Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Perdas - José do Vale Pinheiro Feitosa


Fique com a música que logo virão o texto e as imagens. Música Noturno de Brasílio Iteberê da Cunha.

Não Foi Nada - Lô Borges

Não Foi Nada
Lô Borges

Sonhei
Que eu nunca existi
E vi
Que eu nunca sonhei

A vez dos corruptores - José do Vale Pinheiro Feitosa

Já que a corrupção foi o assunto mais comentado da semana aqui no Blog. Mais até do que a morte do Kadafi, que agora se toma conhecimento de mais uma suspeição sobre as práticas nos momentos finais dele: organizações de direitos humanos apuram suspeita que Kadafi tenha sido submetido a violências sexuais como parte da tortura sofrida. Ao fio da meada: a corrupção é um assunto em todo o mundo, acabei de ver um vídeo italiano com a platéia do teatro Le Scala cantando o Vá Pensiero do Nabuco de Verdi diante de Berlusconi que assistia ao espetáculo. Os corruptos estão de fato aflitos, ministro, primeiro ministros ou banqueiros. Consta que Umberto Bossi da Lega Nord, aliado de Berlusconi teria dito: se aumentarmos a idade da aposentadoria para 67 anos seremos todos mortos. Isso fazia parte do reajuste fiscal italiano a ser levado na cúpula da Europa.

Onde acho que reside o problema do “5 a 0” da imprensa sobre o governo como disse o professor Armando Rafael? É que a mídia de ambos os lados esgrimam com os corruptos dos outros. Nunca olham para o seu campo e jamais para as próprias práticas como vender assinaturas de revistas e livros didáticos como apenas um exemplo. Ou a chantagem que tem sido uma marca quase ontológica da imprensa ocidental. E assim segue. Os corruptos, no entanto, são uma parte do problema da corrupção.

Aliás, convoco o professor Armando para esta tese: o corrupto é a consequência e a corrupção o ato classificado em lei. A verdadeira causa da corrupção está nos corruptores que agem, na maior parte das vezes, como agentes econômicos a tirar vantagens de fundos públicos ou privados. Finalmente para sucesso do nosso cansaço como tema predominante da semana, podemos perceber que algo se pode fazer além de apenas xingar os outros. Eis uma boa iniciativa política e cultural.

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e o Instituto Brasileiro de Direito Empresarial estiveram numa audiência pública na Câmara que prepara uma lei para punir empresas corruptoras com multas pesadas e ação para devolução do dinheiro. E por que estes institutos do empresariado se preocupam com isso: o suborno afetaria a competição no mercado e a imagem do Brasil no exterior.

As duas entidades defenderam a aprovação do projeto enviado pelo governo no ano passado. O texto foi elaborado pela Controladoria-Geral da União (CGU). Pela atual legislação brasileira, as empresas não são puníveis enquanto pessoas jurídicas por nenhum crime, não só o de corrupção – a única exceção é na área ambiental. O projeto tenta cercar as empresas com sanções fora da área penal, com a aplicação de multas pesadas por parte dos órgãos públicos prejudicados, a proibição de a PJ assinar novos contratos públicos e a possibilidade de elas serem acionadas judicialmente para devolver o dinheiro desviado.

Também presente na audiência o ministro da CGU, Jorge Hage, disse que a impunidade dos corruptores é generalizada inclusive por conta dos bons – e caros - escritórios de advocacia que contratam para se defender. Até a recuperação dos recursos desviados fica comprometida. Ele estima que apenas 8% dos desvios voltam aos cofres públicos. “É preciso ampliar o rol de atos punitivos”, disse.

Corruptos? Não conheço algum do meu lado. Corruptos são os outros! - José do Vale Pinheiro Feitosa

O professor titular de história da Universidade Federal Fluminense Jorge Ferreira acaba de publicar uma biografia sobre João Goulart. Uma biografia muito interessante, pois trata de desmontar, com fatos e pesquisa, toda uma argumentação à direita e à esquerda para apagar Jango da história. De repente ele se tornou o político que só existiu nos dois últimos anos do seu mandato e até o Golpe que o excluiu da Presidência da República. Jorge Ferreira escreve uma biografia, mostra o político em toda a sua extensão e desmonta todos os preconceitos e a propaganda dos golpistas para justificarem o próprio ato de violência política.

Na introdução do livro ele é revelador de uma das táticas do golpismo e da tentativa de apagar Jango da história. Leiam a seguir.

“Outra questão importante para o desmerecimento de João Goulart são as denúncias sobre as relações, nem sempre pautadas pela ética, entre suas bases de apoio política e as benesses oficiais. As acusações não são destituídas de fundamento, mas criou-se uma imagem distorcida do tema, como se o fisiologismo, empreguismo e o uso da máquina estatal com fins políticos fossem tradições inauguradas por Vargas e tivessem atingido seu apogeu com Goulart. Neste aspecto, Claudio Bojunga, com razão, nos alerta:

Mais do que o autoritário Vargas, muito mais do que Jânio e Goulart, Juscelino distribuiu favores e empregos, e trilhou os caminhos da negociação política nos termos tradicionais da classe política brasileira. Cartórios, nomeações, promoções eram armas prediletas para a cooptação. E continua: Existiam dezenas de maneiras de retribuir, recompensar, garantir, facilitar, agilizar, azeitar e contribuir. Evidentemente que não é o caso saber qual dos presidentes da República mais utilizou recursos desse tipo. Trata-se, sim, de reconhecer que é uma tradição nas relações políticas entre os poderes da República no Brasil, seja nos municípios, seja nos estado, seja em Brasília. – na época de Goulart, antes ou depois dele.”

E concluo: alguém que conhece a realidade das instituições brasileiras, mesmo além dos municípios (por exemplo José Nilton Mariano acaba de fazer uma denúncia contra o prefeito do Crato e não sei se isso tem fundamento ou não), como repartições ou universidades e acha que isso só ocorre na gestão dos adversários ou vive em marte ou tem um olho para uma coisa e outro para coisa diferente.

"Intocáveis" e "inimputáveis" - José Nilton Mariano Saraiva

Não é de hoje que os “intocáveis” membros do nosso poder Judiciário, encastelados em suas redomas, se acham na berlinda, principalmente em razão das decisões pra lá de contestáveis de alguns de seus integrantes (principalmente nos seus “tribunais superiores”).
Tido e havido - em tempos outros - como o último guardião da moralidade, o ícone maior da respeitabilidade, o refúgio dos descamisados, o justiceiro dos desvalidos, na prática diária os seus integrantes apresentam um “modus operandi” que depõe contra tudo isso (embora não se possa provar absolutamente nada contra nenhum deles, vez que as coisas são muito bem “amarradas”). E ai de você, se ousar se meter a besta, e reclamar.
Quem não lembra, por exemplo, que meses atrás o então Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, literalmente “peitou” todos os companheiros de toga, atropelou ritos consagrados do julgamento processualístico e se indispôs com boa parte dos integrantes do Judiciário, com o fito único e exclusivo (e obteve sucesso) de soltar da prisão o banqueiro-bandido Daniel Dantas, “engaiolado” duas vezes por decisão do austero juiz Fausto de Sanctis, em razão das comprovadas falcatruas no mercado financeiro ??? E isso depois que o próprio banqueiro-bandido afirmou calma e peremptoriamente que não estava preocupado, porquanto, quando a ação chegasse às instâncias superiores, teria a prisão revertida. Não deu outra. A troco de quê ???
Quem não recorda que, após ser condenado pela Justiça Federal do Ceará em três julgamentos (em todos eles à pena de 14 (quatorze) anos de reclusão, em regime fechado), em razão das portentosas fraudes processadas na contabilidade da instituição à qual presidida (BNB), e que deixaram um rombo estratosférico (sete bilhões de reais), o senhor Byron Costa de Queiroz deu um jeito de (recorrer) levar a questão pra ser julgada no Tribunal Regional Federal do Recife, onde foi novamente julgado e (incrivelmente) inocentado “por unanimidade” pelos senhores Desembargadores daquela Corte ??? Será que os juizes da Justiça Federal do Ceará se sentiram desmoralizados ??? Hoje, o “coitado” do Byron Queiroz (que é afilhado do senhor Tasso Jereissati) vice a freqüentar as “rodas sociais” de Fortaleza, e não perde a oportunidade de gozar com os funcionários da instituição. A troco de quê ???
Atualmente, aqui em Fortaleza, um fato inusitado envolve (em suspeitas mil) mais um integrante do Judiciário, a saber: conforme determina a lei, é terminantemente proibido desmatar e construir em Áreas de Relevante Interesse Ecológico (Arie) em razão da grave e irreversível lesão ambiental que pode provocar.
Pois bem, o “Parque do Cocó” é uma dessas áreas que funciona como uma espécie de “pulmão” da nossa hoje abrasiva e sufocada Fortaleza, e onde você pode exercitar-se respirando o pouco de ar puro que ainda nos resta (não custa lembrar que, lá atrás, quando a “questão ambiental” não tinha a relevância que tem hoje, o empresário Tasso Jereissati construiu o seu Shopping Iguatemi exatamente no coração daquela imensa e aprazível área verde; e, embora depois tenha havido contestação, como o homem tem grana a coisa ficou o dito pelo não dito).
Fato é que, assim como “sobra” ambição desmedida e “falta” preocupação para com tão relevante tema, tais terrenos virgens foram adquiridos (certamente que a preço de banana) por gente esperta e inescrupulosa, criou-se uma Associação Cearense dos Empresários da Construção e Loteadores (Acecol) e a intenção é desmatar toda a área, passar por cima do que se constituir obstáculo e construir os espigões da vida.
Os mafiosos empresários recorreram a quem, a fim de perpetrar tão acintoso crime ??? Elementar, meu caro Watson: a um dos integrantes do nosso Judiciário. E ali contaram com a compreensão, simpatia e benevolência do juiz Francisco das Chagas Barreto, que já emitiu um parecer favorável ao desmatamento e à construção. A tal “questão ambiental” que se exploda. A troco de quê ???
Há uma luz no fim do túnel, no entanto: lá em Brasília, a ministra Eliana Calmon, do próprio Supremo Tribunal Federal, navegando contra meio-mundo de gente, confirmou, sim, que há “bandidos de toga”, enquanto que uma pesquisa recente mostra que entre onze instituições avaliadas pelo povo, o Poder Judiciário só perde para aquela outra instituição onde a maioria tem pós-graduação e doutorado em “picaretagem”: o Congresso Nacional.
O bicho pega é quando lembramos que eles, além de “intocáveis”, são, também, “inimputáveis” (mas vamos chegar lá).

Café



- Claude Bloc -


Minha mão segue em voo livre,
Num gesto incerto, indeciso
Alongo os dedos, toco a xícara
Enquanto os sonhos se esfumaçam...
Café matinal, café cheiroso
adoçado com sorriso
adoçado com afeto
em mais um dia igual...
(Claude Bloc)

Pensamento para o Dia 27/10/2011


“No momento do nascimento não se tem atributos bons ou maus. As mudanças ocorrem em sua natureza devido ao alimento consumido, à influência dos amigos etc. Desenvolve-se ego e apego através da companhia que se mantém. Na medida em que começa a se educar, você desenvolve orgulho e acolhe pensamentos arrogantes a respeito da sua superioridade sobre os outros. Essa vaidade polui o coração. Quando a água se mistura ao leite, deve-se fervê-lo para torná-lo puro. Da mesma forma, deve-se realizar várias práticas espirituais (Sadhana) para limpar o coração de impurezas. É somente quando o coração se derrete no calor do Amor Divino que você conseguiu remover as más características. Fique claro que você é a causa de seu destino, bom ou mau. Deus não é responsável pela causa do seu sofrimento e você é livre para moldar seu futuro. Assim, você se aproximará de Deus com um passo mais firme e uma mente mais lúcida.”
Sathya Sai Baba

A denúncia de corrupção, a bravata e a carroça vazia – por Armando Lopes Rafael

   Neste recentíssimo episódio da denúncia de corrupção no Ministério do Esporte, tanto   o denunciado, como o senador Inácio Arruda (PCdoB–CE)  como o presidente da sigla comunista, Renato Rebelo, foram à imprensa para  arrotar  a surrada e orquestrada frase:

– “Iremos às últimas consequências para provar a inocência do ministro”.
Bravata fingida!
Sempre que lia (ou ouvia) esta frase orquestrada, pensava com meus botões: querem fazer o povo  de idiota (ora, todo mundo sabia ser verdade as denúncias). E lembrava de um conto da tradição popular conhecido como “A carroça vazia”...
O que é essa Carroça Vazia?

Reproduzo abaixo, resumidamente  essa tradição popular.
“Certa manhã o meu pai, muito sábio, convidou-me a dar um passeio no bosque.  Deteve-se ele, subitamente, numa clareira e perguntou-me:
– Além dos pássaros, ouves mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos e respondi:
– Estou a ouvir o barulho de uma carroça.
– Isso mesmo, disse o meu pai, de uma carroça vazia.
Perguntei-lhe:
– Como sabe que está vazia, se ainda a não vimos?
– Ora, é fácil! Quanto mais vazia está a carroça, maior é o barulho que faz.
Cresci e hoje, já adulto, quando vejo uma pessoa a falar demais, aos gritos, tratando o próximo com absoluta falta de respeito, prepotente, interrompendo toda a gente, a querer demonstrar que só ele é dono da verdade, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai a dizer:
– Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz!

Olhem aí as dez confusões da semana na cabeça de certa gente - José do Vale Pinheiro Feitosa

1 – A Europa tenta sair da crise com ajuda dos emergentes comprando seus títulos com aval do FMI.

2 – A Europa vai precisar e muito da China. E agora todos os dias vocês verão chefes de estado europeu prestando homenagens ao Dalai Lama e pedindo punição para o comunismo chinês que invade o santuário religioso do Tibete.

3 – Quem vai pagar a conta da OTAN pelo tanto que gastou para matar Kadafi? Fora petróleo a Líbia só tem areia. E aí o petróleo fica com a Europa e EUA e a China com a areia?

4 – E os EUA vão retirar 30 mil soldados do Iraque. Pronto o desemprego nos EUA aumentará algumas frações.

5 – E o acordo que corta 50% da dívida Grega, foi concessão por amor ao próximo ou o próximo estava prestes a corta o pescoço dos líderes europeus? As ruas gregas estão bem violentas e a economia só despenca. As praças de Berlim já se encheram, além da Itália, do quebra-quebra inglês. Ou confusão danada o puro da fé sente.

6 – E o Vaticano minha gente? Este papa não disfarça, é um discípulo de Rosa de Luxemburgo infiltrado nas hostes direitistas da aliança Reagan/João Paulo II. Não é que a Santa Sé quer o pé do Estado na regulação da ambição do sistema financeiro!

7 – A mais antiga do sentimento milenista no Brasil. Nada da sociedade proteger os mais fracos com fundos para financiá-los. A política e o trabalhador que lute para “vender” suas propostas para alguma mão beneficente financiá-los. Aí vai está assim de capitalista querendo financiar comunistas, libertários, o MST entre outros do mesmo naipe (tem uma exceção: camisas t-shirt com a cara de Che pode ser, mas está meio fora de moda). Entre uma proposta do Instituto Millenium (o milênio deles tem terminação latina e é com duplo ele – gente coisa é outra fina) e outra do MST certamente a FIESP financiará a do MST. Isso é que é liberdade de mercado e a democracia do que nos resta.

8 – Não pode pôr comunista no governo. Todos são ladrões. Vide o Orlando Silva que deveria sair algemado para que as máquinas fotográficas da revista Veja se vangloriem pela defesa do patrimônio nacional. Este sentimento inquisitorial e de fogueiras a priori ainda deixará o ar fétido de carnes queimadas.

9 – E o Obama? Todo mês tem um assassinato para comemorar. Uma estatística da economia e da pobreza a chorar. Um recuo nas despesas a amargurar. A última é o medo despertado na dupla estado/indústria armamentista: o orçamento para a defesa será cortado. Agora é que muita gente vai para a rua mesmo.

10 – E a OCDE (organização para a cooperação e desenvolvimento econômico), de perfil liberal e européia, só tem elogios para as políticas brasileiras, especialmente de transferência de renda. Mas quer meter os dedos no gargalo dos aposentados com dois tipos de medida: aumenta a idade e desvincula seus reajustes do reajuste do salário mínimo. Com a economia brasileira em crescimento, é mais ou menos aquela tese de subir e tirar a escada para que outros também não subam. Esta Europa é mesmo ingrata: querem nosso dinheiro por uma mão e na outra não nos querem crescendo.

As propostas políticas na luta nacional - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quando temos muitas propostas de soluções para um mesmo problema, dada a dispersão das propostas, poderemos não ter nenhuma. No entanto, quando temos algumas propostas fortes e consistentes, alguma proposta pode dar caminho para o futuro. Ao desenvolvê-la no caminho do futuro esta proposta vencedora sofrerá modificações circunstanciadas pela realidade. Se ela tentar seguir um caminho dogmático, passando um rolo compressor sobre a realidade, irá se esfarelar por rigidez. De qualquer modo o caminho dogmático nem sempre é próprio da proposta, por vezes forças externas de modo estratégico provocam os agentes da proposta a ponto que eles não tenham alternativas de adaptação à realidade. De modo resumido tem sido o que ocorreu na história desde o renascimento, o desenvolvimento da razão, da ciência e do capitalismo.

No Brasil existem duas propostas políticas em prática. Ambas nacionais, com conteúdos programáticos diferentes, com leituras da realidade distintas e com alianças estratégicas dentro e fora do país de natureza própria. Uma proposta tem o núcleo político organizado por uma aliança histórica entre PSDB/DEM/PPS e agora possivelmente em disputa como o novo PSD e a outra proposta formada historicamente pelo PT/PC do B e mais o PMDB e outros partidos como o PDT e o PSB.

Para facilitar o texto vou denominar à primeira proposta de Neoliberal/Ortodoxa e à segunda Progressista/Social. Estas duas propostas galvanizam os discursos do pós guerra que se diferenciavam entre direita, para a primeira proposta e esquerda para segunda. Quando digo galvanizam explico que a história está em movimento e os termos direita e esquerda como são compreendidos estão modificados pela mudança histórica. Os Neoliberais/Ortodoxos se aliam com setores do capitalismo brasileiro internacionalizado, especialmente pelos ganhos com as privatizações, com amplas margens do agronegócio, com setores da classe média tradicional, banqueiros nacionais e internacionais e com alianças estratégicas externas especialmente com lideranças dos EUA e Europa. Os Progressista/Social se aliam com os capitalistas nacionais com pretensões a um protagonismo maior no mundo, com setores dos trabalhadores organizados, com movimentos sociais organizados, setores da pequena agricultura e tem alianças externas com lideranças e países emergentes como ele.

Os Neoliberais/Ortodoxos apresentaram um programa político de enterrar o que chamaram de era Vargas, com flexibilização dos direitos trabalhistas, regulação da vida social realizada pelo mercado, reforma e privatização da previdência, fim de todas as empresas estatais e uma forte aliança com as corporações multinacionais para dali extrair riquezas na oportunidade do que chamavam globalização inevitável. Algumas marcas políticas este pensamento tem: horror ao papel do Estado, desestímulo ao funcionalismo público, políticas de transferência de renda, mercado regulado, movimentos sociais e partidos de esquerda.

Os Progressistas/Sociais praticam governos em que os valores da era Vargas não são enterrados, mas são sensíveis à mudanças em alguns pilares desta era; aceitam o desenvolvimento capitalista, praticam a regulação do mercado, especialmente no mundo financeiro e acreditam num caminho próprio para inserção comercial no mundo atual. As marcas políticas desta proposta não vou repeti-las, pois são exatamente o contrário daquelas anunciadas para o outro grupo.

Não precisaria dizer o que direi, pois acho que ficou claro que as duas propostas são consistentes historicamente. Acontece que elas não se ancoram apenas em discursos de suas lideranças ou em algumas manifestações programáticas, ambas têm instituições por trás delas, formulando e atualizando os dados da realidade para se apoiarem. A proposta Neoliberal/Ortodoxa tem muitos acadêmicos propondo, existem setores predominantes da mídia corporativa formulando e repetindo o mantra todos os dias, além de vários institutos como a Casa do Saber no Rio de Janeiro e o Instituto Milenium em São Paulo. A proposta Progressista/Social igualmente possui setores importantes da academia, como estão no governo federal os órgãos fazem “paper” que acentuam suas teses e vários institutos e fundações trabalham com suas teses.

Bom ainda tem a internet com sua prática subversiva e agressiva. A riqueza aí é muito grande e as duas propostas estão plenamente contempladas. De vez em quando alguém quer a prisão de ministro, chama todos os adversários de ladrões e mostram os papers dos seus institutos como se fossem a última palavra da sabedoria humana. A guerra de trincheiras, igual àquela da primeira guerra mundial, se reproduz na internet entre os dois grupos. O que não falta é cachorro doido dando mordida de um lado e outro da trincheira.

Uma pergunta. Tem espaço para outras propostas virem para o palco político nacional? Tem. Algumas mais à direita da direita e outras mais à esquerda da esquerda. Dificilmente haverá uma que ocupará o centro político, pois ambas as propostas hegemônicas no momento político já têm suas bases formadas em partes do centro político. O PSD, por exemplo, no máximo herdará a herança da proposta Neoliberal/Ortodoxa com alguma revisão. Por que penso na radicalização à direita ou à esquerda? Em razão da crise econômica Americana e Européia que pode evoluir para uma crise mundial mais aprofundada. Só para não se imaginar tudo no campo teórico: relatório desta semana aponta que a população americana abaixo da linha de pobreza está crescendo, especialmente nos outrora subúrbios da promessa de uma vida feliz de consumo. Todas as radicalizações (de direita ou esquerda) tiveram o campo fértil da miséria como nascedouro da proposta.