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A propósito, lembro de história que, um dia, ouvi de certo antropólogo americano, não lhe recordo o nome, que viajava pelas tribos da Amazônia e entrevistara velho pajé a respeito dos sonhos. Na entrevista, perguntou ao indígena do poder que as pessoas possuem de entrarem nos sonhos das outras.
Sem titubear, o feiticeiro respondeu que sim, as pessoas podem entrar nos sonhos das outras pessoas, acrescentando em seguida que iria demonstrar, na prática, ao pesquisador, o que estava afirmando naquele momento. Que entraria em um dos seus sonhos para provar o que dissera.
Depois de o professor seguir a outros locais de estudos, retornou à região alguns meses transcorridos desde então. Ali, de novo, se avistou com o pajé da entrevista. Nessa hora, o próprio selvagem foi quem tomou a iniciativa de lembrar o mesmo assunto dos sonhos, e perguntou:
- O senhor recorda de um sonho que outro dia teve, e que nele apareceu uma onça pintada em movimento dentro da floresta?
Após concentrar o pensamento, confirmou o antropólogo aquele sonho que, com clareza, vivenciara no intervalo de tempo após haver encontrado o pajé pela primeira vez.
- Pois aquela onça era eu – assim e naturalmente retribuiu o índio antigo.
Observo, contudo, a margem infinita dos conhecimentos em adquirir, nas jornadas da experiência, o domínio de si sob os mistérios que, a todo o momento, surgem nas portas da transformação, espaço do crescimento individual comum e fértil.
E concluo indagando aquilo mesmo que quis saber do índio o estudioso americano:
- É possível a uma pessoa entrar nos sonhos das outras pessoas?