Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Receita de Dona Cacilda - colaboração de Altina Siebra



Receita da Dona Cacilda

Dona Cacilda é uma senhora de 92 anos, miúda, e tão elegante, que todo dia às 8 da manhã ela já está toda vestida, bem penteada e discretamente maquiada, apesar de sua pouca visão.

E hoje ela se mudou para uma casa de repouso: o marido, com quem ela viveu 70 anos, morreu recentemente, e não havia outra solução.

Depois de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando a atendente veio dizer que seu quarto estava pronto. Enquanto ela manobrava o andador em direção ao elevador, dei uma descrição do seu minúsculo quartinho, inclusive das cortinas floridas que enfeitavam a janela.

Ela me interrompeu com o entusiasmo de uma garotinha que acabou de ganhar um filhote de cachorrinho.

- Ah, eu adoro essas cortinas...
- Dona Cacilda, a senhora ainda nem viu seu quarto... Espera um pouco....
- Isto não tem nada a ver, ela respondeu, felicidade é algo que você decide por princípio. Se eu vou gostar ou não do meu quarto, não depende de como a mobília vai estar arrumada... Vai depender de como eu preparo minha expectativa.

E eu já decidi que vou adorar. É uma decisão que tomo todo dia quando acordo.

Sabe, eu posso passar o dia inteiro na cama, contando as dificuldades que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem...
Ou posso levantar da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem.

- Simples assim?
- Nem tanto; isto é para quem tem autocontrole e exigiu de mim um certo 'treino' pelos anos a fora, mas é bom saber que ainda posso dirigir meus pensamentos e escolher, em consequência, os sentimentos.

Calmamente ela continuou:
- Cada dia é um presente, e enquanto meus olhos se abrirem, vou focalizar o novo dia, mas também as lembranças alegres que eu guardei para esta época da vida. A velhice é como uma conta bancária: você só retira aquilo que guardou. Então, meu conselho para você é depositar um monte de alegrias e felicidades na sua Conta de Lembranças. E, aliás, obrigada por este seu depósito no meu Banco de Lembranças. Como você vê, eu ainda continuo depositando e acredito que, por mais complexa que seja a vida, sábio é quem a simplifica.

Depois me pediu para anotar:
COMO MANTER-SE JOVEM

1. Deixe fora os números que não são essenciais. Isto inclui a idade,o peso e a altura.
Deixe que os médicos se preocupem com isso.

2. Mantenha só os amigos divertidos. Os depressivos puxam para baixo.
(Lembre-se disto se for um desses depressivos!)

3. Aprenda sempre:
Aprenda mais sobre computadores, artes, jardinagem, o que quer que seja.. Não deixe que o cérebro se torne preguiçoso.

'Uma mente preguiçosa é oficina do Alemão.' E o nome do Alemão é Alzheimer!

4. Aprecie mais as pequenas coisas.



5. Ria muitas vezes, durante muito tempo e alto. Ria até lhe faltar o ar.
E se tiver um amigo que o faça rir, passe muito e muito tempo com ele ou ela!

6. Quando as lágrimas aparecerem, aguente, sofra e ultrapasse.
A única pessoa que fica conosco toda a nossa vida somos nós próprios.
VIVA enquanto estiver vivo.

7. Rodeie-se das coisas que ama:
Quer seja a família, animais, plantas, hobbies, o que quer que seja.
O seu lar é o seu refúgio.

8. Tome cuidado com a sua saúde:
Se é boa, mantenha-a.
Se é instável, melhore-a.
Se não consegue melhorá-la , procure ajuda.

9. Não faça viagens de culpa. Faça uma viagem ao centro comercial, até a um país diferente, mas NÃO para onde haja culpa

10. Diga às pessoas que ama que as ama a cada oportunidade.

E, se não mandar isto a pelo menos quatro pessoas - quem é que se importa?
Serão apenas menos quatro pessoas que deixarão de sorrir ao ver uma
mensagem sua.

Mas se puder pelo menos partilhe com alguém!


"De nada vale a pena se não tocarmos o coração das pessoas."

'Seu" Lunga responde ... - colaboração de Altina Siebrab

PARA DESCONTRAIR... Tolerância zero!

"Seu" Lunga foi ourives em Juazeiro do Norte, Ceará, vendedor de sucatas, pai de 13 filhos, quase analfabeto.

Candidatou-se uma vez a vereador e perdeu. Ganhou fama pela língua solta e afiada.

-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-..

"Seu" Lunga descansava na rede. Mandou o sobrinho trazer-lhe um pouco de leite.

O garoto pergunta: - No copo?

Ele responde: - Não. Bota no chão e vem empurrando com o rodo, fio de rapariga!!!

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O funcionário do banco veio avisar:

- "Seu" Lunga, a promissória venceu.

- Meu filho, por mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória.

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"Seu Lunga", no elevador (no subsolo-garagem).

Alguém pergunta: - Sobe?

Ele: - Não, esse elevador anda de lado.

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"Seu" Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta:

- Tá doente?

- Ele: Por quê? Quer dizer que se eu fosse saindo do cemitério, eu tava morto?

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"Seu" Lunga dava uma tremenda surra no filho e o menino gritava:

- Tá bom, pai! Tá bom, pai! Tá bom, pai!

- Tá bom, é? Quando tiver ruim, você me avisa, que eu paro.

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O amigo de "seu" Lunga o cumprimenta:

- Olá, tá sumido! Por onde tem andado?

- Pelo chão, não aprendi a voar ainda...

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Na década de 70, "seu" Lunga chega num bar e fala pro atendente:

- Traz uma cerveja e bota o disco de Luiz Gonzaga pra eu ouvir!

- Desculpe, "seu" Lunga, não posso botar música hoje...

- Mas por quê?

- Meu tio morreu!

- Ah, sei, e ele levou os discos, foi?

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Durante a madrugada, a mulher do "seu" Lunga passa mal:

- Lunga! Tá me dando uma coisa...

- Receba!

- Mas é uma coisa ruim!

- Então devolva!

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"Seu" Lunga entrando em uma loja especializada.

-Tem veneno pra rato?

-Tem! Vai levar? - pergunta o balconista.

-Não, vou trazer os ratos pra comer aqui! - responde seu Lunga.

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O telefone toca. "Seu" Lunga:

- Alô!

- Bom dia! Quem está falando?

- Você!

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Metrô de Superfície - por Heládio Teles Duarte





O metrô do Cariri, já opera em fase experimental, entre Juazeiro do Norte e Crato. Um projeto pioneiro no Nordeste, totalmente fabricado em Barbalha ( máquinas locomotivas ), para posteriormente ser exportado para todo o pais.O povo caririense agradece, mais um empreedimento do governador Cid Gomes.

Heladio Teles Duarte

Insone - Por Edilma Rocha


O produto de noites mal dormidas muitas vezes resulta em pérolas....

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Duas horas da manhã...
O silêncio cobre a casa vazia
Lençois , travesseiros...
Revirados, solitários...
Lá fora a chuva bate fria

A ânsia do beijo
Que não foi satisfeito...
O relógio da Matriz bate outra vez
E a solidão sufoca
Despertando sentimentos
De dor outra vez

A cama vazia
Não me prende mais...
Desço, tomo um café
E ainda sufoca a agonia..

Perambulo pela casa...
E comigo meus fantasmas
Ouço vozes na calçada...
Ou são gritos da minha alma ?

As horas passam...
Lentas e solitárias
A chuva cessa lentamente
O frio invade o corpo aquecido
Cansado e mal dormido

Amanhece o dia
Sinto o sol aparecer...
Retorno ao quarto vazio
Arrumo a cama outra vez
Vai recomeçar a agonia
De um só coração
Sentimento perdido
Solidão reviver


Edilma

DEDÉ DE ZEBA - O poeta do Crato - Parte IV - CRATO ANTIGO

Com muita garra e audácia,
tento descrever assim;
me recordo da farmácia,
do grande Doutor Rolim.
E tudo me vem bem perto;
o café de João Gualberto,
a grande Casa Abraão,
as marchinhas de Audizio,
quiosque de seu Anfrizio,
lá na praça da Estação.

O velho Zeba alfaiate!
ninguem esquece jamais;
um general no combate,
na luta dos carnavais.
Animava com bravura,
o Clube da Rapadura;
quando eu era menino.
Meu velho pai, um gigante
naquela luta incessante,
ao lado de Balduino.

A pensão de Hermes Lucas,
a feiura de Ramiro,
seu Sá e suas sinucas,
fecho os olhos e admiro.
Embora nada mais tendo,
inda hoje vou vivendo,
pois me foi um tempo bom.
E agora é que alguem se assusta:
a velha Maria Augusta,
Zé Alves e Odilon.

De tanta coisa me lembro,
e a tudo dou importância;
e com saudade relembro,
tudo que vi na infância.
Essas belezas do Crato,
que com saudade retrato,
não me saem da memória,.
E esse peito, bem meu,
é um verdadeiro museu,
do que ficou na memória.

A Provincia Edições - por Jurandir Temóteo

Encerro aqui estes versos de improviso do poeta Dedé, gravados para uma publicação de um livro intitulado, DEDÉ DE ZEBA o poeta do Crato, no ano de 2006.

Programa Cariri Encantado entrevistará Lupeu Lacerda


Lupeu Lacerda, poeta, ex-carteiro e ex-crooner do Fator RH, pioneira banda de rock caririense, está de férias na região (ele reside em Juazeiro da Bahia há um tempão). E Lupeu na área é sinônimo de farra e curtição. Portanto, o convite para ele ser entrevistado no programa Cariri Encantado é inevitável. Nesta sexta, 29 de janeiro, portanto, Lupeu ao vivo no Cariri Encantado, das 14 às 15 horas, na Rádio Educadora do Cariri AM 1020, que por sinal estar totalmente renovada com novos e modernos equipamentos, com mais potencia e maior qualidade. O programa também é transmitido pela Internet através do blogue cratinho.blogspot.com. Apresentação de Luiz Carlos Salatiel e Carlos Rafael Dias e participação especial de Huberto Cabral, que fará uma homenagem ao maestro padre David Moreira, cujo aniversário de nascimento transcorreu no último dia 18. Para quem não sabe, padre David Moreira é irmão do monsenhor Ágio Moreira, fundador da Orquestra Padre David Moreira, da Sociedade Lírica do Belmonte, localizada no Crato.

Se ligue!

Desapaixonada - por Socorro Moreira

A dor me acordou.
A dor da rejeição provoca uma dor,
que é rejeitada por mim.
Afora esse sentimento,
de certa forma pequeno,
só resta a dor.
Claro que fui ao Doutor !

Janeiro das desistências
das distâncias
das conveniências
dos amores ímpares...

- Tomara que já chegue fevereiro !

Mas, se o tempo correr
o tempo ficará sem energia pra viver
E a morte chegará mais cedo...
Que fazer?
Viver estoicamente
e sobretudo esquecer...
Esquecer de vez
aquela "história de amor"...
ou desamor ? !


Bolo de Ricota



Bolo de Ricota
Ingredientes

1 ricota de 500 g

1 lata de leite condensado

2 latas de leite de vaca

4 ovos

1 colher (sopa) bem cheia de maizena


Modo de Preparo

Bater tudo no liquidificador e colocar em uma forma grande e quadrada (não precisa untar a forma)
Não vai fermento
O bolo vai crescer e depois abaixar
Assar até ficar dourado

São Tomás de Aquino




São Tomás de Aquino, por Fra Angelico (1395 - 1455)

Doutor da Igreja católica, que foi por ela santificado, o italiano Tomas de Aquino (1227-1274) foi um grande filósofo da Idade Média, um expoente da escolástica. Ele descreveu e analisou os princípios básicos do pensamento lógico-científico. Apoiando-se em preceitos do cristianismo, ele desenvolveu sua obra filosófica.

No entanto, há partes dela que não têm como objeto a religião ou a crença em Deus. Por exemplo, São Tomás fez considerações a respeito da divisão e do método ou modo de proceder das ciências teóricas. Trata-se de reflexões que permanecem atuais.

O filósofo partiu do princípio de que os seres humanos, ao contrário dos animais, têm a capacidade do "intelecto" ou "entendimento" (em latim intellectus). A palavra latina intellectus deriva do verbo intelligire e se traduz, vulgarmente, por "entender", mas, no latim de Tomás de Aquino, é um verbo de uso muito mais geral que corresponde, aproximadamente, ao nosso "pensar".

Aquino faz a distinção entre "entender" e "pensar" como dois "actos" diferentes do intelecto. Há, por um lado, a intelligentia indivisibilium, que significa literalmente o "entendimento das coisas que não são complexas"; e por outro a compositio et divisio, que quer dizer "juntar e separar" - é aqui que se inicia o pensar para o filósofo. Vamos examinar passo a passo seu raciocínio.


Duas faculdades do intelecto
Como operam essas duas faculdades do intelecto para produzir o conhecimento? Em um primeiro momento, ocorre a compreensão das formas indivisíveis do ser, que são os que determinam as suas categorias - substância, quantidade, qualidade e relação. Ou seja, tem lugar a "inteligência dos indivisíveis pelo qual se conhece o que é alguma coisa" (a natureza das coisas). Trata-se de uma etapa de simples apreensão.

O passo seguinte consiste em "compor e dividir", ou seja, formar juízos afirmativos ou negativos. Isto é: formam-se enunciados afirmativos ou negativos a respeito do próprio ser (da coisa). Portanto, a primeira operação do intelecto que entra na composição do raciocínio é a simples apreensão, o "acto" pelo qual a inteligência percebe a essência de uma coisa, sem afirmar ou negar o que quer que seja a seu respeito.

Essa primeira operação do intelecto, portanto, se caracteriza pela simplicidade. O objeto da simples apreensão é sempre encarado como uma unidade. Assim, é muito pertinente o modo pelo qual Tomás de Aquino definiu essa operação, a inteligência dos indivisíveis.

O "acto" pelo qual o espírito percebe essa essência indivisível das coisas é ele próprio simples; quer dizer, não implica nenhuma síntese, nenhum juízo julgamento. O conhecimento das coisas individuais e particulares precede a dos universais.


Segunda operação do intelecto
Depois da operação realizada pelas duas faculdades do intelecto acima mencionadas, realiza-se uma segunda operação que se refere ao conhecimento dos universais. Ela se dá pelo conhecimento da quididade (ou seja, o que uma coisa é) das coisas materiais, que representa a natureza de uma coisa em geral, independentemente de suas condições de realização. Por exemplo, designa-se o homem e não um homem em particular, como Sócrates ou Platão.

Essa faculdade do intelecto se distingue de toda e qualquer visão particular dos seres em sua existência concreta atual. O conhecimento dos universais pode ser extraído de muitas coisas em particular e é isso o que possibilita o ato de julgar.


A capacidade de abstrair
O processo cognitivo do nosso intelecto também é capaz de realizar a atividade de abstração, isto é: a "consideração à parte do que está unido nas coisas". Essa faculdade é própria da primeira atividade do intelecto, a inteligência dos indivisíveis. A abstração é uma faculdade que sucede, que vem após a inteligibilidade de algo, a abstração só é possível quando se distingue, anteriormente, a natureza de alguma coisa.

Na primeira operação é possível abstrair o que não está separado nas coisas. Dito de outro modo: o intelecto só abstrai depois de determinar a natureza da coisa, depois de definir o objeto e considerá-lo elemento do conhecimento. As formas das coisas materiais não existem na natureza separadas de sua matéria, no entanto, o intelecto, ao abstrair, só possui as formas, não a matéria.

A abstração de coisas que não podem existir independentemente na natureza só implicará falsidade, se o intelecto considerar que as formas existam separadas de sua matéria, o que não tem necessariamente motivo de ocorrer. Embora para compreender seja necessário que as formas existam no intelecto separadamente da matéria, isto não significa que o intelecto considere que elas também existam assim no mundo exterior, na natureza.

A forma que obtém o intelecto não é compreendida sem algo por meio do qual o objeto externo é compreendido. Portanto, de acordo com Tomás de Aquino, podemos afirmar que existe uma relação entre os processos característicos do conhecimento intelectual humano e a natureza das coisas. Sendo assim, a própria divisão das ciências está relacionada ao procedimento que o intelecto realiza no processo cognitivo.

Em outras palavras: a distinção entre intelecto teórico ou especulativo e intelecto operativo ou prático "corresponde a uma divisão entre o que é matéria das ciências práticas (as coisas que podem ser feitas por nossa obra) e o que é matéria das ciências especulativas" (coisas que não são feitas por nossa obra).


As ciências teóricas
As ciências especulativas (teóricas) se diferenciam pela propriedade de seu objeto, enquanto é objeto de especulação. O conhecimento intelectual possibilita que a mente perceba as coisas sem ser afetada pela materialidade dos objetos físicos.

A abstração se processa de dois modos para que isso seja possível: abstração do todo em relação à parte e da forma em relação a matéria. O intelecto recebe a forma das coisas sem sua matéria, como é o caso da matemática.

Os objetos do que trata a matemática dependem da matéria quanto à sua existência, mas não dependem da matéria quanto ao conhecimento que se pode ter de tais objetos, pois não incluí a matéria sensível. Como exemplos, podemos mencionar: a linha e o ponto.

Por outro lado, é possível abstrair as particularidades individuais e contingentes dos objetos. Contudo, os objetos não podem existir nem ser percebidos sem sua matéria sensível. Nesse aspecto, está implicada a matéria sensível, que constitui o objeto próprio da física ou ciência da natureza.

Por último, a separação consiste em considerar as coisas independentemente de todas as suas condições materiais, tem-se então o objeto da metafísica, o qual é totalmente separado da matéria e forma, como é o caso de Deus. São Tomás pensou que a metafísica tem por objeto o estudo das causas primeiras. A causa real e radicalmente primeira é Deus.


O objeto da especulação
A divisão das ciências especulativas é realizada mediante as distinções do que é o objeto da especulação, do especulável. O objeto do especulável pelo intelecto humano tem que necessariamente estar destituído de movimento (ou seja, é imutável). Suas propriedades podem ser descritas assim: a) especuláveis que dependem da matéria e do movimento para ser, b) especuláveis que não dependem da matéria no que se refere ao ser.

O primeiro pode ser subdividido em duas classes distintas: aqueles que dependem da matéria para ser e para ser inteligíveis (os especuláveis da física e ciência natural, por exemplo) e aqueles que dependem da matéria para ser, mas não para ser inteligíveis (por exemplo, os especuláveis da matemática).


Síntese
Podemos elaborar um quadro esquemático para compreender as operações do intelecto no processo de abstração. Definimos anteriormente dois modos de abstração: do todo em relação à parte e da forma em relação à matéria. Resta descrever que critérios tornam isso possível.

O intelecto pode abstrair qualquer tipo de forma cuja determinação essencial não depende de tal matéria, a matemática trata destes abstratos. O intelecto abstrai as formas das imagens por meio do qual se compreende o objeto em repetidas ocasiões. As qualidades sensíveis e mesmo a quantidade de matéria que acompanham o objeto podem ser abstraídas, ou melhor, não precisam existir na mente.

Partiremos agora para abstração do todo em relação à parte. Já foi exposto que o processo de abstração só é operacional quando se determina a priori a natureza da coisa (quididade). Disso decorre que devemos determinar quais partes do objeto são considerados acidentes (partes não essenciais) na sua composição.

Se definirmos uma "sílaba", esta é composta de "letras", não podemos abstrair desmembrando-a em letras, pois "letra" é um componente essencial do todo denominado "sílaba". Essas partes definem o "todo" em questão (objeto do especulável). Ou seja, o "todo" (sílaba) depende da "parte" (letra).

Mas também existem partes que são acidentais à definição do "todo" em questão. Quando definimos "ser humano", não o compreendemos como composto de membros distintos (pé, mão, dedo, etc.); ao contrário, são justamente essas partes que entram na definição do "todo" denominado "ser humano". A dupla operação do intelecto corresponde e está articulada à natureza das coisas que são os objetos do conhecimento humano.
* Renato Cancian é cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais, é autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política -1972-1985" (Edufscar).


uoleducação
Entre as nuvens (de volta ao Crato).
- Claude Bloc -





Estava nos ares. Lençóis de nuvens se estendiam à minha frente: brancos, macios, ensolarados. Franjas delicadas enfeitavam a passagem da carruagem alada e pareciam se rasgar ao contato com o avião que deslizava na seda azul do céu. Minha alegria não tinha limites e parecia saltitar entre os travesseiros de imagens entalhadas nas nuvens alcochoadas. Alegria infantil, alegria-menina, alegria, alegria! Eu ali era alegria apenas, apenas alegria.

Na verdade, eu me sentia entre duas terras, e, acima das nuvens, meus pensamentos pareciam perder-se em algum recanto de pura felicidade. Que significado tinha o tempo naquele momento? Que significado tinha o ensejo de retornar ao Crato mais uma vez. Que sentido teria esse sentimento tão forte que me toma a cada vez que posso estar de volta ao meu torrão querido? Fazer o que? Eu havia saído numa hora e chegaria 50 minutos depois... o voo curto e rápido tinha a dimensão desse sonho esculpido em nuvens em meio aos céus azuis.

Pensava nessas coisas. Na minha chegada ao Crato, mais uma vez, e na alegria concreta que isso sempre me proporciona. O resto era pensar em tudo o mais. Nas oportunidades, na felicidade que me faz vibrar, na energia poética, lírica, pura e simples que me faz abraçar a vida nesses momentos e nessa roda-viva que torna o tempo tão relativo. Esse eterno fingir não aceitar o que aceitamos, nos momentos de sentir mais uma vez o brilho no olhar, como uma declaração de amor à terra da gente.

Nesses retornos, o tempo se desvela ao desenrolar seu fio. Com isso, já fiz muitos intervalos na minha vida: questionamentos para entender esses sentimentos enormes que me movem, essas demonstrações metafísicas do meu pensamento. Imaginar como poderia eu ser assim tão instintiva? Por que acreditava nos sonhos e na minha voz interior, que só eu julgo ouvir? Por muitas vezes eu mesma me considerei uma contradição entre a inteligência racional e a intuição. Que agora era o epicentro. Pensamentos dispersos a inventar um sonho novo, verde e profundo como a chapada. Ouro sobre verde... Deslumbrante!

O avião já desacelerava. Olhei no espelho os meus olhos escuros e alegres. Olhei o vale lá embaixo e a emoção sorriu comigo. Olhei pela janela. As nuvens raspavam minhas lembranças. O vácuo me mostrava as entranhas da terra, verde e bela. Meu chão!

Depois, o pouso. O ranger do freio. A escada. Passos apressados. Ansiosos. Mala. Taxi. E finalmente o Crato, mãe gentil. Baixei a vista emocionada. Na minha frente a luz imensa do sol do Cariri. O solo. O cheiro de chuva. Apanhei a mochila. Meus dedos tocaram suavemente meus pés. Estava em Crato e guardava essa emoção como se guardasse um tesouro precioso. E era. Já não havia que pensar no tempo... A viagem tinha acabado. Mais um sonho havia começado.

Claude Bloc