Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

NOTICIA DO JORNAL "O POVO" NOS IDOS DE 1930


 
A palavra de Lampeão, o monarcha selvagem dos sertões

Os dados e as informações sobre que escrevemos esta reportagem foram colhidos do próprio Lampeão pelo sr. José Alves Feitosa, que há semanas, no alto sertão, com elle conversou demoradamente.

Offerecendo à A Noite essas notas interessantíssimas, o sr. Feitosa, offertamo-la, nós, aos nossos gentilíssimos leitores, a quem não queremos mais poupar o prazer curioso de sentir um bocado da psychologia pittoresca e da vida romanesca do jaguar terrivel dos sertões.


NO PÉ DA SERRA

Cabia o crepusculo sobre o escampado arido e esbrazeado daquelle recanto sertanejo do Estado do Ceará, no pé da serra do Araripe: o engenho de rapadura Boa-Vista, a cinco léguas da cidade de Missão Velha, quando o sr. José Alves Feitosa ali chegou.

Um crepusculo doloroso, sertanejo, manchando a paisagem de sombras e difundindo uma melancolia por tudo...
Gentis e acolhedores, os senhores de engenho o receberam, prodigalisando-lhe o conforto de uma hospedagem, onde elle repousaria da viagem exaustiva.
Ahi, foi que se aproximou de Lampeão.
Este assomara à porta, desarmado, fitando o recem-chegado, que o interpellou logo:
- É o capitão Virgulino Ferreira?
- Às suas ordens.
- Já o conhecia através de photographias.
- Ah? Foram esses retratos, de que o sr. fala, que me inutilisaram. Si não tivesse deixado phopographar-me, seria desconhecido e já poderia ter desaparecido, sumindo-me no mundo, indo para longe, ganhar a vida tranquilamente, sem attribulação dessa angustia constante de ser perseguido.
- E o sr. é perseguido? Dizem na capital que a polícia...
- ... não persegue, porque sou amigo dos officiais. É verdade, mas, ainda assim, as trahições, o sr. comprehende.
No anno passado, Isaias Arruda, meu grande amigo, chefe politico cearense, surpreendeu-me numa localidade deste Estado com um cerco policial terrivel, de que me livrei não sei como.
Estas cousas são que magoam...
Uma trahição, o diabo!
Gosto dos officiaes e odeio os chefes de policia.
Não é verdade que eu haja emboscado, para matar ao dr. Eurico Souza Leão. Ignorava que esse chefe de policia viajava, naquelle tempo, pelo sertão...
Se soubesse, com franqueza, eu teria aventurado...
- Como foi assassinado seu irmão?
- É invenção. Elle não foi morto. Está são, vivo e bolindo.
Aquillo foi brincadeira "só para atrapalhar"...
- E Sabino?
- A mesma coisa.
Está vivo, no Riacho do Navio, à frente de alguns homens. Vou encontrar-me, agora, com elle.
- Disse-me, ha pouco, que se pudesse abandonaria o cangaço...
- Sim. Por porque eu não vivo a vida do cangaço, por maldade minha.
É pela maldade dos outros. Dos homens que não têm a coragem de lutar corpo a corpo como eu e vão matando a gente na sombra, nas tocaias covardes.
Tenho que vingar a morte dos meus paes. Era meninote quando os mataram. Bebi o sangue que jorrava da pelle de minha mãe, e beijando-lhe a boca fria e morta, jurei vinga-la...
É por isso, que de rifle de costas, cruzando as estradas do sertão, deixo um rastro sangrento a procura dos assassinos de meus paes.
(...)
É por isso que eu sou cangaceiro.
Não sei quando hei de deixar os horrores desta vida, onde o maior encanto, a maior belleza seria extinguir a maldade daquelles que roubaram a vida de minha mãe e de meu pae a de minhas irmãs.
Dizendo isto, Lampeão ergueu-se, tomando o chapéo.
Despediu-se do nosso informante.
À porta um seu companheiro o "arreou", isto é, entregou-lhe as cartucheiras e o mosquetão, um fuzil Mouser cortado na extremidade do cano.
Apertando as mãos hospitaleiras de Rosendo, o dono da rustica engenhosa, o monarcha sanguinolento dos sertões tomou a estrada poeirenta para as incertezas do seu destino.
Deante da maravilha da vida de Lampeão cheia de episodios romanescos e impressionantes como aquelle em que ha a scena commovente e soberba do juramento sobre a bocca hirta de uma mãe, quem ousará atirar a primeira pedra sobre o quadrilheiro immortalisado nas chronicas sangrentas do sertão?

http://luzdefifo.blogspot.com.br
http://afnneto.blogspot.com.br
http://blogdomendes


COPIADO DO BLOG CARIRICANGAÇO.BLOGSPOT.COM