sal,



da tarde, na planície,

tão clara, dessa mesa,

onde deslizam os repastos

da habitual tristeza



que cobre a toalha branca

de rendas. E essa fome,

bordada sobre a mesa

como as iniciais de um nome.



O jarro com flores e

as cinzas do outro dia,

fugindo aos arabescos

das rendas, tão frias,



como as coisas distantes

que nos aguardam à mesa:

o leite, o bule, o café,

o sono, a morte, a incerteza.


Em: Poemas. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1999. Prêmio Eugênio Coimbra (Conselho Municipal de Cultura), categoria Poesia, 1998.

Ana Cecília, hoje a festa é sua ! Com os desejos de felicidades e o abraço do Cariricaturas !

Feliz aniversário , poetisa e querida amiga !