Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Os ossos do dia




Os ossos do dia

A maritaca eletrocutada
Pende do fio de alta-tensão.
Dois cachorros disputam um osso,
Rosnam, mordem, sangram.

Os urubus caminham pela estrada,
Confundem-se ao asfalto negro, líquido.
Os bem-te-vis atacam o gavião,
A pomba cai ferida, destroçada.

As vacas ruminam a morte
No pasto dos carrapatos.
A coruja guarda a imagem da dor
Na névoa dourada dos olhos.

A borboleta pousa sobre a sombra
Da lagartixa amarela na parede.
Um carreiro de formigas carrega,
Aos pedaços, os ossos do dia.

___________

5 comentários:

Stela disse...

Que poemaço! Gostei muito, muito.

Domingos Barroso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Domingos Barroso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Domingos Barroso disse...

"A borboleta pousa sobre a sombra
Da lagartixa amarela na parede."

Eis uma imagem poeticamente divina.

Valeu, Poeta.

Domingos Barroso disse...

Para os meus olhos
e para a minha alma
imagens redentoras
embora aparentemente
trágicas, mas diante
da natureza não há
violência pois não há cobiça.
É tudo puro. A única presença
do homem com seus fios de alta tensão e no asfalto: sim, ocorre outro estado de choque nos versos e nas imagens.

José Carlos Brandão,
um forte abraço.