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Os ossos do dia
A maritaca eletrocutada
Pende do fio de alta-tensão.
Dois cachorros disputam um osso,
Rosnam, mordem, sangram.
Os urubus caminham pela estrada,
Confundem-se ao asfalto negro, líquido.
Os bem-te-vis atacam o gavião,
A pomba cai ferida, destroçada.
As vacas ruminam a morte
No pasto dos carrapatos.
A coruja guarda a imagem da dor
Na névoa dourada dos olhos.
A borboleta pousa sobre a sombra
Da lagartixa amarela na parede.
Um carreiro de formigas carrega,
Aos pedaços, os ossos do dia.
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5 comentários:
Que poemaço! Gostei muito, muito.
"A borboleta pousa sobre a sombra
Da lagartixa amarela na parede."
Eis uma imagem poeticamente divina.
Valeu, Poeta.
Para os meus olhos
e para a minha alma
imagens redentoras
embora aparentemente
trágicas, mas diante
da natureza não há
violência pois não há cobiça.
É tudo puro. A única presença
do homem com seus fios de alta tensão e no asfalto: sim, ocorre outro estado de choque nos versos e nas imagens.
José Carlos Brandão,
um forte abraço.
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