Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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claude_bloc@hotmail.com

quarta-feira, 23 de junho de 2010

São João disse - São Pedro confirmou

Talvez uma pitada de nostalgia nos tenha feito buscar essa luz da fogueira, esse calor, essa vibração. Talvez.
.
Talvez precisássemos de um anjo para nos conduzir a um momento desses. Talvez.
.
O fato é que quando menos imaginamos já estávamos lá. Diante da fogueira. O anjo que nos conduziu foi Bida, nosso amigo Abidoral.
.
A casa foi a de Zé Flávio e Fabiana, e a alegria foi nossa, de todos que lá estavam.


Nossos corações arderam em saudades.
Mas pousamos com força naquela alegria em combustão
Dessa alegria tiramos umas boas lascas.
.
Cores saltitavam aos nossos olhos,
abertos ao momento e ao dinamismo de Fabiana


Todos se moviam dando alegria redobrada ao nosso São João.

E os papos?

E o contágio efusivo de Zé Flavio e Fabiana em nossas emoções da noite
entre bombas, traques, chuvinhas e fogos.
.
São João disse
São Pedro confirmou
Que vocês fossem meus compadres,
que São João mandou.
.
Viva São João!
Viva São Pedro!
E viva nós, compadres!



Claude Bloc

Trajetória - por Eduardo Lara Resende

(Imagem: bcommeberenice)


A tecnologia nos revela números que, na média, marcam a trajetória de um ser humano pelo mundo. Cada um de nós conhecerá quase 2 mil pessoas ao longo da vida, das quais, asseguram-nos, em torno de 300 terão nosso afeto. O que significa que com estas nos importaremos de fato, desejando-as tanto quanto possível perto de nós.

Não se sabe se parceiros que 'encontraremos' virtualmente na caminhada estão incluídos nesses números. É também com eles que dividiremos – ou não – parte da pesada carga que nos será destinada. Porque apesar da indisfarçável sombra que acompanha a internet, fruto da inexistência de controle da rede, não se pode negar a ela boas e raras surpresas, nem desconhecer seus benefícios. Dos relacionamentos virtuais que faremos, a imensa maioria talvez jamais ultrapasse a categoria de diálogos com simples apelidos. Mas alguns trarão, junto ao nome, uma carga substancial de verdade e afeto maior do que relacionamentos no dia-a-dia do mundo real.

À medida que avançamos no tempo, mais claras se mostram as linhas que lhe marcam a face severa, abreviando-nos momentos de sorrisos que iluminam e de alegrias que queremos eternas. E se traremos mesmo no coração em torno de três centenas de nossos semelhantes durante a vida, então será em razão deles – ou com eles – que gastaremos boa parte dos 60 litros de lágrimas que vamos produzir. Com o que sobrar, tentaremos apagar a lembrança de sonhos não realizados, de dores colhidas pelo caminho. Haveremos de chorar de medo e de saudade, de arrependimento e de raiva, de solidão e de tristeza.

Mas nossas lágrimas também serão de alegria e de emoção por encontros e reencontros, por conquistas, vitórias e descobertas. Elas estarão ainda em partidas e chegadas, em agradecimentos, revelações e surpresas capazes de nos fazer pressentir uma brisa de felicidade.

Já foi dito que começos assustam e finais costumam ser tristes. Mas são os meios que mais contam. Talvez nos livrássemos de muitos sustos e tristezas se, no auge da caminhada, alargássemos o coração para dar abrigo e aconchego humanos a pouco mais que 300 viajantes como nós.

Na média.
Eduardo Lara Resende

Para Pachelly - por Socorro Moreira

Declara cores
Abre a porta do invisível
Abismal encanto

Esbarra nos eus conhecidos
Eus inocentados
Enrolados nos fios da vida
Pontes de retorno
Espaços, e asas pra voar
Troca aurora por crepúsculo
Troca e retroca beleza
Perde amores ,acha cores
Perde tempo , acha rimas
Troca o dia por um sonho
Troca o sono pela vida

O carma do poeta é ficar cego
pra tocar em todos os mistérios.

Em reverência à Pachelly
Fiz o pão do meu dia
com o trigo da palavra
E no forno da emoção
Ganhei o cheiro de pão
e o dourado da poesia.

Última Inspiração - por Norma Hauer


Ele nasceu em uma véspera de São João; seu nome não poderia ser outro: JOÃO PETRA DE BARROS, nascido em 23 de junho de 1914.

Começou sua carreira de cantor ainda no início dos anos 30, tendo sido amigo de Noel Rosa, sendo o primeiro a gravar, de Noel, "Até Amanhã". Foi, também o primeiro a gravar "As Pastorinhas", ainda com Noel vivo e que não fez sucesso.

Naquela ocasião a música chamava-se "Linda Pequena" e alguns versos foram, posteriormente, modificados por Braguinha, que mudou o título de "Linda Pequena" para "As Pastorinhas", deu a Sílvio Caldas para gravar e é sucesso até hoje, sucesso que Noel não conheceu.
Petra também foi o primeiro a gravar "Última Inspiração", de Peterpan, que vinha a ser cunhado de Emilinha Borba..

De seu repertório constam, ainda: "Santo Antônio Amigo";"Bonequinha de Veludo";"Teatro de Revista";"Flor do Lodo";"Rosa de Veludo" e muitas outras.

Nos tempos dos bondes, dos quais temos saudades, mas que devemos recordar que não eram tão bons assim; acontecia que quando não havia lugares em seus bancos, a "moçada" viajava nos estribos, expondo suas vidas. E muitos morreram por causa disso.
João Petra de Barros, viajando no estribo de um bonde “Tijuca” (66), que transitava pela Rua da Carioca, rumo a seu ponto inicial na Praça 15, teve uma de suas pernas esmagada entre o bonde e um caminhão estacionado naquela rua.

Resultado: teve de amputá-la.

Nunca mais foi o mesmo.
Caiu em depressão e, em 10 de janeiro de 1947, com apenas 32 anos, amargurado, pôs fim à sua vida terrena.

 Norma

A AFAC, informa !



A AFAC - Associação dos Filhos e Amigos do Cariri informa que o Cineasta Petrus Cariri Maia de Moura, filho do tambem Cineasta Rosemberg Cariri, recebeu da CNBB - Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, o prêmio Margarida de Prata pelo seu curtametragem " O SOM DO TEMPO".
O filme concorreu ao premio na edição 2010 do "Prêmios de Comunicação da CNBB", evento patrocinado anualmente pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil.

Parabens da AFAC

Um pouco de “política” – Por: José Nilton Mariano Saraiva

Meses atrás, o presidente do Ibope (instituto de pesquisa), Carlos Augusto Montenegro, categórica e incisivamente afirmava que, com base em sua larga vivência no ramo de pesquisas eleitorais, não via perspectiva nenhuma da então provável candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rouseff, ultrapassar o patamar de 20% das intenções de votos, por tratar-se de um autentico “poste”. Quando, mais à frente, os institutos concorrentes, Vox Populi e Sensus, anunciaram um empate técnico entre os dois principais concorrente (Dilma e Serra) houve uma tentativa de descredenciamento dos dois (por parte do Datafolha e do Ibope).
Hoje, ironicamente, é o próprio IBOPE o primeiro a divulgar a pesquisa onde a candidata do governo ultrapassa com folga o seu concorrente. Vejam abaixo, os números:
Pesquisa Ibope aponta Dilma com 40% e Serra com 35%
Pesquisa Ibope divulgada nesta quarta (23) em Brasília mostra a candidata do PT, Dilma Rousseff, com 40% e o candidato do PSDB, José Serra, com 35% na corrida eleitoral pela Presidência da República. Marina Silva (PV) tem 9% das intenções de voto, segundo o levantamento, encomendado ao instituto pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O cenário da pesquisa que apresentou esses resultados é o que inclui somente Dilma, Serra e Marina. No cenário que reúne 12 candidatos, Dilma aparece com 38,2%, Serra, 32,3% e Marina, 7%. É a primeira vez que Dilma aparece à frente de Serra numa pesquisa de intenção de voto para presidente.
Na pesquisa Ibope anterior, divulgada no último dia 5 e feita por encomenda da TV Globo e do jornal “O Estado de S.Paulo”, Dilma e Serra apareciam empatados com 37% das intenções de voto. Marina Silva acumulava 9%. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos (portanto, Dilma pode ter entre 38% e 42%; Serra, entre 33% e 37%; e Marina, entre 7% e 11%).
A pesquisa é a primeira realizada após a oficialização das candidaturas de Dilma, Serra e Marina pelas convenções partidárias. O Ibope entrevistou 2.002 eleitores entre os dias 19 e 21 em 140 cidades. Disseram que votarão em branco ou nulo 6% dos entrevistados. Os que responderam que ainda não sabem em quem votar são 10%, segundo o Ibope.
Segundo turno: Na simulação de segundo turno, Dilma teria 45% e Serra, 38%, segundo o Ibope. Na hipótese de segundo turno entre Dilma e Marina, a petista venceria por 53% a 19%. Serra ganharia de Marina por 49% a 22%.
Rejeição: Dentre os entrevistados, 23% disseram que não votariam em hipótese nenhuma em Dilma Rousseff. Os que rejeitam Serra são 30% e os que nunca votariam em Marina somam 29%.
No tocante à popularidade do Presidente Lula, os números são contundentes: Ótimo/Bom: 75%; Regular: 20%; Ruim/Péssimo: 5%.

Notícias de hoje que vimos ontem. Será que veremos amanhã? - Por José de Arimatéa dos Santos

No início do ano fiz uma crítica a respeito das notícias que minuto a minuto nos são apresentadas. É uma enxurrada de fatos que tem hora que temos que parar e tentar se desligar de tudo. Impossível. Não sei onde vi ou escutei que vivemos na era da espetacularização da notícia. Qualquer fato vira um espetáculo para dar audiência e nós cidadãos ficamos no meio de tudo isso, atarantados e muitas das vezes sem reação. É complicado administrar tanta coisa que acontece nesse mundo grandioso e saber digerir o que realmente nos interessa.

O título acima me veio na cabeça em virtude de mais uma tragédia no nosso país. Os noticiários nesses dias são sobre a tragédia que se abate sobre Pernambuco e Alagoas. E a tragédia de Santa Catarina, do Rio de Janeiro, da violência, da infestação das drogas na nossa sociedade? Será que o poder executivo tem se dedicado realmente na resolução desses e de outros problemas?

Hoje noticiam certos problemas que logo caem no esquecimento. Não sabemos quais providências foram tomadas para resolução dessas tragédias. O que aconteceu com a população do Rio e de Santa Catarina? Só pra citar esses dois casos.

Por fim, vejo que a notícia vira simplesmente mais um número. Número de audiência, de representantes do poder executivo a prometer isso e aquilo na frente das câmeras. E depois quando a mídia não se interessa mais por essas notícias, o que acontece? Mais do que tudo, a socidade brasileira exige respostas e resolução dos problemas.

Viva São Joãoooooo... Viiiiiiiiiiiiiva! Por Pachelly Jamacaru






Fotos: Pachelly Jamacaru
"Direitos Reservados"
Soneto De Intimidade
Vinicius de Moraes
Composição: Vinicius de Moraes


Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.

Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em tomo dos currais.

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve

Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.

Pensamento para o Dia 23/06/2010


“Você deve saber que não há fim para as encarnações que Deus assume. Ele desceu inúmeras ocasiões. Às vezes, Ele vem com uma parte de Sua glória, às vezes para uma determinada tarefa, por vezes para transformar o tempo de toda uma era, o espaço inteiro de um continente, às vezes com o mais completo aparato de esplendor. O drama desempenhado pelo Senhor e os devotos atraídos para Ele é o assunto do Bhagavatha (histórias sobre a Glória de Deus). Ouvir essas histórias promove a realização de Deus. Muitos sábios têm testemunhado sua eficácia e exaltado a glória de Deus, e eles ajudaram a preservá-la para a posteridade.”
Sathya Sai Baba

Festa do Cariricaturas - 23.07.2010- Começa a contagem regressiva !

Programação :
20 h  cerimonial de lançamento do liuvro "Cariricaturas em prosa e verso"
23 h Coquetel e Performances poéticas.
22 h Baile  com a Banda de Hugo Linard.( 4 h dançante !)

Mesas á venda .
Preço 40,00 - com direito a um livro e 4 lugares.
Ingressos avulsos : 10,00

Façam as suas reservas.
Posição em 23.07 : 45 mesas.
e-mail: sauska_8@hotmail.com

Livraria Católica - por Geraldo Lemos



Hoje, entro em uma loja. Tudo moderno, clientes que só se preocupam com preços, sem olharem as qualidades dos produtos expostos à venda, sem comentários nem preocupação de suas origens.

Olhei o aspecto do recinto, o linguajar deles, as ornamentações do prédio e a qualidade do que lhes eram oferecidos. Tudo moderno e exótico.

Parei, à porta, fechei os olhos, e meus pensamentos se voltam aos anos 60. Livraria Católica, símbolo de cultura e religiosidade.

Personagens presentes: Mons. Pedro Rocha, Mons. Feitosa, Pe. Néri, Dr. Ribamar Cortês, J. de Figueiredo Fi1ho, Dr. Irineu  Pinheiro, Pe. Antônio Gomes, Dr. Otacílio Macedo, enfim, a nata da cultura Caririense, sob o comando de seus proprietários, ilustres e intelectuais, José do Vale vernáculo, chegava a brincar com a gramática, tal o seu conhecimento de latim e português. Quem o conheceu o amou. Tinha uma resposta para tudo e um sorriso para todos.

A dupla Vieirinha e Zé do Vale, humildes e simples, parecia dois irmãos. Católicos fervorosos, forjaram suas personalidades, cultura e religiosidade no Seminário São José do Crato.

Os alunos os veneravam, os colegas de magistério os respeitavam.

Tive o prazer de conhecê-los e gozar da amizade dos dois. Como professor, eles tiravam minhas dúvidas e me orientavam, no desempenho das atividades do magistério.

É bom recordar. Sinto falta da Livraria Católica. Francamente, hoje não vejo um grupo tão seleto e culto como aquele que lá se reunia. Nesta loja com que me deparo, agora, sei que ainda ecoam os risos de Vieirinha, as palavras consoladoras de Zé do Vale e as vozes dos que os cercavam.

Geraldo Lemos




Festa Junina - por Geraldo Lemos



Interessante... Estou sentindo um cheirinho de lenha verde queimada e de pólvora e o gosto de aluá, com pé-de-moleque. O céu está limpo e estrelado.As labaredas de uma fogueira me aquecem a pele e o coração.Sinto que meus pensamentos retroagem a um passado bem distante.Uma noite de São João,,no meu querido e inesquecível Crato.

Como era tudo lindo e inocente!

No Alto do Seminário, D. Maria Pretinha hasteava, em um grande mastro, uma bandeira, com um retrato de S.João.

Era vista de todos os recantos da cidade. ``À noite, havia a novena, regada a aluá, bolo de milho, ao som da banda cabaçal de Pedro Carmino.

Começavam os ensaios das quadrilhas.

Todos procuravam seus pares. A disputa era grande. Escolhiam-se os noivos, padrinhos, força Policial, juiz, pais dos noivos e padre.

D Belmonte ao Brejo do Brigadeiro, Das Guaribas ao Romualdo, tudo era preparação para a Grande festa junina. Havia disputa e o segredo das alegorias era motivo de cochichos, nos meios comerciário e estudantil. Os ensaios eram incessantes.

Quem viveu aqueles momentos se lembra do “Club da Rapadura”. Lá se reuniam os comerciários e estudantes da Escola Técnica de Comércio, nos intervalos para o almoço. A alegria, poeira, cheiro de rapadura e do suor das meninas tornavam o ambiente aconchegante e gostoso. Embaixo do salão, armazéns de rapadura, e, encima, o som de uma sanfona, pandeiro e triângulo, sob o comando do gritador de quadrilhas que bradava:”Anarrié, cinturinha, passeio dos namorados, lá vem a chuva, olhe a cobra, trancilim etc.Um passo bom era a troca de parceira.Quem nos agradava teria de nos dar o braço. Já era muito.Como era gostoso tanta garota em nossas mãos.Não se perdia ensaio.Era uma verdadeira confraternização. Todos se conheciam.Todos se respeitavam.

Chegava o grande dia, 23 de junho. Roupas eram remendadas, chapéus de palha eram enfeitados. A chita, transformada em vestidos, fazia das moças umas matutinhas lindas, com suas tranças, ruge, pó e um cheirinho gostoso de perfume popular. Ainda hoje sinto aquele cheiro, cheiro de saudade, misturado com recordações. Os rapazes usavam barba e bigode feitos a lápis. Todos eram matutos, com linguajar e andar brejeiros.

O cortejo nupcial começava. Noivos, na frente, em uma carroça ornamentada com flores e fitas, seguida dos pares da quadrilha.

Após o casamento, a festa se estendia, por toda a noite, varando a madrugada.

Nas ruas, calçadas a pedra tosca, fogueiras eram acesas. Moças e rapazes colocavam, em uma bacia cheia d’água, dois carvões. Se colassem, um no outro, era casamento, na certa. Uma faca virgem, fincada em um tronco de bananeira, no outro dia, apareceria a primeira letra da futura ou futuro esposo. Quem se olhasse em uma bacia com água cristalina, ao lado da fogueira, se não visse o rosto, era morte, na certa, antes do outro São João.

Capilé, sucos, sequilho, bolos de milho e grude, meladinha, vinho São da Barra e, às escondidas, a pinga do Brejo, ou do Brigadeiro. Meninos jogavam traques, nas brasas, para queimar os adultos. Não havia drogas, no entanto, os olhares das garotas, com o brilho das chamas produzidas pela madeira que queimava, acendiam o fogo existente nos corações dos enamorados.

A alegria da meninada começava com os vendedores de fogueiras, sob o comando de D. Alexandrina, percorrendo as ruas da cidade, com seus jumentos carregados de lenha verde e seca. Havia sempre troncos grossos, para as bases. A beira do rio e as ruas do comércio eram lotadas de bancas de fogos.

Quem nunca soltou traques? Quem não tocou fogo em um rasga lata? Atirávamos bomba, com baladeira, nas paredes e muros de casas. Havia pixite, chuvinha, pistola, coió, estrelinhas, vulcão e balões. Era a felicidade de todos estampada no clarão desses fogos que fazia a beleza e alegria da noite. Muitos andavam descalços nas brasas, para impressionar a amada. Pensando bem, quem nunca se queimou com fogos e não decorou “Olha pru Céu, meu amor”?

Muitos se casavam na fogueira. Como éramos inocentes! Lembram-se dos compadres, ao calor das cinzas, proferindo as palavras: São João disse, São Pedro confirmou que você fosse meu compadre, ou comadre, que São João mandou. Viva São João, Viva São Pedro e viva nós nosso compadre, (comadre)? Tornavam-se compadres, por toda a vida. Era a fé e o respeito aos santos.

Pois bem, já é quase de manhã. Vou colocar umas batatas doces na fogueira, cobri-las com cinza e, quando acordar, bem cedinho, virei comê-las, ainda quentes.


GERALDO LEMOS

* Um presente especial, nesta noite de S.João.
Cariricaturas , agradece !
Grande abraço.

VAMOS FESTEJAR SÃO JOÃO

SENHOR SÃO JOÃO
Ascenso Ferreira

Em frente à fogueira,
Zuza, espaduado,
benzeu-se sereno
e fez oração:

- Chô – Cão!
- Chô – Cão!

Depois levantou
a vista pro céu
pra ver se o espiava
Senhor São João!

E meteu os pés nuzinhos nas brasas de fogo quente!

-Danou-se, só quem tem os pés de sola!
Porém Zuza, vadiando, andou pra lá e pra cá!
Cachetando, se agachou, pondo fogo no cachimbo!
Depois, puxando a pistola, atirou fixe no chão!

- Viva Senhor São João!
- Vivôôô!

DE VOLTA COM VOCÊ - Por Edilma Rocha

Meus olhos repousaram numa saudade imensa sobre este canto da casa ao pôr do sol.
Mais um dia finda colorindo de vida a imagem linda retirada da lente da sua Sony com todo o verde da Serra e o azul do céu reflectido nas águas paradas do açude.
Bem ali naquele canto ficava o quarto dos seus pais Hubert e Janine. A janela fechada nos mostra a ausência deles e um passado guardado de historias vividas entre quatro paredes. Se fecho os olhos percorro em pensamentos aquele aposento único na casa grande ( França Livre ). Paredes claras, uma pequena cortina cobrindo os vidros da janela, cama enorme para os meus olhos de criança, sempre bem arrumada no conforto dos tavesseiros limpos e perfumados. Os meus pés entravavam descalços pisando o macio tapete que cobria todo o piso. Uma mesinha de cabeceira, um abajur, um cinzeiro, uma carteira de cigarros Gitane. Uma escrivaninha, livros e revistas em francês, retratos de familiares distantes e um jarro com flores colhidas do jardim. No armário os guardados do casal como, vestidos, calças, camisas, pijamas, chapéus e objectos pessoais. No alto os tesouros escondidos, a lata de biscoitos recheados e os chocolates que eu e Minou pegávamos com um sorriso maroto nos lábios. A porta a direita guardava o banho gostoso com chuveiro quente a gás butano, a cortina transparente com figuras coloridas separava a patreleira com sais, perfumes e fragancias vindas da França. Ficou o cheiro do perfume no ar do pensamento que a lembrança trouxe a tona novamente.
Esta imagem está tão bonita que até parece que o tempo não passou, congelou na lembrança da casa sempre cheia de amigos e crianças correndo pelo alpendre aos gritinhos e gargalhadas infantis. Se eu atravessasse a muretinha poderia novamente descer os batentes e cuidar da horta de Dona Janine arrancando as ervas daninhas e folhas secas deixando os pés de alface, tomate, repolho, rabanete, espinafre, cenoura, beterraba e pimentões para crescerem em liberdade até a próxima colheita. Ainda escuto nossos passos apressados pegando água no regador para refrescar os legumes e verduras, enquanto Ricardo procurava num cantinho as minhocas para isca na pescaria do açude.
Meu pensamento retorna um pouco e encontra a mesa do almoço das crianças, enorme e comprida, servindo a arroz branco e quentinho, a carne no molho escuro delicioso e a salada de repolho cortado fininho temperado com vinagre, sal, azeite e pimenta do reino, que eu adorava.
Não vejo as rachaduras nem o desleixo do tempo por meio aos meus pensamentos, ainda está tudo intacto. Apenas escuto do coração as recordações perfeitas da época de vida e alegria. As marcas deixadas pelos seus pais ainda continuam por lá em cada canto da casa e em nossos corações enquanto baterem compassadamente e adormecidas nas nossas lembranças.

Edilma Rocha

Lembranças

Enquanto fazia as tapiocas para o café da manhã, voei para a Granja de Pe. Frederico, aonde passei longas férias com a minha avó Donana e as minhas irmãs Verônica e Zélia. Todas ,  nos curávamos de uma resistente coqueluche.Lembrei a minha intimidade com as fruteiras, os banhos na piscina rústica, e as bolachinhas e tapiocas do café da manhã, que eu tanto apreciava. Naquela fase, Dona Anilda Arraes  também estava lá, hospedada.Nas manhãs fazíamos umas caminhadas por entre as levadas , pés de manga e siriguelas ...Mas, de vida mansa  a gente se cansa ! Foi com grande alívio que vi chegar o dia de voltar pra casa. Saudade de pai e mãe era imperiosa !
Eu e Claude relembramos  os passeios da escola, no transporte de Seu Duzentos  para a mesma localidade. O terreno abrigava  um monte de esconderijos. E aqueles , eu conheci palmo a palmo.
Hoje é noite de São João. A simplicidade  das comidas juninas, músicas, folguedos, colorido das bandeirolas, enfeitam meu dia com tantas memórias !
Vou na feira, lá embaixo, atrás de carimã pra fazer pelo menos um bolinho, com tudo que a receita exige : leite de coco, manteiga, ovos, queijo ralado, açúcar, leite de vaca e a  massa puba. Quando sair  do forno , faço um cafezinho, e convido vocês para um lanchinho.
Feliz noite de São João, pessoal !
Não sejam noivas de quadrilha... Dizem que, quem casa de mentira, não casa de verdade !

Pérola dos bastidores - por José Carlos Brandão

José Carlos Brandão deixou um novo comentário sobre a sua postagem "A Senhora Gravidade":

Alô, Iniludível!
O meu dia foi bom.
Pode a noite descer
(A noite com os seus sortilégios!)
Encontará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa no seu lugar.

Domingos, o seu poema lembrou a Consoda de Manuel Bandeira. Olha a ironia: um poema como esse, com esse tema, chamado Consoada!


Se queres morrer... Mas ninguém quer morrer, todo mundo vai contra a vontade!


E me lembro de outro poema, de Fernando Pessoa, sem título, que começa assim: "Se te queres matar, por que não te queres, matar? / Se te queres matar, mata-te. / Não farás falta nenhuma."


Às vezes a poesia é terrível.

Os ossos do dia




Os ossos do dia

A maritaca eletrocutada
Pende do fio de alta-tensão.
Dois cachorros disputam um osso,
Rosnam, mordem, sangram.

Os urubus caminham pela estrada,
Confundem-se ao asfalto negro, líquido.
Os bem-te-vis atacam o gavião,
A pomba cai ferida, destroçada.

As vacas ruminam a morte
No pasto dos carrapatos.
A coruja guarda a imagem da dor
Na névoa dourada dos olhos.

A borboleta pousa sobre a sombra
Da lagartixa amarela na parede.
Um carreiro de formigas carrega,
Aos pedaços, os ossos do dia.

___________

São João e São Pedro


São João - é um dos santos mais populares. Considerado santo protetor das mulheres grávidas. Segundo a Bíblia, João era primo em segundo grau de Jesus, pois Isabel era prima de Maria. João batista batizou Jesus nas águas do rio Jordão, rio que hoje faz a fronteira entre Israel e a Jordânia e entre esta e a Cisjordânia. Segundo a lenda( não baseada na bíblia): Isabel, mãe de São João era prima da Virgem Maria. São João não havia nascido ainda, mas era esperado. Isabel prometeu à Virgem avisá-la logo que criança nascesse. As duas casas não eram muito distantes, de modo que de uma se avistava a outra, com um pouco de esforço.


Numa noite bonita, de céu estrelado, São João nasceu. Para avisar a Virgem, Isabel mandou erguer, na porta de sua casa, um mastro e acendeu uma fogueira que o iluminava. Era o aviso combinado. A Virgem Maria correu logo a visitar a prima. Levou-lhe de presente uma capelinha, um feixe de folhas secas e folhas perfumadas para a caminha do recém –nascido”. João Batista é descrito na Bíblia como pessoa solitária, um profeta de grande popularidade. Fez severas críticas à família real da época, a do rei Herodes Antipas, da Galiléia, pois o rei era amante da sua cunhada, Herodíades. Segundo o evangelho de São Marcos (cap. 6, vers. 17-28) Salomé, filha de


Herodíades, dançou tão bonito diante de Herodes que este lhe prometeu o presente que quisesse. A mãe de Salomé aproveitou a oportunidade para se vingar: anunciou que o presente seria a cabeça de João Batista, que se encontrava preso. O “presente” foi trazido em uma bandeja de prata. A imagem de São João Batista é geralmente apresentada como um menino com um carneiro no colo, já que segundo a Bíblia, ele anunciou a chegada cordeiro de Deus. Diz a lenda que São João adora festa, mas que é preciso muitos fogos e uma fogueira bem bonita para ele ficar feliz.


São Pedro - foi pescador e apóstolo de Jesus. É conhecido como santo dos pescadores, guardião das chuvas e “porteiro do céu”.


Depois da morte de Jesus, Pedro viveu muitos anos pregando a palavra de Deus. É considerado o fundador da Igreja Católica. As fogueiras fazem parte da tradição das festas juninas. O fogo é tido como símbolo de purificação desde a antigüidade.


Cada festa porém, tem a sua fogueira especial. Na festa de Santo Antônio a fogueira deve ter uma base quadrada , é também conhecida como chiqueirinho. Na festa de São João a fogueira deve ter uma base redonda, fazendo a fogueira ser cônica, em formato de pirâmide. A fogueira da festa de São Pedro deve ter a base triangular e deve ser triangular.


Tradições e simpatias juninas


'Os colonizadores portugueses trouxeram as festividades juninas para o Brasil e aqui elas ganharam cores e sabores influenciados pelos índios e negros escravos, responsáveis pela mão-de-obra nas cozinhas coloniais.


“É por isso que até hoje reverenciamos os santos juninos provando quitutes de milho, amendoim e mandioca, ingredientes básicos na mesa popular para bolos, tapioca, paçoca, pé-de-moleque, milho cozido'. Temos também muitas simpatias..."

Chegou São João!

Aqui estão algumas simpatias que já conheço desde pequenina e mais algumas que pesquisei pela net.

Que tal brincar?

Certeza de que vai se casar:

coloque duas agulhas em um prato com água, à meia-noite do dia 12 para o dia 13 de junho. Se elas amanhecerem juntas, é garantia de casamento.


Nome do marido (esposa):


Na noite de São João, do dia 23 para o dia 24, enfie uma facão virgem em uma bananeira. No dia seguinte o nome da pessoa com quem você vai se casar aparecerá na lâmina do facão.

Casamento depois dos 40:

Assistir à sete missas seguidas, uma a cada domingo, sempre às sete horas da manhã em uma igreja de Santo Antônio. Ofereça cada missa à Virgem Maria, mãe de Jesus, esposa de José. Após a última missa, acenda sete velas brancas aos pés de uma imagem de Santo Antônio e mentalize o desejo de se casar.

Casamento:

Separe três pratos: um sem água, outro com água limpa e outro com água suja. Quem faz a experiência aproxima-se com os olhos vendados e põe a mão sobre um deles; o prato sem água não dá casamento; o de água suja indica que o casamento será com um viúvo, e o de água limpa, com solteiro.

Nome do noivo:

Ponha uma moeda de um real na fogueira e, no dia seguinte, a recolha, entregando ao primeiro pobre que aparecer. O nome do pobre é o nome do noivo.

Aliança no copo batendo:

Passe sobre a fogueira um copo virgem contendo água. Depois amarre a aliança de uma mulher casada enrolada em um fio de cabelo. Reze uma Ave Maria. Tantas são as pancadas dadas pelo anel nas paredes do copo quanto os anos que o pretendente terá de esperar para se casar.

Rosto do futuro marido

Você deve colocar um papel branco por cima da fogueira de São João, sem queimar. Enquanto reza uma "Salve Rainha", gire o papel sobre o fogo. O desenho feito pela fumaça corresponde ao rosto do homem com quem você vai se casar.

Água suja, água limpa

Separe três pratos: um sem água, outro com água limpa e outro com água suja. Quem faz a experiência aproxima-se com os olhos vendados e põe a mão sobre um deles; o prato sem água não dá casamento; o de água suja indica que o casamento será com um viúvo, e o de água limpa, com solteiro.

O perigo de uma história única - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Ontem trabalhei quase três horas na degravação desta fala da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Senti-me na obrigação de fazê-lo para suprir os blogs aí da região com esta questão relevante, especialmente para os escritores contadores de história. Ao final, por volta das duas madrugadas, eu estava com um material que não prestava para os veículos: a fala dela foi de 18 minutos e resultaram em cinco páginas escritas.

Para não me perder nos objetivos tentaria resumir o que e importante ela disse, com trechos da mesma. Acho que todos gostariam de ouvir esta escritora, que embora falando em inglês tem legenda em português. O blog que ouvi foi neste endereço: http://maureliomello.blogspot.com/

“Eu sou uma contadora de histórias e gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que eu gosto de chamar “o perigo de uma história única”. Ela foi criada num campus universitário, numa família de classe média nigeriana e começou a ler e escrever muito precocemente. A leitura dela era a britânica e a americana. E quando escreveu os primeiros textos ainda criança o que vinha: “Todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis. Eles brincavam na neve. Comiam maçãs e falavam muito sobre o tempo, em como era maravilhoso o sol ter aparecido. Agora, apesar do fato de que eu morava na Nigéria. Eu nunca havia estado fora da Nigéria. Nós não tínhamos neve, nós comíamos manga. E nós nunca falávamos do tempo porque não era necessário.”


Quando ela começou a ler autores africanos como Chinua Achebe e Camara Laye: “Eu percebi que pessoas como eu, meninas com pele da cor de chocolate, cujos cabelos crespos não podiam forma rabos-de-cavalo, também podiam existir na literatura. Eu comecei a escreve sobre coisas que eu conhecia. Bem, eu amava aqueles livros americanos e britânicos que eu lia. Eles mexiam com a minha imaginação, me abriam novos mundos. Mas a conseqüência inesperada foi que eu não sabia que pessoas como eu podiam existir na literatura. Então o que a descoberta dos escritores africanos fez por mim: salvou-me de ter uma única história sobre os que os livros são.”

Ela toca numa questão fundamental em literatura que é o equilíbrio e a visão consciente de possíveis efeitos adversos ao que tentam. Lembro que na época que fui médico numa favela do Rio nos preocupávamos com a cultura como fonte de libertação daquele estado de coisa chamado favela. Muito do chamado texto de “denúncia” contra a pobreza dos favelados, eram na verdade um estereótipo que os tornavam sem alma e sem espírito de luta e reação. E isso era uma grande mentira, todo dia eu via a luta árdua e o progresso pessoal daquele povo. A nigeriana chega ao mesmo resultado quando analisa uma criança pobre que trabalhava na sua casa e a visão que a mãe criou na sua mente e o momento quando ela toma consciência disso: a mãe dele nos mostrou um cesto com um padrão lindo, feito com ráfia seca por seu irmão. Eu fiquei atônita! Nunca havia pensado que alguém em sua família pudesse realmente criar alguma coisa. Tudo o que eu havia ouvido era que eram muito pobres, assim teria se tornado impossível para mim, vê-los como alguma coisa além de pobres. Sua pobreza era a minha história única sobre eles.

Ela ganhou uma bolsa de estudos nos EUA e foi estudar numa universidade e morar num quarto junto com uma colega americana: “Minha colega de quarto americana ficou chocada comigo. Ela perguntou aonde eu tinha aprendido a falar inglês tão bem e ficou confusa quando eu disse que, que por acaso, o Inglês era a língua oficial da Nigéria. Ela perguntou se poderia ouvir o que ela chamou de minha “música tribal” e ficou muito desapontada quando eu toquei minha fita de Mariah Carey. Ela presumiu que eu não sabia usar fogão. O que me impressionou foi que ela: sentiu pena de mim, antes mesmo de ter me visto. Sua posição padrão para comigo, com uma africana, era um tipo de arrogância bem intencionada, piedade.”

Depois ela levanta como esta história criou a idéia da África com uma catástrofe e identifica esta visão européia desde o princípio da exploração marítima do atlântico. A visão que os africanos não tenham progresso, capacidade de autogestão e criar uma civilização. Isso fica mais claro quando ela visita o México após alguns anos nos EUA de ouvir a grande questão da imigração irregular, acusando os mexicanos de espoliar o sistema de saúde, passando escondidas na fronteira, sendo presas. Aquilo atingia todo o povo mexicano. Foi quando ela passear em Guadalajara “vendo pessoas indo trabalhar, enrolando tortilhas nos supermercados, fumando, rindo. Eu me lembro que meu primeiro sentimento foi de surpresa. E, então, eu fiquei oprimida pela vergonha. Eu percebi que havia estado tão imersa na cobertura da mídia sobre os mexicanos que eles haviam se tornando em minha mente: o abjeto imigrante. Eu tinha assimilado a única história sobre os mexicanos e eu não podia estar mais envergonhada de mim mesmo.”

Então ela associa tudo isso à estrutura de poder e diz: “Então é assim que se cria uma história única: mostre um povo com uma coisa, como somente uma coisa, repetidamente, e será o que eles se tornarão. É impossível falar sobre história única sem falar sobre poder.” “Poder é a habilidade de não só contar a história de outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa. O poeta palestino Mourid Barghouti escreve se você quer destituir uma pessoa, o jeito mais simples é contar a sua história, e começar com “em segundo lugar”. Comece uma história com as flechas dos nativos americanos e não com a chegada dos britânicos e você tem uma história completamente diferente.”

Recentemente eu palestrei numa universidade onde um estudante me disse que era uma vergonha que homens nigerianos fossem agressores físicos como a figura do pai no meu romance. Eu disse que havia terminado de ler um romance chamado “Um Psicopata Americano” e que era uma grande pena que jovens americanos fossem assassinos em série. Nunca havia me passado que só de ter lido um romance no qual o personagem era um assassino, isso fosse representativo de todos os americanos. E agora, isso não é porque eu sou uma pessoa melhor do que aquele estudante, mas devido ao poder cultural econômico dos EUA, eu tinha muitas histórias sobre a América. Eu tinha lido Tyler, Updike, Steinbeck e Gaitskill. Eu não tinha uma única história sobre a América.

Eu sempre achei que era impossível se relacionar adequadamente com uma pessoa ou um lugar sem relacionar-me com todas as histórias daquele lugar ou pessoa. A conseqüência de uma história única é essa, ela rouba a dignidade das pessoas. Faz o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada difícil. Enfatiza como nós somos diferentes ao invés de como somos semelhantes. E se antes da minha viagem ao México eu tivesse acompanhado os debates sobre imigração de ambos os lados, dos EUA e México?

Ela continua reforçando tais argumentos com uma série de outros exemplos, daquilo que ela chama espírito empreendedor do seu povo até que no final terminou assim: Eu gostaria de finalizar com este pensamento: Quando nós rejeitamos uma história única, quando percebemos que nunca há uma única história sobre lugar nenhum, nós reconquistamos o paraíso.