Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A minha Morte - Florbela Espanca

Eu quero, quando morrer, ser enterrada
Ao pé do Oceano ingénuo e manso,
Que reze à meia-noite em voz magoada
As orações finais do meu descanso…

Há-de embalar-me o berço derradeiro
O mar amigo e bom para eu dormir!
Velei na vida o meu viver inteiro,
E nunca mais tive um sonho a que sorrir!

E tu hás-de lá ir… bem sei que vais…
E eu do brando sono hei-de acordar
Para teus olhos ver uma vez mais!

E a Lua há-de dizer-me me voz mansinha:
- Ai, não te assustes… dorme… foi o Mar
Que gemeu… não foi nada… ’stá quietinha…

(Florbela Espanca )

Sonhos - Akira Kurosawa

O Homem e a Morte - Manuel Bandeira

O HOMEM E A MORTE

O homem já estava deitado

Dentro da noite sem cor.

Ia adormecendo, e nisto

À porta um golpe soou.

Não era pancada forte.

Contudo, ele se assustou,

Pois nela uma qualquer coisa

De pressago adivinhou.

Levantou-se e junto à porta

- Quem bate? Ele perguntou.

- Sou eu, alguém lhe responde.

- Eu quem? Torna. – A Morte sou.

Um vulto que bem sabia

Pela mente lhe passou:

Esqueleto armado de foice

Que a mãe lhe um dia levou.

Guardou-se de abrir a porta,

Antes ao leito voltou,

E nele os membros gelados

Cobriu, hirto de pavor.

Mas a porta, manso, manso,

Se foi abrindo e deixou

Ver – uma mulher ou anjo?

Figura toda banhada

De suave luz interior.

A luz de quem nesta vida

Tudo viu, tudo perdoou.

Olhar inefável como

De quem ao peito o criou.

Sorriso igual ao da amada

Que amara com mais amor.

- Tu és a Morte? Pergunta.

E o Anjo torna: - A Morte sou!

Venho trazer-te descanso

Do viver que te humilhou.

-Imaginava-te feia,

Pensava em ti com terror...

És mesmo a Morte? Ele insiste.

- Sim, torna o Anjo, a Morte sou,

Mestra que jamais engana,

A tua amiga melhor.

E o Anjo foi-se aproximando,

A fronte do homem tocou,

Com infinita doçura

As magras mãos lhe cerrou...

Era o carinho inefável

De quem ao peito o criou.

Era a doçura da amada

Que amara com mais amor.

Sobre a morte e o morrer - Rubem Alves

O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define?

Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”

Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...”

Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.

Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.

Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.

Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".

Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.

Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.


Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3.

Projeto "Água pra que te quero"!- Nívia Uchôa


Nota de pesar pelo falecimento de Rossana Barros Pinheiro


A cratense Rossana Barros Pinheiro, 21 anos, acadêmica da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte - FMJ - faleceu hoje, por volta das 11 horas, vítima de acidente automobilístico após o carro em que viajava chocar-se com um caminhão tipo baú, que avançou o retorno em frente ao Atacadão/Carrefou, na rodovia Padre Cicero que liga Juazeiro do Norte ao Crato.
Rossana é filha do empresário Valter Pinheiro Leite, também presidente do Clube Recreativo Grangeiro, pessoa detentora de grande prestígio na cidade do Crato, querido pelos amigos e respeitados por todos os seus conhecidos.

Em nome de todos os colaboradores e leitores deste blogue, desejo à família enlutada, neste momento de dor e pesar, os mais sinceros e profundos votos de condolência.

O sepultamento de Rossana está previsto para amanhã, dia 1º de setembro, às 10 horas, no Cemitério Nossa Senhora da Piedade, em Crato. O corpo está sendo velado na residência da família, na Ave. Pedro Felício Cavalcanti, 1885, no bairro do Grangeiro, em Crato.



Homenagem a Rossana por Demétrius Silva*


Rossana Barros Pinheiro, cursava medicina na FJN em seu quinto semestre. Minha colega que dividia a bolacha recheada em intervalos de pouco movimento na locadora Vídeo Shopp onde terei muito carinho por todos até meus últimos dias na terra. Faleceu no dia 31 de agosto, mais ou menos às 11 horas na Av. padre Cícero. Uma amiga que me apoiou quando abri minha primeira empreitada chamada Episódio, que conversava comigo sobre tudo que tinha em mente.

Minha adorada Sana que sempre quando a encontrava, ou ela aparecia na Vídeo Shopp, cantarolava "Rossana nas alturas". Uma simpatia incrível com todos que te circundavam, linda com seu jeito menininha feliz e muita competência em seus estudos. Não consigo acreditar no que aconteceu, como?

Minha tristeza não me faz acreditar neste acontecimento, nesta tragédia sem volta. Tão distante, ponderando a minha distância (me fazendo perguntar o porquê que estou longe das pessoas que amo), o que fazer, a coragem de ligar para seus irmãos. Não consigo. Amava esta garota, gostava de trabalhar com ela, e aos 21 anos nos deixa aqui na Terra, se tornando assim uma privilegiada de não ter que dividir tanto sofrimento neste planeta cheio de injustiça, desamor, guerras e conflitos políticos insignificantes. A difícil luta de viver aqui na Terra nos dá desconforto e saber que uma menina que não tem culpa de nada disso tem que pagar por os erros dos outros.

Te adoro Rossana, que Deus conforte o coração de sua Família e de seus amigos. Fique em
paz.


* Transcrito do Blog do Crato

Gregorio Barrios, O Verdadeiro Rei do Bolero

GREGORIO BARRIOS Villabriga, natural de Bilbao, Espanha, nasceu em 31.1.1911, no seio de sua família de poucos recursos. Teve 3 irmãos. A família, quando Gregorio estava com 10 anos de idade, foi forçada a emigrar para a Argentina, porque seu pai, socialista convicto, estava sofrendo perseguição política.
Gregorio, na Argentina, trabalharia desde logo em diversos empregos, até se fixar, durante 12 anos, na parte administrativa de uma empresa pavimentadora de estradas. Nessa empresa, chegaria a um posto de chefia. Mas fora num emprego anterior que, ao cantarolar em serviço, ouvira elogios do filho do dono, com um comentário que o despertaria para a possibilidade de seguir a carreira artística: "Com essa voz não sei como você agüenta meu pai!" Resolve então estudar canto, tendo o apoio de sua tia Epifânia, que custeia seus estudos.
Foram quase 15 anos de aulas, ocupando todas as horas disponíveis, com o professor e tenor Abelleff e o barítono Iturbi, do Teatro Colón, de Buenos Aires. Em 1938, passa a cantar na Rádio Callao.
O nível artístico da emissora não era recomendável e tendo o mesmo nome de seu avô, que respeitava muito, resolve adotar o pseudônimo de Alberto Del Barrios. Além de cançonetas e trechos de ópera, cantava tangos, mas cedo viu que não tinha queda para esse gênero.
Nessa altura, já tinha reunião a qualquer sonho com relação à cena lírica, de tão raras oportunidades. A consagração de nomes como Pedro Vargas, Olga Guillot, Afonso Ortiz Tirado e Elvira Rios, nos Estados Unidos, faz com que reconheça que seu caminho estava mesmo no bolero, com o sonho de um dia poder lançar boleros compostos também por autores argentinos.
Em 1940, deixa seu emprego e assina contrato com exclusividade com a prestigiosa Rádio El Mundo, de Buenos Aires, na qual ficaria por muitos anos, apesar do assédio de outras poderosas rádios capital da Argentina.
Em 1941, pela primeira vez vem atuar no Brasil, com uma passagem discreta pelo Cassino de São Vicente e pela Rádio Cruzeiro do Sul, de São Paulo. Três anos mais tarde, em 1944, tem a oportunidade de realizar uma nova temporada no Rio de Janeiro e Petrópolis, nos famosos cassinos Atlânticos e Quitandinha.
Apresentava-se com um traje típico espanhol, cantando trechos de óperas e boleros. No decorrer dessa temporada, grava um disco na Continental, lançado em março de 1945, com Sé Mui Que Vendrás, bolero, e Lamento Espanhol, canção. Esse bolero, numa regravação de 1959, está no volume 1 desta coleção da Again.
Suas vindas ao Brasil cada vez mais se amiúdam, de tal modo que logo se tornaria como que um artista brasileiro. Nos clubes, nas rádios, nas casas noturnas, por toda a parte, capitais e interior, comparecia para levar seus sucessos e receber os aplausos de um público imenso e fiel. Atuava em toda a América do Sul, tendo ido a Portugal, Espanha e Cuba.
Em Cuba, para uma temporada de menos de um mês, exigiu e recebeu uma quantidade fabulosa. Sua residência continuava sendo Buenos Aires, onde possuía uma suntuosa casa numa esquina da Xalle Corrientes, hoje sede de uma embaixada, e uma casa de veraneio.
Na Argentina, participaria de 3 filmes, sendo o galã de Que Hermanita ! Em suas entrevistas, porém, sempre dizia que pretendia vir morar no futuro em nosso país. O tempo haveria de confirmar que não estava querendo apenas ser gentil com o público brasileiro.
Em 1962, transfere sua residência para um apartamento em Copacabana, reduzindo sua atividade de cantor, porque passa a ser empresário do ramo de calçados. Instala uma fábrica em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Os resultados não são contudo os esperados. "Tive de fechar, pois como todo artista romântico sou um péssimo negociante." Por causa das pesadas dividas, volta, em 1969, a atuar com a mesma intensidade anterior.
Em 1966, já havia se casado com uma brasileira, Carmen Jensen Ehrardt, que tinha sido Miss Santa Catarina e era 30 anos mais nova que ele. Era seu segundo casamento, do primeiro tendo um filho na argentina.
Nos últimos 4 anos de carreira, faz-se acompanhar da Tropical Brazilian Band, que formara com músicos de São José do Rio Preto. Mantinha a média de 200 apresentações por ano.
Viria a falecer repentinamente, em 17.12.1978, na sua residência na cidade de São Paulo, de infarto do miocárdio. Na véspera, tinha se apresentado pela última vez num clube de Curitiba.
Deixava uma filha de um ano e quatro meses, Carmen Patrícia, sendo sepultado na capital paulista, no Cemitério do Morumbi.
Para todos os que o conheceram na intimidade, ficaria a lembrança do homem extrovertido, extremamente modesto, profissional correto, bom amigo, marido e pai. Tanto quanto, para seus admiradores brasileiros e de todo o mundo latino, ficou sua marca de REI DO BOLERO, nos discos e nos corações.

http://www.luso-poemas.net/

Ninguém é substituível ! - Por Socorro Moreira

Acabei de chegar de uma visita, e o meu coração me dizia , no caminho : ninguém substitui ninguém...Quando abri o e-mail enviado pela minha amiga Ismênia, justo num momento de tristeza e consternação para o Crato em peso. Elsa ( minha colega de Faculdade, colega de Banco) e Walter perderam hoje uma filha de 20 anos.Nem vou tentar explicar uma dor...Ela hoje não teria consolo.Apertei as mãos da minha amiga e ela perguntou-me : "Já passou por isso , Socorro ?" Eu respondi-lhe : já vivi muitas perdas , e não preciso perder um filho pra sentir a tua dor. Basta ser mãe, e pronto !

Não achei a palavra mágica do conforto , mas ela me confortou : " vou fazer de conta que a minha filha foi fazer uma viagem muito longa , sem data pra voltar , e um dia, a gente se encontrará.

Não adianta ter dez filhos...Cada um é insubstituível; cem amigos... Todos são insubstituíveis !

O que a gente pode é ser contente e harmonioso com todos os próximos.Os distantes nos farão falta ou no mínimo , deles nos lembraremos com saudades. Que perdurem as lembranças felizes. Vamos aproveitar cada minuto de todos os encontros que a vida nos predestina. Haverá o momento crucial da despedida, que pode ser suave , quando bem entendido.

Melgaço falou da Morte , como perspectiva de vida... Parecia adivinhar o momento nosso, seguinte.

Hoje eu preciso do meu próprio silêncio, na véspera da festa da Penha. Que ela sopre a dor do coração de Elsa , e receba no seu colo a sua filha .

Ninguém é insubstituível - Colaboração de Ismênia Maia

"Sala de reunião de uma multinacional.
O CEO nervoso fala com sua equipe de gestores.
Agita as mãos mostra gráficos e olhando nos olhos de cada um ameaça:
"Ninguém é insubstituível"!
A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião em meio ao silêncio.
Os gestores se entreolham, alguns abaixam a cabeça.
Ninguém ousa falar nada.
De repente um braço se levanta e o CEO se prepara para triturar o atrevido:
- Alguma pergunta?
- Tenho sim. E o Beethoven?
- Como? - o CEO encara o gestor confuso.
- O senhor disse que ninguém é insubstituível.
E quem substitui o Beethoven?
Silêncio.
Ouvi essa estória esses dias contada por um profissional que conheço...
E achei muito pertinente falar sobre isso.
Afinal as empresas falam em descobrir talentos, reter talentos...
Mas, no fundo continuam achando que os profissionais são peças...
Dentro da organização e que quando sai um é só encontrar outro para por no lugar.
Quem substitui Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra?
Dorival Caymmi? Garrincha? Michael Phelps? Santos Dumont? Monteiro Lobato?
Faria Lima ? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Paul Newman? Tiger Woods?
Albert Einstein? Picasso?
Todos esses talentos marcaram a História...
Fazendo o que gostam e o que sabem fazer bem ...
Ou seja : Fizeram seu talento brilhar!
E portanto são sim, insubstituíveis!
Cada ser humano tem sua contribuição a dar...
E seu talento direcionado para alguma coisa.
Está na hora dos líderes das organizações reverem seus conceitos...
E começarem a pensar em como desenvolver o talento da sua equipe...
Focando no brilho de seus pontos fortes...
E não utilizando energia em reparar "seus gaps".
Ninguém lembra e nem quer saber se Beethoven era surdo...
Se Picasso era instável...
Caymmi preguiçoso...
Kennedy egocêntrico...
Elvis paranóico.
O que queremos é sentir o prazer produzido pelas sinfonias...
Obras de arte, discursos memoráveis...
E melodias inesquecíveis, resultado de seus talentos.
Cabe aos líderes de sua organização mudar o olhar sobre a equipe...
E voltar seus esforços em descobrir os pontos fortes de cada membro.
Fazer brilhar o talento de cada um em prol do sucesso de seu projeto.
Se você ainda está focado em "melhorar as fraquezas" de sua equipe...
Corre o risco de ser aquele tipo de líder que barraria Garrincha...
Por ter as pernas tortas...
Albert Einstein por ter notas baixas na escola...
Beethoven por ser surdo...
E Gisele Bundchen por ter nariz grande.
E na sua gestão o mundo teria perdido todos esses talentos! "

" AS PREZEPADAS DOS ZIZINHOS DE MONSENHOR" - Cap. V




...OU A VASSOURA INCANDESCENTE..



Uma aula vaga, ou a demora de entrada do professor na sala era sinal de perigo! Cinqüenta e duas mentes férteis trancafiadas numa sala, um “tititi” que só vendo! Em pequenos grupos que se dividiam ao sabor dos papos e interesses. Sentados em cima das carteiras um converseiro sem fim, piadas de todos os tipos! Eu mesmo nunca gostei de me sentar em cima da carteira do Colégio. Gostava do banco da Praça Siqueira Campos depois da Missa em São Vicente e normalmente na Praça da Sé esperando com a “turma” a descida das meninas do Santa Teresa e do Dom Bosco para matar as “bichinhas” de vergonha ao terem que passar pelo verdadeiro “corredor polonês” submetendo-as ao olhar de águias. Mas lá vou eu tangenciando, voltemos ao cerne da traquinagem de hoje. Nesse dia de aula branca, alguém esqueceu uma vassoura na sala. Não era uma vassoura qualquer! Como essas vassouras de hoje cheias de tecnologias do plástico e dos coloridos. Vassouras metida a besta! Era uma VASSOURA DE PALHA do Crato! Daquelas que nossos pais traziam da feira e faziam um barulho engraçado quando alguém varria o chão. Eu pelo menos achava engraçado aquele... chique..chique..chique. Pois bem, como dizia o Padre Murilo no Seminário: “o ócio leva ao pecado”. E já que estávamos no ócio...o pecado era eminente! Ele chegou da mente de Nacélio (o véim). Recebemos o aviso que AULA seguinte seria de nada menos que o chato do professor JIPÃO! Nacélio tirou a vassoura do cabo e arranjou um fósforo com alguém da turma que já havia adquirido o péssimo hábito de fumar e disse: vamos dar um susto no JIPÃO! Apoiou a vassoura em cima das duas bandas da porta entreabertas. Como já falei antes, era uma VASSOURA CRATENSE, da FEIRA DO CRATO! Uma vassoura elegante que queimava lentamente, palha boa do buriti! Soltava umas fagulhas dignas dos fogos de artifício espanhol. Risada geral! Mas meus amigos adivinhem quem entra na sala! O Jipão? Prof. José do Vale? Pe. David? O bedel? Alzir? Nenhum dos ilustres citados adentrou por aquela porta. Entra nada mais nada menos que Monsenhor Montenegro! Gente! Quando ele empurrou aquela porta a vassoura incandescente fez um giro magnífico no ar digno de um bailarino do Cirque du Soleil Fagulhas pra todo lado! Um espetáculo! Mas Monsenhor não gostou! Definitivamente ele não gostava de fogos de artifícios dentro do Colégio tivemos a certeza. Bom, de praxe entre o XV Sermão da Montanha. Dai, veio o fatídico: quem foi? Era ele ou todos nós! E, diga-se de passagem, “véim” foi de uma coragem de cavalariano Polonês enfrentando as hostes Alemãs. Para aplacar a “ira Divina” disse solenemente! “Fui eu Monsenhor”. Cabra da peste de coragem! Monsenhor sentenciou: Três dias de suspensão, de “férias” zizinho! E um bilhete pra Seu Oliveira comparecer para uma conversa! Mas que foi lindo foi! Só não viu quem faltou àquela aula e deve ficar com uma inveja da gota serena por ter faltado e ao ler estas mal traçadas linhas.

Aparício Torelli , O Barão de Itararé - Máximas e Mínimas




1. Diz-me com quem andas e te direi se vou contigo.
2. O casamento é uma tragédia em dois atos: civil e religioso.
3. O homem que se vende recebe mais do que vale.
4. O tambor faz muito barulho mas é vazio por dentro.
5. Quanto mais conheço os homens, mas eu gosto das mulheres.
6. Em terra de cego quem tem um olho é caolho.
7. Não é triste mudar de idéias, triste é não ter idéias para mudar.
8. Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer.
9. Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
10 Nunca desista do seu sonho. Se ele acabou numa padaria, procure em outra.
11. O meu amor e eu nascemos um para o outro, agora só falta quem nos apresente.
12. Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.
13. Comecei beber por causa de uma mulher e nunca tive a oportunidade de agradece-la.
14. A televisão é uma das maiores invenções da ciência a serviço da imbecilidade humana.
15. De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
16. O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
17. Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
18. A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
19. Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
20. O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si.

31/08/2009 - Aniversário do saudoso Jackson, o mestre do swing



Jakcson do Pandeiro


O suingue da voz de ouro da Paraíba

O paraibano Jackson do Pandeiro foi o maior ritmista da história da música popular brasileira e, ao lado de Luiz Gonzaga, o responsável pela nacionalização de canções nascidas entre o povo nordestino. Pelas cinco gravadoras que passou em 54 anos de carreira artística estão registrados sucessos como Meu enxoval, 17 na corrente, Coco do Norte, O velho gagá, Vou ter um troço, Sebastiana, O canto da Ema e Chiclete com Banana.

A história da sua carreira artística reforça a herança da influência negra na música nordestina - via cocos originários de Alagoas - que lhe permitiram sempre com o auxílio luxuoso de um pandeiro na mão se adaptar aos sincopados sambas cariocas e à música de carnaval em geral.

Dono de um recurso vocal único, ele conseguia dividir seus vocais como nenhum outro cantor na música popular brasileira. Seu maior mérito foi de ter levado toda riqueza dos cantadores de feira livre do Nordeste para o rádio e televisão, enfim para a indústria cultural. Grandes nomes da MPB lhe devotam admiração e já gravaram seus sucessos depois que o Tropicalismo decretou não ser pecado gostar do passado da música brasileira, principalmente, a de raiz nordestina.

O intérprete de uma música brasileira feita para dançar criou um estilo único de cantar. Nascido em Alagoa Grande, Paraíba, 31/08/19, numa família de artistas populares. Sua mãe, Flora Mourão, era cantora e folclorista de Pastoril e o batizou como José Gomes Filho o apelidou de Jack pelo sua semelhança física com um ator norte-americano de filmes de western dos anos 30, Jack Perry.


O Tocador de Pandeiro

Começou na verdade, tocando zabumba, para acompanhar a mãe, mas fazia sucesso na região com o instrumento que marcaria sua trajetória: o pandeiro. Com ele, viajou em busca do sucesso. Passou por Campina Grande e João Pessoa onde adotou o pseudômino de “Zé Jack”. Sua busca pelo sucesso o leva a capital pernambucana.

Decide se tornar músico quando ouviu A Jardineira (Benedita Lacerda e Humberto Porto). Trabalhando numa padaria forma uma dupla de brincadeira com José Lacerda, irmão mais velho de Genival Lacerda.

No início da década de 50, ainda em Recife, começa a se apresentar na Rádio Jornal do Comércio onde, por recomendação de um diretor da emissora, adota o nome artístico de Zé do Pandeiro. Tendo chamado a atenção da direção da emissora consegue gravar seu primeiro compacto de 78 rpm. Era o xote Sebastiana que já demonstrava que além de ser o rei do ritmo, Jackson do Pandeiro, iria buscar inovações estéticas dentro da música nordestina. Ele já arriscava nas suas improvisações de vocalizações com tempo variado dentro de uma mesma música.

Torna-se depois de alguns compactos, um verdadeiro sucesso no Nordeste e Norte do país. Os ecos do seu sucesso já começava a chegar no Rio de Janeiro. O xote Forró no Limoeiro foi um sucesso estrondoso e Jackson impunha-se cada vez mais como um artista popular que se pautou pela ousadia numa época de poucos improvisos tupiniquins, vindo a se tornar referência para artistas oriundos da classe popular quanto da classe média brasileira.

No Recife, conhece sua futura esposa, Almira Castilho, uma ex-professora que cantava mambo e dançava rumba Dessa época consegue gravar pela gravadora pernambucana "Mocambo" seu primeiro sucesso: o xaxado Sebastiana de autoria do pernambucano Rosil Cavalcanti.

Jackson e Almira formavam a dupla perfeita. Desde o início se preocupavam com o visual e com as performances de palco. Ela, sensual com um belo jogo de cintura e ele, com toda musicalidade explosão de ritmos e uma voz especial. Almira teve um papel fundamental na vida de Jackson, pois o ensinou a escrever seu nome e o estimulou a expandir sua música além das divisas da Paraíba.

Esta paixão avassaladora os unir e os levou, em 54, ao Rio de Janeiro. A união em casa e no palco durou até o ano de 1967 quando se desfez a dupla e o casamento. A trajetória de Jackson de Pandeiro não registra números de vendagens significativos, nenhuma aventura pelo exterior e muito menos o charme que cerca os ídolos da música popular brasileira.

Antes de mais nada, Jackson do Pandeiro pode bancar a vinda ao Rio de Janeiro com o dinheiro obtido com o compacto do rojão Forró no Limoeiro. Ele queria conhecer os jornalistas que escreviam sobre sua música nos jornais cariocas. Conheceu a maioria deles. Faz ainda algumas apresentações em São Paulo, em boates e em programas de auditório de rádio e tv.

Convidado pelo empresário Vitorio Lattari ele grava alguns compactos. O público sulista se apaixona, então, pela embolada Um a um. Retorna a João Pessoa e grava O xote de Copacabana uma homenagem à Cidade-Maravilhosa que o fascinou. Casa-se em outubro de 54, em João Pessoa, com sua parceira.

Devido a aceitação do público e crítica na sua primeira ida ao Rio de Janeiro, decide, em 55, se mudar definitivamente com a esposa Almira. Se apresenta nas emissoras de rádio, Tupi e Mayrink Veiga, e é contrato pela Rádio Nacional. A partir daí, Jackson do pandeiro começa a transformar o rumo da música nordestina, freqüentando assim como Luiz Gonzaga, o eixo central da indústria cultural do país.

Veja vídeos do artista
Chiclete com Banana
Sebastiana
O canto da ema
Forró em Limoeiro
Jakcson e Almira Castilho
Cintura fina
Curiosidades
Tributo
Acervo
**Acervo & Origens

Nordestinidade, sambas cariocas e marchas de carnaval
Veja discografia completa

A pedido da demanda do mercado musical carioca, Jackson do Pandeiro grava marchas de carnaval, como Mão na toca, Intenção e Boi da cara preta. Em 62, ele viria a gravar um grande sucesso carnavalesco do ano de 62, a marcha Me segura que eu vou dar um troço. Adaptado aos diversos ritmos brasileiros de raiz, Jackson do Pandeiro demonstrou ser artista com livre trânsito na base musical brasileira, um artista completo. Ele começou, também, teve a sacação de misturar a malandragem e a malícia do samba carioca com o suingue das emboladas e dos cocos nordestinos.

Durante a década de 50, Jackson e Almira ganham projeção na mídia nacional e começam a atuar como artistas em filmes populares, como "Minha sogra é da polícia", "Cala boca Etevilna", "Tira a mão daí" e "Batedor de carteiras". Destaque para a película "Tira mão daí" em que Jackson do Pandeiro de 1956 em que o músico atuou ao lado de Ângela Maria, Virgínia Lane e das irmãs Linda e Dircinha Batista.

Até a dissolução da dupla, o trio "Pau de Arara" - formado pelos irmãos Geraldo "Cícero", João "Tinda" Gomes, pelo sobrinho Severino e Vicente e Pacinho - os acompanhava no formato de típico de "trio" nordestino - zabumba, triângulo, arcodeon, pandeiro e violão. Depois da dissolução, o conjunto foi rebatizado de Borborema.

Último álbum e morte na "estrada"

Em 81, grava pela Polygram seu último trabalho: "Isso é que é forró" que traz um Jackson do pandeiro exibindo música forrozeira em Quem tem um não tem nenhum e sambas sincopados, como o Competente demais de sua autoria. O último disco contou com a presença do conjunto Borborema com produção de Armando Pittigliani que respeitou os arranjos concebidos por jackson do pandeiro.

No ano seguinte, durante excursão empreendida pelo país, Jackson do Pandeiro que era diabético desde os anos 60, morreu, aos 62 anos, no dia 10/07, em Brasília, em decorrência de complicações de embolia pulmonar e cerebral. Ele tinha participado de um show na cidade uma semana antes e no dia seguinte passou mal no aeroporto antes de embarcvar para o Rio de Janeiro. Ele ficou internado na Casa de Saúde Santa Lúcia. Foi enterrado em 11/07 no cemitério do Cajú no Rio de Janeiro com apresença de músicos e compositores popoulares, sem a presença de nenhum medalhão da MPB.

O futuro dam carreira parecia se reabrir, pois a Ariola queria fazer um disco dele com participações com nomes da MPB, como Alceu Valenca, Moraes Moreira e Elba Ramalho. Não houve tempo para o reencontro de Jackson do Pandeiro com o sucesso e com uma outra geração de fãs.

Um bolero para a nossa Corujinha Baiana

Que quer dizer "Anauê" ? - Luiz da Camara Cascudo



Da "Societé des Américanistes de Paris"

Várias vezes por dia o Integralista ouve e diz essa palavra bárbara e prestigiosa "anauê"!. De onde nos veio? O Chefe Nacional indica as vozes fortes dos amerabas e entre eles o Tupi. Que quer dizer "anauê"? É uma saudação? Um excitamento? Nós empregamos como uma saudação equivalente ao "hurrah" britânico. O "hurrah" é um resíduo guerreiro. É o que resta de um grito de ataque dos germanos. Seu radical, hurr, é guerra.
O nosso "anauê" é mais sereno e melódico. Sente-se que é vocábulo indígena. Um milhão de brasileiros usa essa palavra misteriosa e unificadora.

Mas nós ignoramos seu significado. De minha parte, tenho feito indagações e buscas. Na literatura integralista, só Gustavo Barroso tentou a explicação. Em "O que o Integralista deve saber" (p. 149), o grande
erudito brasileiro examinou inteligentemente o vocábulo. Suas fontes de consulta não foram propícias. Couto de Magalhães e Teodoro Sampaio, o mestre do nhengatú, falharam. O dois tupilólogos não escreveram tudo quanto devemos ler para adiantar passo na "bela língua". Teodoro Sampaio estudou mais a toponímia e Couto foi, com os rudimentos de gramática inferiores ao velho padre Anchieta, um magnífico divulgador de lendas e tradições das selvas brasileiras. Gustavo Barroso, habituado a
vencer, confessou a simplicidade dos seus orientadores. Nem achou a tradução de yauê, que é apenas o mesmo.

As saudações tupis correspondentes aos nossos bom dia, boa tarde e boa noite, são iané coéma, iané ara, iané carúca e iané pitúna.
Iané é pronome "nós", "nosso". Iané coéma, nossa manhã, é o "bom dia". Diz-se até o meio-dia, quando a saudação muda para iané ara, nosso dia. Tardinha até o crepúsculo, saúda-se iané carúca, e, sol posto, especialmente nas despedidas, iané pitúna, nosso escuro, nossa treva, nossa noite.

São estas as saudações tupis.
O saudado deve necessariamente responder. Dirá apenas indauê. Indauê é uma contração de indé, tu, e iauê, mesmo. Traduz-se, literalmente, por "o-mesmo-tu", o mesmo desejo para ti. Iané ara! Indauê!
Aí estão as cortesias dos guerreiros tupis, quando se encontram.

Indauê dará anauê?

Em 20 de dezembro de 1934, consultei uma autoridade com quem privo e me dá a honra da correspondência. É o padre dr. Constantino Tastevin, professor no Instituto Católico de Paris e professor de Etnografia. O padre
Tastevin esteve vinte anos nos rios amazônicos e sua bibliografia é rica e maravilhosa de cor e de espírito.
Tastevin respondeu-me a 26 do mesmo mês e ano. Vantagens do avião que levou de Natal a Paris seis dias ou menos, porque Tastevin respondeu seis dias depois de minha carta.
Ensina Tastevin:
o vocábulo "anauê" não pode ser outro, caso seja emprestado do tupy, senão a resposta vulgar a toda a saudação da língua geral: - Ndawé!
Eu acreditei um tempo que essa palavra devia analisar-se nde yawé, tu também. Mas agora duvido dessa análise.
De fato, a saudação é conforme a hora do dia:
Yáne koéma: amanhecemos.
Yáne potúna: anoitecemos.
Yáne kurúka: estamos na tarde.

Não há portanto razão para responder: Tu também. A única resposta razoável seria a expressão tão célebre, vulgar e comum no Amazonas: "É verdade!" "É isso mesmo!" Assim o compreende a população atual.
Portanto Ndawé! = Yawé-te!
O a acrescido não tem razão de ser. Certas pessoas pronunciam endawé, com um e mudo, dente a dente = a mudo português. Mas em realidade a tal letra não existe na boca dos peritos.
Por outro, este é o único caso onde se emprega a palavra ndawé!
Como foi que se passou de y para nd é que não posso explicar... Mas no decurso dos tempos dão-se tantas alterações ainda mais esquisitas!

A passagem nd para n é comum: nawé por ndawé; a de ña para ya também. Fica para explicar a de na para ya ou nã. Há outros exemplos: a citar, yandu por nandu.
Aqui finda o douto Tastevin. Sua explicação está perfeitamente de acordo com as minhas deduções. Tastevin emprega o w pelo u. Para ele,
o anauê é uma corrução do ndawé, indauê nhengatú.
Será mesmo?
Com essa tradução, o nosso grito de aclamação é inexpressivo. Pelo menos, pouco expressivo. Fazendo a versão gramatical do tupi, três anauês pelo Chefe Nacional!...
É Verdade! É Verdade! É Verdade!
Ou então: - É isso mesmo!...
Pode ser que seja. Aí fica uma segunda tentativa de explicação.
"Anauê" pode ser palavra do tupi não usada pelos indígenas, mas construída, gramaticalmente certa, pelos eruditos. Pode ser um vocábulo artificial e legítimo. Um neologismo da língua geral. A catequese criou centenas. Itauê é mesmo e também igual. Quando um índio quer dizer "meu igual", diz ce amu iauê. Ce, meu; amu, outro; iauê, mesmo ou igual (meu-outro-mesmo ou igual). Anauê pode ser um vocábulo "construído" dessa forma: - a-nâ-iauê, ou (a) nâ (fundido, junto, unido) iauê (mesmo
ou igual): - anaiauê-anauê, com a queda do i vocálico e a fusão das vogais a-a. Teríamos anaiauê, forma inicial do contrato anauê, eu-junto-com-os-iguais; eu-reunido-aos-outros-iguais. É logicamente um grito de unificação, de solidariedade, de reunião.

Anauê, para todos os modos, é voz de apelo, de agrupamento, toque-de-reunir. O emprego como aclamação seria uma aclimatação de voz
militar nas cerimônias civis.

Como "hurrah" chegou a constituir o mais pacato dos berros entusiastas, anauê pode se haver transformado também.

Não posso provar, mas sonho que, inicialmente, anauê seja um grito, um sinal, uma ordem de reunião, de coesão, de agrupamento. De Integralismo, evidentemente. Mas, que quer dizer "anauê"? A viagem pelo tupi não aclarou a significação negaceante. Nem podia aclarar.

Anauê não é vocábulo do idioma tupi como julguei sempre.
É uma palavra, cujo sentido ignoro, da língua dos Pareci, índios Nuaruacos da província do Mato Grosso. Roquette Pinto recolheu ("Rondonia", fonogramas 14.594 e 14.595) uma cantiga Pareci, onde deparamos o famoso "anauê".
ah ah ah ah ah ah
Noai anauê noi anauê
Noai anauê noi anauê
ah ah ah ah ah ah
etc...


Como descobri o que foi o Integralismo - Por: Maria Amélia Castro


Como descobrimos as coisas!

Certa vez, minha querida tia Aldinha, perguntou-me se queria ir com ela até o Juazeiro (do Norte). Imaginem vocês, ir ao Juazeiro, na época, era uma pequena viagem, um passeio. Acordávamos cedinho, tomávamos o ônibus na esquina da rua Dr João Pessoa com a , passávamos pelas ruas da Cruz, Pau do guarda, São José, e o ônibus seguia, parando a cada minuto para pegar passageiros, que também iam para a cidade de “Meu Padrinho”.

Chegando em Juazeiro, Aldinha fez o que tinha pra fazer por lá, e se lembrou de uma grande amiga que havia se mudado há pouco tempo do Crato para aquela cidade. Era Lírida. Pois fomos à casa dela, que era uma professora querida, irmã de D. Celide. No Crato, elas moravam perto do Tabaja Hotel, e no quintal dessa casa havia um pé de cajarana, com frutas doces parecia mel...Lírida nunca se esquecia de mandar, por nós, uma cesta de frutas para minha avó e, claro, nós comíamos um bocado delas no caminho.

Mas, desta vez, Lírida tinha-se mudado. Chegamos à residência dela e recebemos a recepção calorosa da mãe da professora. Sentamos na sala, e Aldinha, lembro-me, já tinha feito as recomendações de praxe, para que eu ficasse "sentadinha", "comportada", sem pedir nada. Não podia, também, meter-me em conversa de adultos. Obedeci direitinho, sentei numa cadeira, em frente a uma parede que tinha um quadro fixado, medindo aproximadamente 60X40 cm. A foto emoldurada era de um homem de corpo inteiro, vestido com um uniforme verde impecavelmente engomado, com um braço levantado para o alto. Enquanto minha tia conversava, eu olhava aquela figura, achando muito bonito e imponente quela postura. Quando terminou a visita, saímos e foi quando perguntei à Aldinha: quem era aquele homem do quadro e porque ele estava daquele jeito. Ela me respondeu baixinho, e de forma estranhamente cúmplice, que ele era integralista, e o braço levantado era uma saudação em que falava “Anauê”. Essa imagem nunca mais saiu de minha cabeça, e me instigou a ler sobre o que foi o integralismo no Ceará. Soube, mais tarde, que o movimento foi muito forte no Estado, tendo inclusive contado com a participação da igreja, tendo D. Helder Câmara atuado como membro, e ocupado cargo equivalente ao de um Secretário de Educação. Apenas o Ceará levou um Integralista ao poder. Esse movimento tinha como lema Deus, Pátria e Familia.


Maria Amelia Castro

"Uma Saudade Puxa Outra" por Corujinha Baiana


Era o Baile da Saudade. As roupas, os penteados, as gírias, tudo estava como ditava a moda da época. O salão estava iluminado com a presença dos grandes ídolos.Os Românticos de Cuba deram início à festa, lembrando aos amantes que só se ama “Solamente Una Vez.”

Bievenido Granda cantou “Total”, e um “Perfume de Gardenia “ impregnou todo o salão.

Miguel Aceves Mejia, apesar de ter “Alma de acero” sofria e gritava ( ui, ui, ui )“A Los Cuatro Vientos -Dejen que el llanto me bañe el alma Quiero llorar, traigo sentimiento”

Aproveitando aquele clima nostálgico, Agustin Lara aproveitou para perguntar a Maria Félix : “Acuerdate de Acapulco, de aquellas noches, Maria Bonita, Maria Del Alma...” Mas ela não respondeu.

Lucho Gatica, em seguida, tranqüilo e sereno, com voz suave e melodiosa, fez questão de cantar as suas dúvidas : “Sabrá Dios, si tú me quieres o me engañas...”.

Lá, num cantinho, escondido, Roberto Yanez, resolveu aparecer, e tentou mais uma vez,convencer a sua amada “ Que te quiero, Sabrás Que Te Quiero, cariño como este jamás existió...” Muitos achavam que ele imitava o Lucho, mas não, ele apenas tinha uma voz tão ou mais linda que a dele.

Enquanto isso, Pedro Vargas, “Desesperadamente” implorava: “ Ven, mi corazón te llama...”. Também fez questão de lembrar que “Un viejo amor no se olvida si se deja...” e como bom crente que era, suplicou na “Oración Caribe :piedad, piedad para el que sufre,piedad,piedad, para el que llora...”

O Trio Los Panchos indiferente ao sofrimento alheio, apregoava: “Me voy pa Pueblo hoy es mi dia voy alegrar todo el alma mia...”

Joselito, El Pequeno Ruiseñor, era o mais novo, mas também estava contagiado com tanto sofrimento, e aproveitou pra perguntar: ““¿ Donde estará mi vida, por que no vienes…?”

Libertad Lamarque, não satisfeita com tanto “dois pra lá, dois pra cá”,antes de deixar o baile aconselhava “...No llores amor mio, la gente está mirando, Bailemos esse tango, el tango del adiós ...”
Eis que de repente, as atenções se voltaram para um estranho no ninho.Era Nat King Cole e aquele sotaque encantador,que inconformado, repetia “ Siempre que te pregunto,que cuando como y donde,tu siempre me responde “Quizás, quizás,quizás “.E logo em seguida,confessava : “ Quero chourar,no tenho lágrimas,que me roulem na face pra me socouruer...”

O salão ficou em silêncio por alguns instantes,até que, ouviu-se uma voz...aquela voz cheia, potente e vigorosa que cantou, encantou e preencheu de sonhos e fantasias o meu mundo adolescente...

Dos almas que en el mundo
había unido Dios
Dos almas que se amaban
eso éramos tu y yo

Por la sangrante herida
de nuestro inmenso amor
Nos dábamos la vida
como jamás se dió

Un día en el camino
se cruzaban nuestras almas
Surgió una sombra de ódio
que nos aparto a los dos

Y desde aquel instante
mejor fuera morir
Ni cerca ni distante
podremos ya vivir
ni cerca ni distante
podremos ya vivir

Era a voz de Gregório Barrios com Dos Almas, que me convidou para deixar o Baile, e assim, despertar daquele sonho.


Recado : Só quem ouviu, cantou, dançou, sonhou e viveu as músicas aqui citadas, pode participar do Baile da Saudade.

Corujinha Baiana ( 30 de agosto de 2009 )

Qual a melhor religião ?- Recebida por e-mail

(Breve diálogo entre o teólogo brasileiro Leonardo Boff e o Dalai Lama. )

Leonardo Boff explica:

No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos (eu e o Dalai Lama) participávamos,

eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga:

- "Santidade, qual é a melhor religião?" (Your holiness, what`s The best religion?)

Esperava que ele dissesse:

- "É o budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo."

O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos o que me desconcertou um pouco,

por que eu sabia da malícia contida na pergunta - e afirmou:

“A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, é aquela que te faz melhor.”

Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar:

-"E o que me faz melhor?”

Respondeu ele:

- "Aquilo que te faz mais compassivo". Aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável, mais ético...

A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião..."

Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta, sábia e irrefutável...

Não me interessa amigo, a tua religião ou mesmo se tens ou não tens religião. O que realmente importa é a tua conduta perante o teu semelhante, tua família, teu trabalho, tua comunidade, perante o Mundo...

Lembremos:

"O Universo é o eco de nossas ações e nossos pensamentos".

A Lei da Ação e Reação não é exclusiva da Física. Ela está também nas relações humanas.

Se eu ajo com o bem, receberei o bem.

Se ajo com o mal, receberei o mal.

Aquilo que nossos avós nos disseram é a mais pura verdade:

- "terás sempre em dobro aquilo que desejares aos outros".

Para muitos, ser feliz não é questão de destino. É de escolha.

Tradição Oral - Bisaflor Conta Histórias - Por: Stela Siebra Brito

Já que estava no Crato, Bisaflor foi visitar Maricelli, a filha de uns amigos da Ponta da Serra, de antigamente: Joaquim Valdevino e Maristela. Maricelli organizou uma noite de contação de histórias na sua casa lá na Palmeirinha dos Vilar, e chamou um monte de gente das redondezas. Foi uma festança: fogueira no terreiro, aluá de abacaxi, café, sequilhos, pão de ló com café de leite, arroz doce feito com mel de rapadura, beiju e tapioca de amendoim. Bisaflor, muito animada com recepção tão acolhedora, típica de uma casa sertaneja, contou muitas histórias naquela noite. Crianças e adultos se divertiram muito e elegeram duas histórias para Bisaflor repetir. Alguns diziam: “conta de novo aquela do bode e da onça”; outros pediam pra repetir a história da “alma penada”. E Bisaflor repetiu as duas histórias.

A ONÇA E O BODE

Esta história aconteceu antigamente, muito antigamente, quando tudo no Brasil era quase só mata.
A onça queria fazer uma casa, mas, todo dia adiava o projeto, até que um dia, finalmente, decidiu-se e foi procurar um terreno; encontrou um bom lugar, roçou o mato. Satisfeita com esse primeiro passo, saiu perambulando por aí afora, quem sabe procurando comida.
O bode também decidiu fazer uma casa e ficou muito alegre quando encontrou o terreno roçado pela onça:
- Ora, ora, que lugar bom pra fazer minha casa!
Tratou logo de cortar madeira, enfincou as forquilhas no chão e dando-se por satisfeito com o trabalho foi embora.
No outro dia chega a onça e vendo o trabalho feito pelo bode, diz:
- Alguém está me ajudando, ah, só pode ser Tupã que está me ajudando! Agora vou fazer minha parte.
E falando assim, a onça tratou de colocar as vigas nas forquilhas e a cumeeira e depois foi embora.
O bode quando voltou admirou-se e pensou que estava sendo protegido por Tupã. Colocou os caibros na casa e partiu.
Quando a onça voltou no outro dia se espantou muito mais e, satisfeita com o andamento rápido da construção da casa, colocou as ripas e os enchimentos e retirou-se em busca de alimentação.
É a vez do bode agora que chega e vai logo envarando toda a casa. Depois volta a onça e faz a cobertura. O bode veio e tapou, a onça veio e... Assim, cada um fazendo uma parte, mas sem nunca se encontrarem, aprontaram a casa.
Quem primeiro se mudou para a casa foi a onça, que armou um jirau, como cama, e lá se meteu.
Quando o bode chegou e encontrou a onça tão bem instalada lhe disse:
- Ah, não! Esta casa é minha, amiga. Fui eu quem enfincou as forquilhas, botei os caibros, envarei e tapei.
A onça nem se abala e bem deitada na sua cama responde:
- Não, amigo, a casa é minha. Encontrei o terreno, rocei, coloquei as vigas, a cumeeira, as ripas, os enchimentos, o sapé, fiz tudo isso. A casa é minha.
O bode questiona, a onça questiona, debatem, mas por fim, a onça, muito astuta, já pensando em comer o bode, propõe que dividam a casa. O bode concorda em morar na mesma casa com a onça, mas, como está com medo, arma sua rede bem longe do jirau.
No dia seguinte a onça avisa para o bode que quando ele a vir franzindo o couro da testa, “tome sentindo, porque este é o sinal que eu estou com raiva”. O bode também revela o sinal da sua mudança de humor: “é quando, amiga onça, eu balanço minhas barbinhas ali nas goteiras e dou espirros; quando você me vir fazendo isso, fuja que não estou pra brincadeira”.
A onça ouviu o bode, mas não se alterou, resolveu sair em busca de alimento, caçou um grande bode, matou, trouxe pra casa, e atirando-o no chão, sugeriu que o bode esfolasse e tratasse o animal morto.
O bode ficou abalado quando viu aquilo, pensando com seus botões: “ela matou um grande assim, imagine eu...”, mas disfarçou seu receio.
No dia seguinte ele falou para a onça:
- Amiga onça, hoje quem vai buscar de comer sou eu.
E partiu para o mato, andou, andou, andou até avistar uma onça grande e gorda. O bode, então, disfarçou e começou a tirar cipós do mato. A onça grande foi-se chegando e, achando estranho aquilo, perguntou:
- Amigo bode pra quê tanto cipó?
- Pois sim! Não tá sabendo não, é? O negócio é sério, o mundo vai se acabar, vem um dilúvio aí...
A onça grande ficou logo alterada, com medo do fim do mundo, e o bode aproveitando-se disse:
- Pois trate de arranjar escapatória, amiga onça, venha se amarrar, que eu já me vou.
A onça grande escolheu uma árvore de tronco grosso e pediu ao bode que a amarrasse, o que ele fez com grande prazer. Foi envolvendo o corpo da onça com os cipós e amarrando-a bem firme, até certificar-se de que não tinha outro jeito pra onça a não ser morrer. Matou a onça a cacetadas e arrastou o corpão pesado para casa. Lá chegando disse:
- Aqui está, se quiser, esfole e trate.
A onça não acreditava no que estava vendo, ficou muito espantada. E agora era assim: o bode com medo da onça, a onça com medo do bode, nos cuidados um com o outro, até o dia em que o bode ficou nas biqueiras da casa, tomando ar fresco, olhou de soslaio pra onça e ela estava com o couro da testa franzido. O bode sentiu medo, balançou as barbas, soltou um espirro. A onça pulou do mundéu, largou-se em grande carreira, ao mesmo tempo em que o bode também se precipitou em louca correria.
E dizem que ainda hoje eles correm, cada um pra um lado; quem viaja pelos sertões adentro conta que nessas andanças têm encontrado a onça em louca dispara e o bode noutra direção, um com medo do outro.
Dizem... Eu conto porque assim ouvi do meu pai, que escutou a história contada por seu pai, que ouviu da avó, que escutou de uma velha índia, e por aí vai, muitos já contaram e outros ainda contarão, não tem fim.

A CASA MAL-ASSOMBRADA

Era uma vez duas mulheres – mãe e filha – muito pobres, que foram expulsas da casinha onde moravam. Não sabiam pra onde ir, pois não tinham parentes nesse mundo, imagine amigos. O jeito era morarem na casa mal-assombrada. “Isso se o dono permitir”, pensava a moça, que se chamava Jaciana.
Foram tratar com o proprietário, que muito se admirou que houvesse naquela redondeza alguma pessoa que não soubesse da má fama da casa, tida como mal-assombrada, e que só estava lhe causando prejuízo, pois ninguém queria alugá-la. As duas mulheres sabiam sim do que se dizia sobre a casa: que quando à noite o sino batia as 12 badaladas, corria um vento gelado, ouviam-se gemidos e suspiros, barulho de correntes, gritos, acendiam-se e apagavam-se luzinhas nas janelas. Era só assombração até o raiar do dia, mas, como elas não tinham mesmo para onde ir, a casa mal-assombrada serviria sim pra elas.
Fizeram a mudança no mesmo dia, arrumaram tudo, e a mãe, muito cansada, logo adormeceu. Jaciana ficou ainda zanzando pela casa até umas 11 horas. Deitou-se, mas, não adormeceu, virava-se de um lado pra outro, inquieta, e, vira que vira, o relógio da matriz bateu as 12 badaladas. Passou um vento gelado e começaram os suspiros e gemidos. E ela escutou uma voz cavernosa que vinha lá de cima:
- Eu caio... eu caio!
Ela olhou, não viu nada, mas respondeu:
- Pois caia, com Deus e a Virgem Maria.
Caem, então, do teto do quarto, duas pernas. E em seguida ela escuta a mesma voz:
- Eu caio... eu caio!
- Pois caia, com Deus e a Virgem Maria.
Desta vez é um tronco que cai. E a voz falou mais duas vezes e a moça respondeu do mesmo jeito. E caíram os braços e a cabeça de um homem, que se uniram ao tronco e às pernas. Apareceu então um homem com a palidez de um cadáver, que falou pra moça:
- Se não tens medo, vem comigo.
Jaciana acompanhou o homem pelos corredores e salas da casa até o quintal, onde pararam debaixo de um tamarineiro. O morto falou:
- Cave aqui e desenterre a lata.
A moça cavou e encontrou uma lata cheia de dinheiro, que foi carregada para dentro da casa. O morto lhe contou:
- Eu sou uma Alma Penada, desde que morri ando sofrendo por causa deste dinheiro. Quando era vivo eu roubei uma pobre viúva, arrasando a vida dela e dos seus filhos, pequenos órfãos. Preciso sossegar minha alma, preciso que você me ajude e faça o que peço: metade deste dinheiro é seu e da sua mãe, a outra metade distribua com os pobres; e mande rezar cem missas para minha alma.
Mal terminou de falar o último pedido, a Alma Penada desapareceu para sempre.
Jaciana fez tudo como o morto mandou e passou a viver no maior luxo e riqueza para o resto da sua vida.
Acabou, foi verdade, aconteceu. Dizem.

Stela Siebra Brito

Aos colaboradores e visitantes do Cariricaturas


Aos nossos colaboradores e visitantes


Recebemos há alguns dias (por e-mail) umas duas ou três comunicações informando-nos da dificuldade encontrada - algumas vezes - por algumas pessoas em postarem comentários no Cariricaturas.

Diante da dificuldade que alguns visitantes possam vir a ter, pedimos aos amigos que esses comentários e/ou textos nos sejam enviados por e-mail, para que não fiquem perdidas algumas pérolas por falta de uma oportunidade.


sauska_8@hotmail.com – Socorro Moreira
cbbloc@uol.com.br – Claude Bloc

Sejam todos muito BEM VINDOS!
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Tarsila do Amaral e o Modernismo

Tarsila do Amaral

Tarsila do Amaral

Tarsila retratada por Anita Malfatti
Tarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886 na Fazenda São Bernardo, município de Capivari, interior do Estado de São Paulo. Filha de José Estanislau do Amaral e Lydia Dias de Aguiar do Amaral. Era neta de José Estanislau do Amaral, cognominado “o milionário” em razão da imensa fortuna que acumulou abrindo fazendas no interior de São Paulo. Seu pai herdou apreciável fortuna e diversas fazendas nas quais Tarsila passou a infância e adolescência.

Estuda em São Paulo no Colégio Sion e completa seus estudos em Barcelona, na Espanha, onde pinta seu primeiro quadro, “Sagrado Coração de Jesus”, aos 16 anos. Casa-se em 1906 com André Teixeira Pinto com quem teve sua única filha, Dulce. Separa-se dele e começa a estudar escultura em 1916 com Zadig e Mantovani em São Paulo.

Posteriormente estuda desenho e pintura com Pedro Alexandrino. Em 1920 embarca para a Europa objetivando ingressar na Académie Julian em Paris. Frequenta também o ateliê de Émile Renard. Em 1922 tem uma tela sua admitida no Salão Oficial dos Artistas Franceses. Nesse mesmo ano regressa ao Brasil e se integra com os intelectuais do grupo modernista.

Oswald de Andrade retratado por Tarsila

Faz parte do “grupo dos cinco” juntamente com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia. Nessa época começa seu namoro com o escritor Oswald de Andrade. Embora não tenha sido participante da “Semana de 22” integra-se ao Modernismo que surgia no Brasil, visto que na Europa estava fazendo estudos acadêmicos.

Auto-retrato - 1934

Volta à Europa em 1923 e tem contato com os modernistas que lá se encontravam: intelectuais, pintores, músicos e poetas. Estuda com Albert Gleizes e Fernand Léger, grandes mestres cubistas. Mantém estreita amizade com Blaise Cendrars, poeta franco-suiço que visita o Brasil em 1924. Inicia sua pintura “pau-brasil” dotada de cores e temas acentuadamente brasileiros. Em 1926 expõe em Paris, obtendo grande sucesso.

Casa-se no mesmo com Oswald de Andrade. Em 1928 pinta o “Abaporu” para dar de presente de aniversário a Oswald que se empolga com a tela e cria o Movimento Antropofágico. É deste período a fase antropofágica da sua pintura. Em 1929 expõe individualmente pela primeira vez no Brasil. Separa-se de Oswald em 1930.

O Abaporu - 1928

Os Operários - 1933

Em 1933 pinta o quadro “Operários” e dá início à pintura social no Brasil. No ano seguinte participa do I Salão Paulista de Belas Artes. Passa a viver com o escritor Luís Martins por quase vinte anos, de meados dos anos 30 a meados dos anos 50. De 1936 à 1952, trabalha como colunista nos Diários Associados.

Urutu

Nos anos 50 volta ao tema “pau brasil”. Participa em 1951 da I Bienal de São Paulo. Em 1963 tem sala especial na VII Bienal de São Paulo e no ano seguinte participação especial na XXXII Bienal de Veneza.

A pintora Tarsila do Amaral é, indiscutivelmente, um ícone da arte brasileira nesse século. Podemos dizer que Tarsila do Amaral encontrou soluções extremamente pertinentes para o que talvez seja o maior dilema da arte brasileira contemporânea: a difícil combinação entre as novas informações e a tradição advindas da arte européia e o caldo cultural brasileiro, principalmente no que se refere à expressão popular.

Teve uma formação acadêmica muito sólida, em São Paulo e em Paris, o que não resultou para a artista em amarras estéticas ou imposições formais. Muito pelo contrário, a formação acadêmica só reforçou a singularidade da cultura popular brasileira para Tarsila.

É essa cultura que seria reinterpretada e redescoberta à luz do modernismo brasileiro. Tarsila do Amaral é peça chave do movimento modernista, integrando o “grupo dos cinco”, formado por intelectuais e artistas fundadores do movimento, como Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Pichia. Nessa época começa o namoro com Oswald de Andrade, com quem se casaria em 1926.

Tarsila do Amaral foi uma artista muito consciente da sua importância no movimento modernista e da inserção da sua obra no panorama brasileiro das artes plásticas. Tarsila integrava a vanguarda intelectual e artística da época, cultivando uma forte amizade com o intelectual franco-suíço Blaise Cendrars.

Em 1928, pintou o Abaporu, tela batizada por Oswald e pelo poeta Raul Bopp, e que inspiraria o movimento o movimento antropofágico, importante movimento cultural da década de 1930, vinculado ao modernismo e encabeçado por Oswald de Andrade. Em 1950, Sergio Milliet organizou retrospectiva da artista no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Tarsila participou também da I Bienal, em 1951. Em 1964, participou da Bienal de Veneza e em 1969 o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugurou uma grande exposição de sua obra: 50 Anos de Pintura. Esse quadro de Tarsila bateu o recorde de preço de uma obra brasileira, estando situado hoje na Argentina.

Suas telas eram então, nitidamente influenciadas pelo cubismo, mas impregnadas de uma brasilidade que se manifesta, sobretudo nas cores. Mais tarde sua devoção pelas paisagens da infância revela-se tanto em sua fase Pau-Brasil (1924) registrando cidades, paisagens e tipos comoventemente brasileiros, como nas estranhas figuras da chamada fase Antropofágica (1928). Esta última é resultado de um presente ao seu marido, Oswald de Andrade. Pintou o Abaporu, uma figura de cabeça pequena, braço fino e pernas enormes, tendo ao lado um cactus cuja flor se assemelha a um sol. O nome da obra vem do dicionário de Tupi-Guarany de Montoya: Abapuru em língua indígena significa “antropófago; homem que come carne humana”. Oswald elabora o Movimento Antropofágico e a pintura de Tarsila evolui. As formas volumosas, as cores exuberantes passam a ser a marca registrada da artista.

As últimas obras de Tarsila resultaram de sua viagem à União Soviética em 1931. Voltou marcada pelo que viu. Marcada o drama operário e a miséria das multidões. Ë desse período as obras-primas: Operários e 2a Classe. Chegou a ser presa por divulgar seus ideais políticos durante o período Getulista. Os quadros de sua chamada fase social registram dores imensas, estampadas em figuras miseráveis, injustiçadas. Sua brasilidade re-significa o chamado Realismo Socialista.

Posteriormente Tarsila limitou-se a revisitar suas fases anteriores, concentrando-se em temas como folclore e religião Tarsila do Amaral falece em São Paulo no dia 17 de Janeiro de 1973 com um legado deixado por poucos: a caminhada que buscava uma arte nacional.

É considerada uma das mais importantes artistas brasileiras que, embora tenha tido uma curta carreira, criou obras de expressão inigualável para a arte moderna no Brasil.

CRONOLOGIA

1886 – Nasce em Capivari, São Paulo.

1917 – Estuda com Pedro Alexandrino e Elpons, em São Paulo.

1920 – Estuda na Academia Julian, em Paris.

1922 - Liga-se ao grupo modernista em São Paulo, integrando o “grupo dos cinco”, formado por intelectuais e artistas fundadores do movimento, como Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Pichia.

1923 – Viagem à Europa com Oswald de Andrade. Estuda com André Lhote e Albert Gleizes.

1924 – Início da fase Pau-Brasil.

1976 – Retrospectiva na Bienal de São Paulo.

1977 – Retrospectiva no MAM – RJ.
1983 – Retrospectiva Centro Cultural São Paulo.

1984 – Retrospectiva MAM-SP.

1984 – Exposição “Tradição e Ruptura, Síntese de Arte e Cultura Brasileira”, Fundação Bienal de SP.

Faleceu em São Paulo no dia 17 de janeiro de 1973.




A MORTE EM VIDA


Paro na banca de jornal focalizo uma página entre tantos jornais

As vezes vejo a televisão

Muitas vezes escuto no rádio as opiniões das guerras sociais

E todos os dias atravesso a esquina na minha visão

E o que vejo?

A violência estampada, refletida, noticiada e captada pela minha confusão

"Alí" um homem, uma mulher ou uma criança caída, estendida no chão

A foto, a imagem, o som, a bomba, a arma e a minha dor num único ato de percepção

Sinto cheiro de sangue derramado de cor vermelha símbolo da brutalidade da cega visão

É uma dor do mundo humano sendo espalhada em noticiários mil

"FOI ASSASSINADO POR UM (DES)CONHECIDO CIDADÃO VARONIL
AQUI MESMO NO BRASIL".

Os dias se passam e essas cenas se tornam comuns no dia-a-dia da população

Que acabou se acostumando em perceber a violência no outro cidadão-irmão.

Atônitos nos perguntamos: por que o homem age como se fosse um animal raivoso semelhante a um CÃO?

Será que vivemos um mundo de ilusão!

Perplexos perguntamos: aonde está o paraíso de Eva e Adão?

Escuta minha verdade, meu caro irmão!

"Eu sei" o que "eu" preciso fazer, mas não basta apenas aprender para informar. É preciso viajar no espaço infinito da consciência. Mas, "viajar" significa abandonar o nosso lugar ou espaço de convivência de coisas e visões. Pois, "viajar" significa "transcender a vida humana" para conhecer o novo, o inédito e o deslumbrante. E também significa estender a mão e abrir o coração correndo um risco certo de nascer ("viajar") novamente. Para nascer precisamos morrer. Uma morte imprevisível. Essa morte aparece quando menos a gente espera. Ela não tem caixa postal. Não tem rosto definido. Não tem número de identidade. Não mora no palácio do governo. Não entende de economia. Ela está onde está a vida. Somente a vida entende o que é a morte. Se a gente não sabe onde está a vida. Não sabemos também onde aprender sobre a morte. Eu já fui apresentado a minha morte em vida. Conheci de perto ao lado da vida. Ela tentou me abraçar, me acariciar e eu no início chorei, mas depois deixei e gostei. Preferi essa morte que acompanha a vida. Hoje, sei onde ela pulsa em mim mesmo.

A vida e a morte não estão fora da gente. A gente é que coloca a vida e a morte fora da gente. Por isso, queremos construir um mundo social sem a morte em vida. Esse ato inconsciente nos conduz a ignorância das leis sagradas de Deus. E aí quando menos esperamos, a morte conhecida impecavelmente nos abraça sem vida na calada da noite ou numa luz fulminante de calor medonho do dia. Ela é imprevisível. E certa. Não adianta fugir prescrevendo uma vida futura. Temos que ficar e aprender a viver a vida presente numa morte (transmutação) constante da consciência fora do tempo.

Esse é o mistério que precisa ser desvelado por todos os indivíduos que carregam o mistério da vida e da morte dentro de si mesmos: "decifra-me ou te devoro".

Ou também "conhece-te a ti mesmo" - Sócrates.

Ou melhor ainda: "Da vida se tira vários livros, mas dos livros se tira pouco bem pouco a vida" - Kafka.

A morte é a vírgula na frase da vida. Sem a vírgula a frase fica sem sentido. Mas, também com muitas vírgulas a frase fica cortada perdendo o sentido tanto quanto antes. A vida é o texto bem escrito que nós preparamos conscientemente numa bela história onde somos o personagem principal que no final sai do texto para se fundir com o próprio escritor da morte em vida: Deus.

O que é viver senão aprender a morrer em si mesmo! Não dá para fugir da morte. A única coisa que podemos fazer é transcendê-la aprendendo o que ela é e o que significa realmente. Se não aprendemos o que é a morte não sabemos para quem vamos servir na vida. Essa sabedoria milenar nos faz compreender o sentido de tudo. E nesse aprendizado a morte violenta se dilui e perde força no interior do furacão da vida.

Viver é preciso. E morrer em vida é uma contingência da sabedoria. Ser sábio a respeito da morte é tornar-se místico ou santo. É vislumbrar o caminho do Santo-Deus. E nesse caminho a morte fica para trás. Tornando-se apenas uma estação, uma parada necessária em nosso caminhar. Um caminhar para encontrar - encontrar a si mesmo para renascer iluminado!

Viagem sem volta - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Tempos doidos. Aqueles. Quando muita gente “viajou” e desta “viagem” jamais voltou. Em que pese todas as explicações causais ou coadjuvantes, se torna uma questão mais larga sobre a própria condição humana.

Migrar, se espalhar, ocupar novos territórios, sempre esteve no horizonte tanto das sociedades coletoras por natureza, como até mesmo naquelas estruturas sedentárias. Isso ocorria quando um contingente sobrepunha-se em quantidade de pessoas à capacidade da agricultura do local.

O Renascimento e seu prolongamento nos Séculos das Luzes inauguram a maior dinâmica jamais vista de migrações intercontinentais. Aqui contemplamos o curto intervalo de tempo, pois a humanidade naquela altura já ocupava todos os territórios do planeta, à exceção da Antártida.

Na disputada hegemonia dos anos da pós-segunda guerra, a corrida espacial deixou a cultura repleta da mais sublime viagem: ao espaço sideral. Quantos filmes, músicas, imagens, poemas, romances, ensaios, novelas não foram elaborados em medida desta corrida? Até que veio a gravidade, as grandes distâncias e o inóspito da vida fora da terra foram reduzindo os horizontes, mas deixando uma estrutura que conectou todo o planeta numa viagem intramuros.

Hoje as telecomunicações fazem a geografia planetária. A informação reconstrói o outro e a nós mesmos. O processamento em alta velocidade cria novas visões da vida. A agenda local se respinga das considerações globais. Enfim, os Cariris completam a leitura do catecismo em língua própria.

Tenho um amigo que parece ter feito uma viagem ao Japão e nesta ida e vinda, ficou aprisionado do fuso horário de lá. Parece, pois na verdade não a fez fisicamente, a fez tão somente na dobradiça da própria porta do seu apartamento. Nele troca o dia pela noite.

À sua diária não se pode atribuir uma jornada. Agora é uma noitada de leituras, computadores, música e uma vida corrida entre tragadas constantes de nicotina, café forte e frio com adoçante artificial e litros e litros de água. Entre a micção e o assento da poltrona, a vida corre.

Quando é lá pelas cinco horas, ele come a refeição principal. Pode ser uma rabada, uma feijoada ou outro alimento menos lipídico, não importa, eis que a única refeição do dia é feita. Quando a Globo já deu seu Bom Dia Brasil ele se deita e dorme induzido pela química dos psicofármacos.

Meu amigo fez uma viagem ao Japão e no pleno de uma Rua de Copacabana ainda vive doze horas adiantadas.

Dalva, Emilinha e Jackson do Pandeiro - Por : Norma Hauer

EMILINHA BORBA
Ela nasceu em 31 de agosto de 1923.

ASSIM SE PASSARAM 10 ANOS

Foram 10, mais 10 e mais 10 anos de emoção, de prazer, de tudo de bom que a presença de Emilinha Borba nos trouxe. Viver seu tempo foi viver a mais bonita e alegre fase de nossa música popular.

“Esta canção foi feita para quem quiser cantar,
Cantamos nós, canta você até cansar...”

É a Rádio Nacional.
É o Programa César de Alencar que vai começar ; as filas já têm início na Praça Mauá, para que se tenha lugar naquele auditório onde o frenesi toma conta de todos, sejamos o povão, sejamos de todas as camadas sociais, sejamos os que querem se divertir ouvindo as maravilhosas interpretações da “Favorita da Marinha”, a eterna “Rainha do Rádio”, a querida Emilinha Borba.
Ah, como era bom o rádio em sua fase de ouro !...
E o Carnaval?
“Chiquiita bacana, lá da Martinica
Se veste com uma casca de banana nanica...”

– “Tomara que chova/ três dias sem parar...”

E lá se vai Emilinha Borba e seu séqüito de fãs sinceras, acompanhando-a em qualquer parte onde se apresenta.

“Uma vez lá em Cuba
dançando uma rumba
Disseram que eu era....
escandalosa...”

É um carnaval que não volta mais; começava nos cassinos e foi em um cassino (o de Copacabana) que Emilinha desabrochou para o canto.
Daí se ia para o “High Life” o inocente “High Life”, que era “proibido para menores”.

Emilinha, entretanto, era quase uma menina, mas já prometia ser um ícone de
Virgem, seu signo de nascimento. Talvez isso a tenha tornado um ídolo popular. Em seu primeiro disco, seu nome sequer consta da etiqueta. Cantou com Nilton
Paz:

“Ioiô, dá o braço pra Iaiá
Iaiá dá o braço pra Ioiô
o tempo de criança já passou...oi
pirulito que bate, bate
pirulito que já bateu
quem gosta de mim é ela
quem gosta dela sou eu...”.

Mas chamou a atenção de todos aquela voz feminina, quase infantil, que dialogava com Ioiô. Quem era?

Passou a ser a “Favorita da Marinha”, tendo como seus fãs marinheiros e fuzileiros navais; mas também as “meninas”, que os invejosos denominavam “macacas de auditório”, não a abandonavam.

Para elas, que todos os sábados se acotovelavam para ingressar na Rádio Nacional, Emilinha era a única.

Do outro lado, Marlene era sua rival. Isso dentre suas fãs, porque dizem,as duas eram amigas.
Quem não era fanático por uma ou outra, apreciava ambas.
Ambas são imortais, ambas marcaram demais nosso carnaval e também o então chamado “meio de ano”, quando Emilinha cantava
“Se queres saber”,
Se eu te amo ainda..."

“Dez anos”, “Cachito”, alguns baiões...:

“Paraíba masculina
Mulher macho, sim senhor...”.

Nos últimos anos, sentindo que o povão estava deixando de ser personagem para ser espectador no Carnaval, passou a apresentar-se no tablado que a Prefeitura voltou a montar na Cinelândia (que Cinelândia?) onde todos tinham sua vez.

O de 2005 foi o derradeiro porque, nesse mesmo ano, no dia 3 de outubro ela faleceu.
Por coincidência nessa mesma data, em 1979, faleceu Humberto Teixeira, autor de "Paraíba".

Pouco antes de falecer, Emilinha e outros cantores, gravaram um CD só de musicas
de Klécius Caldas . Klécius é compositor, dentre outras, da famosa "Maria Candelária", imortalizada na voz de outro ídolo,Blecaute.
Até hoje, 4 anos depois, esse CD não foi lançado.

-Um carro do Corpo de Bombeiros, coberto de flores percorre as ruas do Rio. Do salão nobre da Câmara Municipal ao Cemitério de São Francisco Xavier,
segue o corpo para a última morada. Não sabemos o que há do lado de lá, mas esperamos que ela reencontre seus velhos amigos que já são saudades há
algum tempo.

“Adeus, adeus, adeus.../ cinco letras que choram/ num soluço de dor/ adeus é como o fim de uma estrada/ cortando a encruzilhada...”.
Demos-lhe o último adeus e começamos nossa SAUDADE.
A ESTRELA DALVA
No dia de hoje lamenta-se a partida de DALVA DE OLIVEIRA para a eternidade e lá brilhar como uma verdadeira ESTRELA DALVA.

Aqui deixou sua bonita voz, que não se apagará enquanto houver a maravilha de seus discos e hoje a Internet onde podemos ouvi-la, sempre que o desejarmos.
Prefiro ouvi-la em discos, a voz sai mais pura e a sentimos junto a nós.

Partiu ainda muito nova. Desgostos levaram-na a entregar-se à bebida. Combinado com um acidente automobilístico à saída do Túnel Novo, nunca mais se recuperou e, apenas com 55 anos (em 31 de agosto de 1972) deixou aqui sua grande SAUDADE.

Seu filho, Peri Ribeiro, é o grande elo que nos liga a ela. Canta e encanta, tal como a
maravilhosa DALVA DE OLIVEIRA. Viveu alguns anos nos Estados Uinidos, e, agora vivendo no Brasil, podemos contar com seu cantar por muitos e muitos anos, ainda.

A DALVA DE OLIVEIRA, na data em que se completam 37 anos de sua partida, nosso preito de saudade e de certeza de que aqui muitos continuam a amá-la.
JACKSON DO PANDEIRO

Do alto da serra onde fica a cidade de Areia, em plena região do brejo paraibano, avista-se lá embaixo a cidade de Alagoa Grande, com a lagoa que dá nome à cidade brilhando à luz do sol nordestino, como uma colher de prata em cima de uma toalha verde.
Pois foi em Alagoa Grande, em 31 de agosto de 1919, que nasceu JOSÉ GOMES FILHO, que mais tarde viria a se tornar conhecido como Jackson do Pandeiro.

Queria ser sanfoneiro. Mas a sanfona era um instrumento caro, e sendo o pandeiro mais barato, foi esse que recebeu de presente da mãe, Flora Mourão, cantadora de coco, a quem desde cedo o menino ouvia cantar coco, tocando zabumba e ganzá.

Aos 13 anos, com a morte do pai, foi com a mãe e os irmãos morar em Campina Grande, , onde em sua feira, assistia aos emboladores de coco e cantadores de viola. Ia muito ao cinema e tomou gosto pelos filmes de faroeste, admirando muito o ator Jack Perry. Nas brincadeiras de mocinho e bandido com os outros garotos, José transformava-se em Jack, nome pelo qual passou a ser conhecido.

No o início da década de 40, Jackson foi morar em João Pessoa, onde continuou a tocar nos cabarés, e logo depois na Rádio Tabajara, onde ficou até 1946.

Em 1948 foi para o Recife trabalhar na Rádio Jornal do Comércio Foi aí que o diretor do programa sugeriu que ele trocasse o Jack por Jackson, que era mais sonoro e causava mais efeito quando anunciado ao microfone.

Somente em 1953, já com trinta e cinco anos, foi que Jackson gravou o seu primeiro grande sucesso: Sebastiana, de Rosil Cavalcanti. Logo depois, emplacou outro grande hit: Forró em Limoeiro, rojão composto por Edgar Ferreira. 07:23 (1½ horas atrás) Norma
JACKSON DO PANDEIRO -2-
No Rio, já trabalhando na Rádio Nacional, Jackson alcançou grande sucesso com "O Canto da Ema", "Chiclete com Banana", "Um a Um" e "Xote de Copacabana". Os críticos ficavam abismados com a facilidade de Jackson em cantar os mais diversos gêneros musicais: baião, coco, samba-coco, rojão, além de marchinhas de carnaval.

No palco, tinha uma ginga toda especial, uma mistura de malandro carioca com nordestino. Ficou famoso pelas umbigadas que trocava com a parceira e esposa Almira.

Já com sessenta e três anos, sofrendo de diabetes, ao fazer um show em Santa Cruz de Capibaribe, sentiu-se mal, mas não quis deixar o palco. Já estava enfartado mas continuou cantando, tendo feito ainda mais dois shows nessas condições, apesar do companheiro Severo, que o acompanhou durante anos na sanfona, ter insistido com ele para cancelar os compromissos: ele não permitiu.
Indo depois cumprir outros compromissos em Brasília passou mal, tendo desmaiado no aeroporto e sendo transferido para o hospital.
Dias depois, faleceu de embolia cerebral, em 10 de julho de 1982.

Não tendo acompanhado muito a carreira de Jackson do Pandeiro, mas como foi uma figura importante em nossa música, coloquei aqui este resumo de sua vida artística, sem qualquer comentário especial.
Norma Hauer