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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Dalva, Emilinha e Jackson do Pandeiro - Por : Norma Hauer

EMILINHA BORBA
Ela nasceu em 31 de agosto de 1923.

ASSIM SE PASSARAM 10 ANOS

Foram 10, mais 10 e mais 10 anos de emoção, de prazer, de tudo de bom que a presença de Emilinha Borba nos trouxe. Viver seu tempo foi viver a mais bonita e alegre fase de nossa música popular.

“Esta canção foi feita para quem quiser cantar,
Cantamos nós, canta você até cansar...”

É a Rádio Nacional.
É o Programa César de Alencar que vai começar ; as filas já têm início na Praça Mauá, para que se tenha lugar naquele auditório onde o frenesi toma conta de todos, sejamos o povão, sejamos de todas as camadas sociais, sejamos os que querem se divertir ouvindo as maravilhosas interpretações da “Favorita da Marinha”, a eterna “Rainha do Rádio”, a querida Emilinha Borba.
Ah, como era bom o rádio em sua fase de ouro !...
E o Carnaval?
“Chiquiita bacana, lá da Martinica
Se veste com uma casca de banana nanica...”

– “Tomara que chova/ três dias sem parar...”

E lá se vai Emilinha Borba e seu séqüito de fãs sinceras, acompanhando-a em qualquer parte onde se apresenta.

“Uma vez lá em Cuba
dançando uma rumba
Disseram que eu era....
escandalosa...”

É um carnaval que não volta mais; começava nos cassinos e foi em um cassino (o de Copacabana) que Emilinha desabrochou para o canto.
Daí se ia para o “High Life” o inocente “High Life”, que era “proibido para menores”.

Emilinha, entretanto, era quase uma menina, mas já prometia ser um ícone de
Virgem, seu signo de nascimento. Talvez isso a tenha tornado um ídolo popular. Em seu primeiro disco, seu nome sequer consta da etiqueta. Cantou com Nilton
Paz:

“Ioiô, dá o braço pra Iaiá
Iaiá dá o braço pra Ioiô
o tempo de criança já passou...oi
pirulito que bate, bate
pirulito que já bateu
quem gosta de mim é ela
quem gosta dela sou eu...”.

Mas chamou a atenção de todos aquela voz feminina, quase infantil, que dialogava com Ioiô. Quem era?

Passou a ser a “Favorita da Marinha”, tendo como seus fãs marinheiros e fuzileiros navais; mas também as “meninas”, que os invejosos denominavam “macacas de auditório”, não a abandonavam.

Para elas, que todos os sábados se acotovelavam para ingressar na Rádio Nacional, Emilinha era a única.

Do outro lado, Marlene era sua rival. Isso dentre suas fãs, porque dizem,as duas eram amigas.
Quem não era fanático por uma ou outra, apreciava ambas.
Ambas são imortais, ambas marcaram demais nosso carnaval e também o então chamado “meio de ano”, quando Emilinha cantava
“Se queres saber”,
Se eu te amo ainda..."

“Dez anos”, “Cachito”, alguns baiões...:

“Paraíba masculina
Mulher macho, sim senhor...”.

Nos últimos anos, sentindo que o povão estava deixando de ser personagem para ser espectador no Carnaval, passou a apresentar-se no tablado que a Prefeitura voltou a montar na Cinelândia (que Cinelândia?) onde todos tinham sua vez.

O de 2005 foi o derradeiro porque, nesse mesmo ano, no dia 3 de outubro ela faleceu.
Por coincidência nessa mesma data, em 1979, faleceu Humberto Teixeira, autor de "Paraíba".

Pouco antes de falecer, Emilinha e outros cantores, gravaram um CD só de musicas
de Klécius Caldas . Klécius é compositor, dentre outras, da famosa "Maria Candelária", imortalizada na voz de outro ídolo,Blecaute.
Até hoje, 4 anos depois, esse CD não foi lançado.

-Um carro do Corpo de Bombeiros, coberto de flores percorre as ruas do Rio. Do salão nobre da Câmara Municipal ao Cemitério de São Francisco Xavier,
segue o corpo para a última morada. Não sabemos o que há do lado de lá, mas esperamos que ela reencontre seus velhos amigos que já são saudades há
algum tempo.

“Adeus, adeus, adeus.../ cinco letras que choram/ num soluço de dor/ adeus é como o fim de uma estrada/ cortando a encruzilhada...”.
Demos-lhe o último adeus e começamos nossa SAUDADE.
A ESTRELA DALVA
No dia de hoje lamenta-se a partida de DALVA DE OLIVEIRA para a eternidade e lá brilhar como uma verdadeira ESTRELA DALVA.

Aqui deixou sua bonita voz, que não se apagará enquanto houver a maravilha de seus discos e hoje a Internet onde podemos ouvi-la, sempre que o desejarmos.
Prefiro ouvi-la em discos, a voz sai mais pura e a sentimos junto a nós.

Partiu ainda muito nova. Desgostos levaram-na a entregar-se à bebida. Combinado com um acidente automobilístico à saída do Túnel Novo, nunca mais se recuperou e, apenas com 55 anos (em 31 de agosto de 1972) deixou aqui sua grande SAUDADE.

Seu filho, Peri Ribeiro, é o grande elo que nos liga a ela. Canta e encanta, tal como a
maravilhosa DALVA DE OLIVEIRA. Viveu alguns anos nos Estados Uinidos, e, agora vivendo no Brasil, podemos contar com seu cantar por muitos e muitos anos, ainda.

A DALVA DE OLIVEIRA, na data em que se completam 37 anos de sua partida, nosso preito de saudade e de certeza de que aqui muitos continuam a amá-la.
JACKSON DO PANDEIRO

Do alto da serra onde fica a cidade de Areia, em plena região do brejo paraibano, avista-se lá embaixo a cidade de Alagoa Grande, com a lagoa que dá nome à cidade brilhando à luz do sol nordestino, como uma colher de prata em cima de uma toalha verde.
Pois foi em Alagoa Grande, em 31 de agosto de 1919, que nasceu JOSÉ GOMES FILHO, que mais tarde viria a se tornar conhecido como Jackson do Pandeiro.

Queria ser sanfoneiro. Mas a sanfona era um instrumento caro, e sendo o pandeiro mais barato, foi esse que recebeu de presente da mãe, Flora Mourão, cantadora de coco, a quem desde cedo o menino ouvia cantar coco, tocando zabumba e ganzá.

Aos 13 anos, com a morte do pai, foi com a mãe e os irmãos morar em Campina Grande, , onde em sua feira, assistia aos emboladores de coco e cantadores de viola. Ia muito ao cinema e tomou gosto pelos filmes de faroeste, admirando muito o ator Jack Perry. Nas brincadeiras de mocinho e bandido com os outros garotos, José transformava-se em Jack, nome pelo qual passou a ser conhecido.

No o início da década de 40, Jackson foi morar em João Pessoa, onde continuou a tocar nos cabarés, e logo depois na Rádio Tabajara, onde ficou até 1946.

Em 1948 foi para o Recife trabalhar na Rádio Jornal do Comércio Foi aí que o diretor do programa sugeriu que ele trocasse o Jack por Jackson, que era mais sonoro e causava mais efeito quando anunciado ao microfone.

Somente em 1953, já com trinta e cinco anos, foi que Jackson gravou o seu primeiro grande sucesso: Sebastiana, de Rosil Cavalcanti. Logo depois, emplacou outro grande hit: Forró em Limoeiro, rojão composto por Edgar Ferreira. 07:23 (1½ horas atrás) Norma
JACKSON DO PANDEIRO -2-
No Rio, já trabalhando na Rádio Nacional, Jackson alcançou grande sucesso com "O Canto da Ema", "Chiclete com Banana", "Um a Um" e "Xote de Copacabana". Os críticos ficavam abismados com a facilidade de Jackson em cantar os mais diversos gêneros musicais: baião, coco, samba-coco, rojão, além de marchinhas de carnaval.

No palco, tinha uma ginga toda especial, uma mistura de malandro carioca com nordestino. Ficou famoso pelas umbigadas que trocava com a parceira e esposa Almira.

Já com sessenta e três anos, sofrendo de diabetes, ao fazer um show em Santa Cruz de Capibaribe, sentiu-se mal, mas não quis deixar o palco. Já estava enfartado mas continuou cantando, tendo feito ainda mais dois shows nessas condições, apesar do companheiro Severo, que o acompanhou durante anos na sanfona, ter insistido com ele para cancelar os compromissos: ele não permitiu.
Indo depois cumprir outros compromissos em Brasília passou mal, tendo desmaiado no aeroporto e sendo transferido para o hospital.
Dias depois, faleceu de embolia cerebral, em 10 de julho de 1982.

Não tendo acompanhado muito a carreira de Jackson do Pandeiro, mas como foi uma figura importante em nossa música, coloquei aqui este resumo de sua vida artística, sem qualquer comentário especial.
Norma Hauer

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