Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Correio musical - De alguém para alguém com amor e carinho.




Killing me Softly

I heard he sang a good song
I heard he had a style
And so I came to see him
To listen for a while.

And there he was this young boy
A stranger to my eyes.
Strumming my pain with his fingers
Singing my life with his words
Killing me softly with his song
Killing me softly with his song
Telling my whole life with his words
Killing me softly, with his song.

I felt all flushed with fever
Embarassed by the crowd,
I felt he found my letters
And read each one out loud.

I prayed that he would finish
But he just kept right on.
Strumming my pain with his fingers
Singing my life with his words
Killing me softly with his song
Killing me softly with his song
Telling my whole life with his words
Killing me softly.

He sang as if he knew me
In all my dark despair
And then he looked right through me
As if I wasn't there.

But he was there a stranger
Singing clear and loud
Strumming my pain with his fingers
Singing my life with his words
Killing me softly with his song
Killing me softly with his song
Telling my whole life with his words
Killing me softly, with his song...

O ditador de sucessos - por Norma Hauer


Foi esse o cognome que César Ladeira, que sempre dava um título aos artistas de seu tempo deu a Farjalla Rizcalla. E quem foi ele?

Foi como DEO que ele ficou conhecido no meio musical, já que seu nome verdadeiro não era nada radiofônico: Farjalla Rizcalla, filho de libaneses.

Ele nasceu em 26 de janeiro de 1914, aqui no Rio de Janeiro, mas foi em São Paulo , na Rádio Record, que iniciou sua carreira, primeiro como discotecário, depois como cantor de tangos. Na música brasileira inspirou-se em Sílvio Caldas, cantando seu repertório.

Em 1936 gravou seu primeiro disco com o samba "Vendedora", que não "emplacou".
No ano seguinte gravou "Sinto Lágrimas", de Francisco Malfitano. Este compositor vive em Santos, completamente lúcido,aos 101 anos.

Mas foi no carnaval de 1939 que obteve seu primeiro sucesso :"Casta Susana", de Ary Barroso e Alcyr Pires Vermelho.

"Será você a tal Susana,
A casta Susana,
do Posto 6¨?"

A´partir daí seu nome foi-se tornando conhecido e Ary Barroso o levou para a Rádio Tupi.
Ainda em 1939 gravou uma valsa (ou canção?) de Ataúlfo Alves:"Canção do Nosso Amor".

Nesse mesmo ano compôs, com Octavio Gabus Mendes e José Marcílio, uma valsa, que se tornou grande sucesso na voz de Orlando Silva:"SÚPLICA", uma bela valsa que não tem rimas, mas nem se percebe isso, pela beleza de seus versos.

Nos anos 40 alcançou vários sucessos, como "A Morena que eu Gosto";"Mulher de Luxo"; " Eu te Agradeço"; "Nervos de Aço"; Infidelidade"...

Em 1944 gravou um bonito samba sinfônico, da autoria de Humberto Teixeira, de nome "Sinfonia do Café". Lindo samba não fez o sucesso que merecia e nem mesmo é citado nos dados bigráficos de Déo.
No mesmo estilo, ainda de Humberto, gravou "Terra da Luz", referente ao Estado do Ceará, em que diz:

" do herói jangadeiro,que não permitia que navio negreiro entrasse na Terra da Luz", lembrando que foi o Ceará o primeiro estado a não permitir a entrada de escravos no país.

Em 1950 gravou o samba "A Mulher deve Casar" de Nássara. Esse samba, começa dizendo "a mulher deve casar, meu irmão, mas o homem não".
Com quem ela se casaria? Eis um mistério...

Déo não pertenceu ao famoso "cast" da Rádio Nacional. Trabalhou principalmente na Rádio Tupi, até 1962, e também pertenceu ao elenco da Mayrink Veiga, onde César Ladeira deu-lhe o título da "Ditador de Sucessos".

Dias antes de falecer, regravou um samba de Haroldo Lobo, que foi sucesso no carnaval. Seu nome "...E o 56 Não Veio": mais um samba no repertório nacional falando em bonde. O n° 56 era o da linha "Alegria".

"Será que ela não veio porque se zangou.I
Ou o bonde Alegria descarrilou?"

DÉO faleceu em 23 de setembro de 1971, aos 56 anos.
Norma Hauer

Milton de Oliveira - por Norma Hauer


Foi a 25 de janeiro de 1916, que nasceu, aqui no Rio de Janeiro, o compositor MILTON DE OLIVEIRA, que, formando dupla com Haroldo Lobo, venceu vários carnavais, quando o "povão" brincava de verdade.

Como todo menino pobre começou a trabalhar bem cedo, um uma tipografia e, apenas com 16 anos, era revisor do jornal "A Nação".

Nesse mesmo ano compôs seu primeiro samba (não gravado) e em seguida teve sua primeira gravação:"És louca", na voz de Jaime Vogeler. Jaime Vogeler, bastante conhecido na época, não chegou marcar muito o repertório de nossa música.

Em 1937 compôs dois sambas , ambos com Max Bulhões", que "estouraram" pela voz de Patrício Teixeira: "Não Tenho Lágrimas" e "Sabiá Laranjeira".

O suicesso de "Não Tenho Lágrimas foi tão grande, que Nat "King" Ciole, quando aqui esteve o gravou em um "português" cheio de sotaque.

Mas foi sua parceria com Haroldo Lobo que o transformoui em um dos campeões do carnaval.

Haroldo fez parceria com Milton de Oliveira na maior parte de suas composições, como:"Juro"; "Índio Quer Apito";"A Mulher do Padeiro";"Clube dos Barrigudos"...

Ele gostava de fazer melodias sobre bichos, daí ter composto "O Passarinho do Relógio", quando surgiram os primeiros relógios com o Cuco; "Passo do Canguru";"Miau Miau" e "Tem Galinha no Bonde", todas gravadas por Aracy de Almeida.

O bonde, veículo popular em sua época, ainda serviu de tema para "O Bonde do Horário já Passou" e "A Mulher do Padeiro", que "viajava só no bonde de Alegria".

Sem fugir dos transportes, compôs,"Oito em Pé". Esta música surgiu porque na época passou a ser permitido que os ônibus levassem oito passageiros em pé.

Hoje pode parecer inconcebível, mas nos ônibus não era permitido que os passageiros viajassem "em pé" até que um decreto permitiu que viajassem oito em pé.

Daí Milton de Oliveira, ainda com Haroldo Lobo, compõs

"OITO EM PÉ"

Sobe Seu José,
Sobe seu José.
Sobe, sobe, sobe
Que ainda cabem oito em pé."
Em 1939 Carlos Galhardo obteve sucesso no carnaval com dois sambas da dupla Milton de Oliveira e Haroldo Lobo: "Sonho Lindo" e
NÃO PODE SER

"Ela quer que eu abandone a orgia,
Não pode ser.
Mas, se tal coisa acontecer
A nossa amizade vai morrer
Ou eu deixarei de viver."

No molde de um conhecido tango argentino, Milton e Haroldo compuseram "Porteiro, Suba e Veja", que teve uma resposta:"O Porteiro Subiu".
Ambos gravados por Patrício Teixeira.

Em 1942, além de "A Mulher do Padeiro" lançou "A Mulher do Leiteiro", ambos gravados por Araci de Almeida, a cantora que mais gravou músicas da dupla.

Muitos anos depois da morte de Haroldo Lobo, que não chegou a ver o sucesso (em 1942) do samba "P'ra Seu Governo"este foi gravado, em um LP, por Beth Carvalho em 1970.

Milton de Oliveira faleceu em 10 de dezembro de 1986, aos 70 anos.

Leonel de Moura Brizola - por Norma Hauer


Nascido em 22 de janeiro de 1922, como todo político tem quem o odiava e quem o amava.
Assim, não querendo pólêmica, gosto de relembrar o seu feito, não levado adiante, que foram os CIEPS.

Jovens hoje na faixa dos 20-30 anos que estão na marginalidade se tivessem freqüentado os CIEPS, sendo tratados como gente, estariam nessa situação? Jamais saberemos.

Uma sua obra é relembrada todos os anos durante o carnaval:O Sambódramo.
Lembro-me que o primeiro desfile das Escolas de Samba realizado no Sambódramo (1984) não foi transmitido pela Rede Globo, que esperava ser um fracasso.
A Manchete o transmitiu e a Globo ficou "vendo navios".

Hoje ela tem exclusividade. Teve de se baixar perante a realidade que são os grandes desfiles no sambódramo. Tão importante, que outras cidades, como Porto Alegre , também fizeram os seus .

Brizola faleceu em 21 de junho de 2004.

Curtinhas e boas da Vagealegre - Por A. Morais

Luis Bezerra de Morais, filho de Clicerio, depois de um almoço farto e vigoroso, armou sua tipóia por trás do balcão de sua mercearia para tirar um deforete. Uma freguesa se aproxima e diz: Luiz você tem açúcar? E ele entre um cochilo e outro responde: Tem! Num tem é que pese!
-
Chico Padeiro, sentado em sua cadeira de balanço, lendo o Jornal com as noticias do dia, fora do balcão de sua padaria, é abordada por uma cliente: Seu Chico, o senhor tem Pão? Ele bem ao seu estilo, respondeu: Porque você num vai comprar em outro lugar. Ora mais essa, a gente não pode nem ler o jornal em paz.

Por A.Morais

A poesia de Artur Gomes

Jura secreta 101

a flor da tua pele
me provoca amor intenso
mas amor não tem pele
nome ou sobrenome
amor é uma outra coisa
contrária a tudo aquilo que penso

amar-te não pelo acaso
de encontrar-te cabelos ao vento
onde provoca arte
em tudo aquilo que invento

artur gomes
http://juras-secretas.blogspot.com

Rosemberg Cariry : Uma trajetória marcada pela defesa de uma arte literária





26 de janeiro de 2010 by Alexandre Lucas ·
Homem da arte e da luta do povo. Do Cariri para o mundo ou vice-versa Rosemberg Cariry tem o seu trabalho marcado pela cultura do povo contextualizada com o seu tempo. Unir o popular com o erudido, o regional com o universal é uma das caracteristicas do trabalho deste artista engajado. Nesta entrevista concedida ao Coletivo Camaradas, Rosemberg fala de política, marxismo, estética, filosofia, artes e da sua intensa trajetória.

Coletivo Camaradas: Quem é Rosemberg Cariry?

É sempre difícil um homem definir quem ele mesmo é. Parece absurdo, mas o tempo é quem define o homem. Sócrates, segundo Platão, inspira toda a sua filosofia na inscrição da entrada do templo de Delfos: Conhece-te a ti mesmo. Mas que homem pode, em essência, compreender-se diante do absurdo da condição humana e da dupla natureza humana: animal/espiritual, liberdade/contingência cósmica, transitoriedade/impulso de eternidade? O homem não é Deus e inventa-se em sua rebelião contra Deus ou no seu reencontro com o Deus que o põe à prova (ver o Livro de Jó). O homem é em relação ao espaço e ao tempo em que vive, em mutação, em transformação. O homem é um animal em construção. Acho que a morte, em alguns casos, dá a aparente completude e medida do homem. Mesmo assim, resta o mistério... Digo isto, para justificar, neste momento, a minha dificuldade em me definir...

Coletivo Camaradas: Quando tiveram início seus trabalhos artísticos?

No final da década de 1960, quando organizei os primeiros espetáculos reunindo jovens e velhos mestres da cultura popular. Desde esse tempo, nasceu em mim essa vocação para reunir o “velho” e o “jovem”, o “popular” e o “erudito”, o “regional” e o “universal”, dualidades aparentes, mas que se completam. Toda contradição é aparente. O regional contém o universal, o popular contém o erudito, e o jovem contém o velho, assim como a manhã contém a noite, e a noite, por sua vez, contém o dia. Tive envolvimentos com dois movimentos culturais importantes do Cariri. O primeiro deles foi o Grupo de Artes Por Exemplo.

Coletivo Camaradas: Fale-nos sobre o Grupo de Artes Por Exemplo.

Em 1973, no Crato, no Cariri cearense, surgiria o Grupo de Artes Por Exemplo, que reunia jovens da pequena classe urbana local e artistas populares em torno de diversas atividades artísticas e culturais. Publicava-se uma revista mimeografada chamada Por Exemplo. Rodavam-se os primeiros filmes Super-8 documentários e de ficção. Faziam-se performances artísticas, happenings, shows musicais, encenações teatrais, ao mesmo tempo em que era promovido um substancioso intercâmbio entre a região do Cariri e capitais dos Estados Nordestinos, notadamente com as cidades de Recife e Fortaleza. Esse grupo eclético, no qual me incluo, reunia nomes como Bil Soares, Hugo Linard, Jackson Bantin, Walderedo Gonçalves, Múcio Duarte, Pedro Ernesto, José Roberto França, Abdoral Jamacaru, Emérson Monteiro, Jefferson de Albuquerque Jr., Luiz Carlos Salatiel, Pachelly Jamacaru, Vera Lúcia Maia, Luiz Karimai, Ivan Alencar, Cleivan Paiva, Bá Freyre, Zé Nilton, José Wilton (Dedê), Stênio Diniz, José Bezerra (Deca), Valmir Paiva, Geraldo Urano, Socorro Sidrin e Célia Teles, entre outros. A principal marca do Grupo de Artes Por Exemplo era a diversidade das tendências, que se identificavam no objetivo de projetar a cultura do Cariri cearense para o País. Patativa do Assaré participava ativamente dos happenings, espetáculos e recitais do grupo. Fazíamos o Salão de Outubro...

Coletivo Camaradas:O Salão de Outubro foi muito importante para a cultura do Cariri?

O Salão de Outubro, realizado pelo Grupo de Arte Por Exemplo, a partir de 1974, firmou-se, como um espaço privilegiado de reunião das vanguardas artísticas e das manifestações ditas populares, congregando poetas, artistas plásticos, escritores, cantores, compositores e cineastas em torno da ideia de promover mostras de trabalhos e espetáculos, bem como exercitar o intercâmbio com outros centros artísticos. A proposta do grupo, que se reunia em torno do I Salão de Outubro, era a representação da arte por meio do encontro com os materiais e os elementos da cultura local, buscando, ao mesmo tempo, o cruzamento da tradição com as vanguardas artísticas. Esse ideário transformou o evento num grande sucesso. Havia uma forte influência da contracultura norte-americana, do rescaldo cultural da década de 60, do underground, dos movimentos de contestação, do teatro de Augusto Boal, do Grupo Oficina, do teatro do absurdo de Qorpo Santo, das leituras dos movimentos de vanguarda pós-revolucionários soviéticos, da revista Rolling Stones, dos movimentos de contracultura norte-americanos e europeus – tudo isso junto com cegos cantadores, reisados de mestre Aldenir e do Meste Dedê de Luna, coco do Mestre Carnaúba, poemas de Patativa, Cine Clube da Fundação Padre Ibiapina e programas radiofônicos de Elói Teles. Patativa do Assaré, Cego Oliveira, Zé Gato, Banda de Pífanos dos Irmãos Aniceto, Azuleika, João de Cristo Rei, Mestre Tico, Correinha, Severino Batista do Berimbau de Lata, Mestre Nino, Zé Ferreira, Ciça do Barro Cru, Cícera Fonseca, Mestre Noza, Chico Mariano do Mamulengo, Mestre Bigode, Zé Oliveira, Pedro Bandeira, Cego Heleno e outros artistas populares tomavam parte ativamente dos eventos artísticos, sendo convidados para participações especiais em performances, happenings, recitais e shows. Junto com Deca e Geraldo Urano, fizemos peças de teatro experimentais, happenings, recitais, apresentações bem vanguardistas no Festival da Canção. Agitávamos o Cariri. Para o Salão de Outubro, de Fortaleza, chegavam nomes como Caio Silvio, Graccho Sílvio, Ana Maria Roland, Ferreirinha, Ângela Linhares, durante a realização do Salão. Na geléia geral brasileira, misturava-se tradição e vanguarda, regional e universal, popular e erudito, como é o caso da Escola de Música do Padre Ágio e a orquestra do Belmonte. O grupo mantinha ainda intercâmbio com os artistas caririenses do êxodo. Em São Paulo, Hermano Penna já conquistara importantes prêmios com seus filmes, e Jefferson de Albuquerque Jr. se profissionalizara no cinema. Tiago Araripe compunha com Tom Zé, fazia parceria com os concretistas Irmãos Campos e participava de um grupo de pop-rock brasileiro chamado Papa Poluição, que tinha, em sua formação, músicos cearenses e baianos, todos radicados em São Paulo. Tiago Araripe ligou-se, posteriormente, com o pessoal da Lira Paulistana.

Coletivo Camaradas:Uma época de grande efervescência...

Sim, um período de grande efervescência e de vivências intensas. Se Fagner, Ednardo, Belchior, Rodger, Téti, Amelinha, Fausto Nilo e Brandão faziam sucesso e exerciam grande influência sobre os jovens músicos e compositores do Cariri, não menos sucesso e influência exerciam Zé Ramalho, Alceu Valença, Quinteto Violado, Banda de Pau e Corda, Quinteto Armorial, Gil, Caetano, Tom Zé e outros compositores e grupos da cena nordestina contemporânea, além de todo um clima de busca de integração latino-americana por meio das músicas de Violeta Parra, Atahualpa Yupanqui, Victor Jara e Mercedes Sosa. O Jefferson de Albuquerque Jr. chegara do Chile e trazia todas essas novidades. O jornal Versus, com artes e culturas da afro-latino-américa era uma grande referência literária e jornalística. De Minas, chegavam os ecos profundos do Clube da Esquina. Além do mais, o Festival da Canção do Cariri era o grande acontecimento musical da região e revelaria toda uma geração de jovens compositores.

Coletivo Camaradas: E o Nação Cariri, que rompeu as fronteiras da região?


No início de 1979, em período de férias, reuniram-se, no Crato, vários artistas aí radicados com artistas e produtores culturais que moravam em outras regiões do País. O motivo da reunião era criar um movimento mais amplo de arte e cultura e um jornal que tivesse uma ampla circulação e fosse um elo entre a cultura popular tradicional e jovens artistas contemporâneos antenados com outras influências. Procurou-se um nome para ele, e surgiu Nação Cariri, em homenagem aos índios Cariris e à luta que travaram contra os colonizadores, na chamada Confederação dos Cariris. O grupo inicial foi, praticamente, o mesmo que fazia o movimento Por Exemplo, no qual eu estava inserido, tendo sido um dos seus fundadores, ao lado de Jackson Bantin, José Wilton (Dedê), Cleivan Paiva, Teta Maia, José Roberto França, Emérson Monteiro, Geraldo Urano, Pachelly Jamacaru, Zé Nilton, Luiz Carlos Salatiel, Stênio Diniz, Jefferson de Albuquerque Jr., Valmir Paiva, Luiz Karimai e Decas, entre outros); o movimento teve, logo em seguida, a colaboração de artistas que moravam em São Paulo (Tiago Araripe, Hermano Penna, Francisco Assis do S. Lima); em Recife (Ronaldo Brito) e em Fortaleza (Oswald Barroso, Firmino Holanda, Marta Campos, Itamar do Mar e Carlos Emílio Correa, entre outros). A estes nomes, foram acrescidas dezenas de outros, durante a segunda fase do jornal; entre eles, citamos: Floriano Martins, Natalício Barroso Filho, o livreiro Gabriel José da Costa, Fernando Néri, Rejane Reinaldo, Joana Borges, Fátima Magalhães, Juarez Carvalho, Pingo de Fortaleza, Ronaldo Cavalcante, Diogo Fontenelle, Nilse Costa e Silva, Ronaldo Lopes, Alan Kardec e Luciano Maia. Patativa do Assaré era o mestre, aquele que consagramos como poeta maior. Editamos um jornal muito legal, com poemas, artigos, desenhos, ensaios...

Coletivo Camaradas: E o jornal conseguia circular?

Desde os seus primeiros números, o jornal foi distribuído em várias cidades do interior cearense e em algumas capitais brasileiras, por meio de seus correspondentes, chegando assim a circular em universidades, grupos literários, bancas de revistas, livrarias, sindicatos etc. Contudo, o maior impacto do jornal, com ampla divulgação na imprensa e nos meios intelectuais, foi em Fortaleza, cidade onde o Nação Cariri faria sua história. O ano de 1979 foi um período de grande atividade para aquele movimento. Foi quando, na qualidade de um dos coordenadores do movimento, tomei parte das reuniões preparatórias do Massafeira Livre e sugeri a participação dos jovens artistas e dos artistas populares do Cariri. Como saberíamos depois, o Massafeira Livre iria ter grande importância na carreira e no reconhecimento de alguns desses artistas e servir também de balão de ensaio para o show Canto Cariri, ao qual já fiz referência, quando tratei do Grupo Siriará.

Coletivo Camaradas: O Nação Cariri deixou de ser apenas do Cariri?

O campo de atuação do jornal foi crescendo cada vez mais e recebeu, inclusive, um efetivo apoio do livreiro Gabriel José da Costa. O Nação Cariri não se conteve em ser apenas um jornal e se transformou em um movimento amplo, independente e combativo, tendo sido capaz de deixar duradouros marcos na cultura e nas artes do Ceará. O Nação Cariri atuou nas áreas de música (promoção de shows, editoria de discos), teatro (peças em sindicatos, bairros e campanhas políticas progressistas), literatura (publicações e recitais públicos), artes plásticas (ilustrações de livros e exposições) e cinema (realização de curtas-metragens sobre cultura popular). A atriz e produtora cultural Teta Maia dá também o seu testemunho: “Foi a partir dessa experiência que os poetas do Nação Cariri retomaram a oralidade dos poemas e realizaram inúmeros recitais em teatros, sindicatos e praças públicas”. Como editora, a Nação Cariri publicou vários livros de autores cearenses, bem como álbuns de desenho, cartazes e folhetos. Uma das grandes preocupações do movimento, ao mesmo tempo em que dialogava com poetas de vários países e com as manifestações de vanguarda, foi a valorização crítica da cultura popular. Os artistas do povo tiveram vez e voz. Grandes mestres e artistas do povo foram divulgados, com grande repercussão. Exemplo maior dessa ação foi a decisiva participação do grande poeta popular Patativa do Assaré, que sempre fez uso das páginas do Nação Cariri e deu grandes contribuições também em recitais e shows artísticos. Artistas e grupos de artes tradicionais foram valorizados e se tornarem bastante conhecidos das novas gerações. A aproximação do Nação Cariri com os artistas populares do Ceará foi uma experiência muito rica. O encontro da tradição com a vanguarda, do popular com o erudito, do saber científico com o empírico, no calor das lutas e das conquistas de espaços simbólicos, marcou o início de uma caminhada que considero vitoriosa para as culturas populares cearenses.

Coletivo Camaradas:Oswald Barroso foi outro artista de esquerda com grande contribuição nesse movimento, não é mesmo?


Sim, Oswald Barroso, além de dramaturgo e poeta, é também um pensador, com importante contribuição teórica. A respeito do Nação Cariri, ele afirmou: “Para além das suas buscas estéticas e suas preocupações políticas de esquerda, Nação Cariri caracterizou-se pelo relevo dado às artes e aos artistas populares, trazendo-os para o primeiro plano. Cultivava-se uma arte, que se queria de vanguarda, mas referenciada nas tradições do povo. O encontro com os artistas populares influenciou profundamente setores intelectuais da classe média, ligada ao Nação Cariri. O Nação Cariri buscava a ligação com uma literatura de combate terceiromundista. Nessa direção, publicou uma série de autores estrangeiros, latino-americanos, africanos e asiáticos, de preferência, identificados com suas propostas. (...) A presença recorrente de temas e traços estéticos da vida e da linguagem popular no cinema, no teatro, na música, na literatura e até nas artes plásticas, que hoje se faz no Ceará, não é de todo alheia à influência militante que Nação Cariri exerceu em nosso movimento cultural. O mesmo acontece com o reconhecimento do mérito (inegável, mas por tanto tempo negado) de artistas populares que são hoje orgulho de cearenses e brasileiros”. (Ceará – Uma cultura mestiça. Livro inédito).

Coletivo Camaradas: Quais suas influências artísticas?

A minha primeira e mais importante influência foi a do meu pai, seu Zé Moura e das minhas avós: Perpétua e Mourinha. Do meu pai, foi um legado ético e de amizade; das minhas avós, o contato com o mundo encantado da cultura popular, por meio das histórias, das canções e das atividades lúdicas. No tempo em que meu pai morou no Crato, ele foi amigo de grandes mestres da cultura popular: Patativa do Assaré, Cego Heleno, Dona Ciça do Barro Cru e outros. A bodega do meu pai e o Bar Tupy, do meu avô Manoel Pereira, bem próximos da bodega de Joquinha, na rua dos Cariris, eram pontos de encontro desses e de muitos outros artistas populares. Conheci ainda Walderedo Gonçalves, mestre Aldenir, Zé Gato Azuleica, os Anicetos antigos, Mestre Noza, Cizin, Cícera Lira, entre tantos outros. Patativa indicou-me a leitura dos primeiros poetas clássicos. Seu Elói já era famoso, e o programa “Coisas do Meu Sertão” era assistido por todos, dos velhos às crianças. Depois entrei nos Seminário São Francisco de Juazeiro e no Sagrada Família, de Crato, onde tive contato com toda uma literatura clássica europeia. Pude assim perceber que muitas dessas influências eruditas e clássicas encontravam-se ainda vivas em muitas das manifestações populares dos grandes mestres.

Coletivo Camaradas:Como você vê a relação entre arte e política?

Toda arte é política, mesmo quando o artista pretende realizar “arte pela arte”, se partimos da compreensão aristotélica de que o homem é um ser político, vive em sociedade preservando e transformando essa sociedade, em permanente conflito. No entanto, a arte não pode ser enquadrada em ditames burocráticos partidários e ideologias que sufocam a liberdade. As tentativas históricas de acorrentar a arte em padrões burocráticos e sistemas ideológicos fechados, seja por qual ideologia for, sempre se mostraram desastrosas. Eu aprendi a ver a arte ligada à insubmissão, à liberdade.

Coletivo Camaradas:Você também é poeta. O que a poesia representa para você?

Poesia é sempre a possibilidade da renovação, não apenas da linguagem, mas também do sentido da vida. Em épocas de crise, poetas-samurais podem até ver alguma poesia no brilho das espadas ou no fogo dos canhões e confundirem este brilho fugaz com o brilho da eternidade. No entanto, este brilho aparente é treva. A poesia pode falar da luta libertária, mas ela não é luta, é apenas o sonho de liberdade. A poesia pode ser filha do conflito, mas não se subjuga ao conflito. Hoje, já na meia idade, é que vim compreender isto. Enquanto vida, a poesia é maior do que as guerras e que as revoluções, pois almeja a paz e só se realiza no mais profundo humanismo, de forma radical, tendo o homem como raiz do homem. Mesmo quando ela é sagrada e fala de Deus, é do homem que ela fala; do homem e dos seus sentimentos, do homem e da sua fragilidade, do homem e da sua busca irrealizada de absoluto. Quando o instinto da morte triunfa, a poesia se faz ainda mais necessária. Adorno afirmou, certa vez, que não era possível fazer poesia depois de Auschwitz. Talvez o certo seja afirmar que, depois de Auschwitz, a única coisa que ainda pode salvar o homem é a poesia. Quando eu penso em poesia, no Cariri, eu penso em Patativa do Assaré e Geraldo Urano, dois grandes poetas, de estilos e visões do mundo completamente diferentes, e, no entanto, necessários e vitais. O Cariri seria mais pobre sem esses dois grandes poetas. Patativa do Assaré já morreu e foi reconhecido em vida e também na posteridade. O Geraldo continua vivo e ainda desconhecido. Quero um dia dedicar um ensaio à poesia de Geraldo Urano.

Coletivo Camaradas: A sua estética cinematográfica busca uma contextualização histórica e apresenta um discurso engajado. A estética de Glauber Rocha e Bertolt Brecht está contida na sua produção?


Sim, pode ser compreendida como um discurso engajado, no sentido de que, embora buscando um discurso universal, não me desligo dos processos históricos e culturais nos quais estou inserido, o que provoca novas possibilidades de reflexões sobre esses mesmos processos históricos e culturais. As contribuições marcantes de Glauber e Bertolt Brecht estão presentes nas minhas obras, mas não mais do que cineastas como Paradjanov e Pasolini, ou de mestres como Patativa do Assaré , Mestre Aldenir e Mestre João Aniceto e Ariano Suassuna, para ficarmos apenas em alguns poucos exemplos, entre os muitos. Não parti apenas do discurso neo-barroco glauberiano ou do teatro épico de Brecht, descobri outras formas do barroco, do épico, do figural, do poético, do sagrado, do rebelde, nas próprias manifestações das culturas populares nordestinas, que são herdeiras das grandes correntes culturais ibéricas, mediterrâneas e magrebinas. Ainda estou buscando caminho. Talvez por isso, eu goste muito do filme Siri-Ará, enquanto busca de construção narrativa e estética. Neste filme eu trabalhei, ao lado de atores profissionais, com o reisado do mestre Aldenir Callou e com a Banda de Pífanos dos Irmãos Aniceto.

Coletivo Camaradas:A diversidade cultural das manifestações populares é recorrente nas suas obras. Qual a importância da “cultura do povo” (termo utilizado pela filósofa Marilena Chauí para reformular o conceito de cultura popular) para afirmação da identidade nacional?

Uma identidade nacional não é algo definido, é algo em construção. O que é o povo brasileiro? Para Darcy Ribeiro, que vê o Brasil como uma Roma tardia, é resultante do “encontro de todas as taras e talentos da humanidade”. Para mim, o povo brasileiro é esse imenso caldeirão étnico e cultural, onde a humanidade se reinventa com a contribuição de mil povos, de mil raças e de mil culturas. Quando falamos em cultura do povo, no Brasil, estamos falando de culturas dos povos, sejam povos autóctones ou povos transplantados que trouxeram também suas influências e mestiçagens. Quando se fala em povo brasileiro, estamos falando nessa herança de toda a humanidade. Quando estamos falando em regional, com certeza, queremos dizer universal. É preciso pensar o que chamamos de “cultura do povo”, de forma mais ampla e mais generosa, sem as peias do regionalismo ou do nacionalismo fechado.

Coletivo Camaradas: Quando você foi Secretário da Cultura no Crato desenvolveu um projeto audacioso de intersetorialidade no bairro Alto da Penha, que foi denominada de Projeto Rabo da Gata, o qual envolveu implantação de videoteca, biblioteca, realização de cursos e até saneamento básico, entre outras ações. Qual a importância da intersetorialidade nas políticas públicas para a cultura?

Em 1996, eu estava na França, quando fui convidado pelo Dr. Raimundo Bezerra para ser Secretário de Cultura do Crato. Abandonei alguns projetos importantes e vim para o Crato. Na época, a Violeta Arraes era Reitora da Urca. Vim porque um sentimento mais profundo me chamou e eu acreditava que poderia dar alguma contribuição para o desenvolvimento da cultura local. Fizemos o possível, dentro das possibilidades reais, lutando contra visões bem conservadoras. Mesmo assim, ainda conseguimos realizar um bocado de coisas, e mesmo as coisas que não foram realizadas no Crato terminaram por fecundar e ser gestadas no Estado do Ceará em outros Estados. Alguns projetos, como o dos Mestres e Guardiões dos Saberes Populares, que lançamos no Crato, com a grande contribuição de Cacá Araújo e Elói Teles de Moraes, em 1976, vieram depois a se tornar política pública federal. Entre alguns projetos que foram postos em prática ou elaborados naquele momento, cito: o I Encontro das Culturas Populares do Nordeste e os projetos do Parque Histórico do Caldeirão, da Universidade de Saberes Populares e Contemporâneos (Escola de Saberes), Festival de Cultura dos Povos (transformado posteriormente em Encontro de Mestres do Mundo), do Centro Cultural da RFFSA, do Crato, do Corredor Cultural do Crato (que previa o estabelecimento de escolas de teatro, de dança, de cinema, de artes plásticas, oficinas de literatura, entre outras, deste o sítio Lameiro, onde está situada a Escola do padre Ágio, passando pelo bairro do Pimenta, pela URCA, Parque de Exposição, pelo Rabo da Gata - derivando para a Praça da Sé, pela Estação Ferroviária, seguindo a ferrovia com ocupação dos espaços com quiosques culturais, passando pela Faculdade de Direito, até chegar ao Pau do Guarda), da Associação dos Curumins do Sertão (terminou acontecendo em Farias Brito), da Fundação Cego Aderaldo (depois intitulada Mestre Elói) e da Revitalização do Bairro Rabo da Gata (Crato), entre outros. O projeto da Estação chegou a ser realizado, e a revitalização da Quadra também. Não sei como ficou o Cine Estação Moderno, que já tinha sido começado e para cuja conclusão conseguimos mais recursos, na época.

Coletivo Camaradas: E as festas populares?

Lembro-me também do Grande encontro da malhação do Judas, da Coroação de Nossa Senhora, na igreja matriz, com centenas de anjos e a orquestra do Padre Ágio. Um espetáculo de significado profundo (que toma o religioso sob o signo do feminino), o Projeto de Revitalização do Bairro Batateiras (Parque Ecológico da Nascente) etc. Tentamos ainda fazer grandes festas ligadas a Nossa Senhora do Belo Amor, à Confederação do Equador e à memória de Dona Bárbara. Não conseguimos tudo, mas os projetos foram feitos. Queríamos colocar o Crato novamente no grande circuito cultural do Nordeste. Em tudo que fazíamos, havia essa integração entre cultura, educação, saúde, bem estar social, cidadania etc. Não praticávamos um conceito fechado do exercício cultural. Cultura, para nós, tinha um conceito bem amplo e participativo, intersetorial. Era um projeto que estava ligado às lutas pelas transformações sociais. Tínhamos uma turma boa: o Cacá Araújo, a Dane de Jade, o Carlos Rafael, Alemberg Quindim, Cleivan Paiva, o Bola e tantos outros. Não custava sonhar, e nós sonhávamos. Essa experiência durou apenas um ano. Dr. Raimundo Bezerra, o prefeito do Crato, que morreria algum tempo depois, também era um sonhador, um homem culto que lutara contra a ditadura e que conhecia o mundo. O Crato deve uma homenagem a esse grande homem.

Coletivo Camaradas: Você tem uma forte ligação com o movimento de esquerda, tendo inclusive sido militante do PCdoB. Isso contribuiu para a forma do seu pensar e fazer artístico?

Sim, fui militante político do PCdoB, no final da década de 1970, até meados da década de 1980 e foi um período muito importante da minha vida, pela participação nas lutas coletivas e pelos companheiros que conheci. Do partido, ampliamos os nossos campos de leitura sobre filosofia, sobre história, sobre cultura e sobre arte. Aproximamo-nos ainda mais das artes russas do período pós-revolucionário, das leituras e de Brecht etc. No entanto, jamais consegui engolir o conceito de “realismo socialista”, que deveria ser imposto a todos os povos do mundo, passando por cima das diversidades culturais dos povos. Zadnov sempre me pareceu um burocrata medíocre e fez um enorme mal às artes dos artistas socialistas de todo o mundo. Essa visão burocrática e reducionista afastou das lutas socialistas alguns dos mais importantes artistas do mundo e, subsequentemente do Brasil, da militância socialista. A arte não pode ser presa em formas burocráticas. Panfletária, romântica, dadaísta, surrealista, barroca, futurista, popular, erudita, não importa, a arte deve ser libertária.

Coletivo Camaradas:Qual a contribuição do marxismo para a compreensão da arte e da cultura?

O marxismo contribui de forma marcante com o pensamento crítico das culturas e das artes no século XX. Podíamos mesmo dizer que foi influência dominante nas universidades e nos grupos intelectuais de todo o mundo. O que não era marxismo, muitas vezes, eram respostas ao marxismo. Georg Lukács (1885-1971), Antonio Gramsci (1891-1937) e Theodor Adorno (1903-1969) são nomes importantes, mas a eles somam-se centenas de outros. Marx, Engels, Lenin e Trosky também têm importantes reflexões sobre a cultura e as artes. Se fôssemos citar os artistas que fizeram uma arte ligada aos princípios da filosofia marxista, teríamos uma enorme quantidade de nomes que perpassam todos os movimentos culturais e artísticos do século .

Coletivo Camaradas: Como vê você a circulação da produção cinematográfica brasileira?

A circulação, ou seja, a distribuição e exibição são os grandes problemas do cinema brasileiro. Muitas vezes, 2/3 das quase duas mil salas de cinema no Brasil são ocupados por um único produto norte-americano, os chamados blockbuster. As majors, as empresas transnacionais que detêm a hegemonia do mercado internacional, determinam a ocupação desses espaços. Por outro lado, as salas estão concentradas nos shoppings centers e constituem um espaço de lazer da classe média dos grandes centros urbanos. O cinema popular no Brasil foi destruído, não existem mais cinemas populares nos bairros das grandes metrópoles e nas cidades de médio e pequeno porte. Imaginem que, na cidade do Crato, na década de 1960, existiam seis cinemas. No Cine Educadora, funcionava um Cineclube ligado à Fundação Padre Ibiapina que era importantíssimo. Nós víamos o melhor do cinema mundial. O que resta, hoje? Quantas salas de cinemas existem no Crato? Quantas salas de cinema existem no Cariri? Que filmes são exibidos nessas salas? O Cine Mais Cultura, do MinC, está com o projeto de instalar 2.000 salas de cinemas populares no Brasil, em cidades de pequeno e médio porte. O Cariri devia se mobilizar e instalar salas de cinema em todas as cidades da região. Seriam salas de cinema em pequenos centros culturais comunitários, com gestão coletiva etc. É preciso criar novos modelos. Com as novas tecnologias e a convergências de mídias, ficou mais fácil encontrar soluções criativas.

Coletivo Camaradas: A produção cinematográfica estadunidense é um empecilho para o cinema latino- americano e caribenho?

A produção de Hollywood é um problema não apenas para o cinema latino-americano e caribenho. Acredito mesmo que essa produção, que detém por volta de 90% do mercado mundial, é um problema para todo o mundo e mesmo para os cineastas independentes dentro dos Estados Unidos. Esta indústria de cinema é tratada como indústria estratégica e é colocada pelo Estado no mesmo pé de igualdade da indústria da guerra. Eles sabem que aonde chegam os filmes norte-americanos chegam também seus produtos, seu modo de vida, sua ideologia... A grande guerra que se trava no mundo hoje não é a de tanques, é a de satélites, é a do controle dos meios de comunicação de massa, é o domínio das mentes e dos corações.

Coletivo Camaradas: O Coletivo Camaradas homenageará a sua produção em 2010, tendo em vista o caráter engajado das suas obras. O que isso representa para você?

Representa que esse coletivo de jovens do Cariri poderá levar os meus filmes e meus poemas a encontrar-se com o público da periferia da cidade do Crato e de outras cidades da região. Se os meus filmes sempre foram feitos com a marca da coletividade, é bom que esses filmes sejam devolvidos à comunidade.

Coletivo Camaradas: Quais seus planos para 2010?

Rodar o filme Folia de Reis, uma farsa popular sobre o neocolonialismo e o consenso de Washington (os reflexos perversos dessas políticas nos países subdesenvolvidos). Também quero instalar no Cariri, de forma experimental, as primeiras “Escolas de Saberes Tradicionais e Contemporâneos”, no caso, o “Saber Reisado” e o “Saber Cabaçal”. Vou tentar.



http://www.coletivocamaradas.blogspot.com/

Os favoritos de Everardo Norões



Os livros de minha vida
O quadro desta semana é com o poeta Everardo Norões, autor do belíssimo Retábulo de Jerônimo Bosch (7 Letras), que em breve lança Poeiras na réstia. Cearense de Crato, tem outros livros de poesia, é co-autor do texto das peças Auto das portas do céu e Nascimento da bandeira e escreve artigos e crônicas para diversos jornais.

TL – Qual o livro que mais mexeu com você?

EN – Foi Os irmãos Karamazov. Eu era bem jovem, devia ter uns 13 anos, idade em que você se pergunta se Deus existe e, se ele existe, por que tanta injustiça etc. Coisas de menino quando começa a se inteirar que está virando gente. Quando me lembro, acho que tive uma depressão após a leitura de Dostoievsky. Não era para menos. Até hoje nunca reli o livro, embora sempre fique me prometendo fazê-lo. Para usar a linguagem do boxe, foi uma espécie de jab de direita…

TL – O que você está lendo agora? O que está achando?

EN – Tenho um vício: nunca leio um único livro. No momento são dois: Las armas secretas y otros relatos, de Julio Cortázar, uma edição especial, feita em Cuba, da Casa de las Americas. Digo especial porque a seleção dos textos foi feita pelo próprio Cortázar, dez meses antes de sua morte. No livro estão dois excelentes ensaios sobre o conto, os mesmos que foram publicados no Brasil, no Valise de cronópio, da editora Perspectiva, edição organizada por Haroldo de Campos e David Arriguci Jr. Minha outra leitura do momento é El cielo sobre nosotros, do peruano Carlos Garayar, editado pala Alfaguara, em 2007. Um presente de meu amigo, o poeta peruano Hildebrando Pérez Grande. Trata-se de um excelente romance que, não sei por que razão, ainda não foi traduzido e editado no Brasil.

TL – Qual o primeiro livro que marcou sua vida?

EN – Deixo para o fim a primeira pergunta. Meu primeiro livro, de que lembro? De um escritor de minha terra, Iracema, de José de Alencar. Na minha época de ginásio era quase obrigatório conhecer José de Alencar e Augusto dos Anjos. Ainda hoje sei de cor pedaços de poemas do Eu. Na época, não entendia nada, mas soava bonito, todas aquelas palavras ‘difíceis’ que fazia a gente se sentir tão pequeno diante da grandeza da língua….

lugar que não existe

Precisava de solo
e tu me deste asas.

Quando abri a porta
tu me lançaste aos olhos
pó de borboleta.

Não fiquei cego.

Ao contrário,
hoje minha vista
dobra horizontes
cruza céus.

Eu só queria paz.
E tu me forjaste um ventre
sempre bule com chá quente.

Não me faltam ancestrais
sentados à mesa

trocando estranho silêncio
nos olhares de outro mundo.

Tu és meu algoz
com pinta de bom mocinho.

Aqueles olhos penetrantes.
Aquele sinal no lábio esquerdo.

Por vez acordo ciente do meu fim,
então tu gargalhas e jogas as chaves
do quarto secreto.

"Só tens três minutos."

Eu enlouqueço:
O que posso salvar de um incêndio
em três minutos?

O primeiro desenho do meu filho?
Meus sete últimos poemas?

Tu sabes como renovar a coragem de um homem.
Como tornar sóbrio o olhar de um Lunático.

Meto-me quarto secreto adentro.
Queimo os braços, antebraços, rosto, cabelo.

Tudo que consigo é mais suor na língua.
É mais frio na nuca.

Não durmo bem,
não me alimento.

Só admirando a repentina euforia.
Tristeza em algum lugar.

Causas atuais da violência - Por Emerson Monteiro

Vive-se período extremo de criminalidade violenta, isso em todo o mundo, com ênfase nos países mais atrasados, dentre eles o Brasil e toda a América Latina. Antes, o motivo alegado se voltava para as chamadas revoluções libertárias, na época da chamada Guerra Fria.
Hoje, no entanto, qualquer motivo preenche as justificativas das convulsões sociais. Desde a delinqüência juvenil até o tráfico de drogas, passando pelos chamados bolsões de pobreza e guerras tribais, lutas raciais, lugares onde o padrão da cultura humana indica descompasso de perversidade e miséria.
Houve tempo quando seria mais fácil encontrar as razões de tanta insegurança. O atraso das mentalidades, as conquistas coloniais, disputas imperialistas, domínio feudal das terras, fanatismo religioso. Tudo servia de pretexto, no decantado anseio de o homem ser lobo do próprio homem. Ou de se querer a paz e se preparar para a guerra.
Acham as autoridades que o problema se revolveria mediante a ampliação dos órgãos de segurança, aquisição de armamentos, modernização e ampliação das penitenciárias, maior remuneração dos efetivos policiais, etc., etc.
Contudo, a questão possui raízes mais profundas. Suas causas reais merecem outros detalhamentos, porquanto procedem vêm de origens as quais acumulam estudos e pouquíssimo, ou nenhum, tratamento.
Conceitos do tipo de que falta educação ao povo, que a tradição nacional dos degredados, escravos e índios, povos sem amadurecimento suficiente, formaram país esdrúxulo, por si só não justificam a famigerada violência das ruas, clima tenso em que se transformou o sonho brasileiro.
De suas causas mais evidentes cabe citar o desemprego que cresce, sem esperança de colocação para a juventude que, todo dia, chega ao mercado de trabalho; a excessiva concentração da riqueza nas mãos dos poucos de há muitos séculos donos dos bens; e a pobreza infinita da cultura de massa.
Enquanto sofre a nacionalidade esse atraso crônico de ética, moralidade e competência, responsáveis pela administração das instituições públicas, em todos os segmentos, jamais se comprometem com mudanças substanciais e inevitáveis.
Como se não bastassem ditas origens, persiste, na macro-estrutura mundial, um conceito voltado aos interesses das nações ricas que investem pesado na preservação do poder, através dos sistemas mundiais de exploração financeira. Gastam fortunas na elaboração de técnicas requintadas de manutenção da ordem injusta. Financiam sucessivos governos serviçais, nos países periféricos.
Portanto, para neutralizar o tal clima superlativo desse drama, outras atitudes cabem aos que precisam urgente se livrar das nuvens escuras dessa história burocrática, quais sejam: criatividade individual; maior comprometimento da participação coletiva, nos grupos sociais prejudicados; união das classes exploradas; e conscientização política.
Abrir o olho e ver que só a educação traz mudanças significativas, após largos esforços da sociedade e seus governantes, eis o instrumento da democracia através do voto que fala alto nestes assuntos, desde que assim pretendam os eleitores, bola da vez na decisão de cada pleito.

seis horas

É agora
que desabo:

os ossos contra o teto
a carne na bandeja de prata.

Os sinos são todos
irmãos mais velhos
torturando o caçula.

Já não basta o longo corredor escuro?

Seis horas é um breve arrastar de chinelos
em que se deve ter muito cuidado.

Não envergar demais as asas.
Não acolher tantas lembranças.

Ninguém está a salvo
de uma artéria fraca.

As lágrimas damos um jeito.
Mas se o coração pifa é morte na certa.

O Livro do Cariricaturas




Um livro escrito por muitas mãos: uma coletânea com nossos escritores e artistas.

Detalhes :

. Release com fotografia de cada escritor ( 01 página)
• 4 textos por escritor (máximo de 7 páginas - fonte : garamond - altura : 12) - Temática livre ( crônicas, contos e poemas).
• Os textos serão escolhidos pelos próprios escritores;
• um contingente de 200,00 por escritor
• O pagamento poderá ser feito em 4 x 50,00 ( fev-mar-abr-maio)
. O livro será dedicado aos mestres de todos os tempos, representados por Dr. José Newton Alves de Sousa.
- A capa será a foto de Pachelly- essa que já caracteriza o Cariricaturas.
- O título é: "Cariricaturas em prosas e versos"
- Edição: Emerson Monteiro ( Editora de Sonhos - Crato-Ce)
- Dedicatória ( Assis Lima )
- Prefácio/ Apresentação ( José do Vale e Zé Flávio)

-Já estão confirmadas as seguintes adesões:

01. Claude Bloc *
02. Magali Figueirêdo *
03. Carlos Esmeraldo *
04. Maria Amélia de Castro
05. Ana Cecília Bastos

06. Assis Lima *
07. Socorro Moreira *
08. Stela Siebra de Brito
09. Wilton Dedê
10. João Marni
11. Rejane Gonçalves

12. Rosa Guerrera *
13. Heladio Teles Duarte *
14. Edilma Rocha *
15. Emerson Monteiro *
16. José Flávio Vieira *
17. João Nicodemos *
18. José do Vale Feitosa *
19. Liduina Vilar *
20. Elmano Rodrigues
21. Carlos Rafael
22. Armando Rafael
23. Bernardo Melgaço *
24. Domingos Barroso *
25. Roberto Jamacaru *
26.Dimas de Castro *
27.Joaquim Pinheiro *
28.Edmar Lima Cordeiro*
29.Hermógenes Teixeira de Holanda
30.Olival Honor
31.José Nilton Mariano
32.Marcos Barreto
33.Isabela Pinheiro *
34.José Newton Alves de Sousa
35 -Jorge de carvalho Alves de Sousa *
36.Vera Barbosa .

* Escritores que já enviaram material para edição.


Lembrem-se:

O envio dos textos será até 31.01.2010.

Email : sauska_8@hotmail.com ou cboris@hotmail.com


Outras informações :
Tiragem : 1.000 exemplares
Distribuição entre autores : 20 para cada
Saldo : será transformados em ingressos para cobrir as despesas da festa de lançamento : coquetel, convites, divulgação, banda,decoração, etc
Se houver saldo de livros será redistribuído entre os autores.
Preço do livro por unidade : 20,00
A edição foi orçada em 6.000,00 ( já considerados todos os descontos possíveis).
Número de páginas : 260 ( aproximadamente).
O valor da contribuição por escritor ( 200,00) será depositado numa cta do Editor (Emerson Monteiro) a ser informada por e-mail. Em contrapartida será enviado respectivo recibo.
Atentar para as datas limite de envio do material ,e de pagamento :
Data limite para depósito : Até maio de 2010.

Claude e Socorro Moreira

MONGA - Roberto Jamacaru


M O N G A


Na véspera da Festa da Padroeira a meninada da cidade comemorou a chegada do parque de diversões com muita alegria.
Vendo aquele comboio de caminhões passar, transportando em cima dele um amontoado de peças coloridas, ninguém resistiu. Todos nós corremos atrás para ver o desembarque e a montagem daquilo que iria alegrar nossos sonhos Disney por algumas noites.
Para ter o direito de participar de tudo isso, fazia-se necessário conseguirmos patrocínio junto aos nossos queridos pais. Na prática, esse tipo de acordo era mais complicado do que o Plano de Paz entre palestinos e judeus. Não era fácil cumpri-lo, pois tínhamos que ir banhados, arrumados, não brigar com o irmão, administrar uma mesada de apenas três cruzeiros (dinheiro da época) e, obrigatoriamente possível, trazer o troco. Ou seja, essa missão era impossível até mesmo para os ganhadores do Nobel da Paz e da Economia!
Negociações à parte, a festa nos encantava por vários bons motivos. A animação começava com a chegada e levantamento do Pau da Bandeira. Esse enorme tronco era arrancado da mata virgem e carregado para a Praça da Matriz nas costas de quase cem homens... Claro, todos eles movidos pela fé na Padroeira e pelo efeito de muita cachaça braba!
Outro destaque dos festejos era a novena que a gente era obrigado a assistir. No entanto achávamos bonito ver o coroinha balançando o turíbulo e lançando no ar aquela fumaça cheirosa de incenso. Era um status de criança desejado por muitos de nós. Já as intermináveis ladainhas, geralmente rezadas somente pelas mulheres e o padre, elas nos faziam dormir.
Terminada a reza, todo mundo estava liberado para viver aquele mundo de luzes, cores e alegria que era o parque de diversões.
As moças também não perdiam a chance que essa ocasião lhes proporcionavam. Para incrementarem suas investidas amorosas - os chamados flertes - elas costumavam utilizar-se das amplificadoras instaladas em vários pontos do parque. Através desse som ambiente, as autoras (geralmente ocultas), mandavam declarações para seus pretendentes:

- “Esta música é de um alguém para outro alguém com muito amor e carinho.”;

- “A você que está de verde ouça esta música que lhe dedico com muito amor e paixão. Quem lhe oferece está de azul!”.

- “Moreno da Rua do Seminário, sei que tu não gostas mais de mim, mas continuo te amando. Assina: Morena da Vila Alta!”.

Quem era quem? Impossível saber!

Mais detalhes importantíssimos desse evento:
Lá por volta das dez da noite, sempre sob a coordenação dos Partidos Azul e Encarnado, era a vez do leilão paroquial, todo ele repleto de comidas gostosas.
Cobertas com papéis coloridos e anunciadas por divertidos leiloeiros, as galinhas assadas, por exemplo, exalavam no ar um cheiro gastronômico inconfundível.
A oferta dos bens arrematados era outra prática muito interessante nesses leilões. Quem os comprava, geralmente procurava oferecê-los a um amigo, parente, personalidade ou autoridade local. Claro, o animador da festa aproveitava a situação para fazer muita gozação e brincadeira entre as partes.
Para a criançada, no entanto (nessa época não tinha televisão) o que mais nos encantava era o mundo dos brinquedos e das guloseimas. E ele estava ali à nossa espera com trenzinho, patinhas, carrossel, roda gigante, canoas, pipoca, filhós, bombons, roletes e caldo de cana; cachorros quentes, algodão doce, amendoim assado, gelo raspado com calda de morango, quebra-queixo e tudo mais.
Esse ano, para delírio nosso, havia uma atração diferente anunciada pelo famoso Parque de Diversões Maia. Na fachada de um dos estandes, montado bem ao lado do carrossel, a figura aterrorizante de um enorme gorila, com seus dentes, unhas, pêlos e expressão de muita ferocidade, passou a mexer com a nossa imaginação e, acima de tudo, com o nosso medo.
Era o terrível M O N G A!
Para nós, assistir ao espetáculo da mulher se transformando nesse monstro, consistia num grande desafio! Era um dilema de fácil compreensão: de um lado estava o medo; do outro, nossa incontida curiosidade.
Os comentários das pessoas que assistiam a essa metamorfose eram sinistros. Em 80% dos casos eles passavam a ser auto-explicativos, ou seja, bastava ver a carreira que muita gente empreendia, de dentro para fora da casa, na hora da transformação do bicho!
Não resistimos!
Nossa turminha resolveu dar uma de “macho” indo assistir ao show. Confesso que minha “coragem” estava, acima de tudo, arrependida e estampada em minha cara.
Finalmente cada um comprou seu ingresso. Lá dentro a iluminação concentrava-se apenas na jaula. Por trás dessa frágil gaiola, ficava uma linda moça. Ela, a bela, que iria transforma-se na fera, vestia apenas um biquíni num estilo meio samba-canção. Por precaução instintiva, procuramos ficar próximo aos adultos. Eu, particularmente, antes do início das cenas, estudei previamente o roteiro da saída. Naquele momento jurei para mim mesmo que não era questão de medo... Ah! Essas juras...

De repente a cortina foi fechada dando vez a uma música aterrorizante.
Era o início da sessão!
Ao ouvir a voz cavernosa (sinistra) do apresentador, muita gente desistiu ali mesmo de presenciar a cena da transformação. Adultos e crianças que permaneceram no recinto, procuraram se juntar numa atitude inconsciente de proteção mútua.
E a metamorfose começou!
O corpo delicado da inocente mocinha passou a ser desfocado, lentamente. O narrador fez questão de dar ênfase a esse detalhe, e isso nos deixou ainda mais apreensivos.
No momento seguinte observei que as unhas dos pés e das mãos do já quase bicho iam assumindo formas maiores e grotescas. Sem perder a cena e com os olhos cada vez mais arregalados, ainda lembro que, nesse momento, busquei segurança agarrando-me às mãos de alguém que nem conhecia!
O narrador, na sua humorada experiência, investia cada vez mais no nosso medo! O destaque seguinte que ele passou a dar, foi em relação aos pêlos e tamanho da criatura. Agigantada (acho que uns dois metros), ela já estava bem próxima de virar definitivamente o ameaçador MONGA!
Se alguém tivesse filmado as expressões e medido a pulsação da platéia naquele momento, o resultado iria mostrar rostos apavorados, corpos híspidos e “baticuns” dos corações a mil por hora...
Como tática da trama, derepente a música parou e transformação se completou!
... Naquele instante, por conta do medo, o silêncio imperou em todos nós. Perdemos também os comandos da fala. Nossas pestanas, braços e pernas, ficaram tesas. Estávamos estáticos diante da descomunalidade do animal!
Ficamos assim: fera e homens se olhando, olho no olho, por um minuto que mais parecia uma eternidade...
O narrador, investindo no nosso pavor, passou a descrever o brutal com mais sensacionalismo.
A princípio ele pediu para que ninguém tivesse medo, pois a jaula era suficientemente forte para aguentar os possíveis solavancos do bicho, caso ele viesse a ficar enfurecido.
Ninguém acreditou... Principalmente eu!
E a descrição macabra continuou!
Nesse ínterim, MONGA deu uma espécie de grunhido e começou a sacolejar as barras de ferro da porta da jaula. O grito da platéia foi mais alto do que a zoada do animal. Nesse exato momento mais uma leva de assistentes saiu correndo para fora da casa de espetáculo com medo do monstro.
Novamente o locutor entrou em cena pedindo, de uma forma “desesperada”, calma ao terrível macaco.
A certa altura não teve mais jeito!
Cada vez mais enraivecido, o gorila findou quebrando o cadeado da jaula e, enlouquecido, partiu para cima do público.
Nessa hora aconteceu de tudo na sala da assistência: as mulheres gritaram histericamente. Alguns homens, assumindo o medo e outras coisas mais, deram até gritinhos de pavor. De uma forma geral, quem permaneceu ali ficou acuado no fundo da saleta.
No nosso caso (éramos cinco pirralhos), aconteceu o previsível, porém de forma espetacular! Contrariando as leis da física, ainda hoje não sabemos explicar de que maneira conseguimos passar, todos de uma só vez, por aquela porta de saída com aproximadamente um metro de largura. Lá fora a debandada foi em leque, ou seja, cada um escapando para um lado diferente. Acho que, de tão rápidos, findamos superando os recordes olímpicos mundiais nas categorias de cem e duzentos metros de distância com barreiras, isto porque, em segundos, atravessamos toda a praça pulando por cima de tudo que era tabuleta de venda existente na nossa frente... Nem nossas sombras esperaram por nós. Mas o pior, aquilo que mais queríamos evitar, o temor maior, a humilhação, por assim dizer, contra nós, “cabras machos”, aconteceu de maneira implacável: a turma da vaia, que do lado de fora vivia à espera desses momentos, foi à loucura deliciando-se com o nosso vexame e caras de pavor. Minutos depois nos reencontramos (todos pálidos de susto) num ponto bem distante daquele tenebroso local.
Em casa custei a dormir. Apavorado, enfrentei altas temperaturas embaixo do lençol, suando feito tampa de panela, até ser vencido pelo sono. Acredito que com a turminha não deve ter sido nada diferente. Medo igual àquele jamais havíamos passado.
A festa acabou.
Aquele parque colorido seguiu viagem mundo afora, encantando e assustando novas crianças e adultos. Ainda hoje comentamos o episódio que, apesar de tudo, fez-nos criar um carinho especial por MONGA. Ele continua sendo uma lenda viva em nossas mentes. Vez por outra, ao ver aquele cenário montado nas festividades populares de muitas cidades, meu pensamento reinicia uma viagem rumo ao tempo da inocência e da felicidade. Até hoje faço absoluta questão de não saber como funciona o segredo dessa transformação. Não quero permitir a mim mesmo a perda dessa saudável inocência.
MONGA, para todos nós que passamos aquele sufoco, continua sendo um grande ídolo que, embora horrendo, não atormenta mais as nossas almas.
Com o tempo, aprendemos que, os verdadeiros monstros de nossas vidas estão hoje vivos nas peles dos nossos falsos líderes; nas vozes dos religiosos mercantis, no nosso desrespeito mútuo e, acima de tudo, na nossa falta de temor a Deus.
Caros leitores, uma salva de palmas para MONGA, ele merece!

A HORA E A VEZ DO NOSSO FUTEBOL

Por Pedro Esmeraldo
Todos os desportistas cratenses se encontram radiantes, alegres, apresentando um quadro vibrante de contentamentos devido o bom desempenho de sua equipe no campeonato estadual da primeira divisão cearense.

Queira Deus que esse quadro não venha mudar de ritmo já que estamos enfrentando uma série de perseguições, causando baixo desempenho de sua equipe, pois a FCF tem como objetivo favorecer outros times em detrimento do Crato, visto que o futebol que estamos esbanjando causa desespero entre as outras equipes, fracas, incompetentes e que não apresentam um bom desempenho futebolístico. O pior é que as nossas autoridades não reagem diante desse descaso, deixam tudo correr frouxo, à revelia, sem esboçar nenhuma reação.

Por isso, o Crato está sendo abençoado por Deus e vem sempre de espírito elevado e consegue êxito, dando mostra de que temos coragem e força suficiente para enfrentarmos o batente e não fugirmos da luta quando aparece qualquer obstáculo.

Houve época em que o Crato possuía grandes craques e que mostrava raça e apresentava bons desempenhos, com jogadas técnicas, pois tinham originalidade e causavam inveja em outras localidades onde se apresentavam, pois tinham originalidade que causavam inveja em outras plagas quando apresentavam magia em suas jogadas céleres em seu magnífico futebol.

Lembramos muito bem desses craques como: Enock, Senhor, Antonio da Pensão, Anduiá, o goleiro Ângelo, o médio Mundinho, o Avante Doutor Ossian, o zagueiro Moacir, o atacante Bebeto, os médios Kleber, Braz e muitos outros, como o armador Peixe e o goleiro Zé Albanito. Deixamos de mencionar outros nomes por falta de espaço.

Agora mesmo, esses valorosos craques do passado merecem figurar no quadro de honra na sede da liga cratense de desportos.

Queremos lembrar que consideramos essa época, como sendo a época de ouro do futebol cratense, já que possuímos os melhores craques mas não tínhamos estádios à altura do nosso futebol, conseqüentemente jogava em estádios improvisados, causando-nos transtorno para formar uma estrutura digna á altura do Crato.

Em tempos passados no final na década de setenta para o início da década de 1980, um grupo de desportistas organizou e solicitou ao então governador Virgílio Távora a construção do estádio do Crato a altura e que seria a redenção do futebol cratense.

O então governador prometeu e construiu o Estádio com muita ênfase, dando estímulo aos desportistas para que praticassem toda meta de esporte, com intuito que a juventude saísse do vício da embriaguez através da prática do esporte.

Infelizmente, um prefeito cafona, pertencente à era trogloditiana, porque não gostava de esporte, ansiava acabar com o estádio, dizendo ele que o seu sonho era transformar esse majestoso estádio num cercado de gado vacum, retirando esse sonho do povo cratense que há tanto almejava.

Graças a Deus e ao bom senso de alguns prefeitos, esse estádio foi sendo recuperado aos poucos, atingindo a sua glória como atual prefeito que se dedicou de corpo e alma à sua reforma, estimulando a prática esportiva até o Crato conseguir a sua glória.

Crato, 22.01.2010

Humilde Espantalho

Talvez o tempo dure
mais de vinte e um dias

para que o meu sangue limpe
e eu consiga andar sozinho.

Não se preocupe com minha alma.
Esqueça aquela onda:

"cadê minha cervejinha,
cadê meu baseado?"

A única prerrogativa
é a verdade

que vejo tremer
nos seus cílios.

Sei que não tem volta segura
como também sei que o meu lar
é sempre adiante.

Pois alcançado
o estágio

em que a loucura
é um lindo berçário

de boas lembranças
e algum silêncio.

Talvez a eternidade
adormeça nos meus versos.

A alma fora do corpo
dentro do espantalho

em cujos ombros
há tempo não pousam
os corvos

distantes,
apenas observam

a brisa da noite
fechar meus olhos

e a minha boca
entreaberta
suspirar o indizível.

Diálogos

O espírito não tem massa.
É igual a macarrão debaixo da língua.

Não ocupa espaço.
Some.

Só assim se explica
o acúmulo de gente morta

em outra vida
céu ou inferno.

Mas se atravessam paredes
meus fantasmas

quem me garante
que desencarnado
não vou eu querer
atravessar papéis
escrever versos?

Se o meu espírito
é de fato um fiapo
de macarrão mole
entre os dentes

então posso ficar tranquilo:
resolve um cafezinho quente.

cadeira de rodas

De tantos poemas escritos
muitos são apenas vértebras.

Mas há um poema
que é a sétima.

Lá se toca
e fica o poeta
paraplégico.

A Feira do Crato da minha infância - por Magali de Figueiredo Esmeraldo.

Lembro-me que evento tão movimentado era a feira do Crato! No domingo à noite, os feirantes já colocavam sacos de feijão, na frente da calçada da casa onde eu morava, para a feira do dia seguinte. A economia do Crato dependia em grande parte dos produtos agrícolas. Os pequenos feirantes tiravam o sustento de suas famílias do resultado dessa feira semanal. Os proprietários das casas comerciais, graças ao aumento do fluxo de pessoas que vinham ao Crato, também se beneficiavam com a feira.

Era uma grande feira que se estendia por várias ruas do centro da cidade, pois naquela época não existia supermercados, só pequenas mercearias. Hoje a situação da feira é outra. Atualmente, embora tenha mudado de local, ainda serve de sustento para algumas poucas famílias e ponto de encontro dos moradores da zona rural. Além do mais, alguns produtos somente são encontrados na feira, como potes de barro, tamboretes, candeeiros e outras pequenas coisas.

No trecho da Rua Dr. João Pessoa onde eu morava, a minha euforia de criança era grande ao ver, já no domingo à noite, aqueles sacos de feijão empilhados sobre a minha calçada, pois sabia que com primos e primas íamos brincar em cima deles. A criatividade era grande, brincar de se esconder, ficar sentados enquanto uma prima nos contava histórias e muitas outras brincadeiras divertidas.

No outro quarteirão para lá da Praça Juarez Távora, chegando ao início da Rua Dr. João Pessoa, era a feira de barro. Era lá nesse trecho, que moravam minhas primas, que fizeram parte da minha infância. Na casa delas, muitos feirantes guardavam suas panelas de barros empilhadas no quintal para venderem na próxima feira. A mãe delas, por ser muito solidária, tinha a boa vontade de emprestar o quintal para os vendedores. Eu, na minha peraltice de criança, certa vez resolvi subir num pé de seriguela existente no quintal da casa das minhas primas, para logo em seguida cair, quebrando todas as panelas de barro que forravam o chão abaixo da árvore. Fiquei por alguns segundos sem fala, deixando todos nervosos e alvoroçados. Passado o susto maior, a gargalhada foi geral, porque eu na minha dificuldade de falar, a primeira coisa que disse foi: “Estou sem fala!” Depois desse sufoco, eu tive de ir para casa contar o que aconteceu ao meu pai e minha mãe, que além da preocupação com minha queda, tiveram que arcar com o prejuízo pagando aos pequenos comerciantes.

Na segunda-feira, logo ao amanhecer o dia, já se ouvia o barulho do pessoal arrumando as barracas para o início da feira. Ficava me distraindo vendo na parede do quarto, através da réstia do sol, pessoas se movimentando na rua. Imaginava estar assistindo um filme, devido às formas serem tão perfeitas. Era hora de me levantar para ir à aula e cumprir minhas tarefas de estudante. Quando voltasse, tinha a tarde toda, para me debruçar na janela da frente da casa e observar os transeuntes, porém antes tinha que fazer os deveres de casa.

A feira era o ponto de encontro do pessoal do campo que, além de fazer suas compras, aproveitavam para conversar. O dia era de animação para todos. Quando anoitecia os feirantes cansados, mas felizes desmontavam as barracas, varriam o local e deixavam em ordem. Tudo recomeçaria na próxima semana.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Paul Newman



Paul Leonard Newman (Shaker Heights, 26 de janeiro de 1925 — Westport, 26 de setembro de 2008) foi um ator e diretor cinematográfico estado-unidense.

Filho de um bem sucedido comerciante de artigos esportivos, Newman começou a carreira em peças do colégio e, após obter a dispensa da marinha americana em 1946, foi estudar no Kenyon College. Após a formatura, ele passou um ano na Yale Drama School indo depois para Nova Iorque, onde entrou para a renomada escola de formação de atores Actors Studio, dirigida por Lee Strasberg.
Depois de sua primeira aparição na Broadway em Picnic (1953), foi-lhe oferecido um contrato pela Warner Bros.. Seu primeiro filme, Cálice Sagrado (1954) foi quase o seu último: considerou sua performance muito ruim e publicou um anúncio de página inteira num jornal pedindo desculpas a quem tivesse visto o filme.

Saiu-se muito melhor na sua segunda tentativa, em Marcado pela Sarjeta (1956), no Brasil, onde deu vida ao boxeador Rocky Graziano e foi aclamado pela crítica por sua grande atuação.

Com Gata em Teto de Zinco Quente e O Mercador de Almas (cuja atuação lhe valeu o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes estabelecendo-o como novo astro de Hollywood no fim dos anos 50, Paul tornou-se um líder de bilheterias da década seguinte estrelando filmes como Desafio à Corrupção (1961), Criminosos Não Merecem Prêmio (1963), O Indomado (1963), Rebeldia Indomável (1967) e Hombre (1967), fechando os anos 1960 com o mega sucesso de crítica e bilheteria mundial Butch Cassidy / Dois Homens e um Destino (1969), ao lado de Robert Redford.

A dupla trabalharia junta quatro anos depois em Golpe de Mestre / A Golpada de George Roy Hill, outro grande sucesso de Newman e vencedor do Oscar de melhor filme de 1973.

Também produziu e dirigiu muitos filmes de qualidade, incluindo Rachel, Rachel (1968) onde dirigiu sua esposa, Joanne Woodward e ganhou o Globo de Ouro de melhor diretor. Indicado dez vezes pela Academia como melhor ator, finalmente venceu por sua atuação em A Cor do Dinheiro (1986). Por curiosidade, no ano anterior havia recebido um Oscar especial pelo conjunto da carreira.

Outros filmes importantes de Paul Newman são: Gata em Teto de Zinco Quente (1958), O Mercador de Almas (1958), Exodus (1960), Doce Pássaro da Juventude , onde refez no cinema o mesmo papel que já havia feito na Broadway (1962), Cortina Rasgada (1966), Torre do Inferno / Inferno na Torre (1974), Ausência de Malícia (1981) e O Veredicto (1982).

Fazendo menos filmes nos anos 1990, e se dedicando mais à sua fábrica de molhos e condimentos, Newman's Own (com a qual ganhou mais dinheiro que no cinema, porém dedicou quase todo o lucro à caridade e à sua equipe de corridas), Paul reapareceu em grande estilo, já aos 77 anos, em Estrada para Perdição (2002), trabalhando com Tom Hanks e o futuro James Bond, Daniel Craig, e foi novamente indicado ao Oscar, desta vez como ator coadjuvante. Em 1995, ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim como melhor ator no filme O Indomável - Assim é Minha Vida


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Antonio Callado



ANTONIO CALLADO (1917-1997)

VIDA: Antonio Carlos Callado nasceu em Niterói, sendo filho de uma família de alta classe média. Seu pai, que era médico, sofria de tuberculose pulmonar e mudou-se com a família para Petrópolis, em busca de um clima mais saudável, mas veio a falecer em 1928, fato que obrigou Callado a trabalhar desde cedo como jornalista. Mesmo assim, o futuro romancista continuou seus estudos, formando-se em Direito alguns anos depois. Sua carreira profissional, no entanto, deu-se na imprensa: passou de repórter a redator-chefe do extinto Correio da Manhã. Em 1941 foi para Londres e lá exerceu a função de correspondente de guerra da BBC, emissora na qual permaneceu por vários anos. Em 1947, retornou ao Brasil e à redação do Correio da Manhã. Viajou por muitos lugares, entre os quais o Nordeste, o Xingu, Cuba, o Vietnã, sempre produzindo reportagens de grande repercussão. Contudo, seus primeiros romances, publicados na década de 1950, não tiveram o mesmo êxito. O sucesso literário veio apenas com Quarup, que se constituiu num acontecimento político, quando de seu lançamento, em 1967. Apesar de seus hábitos quase aristocráticos e tímidos, Antônio Callado tornou-se uma estrela da esquerda intelectual brasileira, sendo várias preso durante a ditadura. Faleceu no Rio de Janeiro, aos oitenta anos.

OBRAS PRINCIPAIS: Assunção de Salviano (1954); A Madona de cedro (1957); Quarup (1967); Bar Don Juan (1971); Reflexos do baile (1976); Sempreviva (1981); A expedição Montaigne (1982).

Escritor que sempre transitou do jornalismo para a literatura, e vice-versa, Antonio Callado procurou em suas obras mais importantes, aproveitar o material que sua vasta experiência como repórter lhe fornecera. Após lançar dois romances de qualidade apenas regular (Assunção de Salviano e A Madona de cedro), surpreendeu os meios literários com a publicação de Quarup, em 1967. O clima da época (polarização política, enfrentamento entre setores da sociedade civil e o regime autoritário), garantiu à obra de Callado extraordinária ressonância.

O enredo do romance centra-se na figura do padre Nando, que vive num mosteiro, no
Recife, e alimenta a idéia de criar com os índios, na floresta amazônica, uma sociedade utópica (no modelo das reduções jesuíticas do século XVIII). Não se atreve, porém, a viajar rumo ao coração do Brasil, pois teme não resistir ao espetáculo da nudez das índias e pecar contra a castidade. Mas uma amiga inglesa, resolve o problema de Nando, iniciando-o sexualmente.

Pronto para ir ao Xingu, Nando passa uma temporada no Rio de Janeiro, onde entra em contato com integrantes do Serviço de Proteção ao Índio (hoje FUNAI). Ali amplia suas experiências sexuais e participa de sessões em que as pessoas (inclusive ele) se drogam com lança-perfume. Finalmente, a expedição parte para o Xingu. Outros personagens adquirem relevo na narrativa: Ramiro, um dos chefes do SPI, sua sobrinha e secretária, Vanda, a jovem Sônia, que todos os homens desejam fisicamente e que acaba fugindo com um índio, o sertanista Fontoura, etc.

No capítulo seguinte do romance – passado alguns anos – todos retornam ao Xingu (menos Sônia), querem demarcar o centro geográfico do Brasil. A nova participante é a jovem Francisca, recém-chegada da Europa e cujo noivo Levindo fora morto pela polícia por razões políticas. Nando se apaixona por ela e os dois se relacionam sexualmente dentro da floresta. Neste capítulo ocorrem as cenas mais dramáticas do romance, como a destruição coletiva de um tribo, atingida pelas doenças trazidas pelos brancos (os índios se “dissolvem” em terríveis diarréias), e a morte do sertanista Fontoura, bêbado, o rosto sobre um gigantesco formigueiro, bem no centro geográfico do Brasil, como se as formigas corroessem o coração do país.

Depois disso, Nando abandona a batina e retorna a Pernambuco com Francisca que vai trabalhar na alfabetização de camponeses. Ocorre então golpe de 1964 e Nando é preso. Quando o soltam, Francisca havia retornado para a Europa. O ex-padre dedica-se então a uma pitoresca vida de “apóstolo do amor”, relacionando-se com inúmeras mulheres e ensinado sua (agora refinada) técnica sexual a pescadores e a gente do povo. No final do romance, Nando decide partir para o sertão, a fim de integrar um movimento guerrilheiro de oposição à ditadura, adotando o codinome de Levindo, o antigo noivo de Francisca.

O QUE OBSERVAR

-No romance estão todos os assuntos que então dominavam o debate político e existencial: a mudança de perspectiva da Igreja a respeito da questão social, as luta dos estudantes e das Ligas Camponesas, as razões do golpe de 1964, a revolução sexual, o feminismo, a proteção aos índios, a guerrilha, as drogas, etc.

-O quadro histórico – traçado com bastante nitidez – tem peso direto no desenvolvimento da narrativa, abrangendo acontecimentos que transcorrem do governo democrático de Getúlio Vargas ao ditatorial de Castelo Branco. O escritor parece alimentar a idéia de fazer de Quarup uma suma da sociedade brasileira nas décadas de 1950 e 1960, na linha dos romances totalizantes do realismo europeu do século XIX.

- O resultado do ambicioso projeto de Antônio Callado, todavia, é problemático. Há no romance um tal acúmulo de ações, muitas das quais inúteis ou inverossímeis, uma tal profusão de caracteres mal trabalhados, a começar pela própria psicologia do padre Nando – que passa da castidade ao furor orgíaco com a maior naturalidade e sem nenhum drama interior – que a impressão final do leitor é de perplexidade. Como numa montanha-russa, Quarup alterna vertiginosamente altos e baixos, acertos esplêndidos (algumas cenas eróticas, as passagens em que os brancos representam o apocalipse para os indígenas e a construção dramática do impasse do sertanista Fontoura ao se dar conta que “contatar” os índios era necessariamente destruí-los), e passagens menores, quase ridículas (Nando assumindo a condição de professor de sexo, a cosmopolita Sônia fugindo da civilização e embrenhando-se nos confins da floresta com um índio, etc).

- Outro aspecto questionável em Quarup é a tentativa do autor de mesclar um estilo real-naturalista com freqüentes monólogos interiores e certos delírios verbais que hoje parecem gratuitos. O resultado desta mistura nem sempre é literariamente equilibrado e convincente.

- Um elemento positivo do romance e que funciona como representação artisticamente fiel da realidade é a “desalienação”(Ferreira Gullar) de Nando, que deixa de sonhar com uma utopia indianista e passa a lutar pelos desvalidos nordestinos. Este processo traduz claramente as mudanças que se verificam na Igreja, na década de 1960, com a crescente politização de seus sacerdotes.

- A proposição melhor realizada do romance é a identificação do centro do país não apenas como metáfora da plena integração nacional, mas também da descoberta de um sentido de vida para cada personagem que participa da expedição ao Xingu. Estabelece-se, assim, uma ligação umbelical entre as existências individuais e o destino do Brasil. Por isso, a morte do sertanista Fontoura com o rosto enfiado dentro do grande formigueiro, onde ficará o marco do centro do país, é a derrocada simbólica de um sonho de unidade e de desenvolvimento da nação e um augúrio pessimista a respeito dos acontecimentos que, na década seguinte (1960), traumatizariam os brasileiros.

* Quarup é o ritual indígena de celebração dos mortos. Mas, ao invés de lamentações, os índios realizam uma grande festa em homenagem aos que partiram (bebida, comida, alegria), pois neste dia eles revivem. Trata-se, portanto, de um ritual de renascimento.

REFLEXOS DO BAILE

A crise geral dos anos de 1970 parece tornar inviável a formulação neo-realista, predominantes nos romances anteriores de Antonio Callado, e encontra sua tradução no caótico Reflexos do baile (1976). O autor tenta compor um mosaico de época, centrando sua narrativa no seqüestro de um embaixador durante um baile de gala. Guerrilheiros, diplomatas, familiares de ambos os grupos e policiais misturam-se e se revelam parcialmente através de falas alternadas, bilhetes e cartas, criando uma fragmentação de tal ordem que o entendimento do enredo só se torna possível no final da obra. À confusão formal soma-se uma visão de mundo igualmente estilhaçada e nebulosa, fazendo com que o romance não tenha um eixo que lhe dê equilíbrio, tornando-se bastante confuso.

As demais obras ficcionais de Antonio Callado, produzidas nas décadas de 70 e 80 não acrescentaram nada de fundamental à sua carreira.

literatura contemporânea

Versos em papel molhado - por Edilma Rocha

Meus versos
São feito papel molhado
Esmagados sem toque
De puras mãos
Pelas lágrimas
De um amor sem razão,
São ternuras
São caricias
São paixão
Despedaçados e moldados
Pela ilusão.
Papel em pedaços
Secos ao vento
Que levaram para Longe
Na poesia da canção
Amores de um triste coração.
A poesia volta teimosa
A procura de razão
Pra escrever novamente
Nas lágrimas da ilusão
Feito papel molhado
Que voltaram da emoção
Brotando novamente
De um triste coração.

Mulher bunda mole - patrícia Travassos



Belinha acordou às seis, arrumou as crianças, levou-as para o colégio e voltou para casa a tempo de dar um beijo burocrático em Artur, o marido, e de trocarem cheques, afazeres e reclamações.

Fez um supermercado rápido, brigou com a empregada que manchou seu vestido de seda, saiu como sempre apressada, levou uma multa por estar dirigindo com o celular no ouvido e uma advertência por estacionar em lugar proibido, enquanto ia, por um minuto, ao caixa automático tirar dinheiro.

No caminho do trabalho batucava ansiedade no volante, num congestionamento monstro, e pensava quando teria tempo de fazer a unha e pintar o cabelo antes que se transformasse numa mulher grisalha.

Chegando ao escritório, foi quase atropelada por uma gata escultural que, segundo soube, era a nova contratada da empresa para o cargo que ela, Belinha, fez de tudo para pegar, mas que, apesar do currículo excelente e de seus anos de experiência e dedicação, não conseguiu.

Pensou se abdomem definido contaria ponto, mas logo esqueceu a gata, porque no meio de uma reunião ligaram do colégio de Clarinha, sua filha mais nova, dizendo que ela estava com dor de ouvido e febre.

Tentou em vão achar o marido e, como não conseguiu, resolveu ela mesma ir até o colégio, depois do encontro com o novo cliente, que se revelou um chato, neurótico, desconfiado e com quem teria que lidar nos próximos meses.

Saiu esbaforida e encontrou seu carro com pneu furado.

Pensou em tudo que ainda ia ter que fazer antes de fechar os olhos e sonhar com um mundo melhor.

Abandonou a droga do carro avariado, pegou um táxi e as crianças.

Quando chegou em casa, descobriu que tinha deixado a porra da pasta com o relatório que precisava ler para o dia seguinte no escritório!

Telefonou para o celular do marido com a esperança que ele pudesse pegar os malditos papéis na empresa, mas a bosta continuava fora de área.

Conseguiu, depois de vários telefonemas, que um motoboy lhe trouxesse a porra dos documentos.

Tomou uma merda de banho, deu a droga do jantar para as crianças, fez a porcaria dos deveres com os dispersos e botou os monstros para dormir.

Artur chegou puto de uma reunião em São Paulo, reclamando de tudo. Jantaram em silêncio.

Na cama ela leu metade do relatório e começou a cabecear de sono. Artur a acordou com tesão, a fim de jogo. Como aqueles momentos estavam cada vez mais raros no casamento deles, ela resolveu fazer um último esforço de reportagem e transar.

Deram uma meio rápida, meio mais ou menos, e, quando estava quase pegando no sono de novo, sentiu uma apalpadinha no seu traseiro com o seguinte comentário:

- Tá ficando com a bundinha mole, Belinha... deixa de preguiça e começa a se cuidar..

Belinha olhou para o abajur de metal e se imaginou martelando a cabeça de Artur até ver seus miolos espalhados pelo travesseiro!

Depois se viu pulando sobre o tórax dele até quebrar todas as costelas! Com um alicate de unha arrancou um a um todos os seus dentes depois deu-lhe um chute tão brutal no saco, que voou espermatozóide para todos os lados!

Em seguida usou a técnica que aprendeu num livro de auto-ajuda: como controlar as emoções negativas.

Respirou três vezes profundamente, mentalizando a cor azul, e ponderou. Não ia valer a pena, não estamos nos EUA, não conseguiria uma advogada feminista caríssima que fizesse sua defesa alegando que assassinou o marido cega de tensão pré-menstrual...

Resolveu agir com sabedoria.

No dia seguinte, não levou as crianças ao colégio, não fez um supermercado rápido, nem brigou com a empregada. Foi para uma academia e malhou duas horas.

De lá foi para o cabeleireiro pintar os cabelos de acaju e as unhas de vermelho. Ligou para o cliente novo insuportável e disse tudo que achava dele, da mulher dele e do projeto dele.

E aguardou os resultados da sua conduta, fazendo uma massagem estética que jura eliminar, em dez sessões, a gordura localizada.

Enquanto se hospedava num spa, ouviu o marido desesperado tentar localiza-lá pelo celular e descobrir por que ela havia sumido.
Pacientemente não atendeu. E, como vingança é um prato que se come frio, mandou um recado lacônico para a caixa postal dele.

- A bunda ainda está mole. Só volto quando estiver dura.

Um beijo da preguiçosa...

(Extraído do livro: Este sexo é feminino /Patrícia Travassos).



Assis Landim , Abraços de parabéns do Cariricaturas



Dia 23/01/2010, uma grande data comemorada: o aniversário do MAIOR memorialista do Crato: ASSIS LANDIM.

Heládio teles Duarte



O Pio da Coruja

- Cortou as unhas ? Ainda bem !
Quanto aos anéís...
eles não são necessários.
O cavanhaque ... está fora de moda.

- Dentes amarelos?
É só escová-los três vezes ao dia
com um bom dentifrício,
e o hálito terá um aroma de flores.

- Está renovando o seu harém?
Ótimo!É bom sair da rotina !

- As lagartixas se foram ?
Que seja um besouro ...
"Quem não tem cão, caça com gato".

- Lá se foi o esquilo ?
Peça a ele para trazer de volta a sua "muda".
Diga-lhe que você se arrependeu,
e precisa dela.

- Deu a louca na floresta,
e é tarde na noite do poeta?
- Ouça o pio da coruja!

- Passe esmalte nas unhas ...
uma leve embriaguês, e elas ficarão mais bonitas.

Aí, então você verá
que a Mentira dará lugar à Fantasia.



por Corujinha Baiana