Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Mando-te um doce - Por: Alexandre Lucas



Mando-te um doce
temperado em azeite
Para oferenda de orixá
Mando-te águas de Iemanjá
A fita do padim
O cheiro do jasmim
Os colares de guia
Para saudar a sabedoria
Mando-te a foice
Para abrir caminho
O manifesto comunista
Para sentir o cheiro pisado da terra
E a sensibilidade que nos impera
Mando-te um do doce...
Coberto de prazer
Recheado de quererquerer
Até o galo cantar pra o amanhecer.

Alexandre Lucas

( O autor permitiu a publicação deste texto e qualquer outro de sua autoria)

PARABÉNS, BRUNO PEDROSA !

Para o amigo de tantas ARTES


A arte maior de fazer AMIGOS


Parabéns, Bruno Pedrosa. 
Daqui do Brasil ,
lhe mandamos nosso abraço e a amizade de sempre...

Sempre Sucesso!
Sucesso sempre!

Pérola nos Bastidores - por Claude Bloc

O tempo tecendo o tempo
O tempo tecendo a hora
Não sei se tenho mais tempo
Não acho mais tempo agora...

Não sei se há contratempo
Na hora de escrever
Mas na hora que escrevo
O tempo passa a correr...


Claude Bloc

Curtas - XVIII - Aloísio

Enquanto tropeço em meus problemas,
O tempo corre.
Quando ando me divertindo,
O tempo voa.
Aloísio

Jornal O Povo chega com força ao Cariri Cangaço



JORNAL O POVO CHEGA COM FORÇA AO CARIRI CANGAÇO
Aderbal Nogueira, Manoel Severo e Diretores do O Povo: Plínio Bortolotti - Institucional e Mariza Quinderé - Comercial
Aconteceu na última semana, dia 04, reunião de trabalho entre os representantes do Cariri Cangaço; Manoel Severo - Curador, Aderbal Nogueira - Conselheiro; e a Diretoria do jornal O Povo; jornalista Plínio Bortolotti - Diretor Institucional, Mariza Quinderé - Diretora Comercial e Linda Tavares - Gestora de Mercado Nacional e Projetos Comerciais.
Na oportunidade foi fechada a parceria entre o jornal O Povo e o Cariri Cangaço em sua edição 2011. O evento que acontece no próximo mês de setembro , na Região Metropolitana do Cariri, promete reunir mais de 150 personalidades do universo da pesquisa de temas nordestinos para mais seis dias de intensa programação de conferências, visitas tecnicas, apresentações artísticas, oficinas, mostra de teatro, cinema e vídeo, lançamento de livros, Latada Cariri Cangaço, dentre outras atividades.

Na oportunidade os Diretores do Jornal O Povo conheceram o Projeto Inicial para 2011; o tema principal, os sub temas e todos os desdobramentos do evento em sua terceira edição, com Conferências , Debates, Oficinas, Visitas Técnicas, Mostra de Vídeo Documentário, Lançamento de Livros, além da tradicional Latada do Livro Cariri Cangaço e as mais tradicionais manifestações da arte e floclore do cariri cearense. A parceria se dará tanto a nível institucional, como a nível editorial.



Para Manoel Severo, curador do evento, "nossa responsabilidade aumenta e muito com a chegada do O Povo, um dos grandes veículos de comunicação do nosso país, isso tudo  nos enche de satisfação e alegria, agora é continuar trabalhando, sempre acreditando que podemos efetivamente construir um grande instrumento de debate, aprofudamento, fortalecimento e acima de tudo divulgação das coisas de nosso nordeste, O Povo é uma conquista de toda família Cariri Cangaço".


VEM AÍ A REVISTA CARIRI CANGAÇO 2011 - EDIÇÃO DE LUXO!
Linda Tavares, Manoel Severo e Mariza Quinderé
Um dos pontos altos do Cariri Cangaço 2011 será o lançamento da Revista de Luxo - Cariri Cangaço; uma publicação comemorativa ao evento; editada pelo Grupo O Povo de comunicação. A revista trará a história da criação do Cariri Cangaço, suas várias etapas, os parceiros, os  principais momentos; matérias de pesquisadores e escritores renomados, de todo o Brasil, além de tudo o que acontece no mundo do Cariri Cangaço.
Para o Conselheiro do Cariri Cangaço, Aderbal Nogueira, "sem dúvidas nenhuma que o O Povo vem acrescentar ainda mais credibilidade ao já consagrado Cariri Cangaço, a cobertura editorial e o apoio institucional é muito importante para continuarmos a consolidar o Cariri Cangaço como um grande fórum de debates e estudos de temas da região, e ainda contando com o lançamento da espetacular revista Cariri Cangaço, toda produzida pela editoria do jornal O Povo, será sem dúvidas um marco em nosso evento".


tudo isso e muito em: cariricangaco.com

Gabriel Henrique
Produção Cariri Cangaço

                                                          


(recebido por e-mail)

Uma questão de tempo – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Umas das desculpas mais esfarrapadas que, se costuma dar quando não se deseja realizar alguma tarefa, principalmente por falta de interesse é “não tenho tempo.” Como se o tempo fosse uma propriedade nossa ou um vilão a comandar nossa vontade. Alguns dizem que o tempo não existe. Se assim fosse teríamos que inventá-lo. Aliás, eu acredito que o tempo, assim como a Geometria realmente não existiam na terra em formação, sem seres vivos. Foi uma criação do homem. Se com o conhecimento geométrico edificamos o mundo como hoje o conhecemos, com o tempo movimentamos nossas vidas. O tempo é uma grandeza física referencial na quantificação do movimento. Mas o tempo varia de acordo com a percepção sensorial de cada pessoa. Quando crianças, o ano letivo demorava muito a passar. Já as férias de fim de ano esvaiam-se em um piscar de olhos. Depressa o tempo voltava a se arrastar, como um carro de boi carregado de cana de açúcar subindo uma ladeira.

À medida que vamos envelhecendo a nossa percepção de tempo muda e, este nos parece passar mais rapidamente. Recentemente soube por notícias, que o tempo não está mais rápido, o que alterou foi o movimento da terra em torno do sol, e o deste, arrastando a terra em sua viagem ao infinito. E é isto que nos dá a idéia dessa rapidez. Será? Por via das dúvidas, o sol poente do mês de julho que incidia na janela do meu quarto formando um ângulo reto há dez anos, projeta agora uma sombra com ligeira inclinação.

Há pessoas que dependem do tempo. Entre elas o relojoeiro. Mas não há um meio onde o tempo seja mais precioso do que na televisão. Um minuto de anúncio comercial custa uma fortuna. Aliás, em um minuto a televisão nos castiga com quatro propagandas, a maioria delas um “saco.” Um exemplo mais ilustrativo da eternidade de um minuto para a televisão, eu ouvi do saudoso dom Helder Câmara. Segundo ele, diretores da Rede Globo o convidaram para uma entrevista em sua sede no Rio de Janeiro. Pagaram suas passagens na primeira classe de um vôo internacional que fazia escala em Recife, hospedaram-no no melhor cinco estrelas da Barra da Tijuca, com mordomias que jamais o despojado Dom Hélder fora tratado. No dia seguinte, quando Dom Hélder chegou à estação da Globo, conduziram-no à sala de maquiagem. Antes de entrar no estúdio o diretor de jornalismo lhe avisou: “o senhor terá dois minutos para expor todo o conteúdo da sua mensagem.” Diante desse aviso Dom Hélder reagiu: “Mas meu amigo, vocês me trouxeram do Recife, gastaram um fábula com passagens aéreas, pagaram minha hospedagem num hotel caríssimo, com transporte à minha disposição aqui na cidade, tudo isso para eu falar apenas dois minutos?” – “Mas Dom Hélder são cento e vinte segundos!” – Valorizou o diretor da Rede Globo.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

PACIÊNCIA - Enviado por Roberto Jamacaru (por e-mail)



No parque, uma mulher sentou-se ao lado de um homem.
Ela disse:
- Aquele ali é meu filho, o de suéter vermelho deslizando no escorregador.

- Um bonito garoto - respondeu o homem - e completou: - Aquela de vestido branco, pedalando a bicicleta, é minha filha.

Então, olhando o relógio, o homem chamou a sua filha.

- Melissa, o que você acha de irmos?

Mais cinco minutos, pai. Por favor. Só mais cinco minutos!

O homem concordou e Melissa continuou pedalando sua bicicleta, para alegria de seu coração

Os minutos se passaram, o pai levantou-se e novamente chamou sua filha:
- Hora de irmos, agora?

Mas, outra vez Melissa pediu:
- Mais cinco minutos, pai. Só mais cinco minutos!

O homem sorriu e disse:
- Está certo!

- O senhor é certamente um pai muito paciente - comentou a mulher ao seu lado.

O homem sorriu e disse:

- O irmão mais velho de Melissa foi morto no ano passado por um motorista bêbado,
quando montava sua bicicleta perto daqui. Eu nunca passei muito tempo com meu filho e agora eu daria qualquer coisa por apenas mais cinco minutos com ele.

Eu me prometi não cometer o mesmo erro com Melissa.  Ela acha que tem mais cinco minutos para andar de bicicleta. Na verdade, eu é que tenho mais cinco minutos para vê-lá brincar...

Em tudo na vida estabelecemos prioridades.
Quais são as suas?

Lembre-se: nem tudo o que é importante é prioritário, e nem tudo o que é necessário é indispensável!

RODA-VIVA - CHICO BUARQUE

Dedicado a Aloísio e Zé Nilton Figueiredo

 

FALANDO DE FLORES - Por Edilma Rocha


GIRASSOL- Helianthus annus.
A dourada flor do Sol. Venerada pelos índios americanos e pelos astecas. No século XV, os astecas coroavam as sacerdotisas do sol com suas flores para as cerimonias sagradas. Hoje, da semente às pétalas de sua flor, tudo no girassol é utilizado, na alimentação ou na cura. Na culinária, os botões das flores podem ser adicionados crus às saladas ou cozidos como alcachofras. As sementes germinadas podem ser usadas em saladas e sanduiches. O óleo de girassol também é largamente empregado na indústria alimentícia.


Planta da família das compostas, atinge 3 metros de altura. Originada dos Estados Unidos e cultivado há mais de 3 mil anos pelos índios americanos. Foi introduzido na Europa no século XVI e sua cultura, em larga escala, teve início na Rússia onde até hoje suas sementes são oferecidas em restaurantes e vendidas nas ruas. Por sua grande capacidade de absorver água do solo, a planta foi utilizada para recuperar as terras pantanosas da Holanda.

Pensamento para o Dia 10/01/2011


“Você se sente feliz quando sabe que este corpo físico é seu, não é? E se você soubesse que dois corpos são seus, não deveria estar duplamente feliz? Da mesma forma, com o conhecimento de que tem um número crescente de corpos, a experiência de felicidade aumentará. Quando o universo inteiro for conhecido por ser um corpo, e a consciência universal se tornar parte do entendimento, então a bem-aventurança (Ananda) será completa. Para obter essa consciência universal, os muros limitantes da prisão egocêntrica devem ser destruídos. Quando o próprio ego se identificar com a alma individual (Jivi) ou Atma, a morte cessará. Quando o próprio ego se identificar e fundir-se com a bem-aventurança de Deus, o sofrimento cessará. Quando ele se fundir com Jnana ou Sabedoria Superior, o erro cessará.”
Sathya Sai Baba

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“A mente muda de rumo o tempo todo. A meditação (Dhyana) é o processo pelo qual ela é treinada a adquirir concentração. Quando sua verdade básica é conhecida, a mente não será iludida pelo evanescente, falso e desprovido de bem-aventurança. Em vez disso, ela acolherá o florescimento da alegria, felicidade e verdade, e não será afetada por tristeza e dor. Sua vida também assumirá um novo esplendor quando você visualizar e perceber a bem-aventurança na consciência da Realidade Suprema. O sabor do fruto é evidente quando todo ele for comido, sem deixar nenhuma parte para trás. Do mesmo modo, quando o sabor da meditação for, então, descoberto, você descartará toda dúvida e discussão e se envolverá totalmente nela. Portanto, inicie a meditação, cada um de vocês, a partir de hoje - até mesmo a partir deste momento!”
Sathya Sai Baba

Imediações da paciência - Emerson Monteiro

Diz-se que a pessoa tem pavio curto quando, com facilidade, deixa disparar o instinto agressivo, pondo pés no lugar das mãos, ao menor estímulo. Por motivo dos mais insignificantes, chuta o pau da barraca, na linguagem popular. Muitos fazem disso profissão, ganham no grito situações as quais bem poderiam conduzir do jeito amistoso, com educação, aproveitando as chances que surgem, toda hora, de criar relacionamentos produtivos, e construir lugar melhor de viver entre habitantes deste mundo nem sempre tão fácil de atravessar.

Há, entretanto, diversos amigos que contribuem nesse trabalho de aperfeiçoar o trato com os demais moradores das imediações da virtude, no âmbito social e consigo mesmo, nas criaturas humanas. Um deles, a valiosa paciência.
Quanto maior o uso da paciência, melhor o seu desempenho, semelhante ao amaciamento das máquinas e dos sapatos. Paciência não esgota, ao contrário de quem perde as estribeiras e quer se justificar. Pois ela pertencer à qualidade interna dessa virtude, a capacidade para ser inesgotável. Se não, caso esgotasse, perderia sua característica principal e viraria outro estado de espírito, fraco e descartável.

Bom, perto da paciência, nas imediações, residem alguns valores apreciáveis pela riqueza que transmitem aos que deles lançam mão. A esperança, por exemplo, uma dessas personagens da infinita misericórdia, parceira valente dos instantes de aflição. A feliz esperança, mãe bondosa das preciosas noites de sono dos aperreados, passageiros das agonias desse chão quente de travessias escuras. A que jamais esquece e nunca morre, apesar dos que dizem que morreria por último, conversa de quem a desconhece. Caso assim ocorresse, porém, também perderia sua principal qualidade, invés da rica essência, nutrição dos aflitos.
Uma outra cidadã do bairro onde mora a paciência recebe o nome de fé, palavra pequena de potencial esplendoroso. Ela veio habitar aqui por perto trazendo a energia dos contatos imediatos da divindade, linha aberta de escutar, dentro do coração, os sussurros do Universo. Fé, procedente das florestas virgens da religiosidade, na fibra íntima das emoções puras, moradora inabalável dos edifícios que rodeiam a paciência, que remove montanhas, alimenta famintos da luz verdadeira, mitiga a sede dos desvalidos, clareia passos aos cegos, alegra lares infelizes e transforma pesadelos em sonhos de paz.

No recenseamento dos habitantes desse território onde mora a paciência, na cidade das almas humanas, precisa, ainda, visitar a casa de outros moradores ilustres, o otimismo, sujeito de valor apreciável em qualquer empreendimento, sem esquecer de entrevistar seu irmão mais velho, o senso da realidade, para evitar cair da cama nos excessos de fantasia. Ouvir outro, um senhor entroncado, musculoso, calmo, persistente e simpático, o respeitado professor de nome trabalho, companhia necessária todo tempo, com intervalo só aos finais de semana. E novos e úteis viventes daqui de perto, onde existe a fiel paciência, em tudo por tudo a líder comunitária do sucesso.

"Gravidez masculina" - José Nilton Mariano Saraiva

Alguma vez você já parou pra pensar sobre o impacto demolidor e mortífero de um cruzado de direita na mandíbula, desferido por uma daquelas deformadas montanhas de músculos americanas, tipo Myke Tyson ou Evander Hollifield ??? Já se deu ao trabalho de sequer imaginar qual o potencial descomunal da força liberada por um daqueles “coices”, verdadeiras “patadas” eqüinas, aproveitando a “guarda baixa” do adversário ???
Pois bem, mesmo sem nunca tendo tido a experiência de subir num ringue (embora apreciador de um bom combate), passamos por algo que, imaginamos, deva ter alguma coisa a ver.
Oito anos se passaram (2003, até aqui) e, no entanto, parece que foi ontem.
Após rotineiros exames de sangue, um dos resultados ( PSA ) fugira - e muito - aos padrões culturalmente estabelecidos pela Medicina. Providenciada com urgência a competente biópsia, o “petardo” na cara (ou, se preferirem a linguagem boxeana, aquele golpe sujo, abaixo da linha de cintura), através de um diagnóstico apavorante: “temos um tumozinho maligno na próstata, de um milímetro, que necessita de cuidados especiais”, sentenciou o Doutor, frio, impassível, voz suave, mas segura, sem maiores cerimônias e sem aparentar qualquer surpresa ou sequer mover um músculo da face (como se fosse a coisa mais natural do mundo).
Pois foi assim, abruptamente, que tomamos conhecimento da nossa indesejada “gravidez masculina”, ou melhor, de que em nossas entranhas repousava um “ser vivo”, pulsante e... repulsivo.
E muito embora já estivéssemos um tanto quanto desconfiados com o número apresentado pelo exame, a verdade é que a bordoada foi grande, o golpe dolorido, o impacto demolidor, a dor profunda: fomos a nocaute técnico, literalmente. Tanto é que, dirigindo no trajeto de volta do consultório para casa, cerca de seis quilômetros, simplesmente ignoramos semáforos, limites de velocidade, sinalização esquerdo-direita, o escambau, tantas e tão copiosas eram as lágrimas a rolarem pela face. Mas, chegamos... e vivo.
Adeptos e absolutamente convictos da existência de um “ser superior”, mas um “milenar” descrente de santidades, papas, bispos, diáconos, padres e por aí vai, ao tempo em que um aliado de primeira hora da Igreja Católica em relação ao Padre Cícero Romão Batista (não passa de um grande charlatão), evidentemente que o caminho a seguir não poderia jamais contemplar a excrescência de incluir terços, promessas, figas, orações e rezas (ao contrário de muita gente, “cristão roxo”, que delas só se lembra em tais oportunidades).
Assim, após uma noite insone e reflexiva (se isso era possível naquele momento), a decisão preliminar: poupar os dois filhos (adolescentes), mas abrir o jogo para a esposa (em Fortaleza) e transmitir a notícia para pelo menos um dos membros da família (no Crato); pai e mãe, por motivos óbvios e em razão da idade avançada, nem pensar. E assim foi feito.
Ao contrário da gravidez feminina (onde “ele” é execrado e sequer mencionado) e como o nosso “fetozinho querido” media apenas “um milímetro”, de comum acordo com o Doutor chegamos à conclusão que a opção mais apropriada e recomendável de eliminá-lo seria através do temível “aborto”, via tratamento de choque (paradoxalmente menos invasivo): portanto, “radioterapia” nele, intensiva, maciça, durante ininterruptas trinta e sete seções diárias, de segunda à sexta (dois meses). Religiosamente. Toda manhã.
Durante o processo, dois momentos que marcaram indelevelmente: a) lá pelo meio do tratamento, como que para mostrar a fraqueza do ser humano, um brabo e caudaloso sangramento irrompeu, provocado pelo rompimento de uma artéria atingida pela radiação; haja sangue, expectativa e temor (a medicação prescrita, entretanto, incontinente debelou-o); e b) de partir o coração (numa cena comovente), testemunhar numa mesma sala dezenas de pessoas (políticos de alto coturno, empresários, faxineiras, socialites e por aí vai) repentinamente irmanadas por uma tragédia, tentando se ajudar uma às outras as mostrarem confiança, exercitar a solidariedade em toda a sua essência, extraírem otimismo de quem já se mostrava descrente, mesmo que para tanto tivessem, vez por outra, que recorrer ao uso de uma pitada de humor negro (mas sem nenhuma maldade), através da simplória frase: “onde é o teu” (tumor) ??? E haja detalhamentos (foi aí, por exemplo, que tomamos conhecimento que o ex-prefeito do Crato, Ossian Araripe, por lá houvera passado, meses antes, em tratamento, antes de morrer num incêndio em seu apartamento).
Fato é que já se passaram oito anos e os exames do PSA, antes trimestrais, hoje passaram a ser semestrais, com seus percentuais sempre na faixa tranqüilizadora do zero ponto alguma coisa, indicando que, mui provavelmente, vencemos, sim, o temido câncer (claro que há espaço para uma indesejável recidiva; é torcer para que não pinte no pedaço).
Evidentemente que quem passa por situação tão crítica jamais será o mesmo. A “coisa” marca profundamente, deixando seqüelas e cicatrizes inenarráveis, físicas e psicológicas. Assim, por mais precisa e cirúrgica que haja transcorrido a intervenção radioterápica, a demolidora radiação atingiu o entorno dos órgãos sexuais, limitando a prática da atividade sexual, posteriormente (agora, por exemplo, tanto com uma “ninfeta”, com uma “mulher da vida” ou com uma “miss mundo”, pra conseguir alguma coisa em termos de sexo só com o uso da pílula e se houver o imprescindível “estímulo-complementar” da parceira; e não adianta reclamar, estrebuchar, ficar zangado, porque você fica literalmente a “meio-pau” e tem mesmo é que adaptar-se).
De outra parte, por mais “cabeça” que você seja, por mais arejada que seja sua mente, por mais despreocupado que se pareça, sempre que pinta uma “dorzinha no pé da barriga”, uma simples pontada na região tratada, a tendência é se pensar que a “coisa” acordou, ta viva, ameaça voltar. Há que se controlar os nervos.
Alfim, um esclarecimento que reputamos necessário: como não conhecemos e não somos conhecidos pessoalmente por quase ninguém dos blogs que participamos (Cariricaturas e Cariricult), você, do outro lado da telinha, curioso, há de indagar: o que é que nós temos a ver com o drama do Mariano, pra ele vir com esse papo furado, com esse lero fúnebre, com essa conversa sinistra ???
É que entendemos ser preciso acabar de vez com esse preconceito idiota de que alguém que tem ou teve câncer se acha condenado a viver no isolamento completo, tornar-se um pária social, ser tratado como um leproso incomunicável e evitado a todo custo, além de ter que “guardar segredo” para o resto da vida e mais algum tempo. Como se fosse algo degradante, contagioso, imoral e vergonhoso. E nada melhor para debelar e evitar isso do que exercitar o jogo aberto, limpo, transparente, sem frescuras ou tergiversações, abrindo a mente e o coração (mesmo que para desconhecidos).
Nem que isso implique no iminente risco de, durante a Exposição do Crato, repentinamente alguém mais liberal e expansivo venha a cumprimentá-lo com a exótica saudação: “diga lá, seu canceroso brocha”.
Vida que segue...