Criadores & Criaturas



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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A Feira do Crato da minha infância - por Magali de Figueiredo Esmeraldo.

Lembro-me que evento tão movimentado era a feira do Crato! No domingo à noite, os feirantes já colocavam sacos de feijão, na frente da calçada da casa onde eu morava, para a feira do dia seguinte. A economia do Crato dependia em grande parte dos produtos agrícolas. Os pequenos feirantes tiravam o sustento de suas famílias do resultado dessa feira semanal. Os proprietários das casas comerciais, graças ao aumento do fluxo de pessoas que vinham ao Crato, também se beneficiavam com a feira.

Era uma grande feira que se estendia por várias ruas do centro da cidade, pois naquela época não existia supermercados, só pequenas mercearias. Hoje a situação da feira é outra. Atualmente, embora tenha mudado de local, ainda serve de sustento para algumas poucas famílias e ponto de encontro dos moradores da zona rural. Além do mais, alguns produtos somente são encontrados na feira, como potes de barro, tamboretes, candeeiros e outras pequenas coisas.

No trecho da Rua Dr. João Pessoa onde eu morava, a minha euforia de criança era grande ao ver, já no domingo à noite, aqueles sacos de feijão empilhados sobre a minha calçada, pois sabia que com primos e primas íamos brincar em cima deles. A criatividade era grande, brincar de se esconder, ficar sentados enquanto uma prima nos contava histórias e muitas outras brincadeiras divertidas.

No outro quarteirão para lá da Praça Juarez Távora, chegando ao início da Rua Dr. João Pessoa, era a feira de barro. Era lá nesse trecho, que moravam minhas primas, que fizeram parte da minha infância. Na casa delas, muitos feirantes guardavam suas panelas de barros empilhadas no quintal para venderem na próxima feira. A mãe delas, por ser muito solidária, tinha a boa vontade de emprestar o quintal para os vendedores. Eu, na minha peraltice de criança, certa vez resolvi subir num pé de seriguela existente no quintal da casa das minhas primas, para logo em seguida cair, quebrando todas as panelas de barro que forravam o chão abaixo da árvore. Fiquei por alguns segundos sem fala, deixando todos nervosos e alvoroçados. Passado o susto maior, a gargalhada foi geral, porque eu na minha dificuldade de falar, a primeira coisa que disse foi: “Estou sem fala!” Depois desse sufoco, eu tive de ir para casa contar o que aconteceu ao meu pai e minha mãe, que além da preocupação com minha queda, tiveram que arcar com o prejuízo pagando aos pequenos comerciantes.

Na segunda-feira, logo ao amanhecer o dia, já se ouvia o barulho do pessoal arrumando as barracas para o início da feira. Ficava me distraindo vendo na parede do quarto, através da réstia do sol, pessoas se movimentando na rua. Imaginava estar assistindo um filme, devido às formas serem tão perfeitas. Era hora de me levantar para ir à aula e cumprir minhas tarefas de estudante. Quando voltasse, tinha a tarde toda, para me debruçar na janela da frente da casa e observar os transeuntes, porém antes tinha que fazer os deveres de casa.

A feira era o ponto de encontro do pessoal do campo que, além de fazer suas compras, aproveitavam para conversar. O dia era de animação para todos. Quando anoitecia os feirantes cansados, mas felizes desmontavam as barracas, varriam o local e deixavam em ordem. Tudo recomeçaria na próxima semana.

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

10 comentários:

Unknown disse...

Ouvir a narração de fatos como este me faz transborda o peito de tanta saudade que tenho do Crato e, da infância, particularmente. Não conheço quem escreveu o texto, mas me identifico profundamente com cada palavra e cada sentimento que transparece na forma de escrever.
Que mais textos como estes venham para que eu possa me deleitar com a leitura. Um forte abraço a todos do Cariri(caturas).

Anônimo disse...

Edivangela,

É um prazer lhe conhecer! Sou do Crato, mas moro em Fortaleza há vinte anos. Como é perto, viajo muito para a nossa terrinha, a fim de visitar a família e matar as saudades. Que bom que o meu texto serviu para você reviver os bons momentos da infância e matar as saudades do Crato!
Obrigada por ter lido esse pequeno trecho das minhas memórias.

Atenciosamente

Magali

Corujinha Baiana disse...

Magali,

Aqui, no Cariricaturas,quanta coisa eu tenho aprendido sobre o Crato, mas só agora conheci a feira da sua infância, e que deve ser a de tantos outros cratenses.
Foi muito bom ler o seu texto.

Um abraço,
Corujinha

Anônimo disse...

Obrigada Corujinha Baiana!

Acho que todos o cratenses aqui do Cariricaturas se sentirão honrados com a sua visita ao Crato.

Abraços

Magali

Edilma disse...

Magali,
Quantas andancas a feira para comprar panelinhas de barro para os quisados eu fiz na minha infancia. Acho que despertei o prazer da gastronomia nas panelinhas da feira do Crato.
Obrigada pelas doces lembrancas.
Beijo !

Anônimo disse...

Edilma,

Que bom que lhe fiz recordar os bons momentos da infância!
Obrigada pelo incentivo.

Abraços

Magali

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Querida Magali

Parabéns pelo texto e pela memória. Ri muito com você sem fala, conseguindo dizer que estava sem fala. Lembrei-me de quando você disse "que nem de morrer gosta"..
Beijos

Anônimo disse...

Carlos,

Obrigada pelo apoio de todas as horas!

Beijos

Magali

Claude Bloc disse...

Magali,

Uma das melhores lembranças que tenho do Crato é exatamente da feira nas segundas-feiras. Eu recebia uma mesada de pra ir pro cinema, pra tomar sorvete ou picolé, e guardava uns trocados pra comprar besteirinhas toda segunda-feira. Calunga, quebra-queixo, brinco, chaveiros ... só bobagem, mas como era gostoso estar ali.

Obrigada por me trazer de volta o sabor desses momentos.

Abraço,

Claude

Anônimo disse...

Claude,


Lembra-se das bonecas de panos que eram chamada de bruxas? Na época não tinha filmadora, máquina fotográfica
digital para guardarmos todas essas lembranças, mas temos a nossa memória. As máquinas fotográficas eram poucas pessoas que possuíam. Era mais para os fotógrafos profissionais.
Mais adiante é que o uso ficou mais popular.
Obrigada!

Abraços


Magali