Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Olha o papagaio aí, gente!!! - Por Roberto Jamacaru

O status social que atribui ao indivíduo uma condição de distinção, prestígio ou situação de hierarquia em meio a um grupo de pessoas, sempre foi objeto de ambição do sonho humano.
Essa questão torna-se saudável quando o usufruto dela gera no indivíduo comportamento altivo onde a posição atingida venha a produzir ações respeitosas e produtivas cujo resultado satisfaça aos anseios de todos.

Para tanto o homem precisa conhecer seus limites a fim de que possa controlar os impulsos do ego evitando tornar-se uma referência de pura vaidade. E isso é necessário para que seja evitado o estado do abuso, do ridículo e do constrangimento tão comuns nas pessoas de personalidades inseguras.

Somos mais felizes quando convivemos em um grupo de pessoas onde temos, de forma igualitária, poder de opinião e participação. Onde também temos condição de bancar os custos e as consequências dessa convivência.

Desconhecendo essa lógica, muitos se arvoram em se projetar em determinados circuitos fechados da sociedade aonde, para tanto, chegam ao estado da humilhação exacerbada a fim de serem aceitos.

A essas pessoas a coletividade, numa atitude um tanto desprezível e humorada, tem atribuído o nome patético, ridículo e risível de papagaio!

E tem papagaio para tudo que é condição social.

Um deles é o papagaio político que, numa ânsia de projetar-se entre os poderosos, faz de tudo para estar sempre aos seus lados, principalmente nos clichês fotográficos. Nos palanques das solenidades públicas, a figura proeminente, sempre atrás da autoridade maior, é a dele.

Papagaios de cinema... São aqueles que, nas salas de projeções, estão sempre a dizer, em voz alta, piadas medíocres a fim de chamarem atenção para si.

Papagaios fúnebres... Esses, com o intuito de fazerem uma média com a família do falecido (Os políticos são mestres nisso), não perdem uma cerimônia de enterro. Muitos chegam até a discursar e a chorar, copiosamente!

Papagaio de reunião... Seus apartes são tantos que atrapalham e irritam qualquer orador que esteja falando no momento da solenidade. Com essa postura ele visa tornar-se o centro das tensões deixando o discursador em segundo plano.

Papagaio de TV... Basta uma câmera ligada que ele se posiciona automaticamente ao lado do entrevistado.

Mas, o limite do ridículo, fica mesmo como o Papagaio Social. Na busca desesperada da elevação de seu status, ele não pode ouvir um “click” de uma máquina fotográfica que rapidamente se posiciona ao lado dos famosos e donos das festas com o intuito de aparecer nas colunas sociais. Enlouquece quando não é convidado para um evento repleto de personalidades, mas, com ou sem convite, está sempre presente em todas as festas da alta sociedade. Temendo o ostracismo, chega até a pagar matérias em revistas e jornais para que todos vejam sua imagem em evidência marcando presença nos ritos sociais. Nesses enfoques, em sincronia com o brilho excessivo de seus olhos, destaca-se o seu sorriso, sempre mais aberto do que o da personalidade posicionada ao seu lado. Para bancar essas suas investidas, ele chega a dever a agiotas, a passar necessidades em casa, a estourar os limites de seus cartões de créditos e cheques especiais, pois, o importante, é estar chique, é ser chique e viver sempre chique!

Nada contra o estilo de vida de cada pessoa, mas um ditado popular sinaliza para que sejamos apenas aquilo que na realidade somos e não aquele sujeito caricato vítima da gozação, do burlesco e do escárnio dos outros.

Cada macaco no seu galho!
Roberto Jamacaru
Que se chama solidão
- Lygia Fagundes Telles -


Chão da infância. Algumas lembranças me parecem fixadas nesse chão movediço, as minhas pajens. Minha mãe fazendo seus cálculos na ponta do lápis ou mexendo o tacho de goiabada ou ao piano; tocando suas valsas. E tia Laura, a viúva eterna que foi morar na nossa casa e que repetia que meu pai era um homem instável. Eu não sabia o que queria dizer instável mas sabia que ele gostava de fumar charutos e gostava de jogar. A tia um dia explicou, esse tipo de homem não consegue parar muito tempo no mesmo lugar e por isso estava sempre sendo removido de uma cidade para outra como promotor. Ou delegado. Então minha mãe fazia os tais cálculos de futuro, dava aquele suspiro e ia tocar piano. E depois, arrumar as malas.

— Escutei que a gente vai se mudar outra vez, vai mesmo? perguntou minha pajem Maricota. Estávamos no quintal chupando os gomos de cana que ela ia descascando. Não respondi e ela fez outra pergunta: Sua tia vive falando que agora é tarde porque a Inês é morta, quem é essa tal de Inês?

Sacudi a cabeça, não sabia. Você é burra, Maricota resmungou cuspinhando o bagaço. Fiquei olhando meu pé amarrado com uma tira de pano, tinha sempre um pé machucado (corte, espinho) onde ela pingava tintura de iodo (ai, ai!) e depois amarrava aquele pano. No outro pé, a sandália pesada de lama. Essa pajem era uma órfã que minha mãe recolhera, tive sempre uma pajem que me dava banho, me penteava (papelotes nas festas) e me contava histórias até que chegasse o tempo da escola. Maricota era preta e magra, a carapinha repartida em trancinhas com uma fita amarrada na ponta de cada trancinha. Não sei da Inês mas sei do seu namorado, tive vontade de responder. Ele tem feição de cavalo e é trapezista no circo do leão desdentado. Estava sabendo também que quando ela ia encontrar o trapezista, soltava as trancinhas e escovava o cabelo até vê-lo abrir-se em leque como um sol negro. Fiquei quieta. Tinha procissão no sábado e era bom lembrar que eu ia de anjo com asas de penas brancas (meu primeiro impulso de soberba) enquanto que as asas dos outros anjos eram de papel crepom.

— Corta mais cana, pedi e ela levantou-se enfurecida: Pensa que sou sua escrava, pensa? A escravidão já acabou!, ficou resmungando enquanto começou a procurar em redor, estava sempre procurando alguma coisa e eu saía atrás procurando também, a diferença é que ela sabia o que estava procurando, uma manga madura? Jabuticaba? Eu já tinha perguntado ao meu pai o que era isso, escravidão. Mas ele soprou a fumaça para o céu (dessa vez fumava um cigarro de palha) e começou a recitar uma poesia que falava num navio cheio de negros presos em correntes e que ficavam chamando por Deus. Deus, eu repeti quando ele parou de recitar. Fiz que sim com a cabeça e fui saindo, Agora já sei.

— Sábado tem procissão, eu lembrei. Vai me fazer papelote?

— Vamos ver, ela disse enquanto juntava os bagaços da cana no avental. Foi até a lata de lixo. E de repente riu sacudindo o avental: Depressa, até a casa da Juana Louca, quem chegar por último vira um sapo! Eram as pazes. Levantei-me e saí correndo atrás dela, sabia que ia perder mas ainda assim apostava.

Quando não aparecia nada melhor a gente ia até o campo para colher flores que Maricota enfeixava num ramo e, com cara de santa, oferecia à Madrinha, chamava minha mãe de Madrinha. Às vezes, ela desenhava com carvão no muro as partes dos meninos e mostrava, É isto que fica no meio das pernas, está vendo? É isto! Mas logo passava um trapo no muro e fazia a ameaça, Se você contar você me paga!

Depois do jantar era a hora das histórias fantásticas. Na escada que dava para a horta, instalavam-se as crianças com a cachorrada, eram tantos os cachorros que a gente não sabia que nome dar ao filhote da última ninhada da Keite, acabou sendo chamado de Hominho, era um macho. Foi nessa época que apareceu a Filó, uma gata meio doida que acabou amamentando os cachorrinhos porque a Keite estava com crise e rejeitou todos. Cachorro também tem crise, avisou tia Laura olhando pensativa para a Keite que dava mordidas no filhote que vinha procurar suas tetas.

As histórias apavorantes das noites na escada. Eu fechava os olhos-ouvidos nos piores pedaços e o pior de todos era mesmo aquele, quando os ossos da alma penada iam caindo diante do viajante que se abrigou no casarão abandonado. Noite de tempestade, vinha o vento uivante e apagava a vela e a alma penada ameaçando cair, Eu caio! Eu caio! — gemia a Maricota com a voz fanhosa das caveiras. Pode cair! ordenava o valente viajante olhando para o teto. Então caía um pé ou uma perna descarnada, ossos cadentes pulando e se buscando no chão até formar o esqueleto. Em redor, a cachorrada latindo, Quer parar com isso? gritava a Maricota sacudindo e jogando longe o cachorro mais exaltado. Nessas horas sempre aparecia um dos grandes na janela (tia Laura, tio Garibaldi?) para impor o respeito.

Quando Maricota fugiu com o trapezista eu chorei tanto que minha mãe ficou preocupada: Menina mais ingrata aquela! Acho cachorro muito melhor do que gente, ela disse ao meu pai enquanto ia arrancando os carrapichos do pêlo do Volpi que já chegava gemendo, ele sofria com antecedência a dor da retirada de carrapichos e bernes.

A pajem seguinte também era órfã mas branca. Falava pouco e também não sabia ler mas ouvi minha mãe prometer (como prometeu à outra), Eu vou te ensinar. Chamava-se Leocádia. Quando minha mãe tocava piano ela parava de fazer o que estava fazendo e vinha escutar: Madrinha, por favor, toca "O sonho de Lili"!

Leocádia não sabia contar histórias mas sabia cantar, aprendi com ela a cantiga de roda que cantarolava enquanto lavava roupa:

Nesta rua nesta rua tem um bosque
Que se chama que se chama Solidão.
Dentro dele dentro dele mora um Anjo
Que roubou que roubou meu coração.

— Menina afinada, tem voz de soprano, disse tia Laura batendo com o leque na mesa, estava sempre se abanando com o leque. Soprano, soprano! fiquei repetindo e correndo em redor de Leocádia que ria aquele riso de dentes fortes e perguntava o que era soprano e eu também não sabia mas gostava das palavras desconhecidas, Soprano, soprano!

— Vem brincar, Leocádia! eu chamava e ela ria e dava um adeusinho, Depois eu vou! Fiquei sondando, e o namorado? Da Maricota eu descobri tudo mas dessa não descobri nada.

Morávamos agora em Apiaí, depois da mudança tão comprida, com o piano no gemente carro-de-boi. Isso sem falar nos vasos de plantas e na cachorrada que veio no caminhão com a Leocádia e mais a Custódia, uma cozinheira meio velha que mascava fumo e sabia fazer o peru de Natal. Meu pai, a tia e minha mãe comigo no colo, todos amontados no tal fordeco meio escangalhado que meu pai ganhou numa rifa. Com o carcereiro guiando, era o único que sabia guiar.

Apiaí e a escola das freirinhas. Quando nessa tarde voltei da escola, encontrei todo mundo de olho arregalado e falando baixo. No quintal, os cachorros se engalfinhando. Por que a Leocádia não foi me buscar? E cadê minha mãe? Tia Laura baixou a cabeça, cruzou o xale no peito, fechou o leque e foi saindo meio de lado, andava desse jeito quando aconteciam coisas. Fechou-se no quarto. Custódia soprou o braseiro do fogão e avisou que ia estourar pipoca. A Leocádia fugiu?, perguntei. Ela começou a debulhar o milho, Isso não é conversa de criança.

Então entrou minha mãe. Fez um sinal para a Custódia, sinal que eu conhecia (depois a gente se fala), acariciou minha cabeça e foi para o quarto de tia Laura. Disfarcei com o prato de pipoca na mão, banzei um pouco e fui escutar detrás da porta da tia. Contei que meu marido estava viajando (era a voz da minha mãe) e que a gente não sabe lidar com isso. Uma tragédia, Laura, uma tragédia! Então o médico disse (minha mãe parou para se assoar) que ela pode ficar na enfermaria até o fim, vai morrer, Laura! Enfiou a agulha de tricô lá no fundo, meu Deus!... - A voz sumiu e logo voltou mais forte: Grávida de quatro meses e eu sem desconfiar de nada, era gordinha e agora engordou mais, foi o que pensei. Hoje ela me reconheceu e fez aquela carinha alegre, Ô! Madrinha. Era tão inteligente, queria tanto aprender a ler, queria até aprender música. Tia Laura demorou para falar: Agora é tarde!, gemeu. Mas não tocou na Inês.

Em dezembro tinha quermesse. Minha mãe e tia Laura foram na frente porque eram as barraqueiras, eu iria mais tarde com a Custódia que ficou preparando o peru. Quando passei pelo jasmineiro no quintal (anoitecia) vi o vulto esbranquiçado por entre os galhos. Parei. A cara úmida de Leocádia abriu-se num sorriso.

— A quermesse, Leocádia! Vamos?, eu convidei e ela recuou um pouco.

— Não posso ir, eu estou morta.

Keite apareceu de repente e começou com aquele latido desesperado. Antes que viessem os outros, tomei-a no colo, Fica quieta, quieta! ordenei baixinho na sua orelha. E o latido virou um gemido de sofrimento. Quieta! Aquela é a Leocádia, você não se lembra da Leocádia? Comecei a tremer. É a Leocádia! repeti e apertei a Keite contra o peito e ela também tremia. Soltei-a: Pode ir mas não chame os outros, escutou isso?

Keite saiu correndo e desapareceu no fundo do quintal. Quando olhei na direção do jasmineiro não vi mais nada, só a folhagem com as florinhas brancas no feitio de estrelas.

Entrei na cozinha. Que cara é essa? estranhou a Custódia. Encolhi os ombros e ajudei a embrulhar o peru no papel-manteiga. Vamos depressa que a gente está atrasada, ela resmungou me pegando pelo braço. Parou um pouco para me examinar melhor.

— Mas o que aconteceu, você está chorando? Enxuguei a cara na barra da saia.

— Me deu uma pontada no dente.

— Foi naquele que o dentista chumbou? Quer a Cera do Doutor Lustosa?

— Deu só uma pontada, já parou de doer.

— Pegue o meu lenço, ela disse abrindo a sacola. Ofereceu-me o lenço de algodão branco, bem dobrado. Na calçada deserta ela ainda parou um pouco para prender a fivela no cabelo. O peru era meio velho mas acho que ficou bom.

Enxuguei os olhos com raiva e cruzei os braços contra o peito, outra vez o tremor? Fomos andando lado a lado e em silêncio.

Texto extraído do livro "Invenção e Memória", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 2000, pág. 09.

MAIS OU MENOS ..... por Rosa Guerrera

...
“A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos. A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro. A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...

TUDO BEM! O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum... é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos. Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.” (Chico Xavier)

Escolhi hoje essa mensagem de Chico Xavier,por tudo de GRANDE que ela representa para nós PEQUENOS seres humanos,sempre tão ansiosos em alcançarmos a felicidade , e quando chegamos até ela , na maioria das vezes achamos QUE AINDA ESTÁ FALTANDO ALGUMA COISA ! É esse o risco que o sábio Chico falou ! Vivemos sempre sentados na insatisfação de sermos pessoas mais ou menos ! Nada parece nos completar !

A ILUSÃO DO REFLEXO por Rosa Guerrera

Conta-se que um pai deu a sua filha um colar de diamantes de alto preço. Misteriosamente, alguns dias depois o colar desapareceu. Falou-se que poderia ter sido furtado. . Outros afirmaram que talvez um pássaro tivesse sido atraído pelo seu brilho e o levado embora. Fosse como fosse, o pai desejava ter o colar de volta e ofereceu uma grande recompensa a quem o devolvesse: R$ 50.000,00.A notícia se espalhou e, naturalmente todos passaram a desejar encontrar o tal colar. Um rapaz que passava por um lago, próximo a uma área industrial , VIU DE REPENTE um brilho no lago. Colocou a mão para proteger os olhos do sol , e certificou-se : era o colar ! O lago , entretanto era muito sujo , poluído e cheirava mal... O rapaz pensou na recompensa e vencendo o nojo colocou a mão no lago tentando apanhar a jóia . Pareceu pega-la, mas sentiu escapulir das suas mãos .Tentou outra vez, e mais outra e sem sucesso... Resolveu entrar no lago.Emporcalhou toda a calça e mergulhou o braço inteiro no lago. E desesperado não teve êxito . O colar estava ali ! Mas ele não conseguia agarra-lo. Decidiu então mergulhar no lago de corpo inteiro . Ficou imundo , cheirando mal e o colar parecia sumir sempre que tentava alcança-lo. Deprimido o rapaz já ia se retirando pensando na polpuda recompensa perdida, quando um velho passou por ele. “ Que está fazendo aí meu rapaz “? Perguntou. O moço desconfiou do velho e temeu dizer o seu objetivo imaginando que o homem pudesse apanhar o colar e ficar com a recompensa ... Mas cansado , irritado pelo fracasso , terminou contando o motivo da sua decepção. O velho deu um largo sorriso e disse : “Porque não olha para cima , em vez de somente para dentro do lago”? Surpreso o rapaz levantou os olhos , e lá entre os galhos de uma árvore estava o colar brilhando ao sol !!!! O QUE O RAPAZ VIA NO LAGO , ERA O REFLEXO DO COLAR PRESO NAS FOLHAGENS . . .......................................................................................................................................................................... Contei hoje essa pequena historinha para que não esqueçamos uma grande verdade : NA CONQUISTA DE POSSES EFÊMERAS , QUASE SEMPRE MERGULHAMOS NO LODO DAS PAIXÕES INCONSEQUENTES !!! .
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“Olha um vazio nas almas
Olha um violeiro de alma vazia”.
Sérgio Ricardo

Por Zé Nilton

Sérgio Ricardo não foi de vender muitos discos. Nem quando entrou na bossa nova, nem quando adentrou para o Nordeste e se nordestinou musicalmente. Poucas músicas suas estiveram em paradas musicais. Não que a música desse compositor nascido em Marília-SP, seja muito rebuscada e de difícil assimilação pelos ouvidos sempre apressados de produtores e ouvintes. Eu mesmo acho sua música simplesmente bela e de uma timbragem impressionante. É que Sérgio Ricardo – nome artístico de João Mansur Lutfi – nunca fez concessão ao esquema podre dos negociadores de nossa MPB. Pelo contrário, foi sempre um lutador, de “faca, rifle e barabelo na mão, virando “Zé do Cão” contra quem faltasse com respeito aos artistas, de qualquer arte, ou praticasse uma injustiça.
O homem fora discípulo direto de Glauber Rocha, e não precisa dizer mais nada. Mas não pense que isto só teria acontecido no cinema, a outra arte de Sérgio Ricardo. O próprio Glauber disse certa vez que na hora da criação eles se confundiam tanto que invertiam os domínios: Glauber direcionava a música e Sérgio o roteiro. Este está em quase todos os filmes de Glauber, seja assinando o roteiro, a trilha ou a orquestração das músicas de “Antonio das Mortes”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Terra em Transe” etc.
Iniciou sua vida musical estudando piano em família, e logo partiu, aos 15 anos, para viver da música, apesar dos pesares. Andou pelo interior de S. Paulo, trabalhando em rádio e chegou ao Rio de Janeiro nos comecinhos da bossa nova. Como tantos pianistas, foi parar na noite nos barzinhos da zona sul. Ali conheceu pessoas como Jonny Alf e Tom Jobim que se tornariam excelentes músicos da noite e compositores afamados no Brasil e no Mundo. Quando Tom Jobim, no afã de melhorar seus rendimentos financeiros, procura o ofício de arranjador numa famosa gravadora, foi Sérgio Ricardo quem ficou no seu lugar, como pianista numa das boites do posto cinco.
Todo o tempo Sérgio Ricardo viveu entre a música e o cinema, com uma bela passagem pelas telenovelas das emissoras do Rio e São Paulo. Seu primeiro filme foi “O menino da calça branca”, que com o apoio de Nélson Pereira dos Santos, diretor, e Dib Lutfi, seu irmão, na fotografia, chegou a ganhar o segundo lugar no Festival de Cinema de S. Francisco.
Seguiram tantos outros como “Esse mundo é meu” – que obteve uma crítica de duas páginas na famosa “Cahiers du cinema”, “Juliana do amor perdido” e o premiadíssimo “A Noite do Espantalho”rodado inteiramente em Pernambuco, em Nova Jerusalém, cujo ator e cantor de algumas músicas foi o iniciante Alceu Valença.
Sérgio Ricardo fora levado para compor o movimento da bossa nova pelo inquieto e revolucionário João Gilberto. Chegou a fazer um disco famoso de nome “A bossa romântica de Sérgio Ricardo”, e se tornou o primeiro a gravar dentro da nova tendência.
E tem mais: o nosso homenageado de hoje no Programa: COMPOSITORES DO BRASIL estava naquela famosa caravana do Carnegie Hall, em 21 de novembro, de 1962, ao lado de Tom, Menescal, Carlinhos Lyra, João Gilberto, Sérgio Mendes, Luiz Bonfá, Milton Banana e tantos outros...e igualmente a Tom Jobim ficara por oito meses entre shows e montagem de roteiros de cinema, entre a América e a Europa.
Em festivais apareceu muito pouco. Mas as pessoas só lembram sua participação naquele II Festival de Música Popular, da Record-SP, em p-0i9u0ijip quando a platéia vaiou, nas duas apresentações, a longuíssima música “Beto bom de bola”, e ele quebrou o violão no palco e jogou a carcaça no público.
Parece que Sérgio Ricardo foi um dos primeiros dissidentes ou questionadores das propostas da bossa nova. Logo lhe cansa o formato do barquinho, do cantinho, do amor... e ele encontra outro tema, outra proposta, outra inspiração – o Nordeste e a musicalidade de seu povo.
Deixa, segundo ele, aqueles apelos médio-burgueses e encara a realidade do “Brasil de baixo”.
Descobre o sertão, lugar de Deus e do Diabo, da Perseguição (...se entrega Corisco, eu não me entrego não”), da Sina de Lampião, de Zé do Cão, dos “Bichos da Noite” da Tocaia, do Coronel dslslslças, das assobrações, dos violeiros e dos cantadores. Daí em diante sua música muda de ritmo, de dissonância, de mensagem, e ele solta a voz no mundo, cunhada na música “Ponto de Partida”:

“Não tenho para minha mão
Somente acenos e palmas
Tenho gatilhos e tambores
Teclados, cordas e calos
.........................................
“Tenho para a minha vida
A busca como medida
O encontro como chegada
E como ponto de partida”.

Sérgio Ricardo é a atração de hoje no Programa: COMPOSITORES DO BRASIL. Falaremos um pouco de sua vida e de sua obra ao som de:

Buquê de Isabel, de Sérgio Ricardo, com Maysa
Pernas, de Sérgio Ricardo, com Sérgio Ricardo
Zelão, de Sérgio Ricardo, com Sergio Ricardo
Esse mundo é meu, de Sérgio Ricardo, com Sérgio Ricardo
Folha de papel, de Sérgio Ricardo, com Sergio Ricardo
Ponto de Partida, de Sérgio Ricardo, com Sergio Ricardo
Sina de Lampião, de Sérgio Ricardo, com Sérgio Ricardo
Semente, de Sérgio Ricardo, com Sérgio Ricardo
Calabouço, de Sérgio Ricardo, com Sergio Ricardo
Coroel,.,,,,,
Vou renovar, de Sérgio Ricardo, com Sergio Ricardo
Iwiwiwiwiwiwiwiw

Quem ouvir, verá !

Programa: Compositores do Brasil
Todas às quintas-feiras, às 14 horas
Rádio Educadora do Cariri – 1020 Krz
Pesquisa, Produção e Apresentação de Zé Nilton
Apoio. CCBN

Lamartine de Azevedo Babo - por Norma Hauer


T R E M DA A L E G R I A

Um dos mais importantes radialista e compositor de nosso meio radiofônico nasceu em um mês de janeiro, no dia 10, em 1904. Seu nome LAMARTINE DE AZEVEDO BABO.

LAMARTINE BABO, havendo perdido o pai muito cedo, cedo começou a trabalhar, sendo seu primeiro emprego na Light, onde não ficou muito tempo e,aprendendo o Código
Morse, foi trabalhar nos correios.
Mas seu destino era compor e elaborar programas radiofônicos e nisso ele foi um dos pioneiros.

Envolvendo-se com o "Bando dos Tangarás", em 1929, foi orientado por Almirante para ingressar no rádio, o que ele fez em 1929, na então Rádio Educadora do Brasil (PRB-7). Ali lançou os programas "Horas Lamartinescas","Radioletes e "Perfis e Perfídias".Apresentou, ainda um programa com o título de "Clube da Meia-Noite",não aceito pelos censores da época; Lamartine, perspicaz, mudou o nome para "Clube dos Fantasmas". Aí foi aceito.Ah, os censores!!!

Com a vinda de César Ladeira para a Rádio Mayrink Veiga, foi um dos primeiros a assinar contrato com a emissora, levando para lá seus programas e lançando a "Canção do Dia", onde comentava canções suas e de seus colegas. Foi um de seus programas de maior sucesso.

Como compositor, pode-se dizer que estreou com a marchinha para o carnaval de 1931, de nome "Com a Letra A",homenageando uma namorada de nome Alda, que não quis mais saber dele e,no mesmo ano compôs "Uma Andorinha Não Faz Verão". No ano seguinte,"estourou" com "O Teu Cabelo Não Nega",gravado por Castro Barbosa(aquele que depois fez sucesso ao lado de Lauro Borges na famosa "PRK-30).

"Trio de Osso", por serem os três componentes muito magros. Ladeira já denominara de "Trio de Ouro"
"O Teu Cabelo Não Nega" era um estribilho dos Irmãos Valença, compositores de Pernambuco, que entraram em ação contra a gravadora Victor Brasileira, por não haverem autorizado o aproveitamento de sua música. As segunda e terceira partes do samba são de autoria de Lamartine.
Nas gravações posteriores a Victor foi obrigada a colocar o nome dos Irmãos Valença. E mais: acabou aceitando outras composições daqueles Irmãos, o que levou o então iniciante cantor Carlos Galhardo, a estrear em discos gravando um frevo da autoria dos compositores pernambucanos.

A partir daí o nome de Lamartine passou a figurar em um grande número de composições. A maioria representou sucessos, como "Marchinha do Grande Galo"(carnaval de 1934) "Ride Palhaço"(do mesmo ano);"Linda Morena) e "A Tua Vida é Um Segredo"(de 1933);"Na Virada da Montanha";"Hino dos Carnavais Brasileiros"(1938)...
Como compositor romântico, foi autor das letras de "Alma dos Violinos";"No Rancho Fundo";"Mais Uma Valsa...Mais Uma Saudade";"Eu Sonhei que Tu Estavas Tão Linda";"Serra da Boa Esperança"...

Um cateretê, gravado por Lamartine, com Carmen Miranda, de nome "As Cinco Estações" foi uma brincadeira com os prefixos das primeiras emissoras nacionais.

Brincou, principalmente com a Rádio Sociedade, a mais antiga, dizendo que havia sido "parteira de Rio Branco"
Brincalhão como sempre foi, em seus programas gostava de contar que não podia sair de terno preto e gravata branca porque, magro e alto, poderiam confundi-lo com os postes de parada de bondes, que pretos,tinham uma faixa branca.
Havendo sido telegrafista,certa vez ingressou em uma agência dos correios e dois telegrafistas, vendo-o trocaram a seguinte mensagem:"feio, alto e magro..."; Lamartine, usando o telégrafo, respondeu :"feio, alto, magro e ex-telegrafista".

Talvez o mais falado e importante programa criado por LAMARTINE BABO tenha sido o "Trem da Alegria", que apresentava com Heber de Boscoli e Yara Sales ,sendo os três cognominados o "Trio de Osso", parodiando o nome "Trio de Ouro", com Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas..

O "Trem da Alegria" foi lançado na Rádio Mayrink Veiga, daí o nome dado por Cesar Ladeira ao trio que o apresentava.
Antes de o "Trem da Alegria" partir para a Rádio Nacional, passou a ser apresentado
do Teatro João Caetano, tão grande era o público que freqüentava o auditório (pequeno) da PRA-9. Assim, foi transferido para um palco maior.


Com a morte prematura de Heber de Boscoli, o trio se desfez e quando os ritmos de nossa música começaram a mudar,Lamartine,fazendo parte da União Brasileira de Compositores,dedicou-se mais ao órgão,afastando-se das atividades radiofônicas.

Em junho de 1963 estava sendo ensaiada uma peça em homenagem a Lamartine, com o nome de "O Teu Cabelo Não Nega",da autoria de Carlos Machado. Convidado a assistir aos ensaios,ficou emocionado e, no dia 16 daquele mês, veio a falecer de ataque cardíaco, com apenas 59 anos.
Como o texto sobre Lamartine estava muito grande, acabei me esquecendo da parte dos Hinos que Lamartine lançou quando ainda pertencia ao "cast" da Rádio Mayrink Veiga. Lançou-os como se fossem marchas e não hinos.
Infelizmente o do América é cópia de uma melodia americana (não do clube,mas dos Estados Unidos).
Como os hinos dos grandes clubes são bastante badalados, aqui vão parte das letras que me recordo dos do Bangu e do Madureira:

Hino do Bangu (parte)
"Em Bangu se o time vence há na certa um feriado,
Comércio fechado.
A torcida reunida até parece a do Fla-Flu
Bangu, Bangu, Bangu..."

Hino do Madureira (parte)
És Madureira, noso castelo,
A nossa paz ideal...
Oi, salvem os muitos anos,
Dos tricolores suburbanos."...

Sílvio Caldas gravou os hinos do Vasco e do São Cristóvão; a Jorge Goulart(vascaíno) coube os hinos do América e do Madureira.

Jorge Goulart contou-me que ele falou ao Lamartine:"Você sabe que sou vascaíno e deu o hino de meu clube para o SílvioCaldas..." Lamartine respondeu "Darei a você o mais bonito, o de meu querido clube". E para Jorge Goularto Hino de "seu" América.

Posteriormente, houve regravações de todos os hinos, mas na época coube a Lamartine escolher os cantores que os gravariam. É pena não haver escolhido Carlos Galhardo (que era torcedor do América) para gravar o hino de seu clube.
norma hauer

Eles teriam de ser lembrados - por Norma Hauer


São pessoas que marcaram nossa música nestes dois últimos dias, mas por falta de tempo e oportunidade, não pude recordá-los como merecem,

São eles:
Zé da Zilda, ou Zé com Fome ou seu verdadeiro nome:JOSÉ GONÇALVES.
Ele nasceu no dia 6 de janeiro de 1908 e faleceu com apenas 46 anos, no dia 10 de outubro de 1954.

Mas deixou sua marca como compositor no samba"Aos Pés da Cruz", sucesso de Orlando Silva

"Aos pés da Santa Cruz
Você se ajoelhou
E em nome de Jesus
Um grande amor você jurou.
Jurou, mas não cumpriu,
Fingiu e me enganou.
P'ra mim você mentiu
P'ra Deus você pecou..."

Ainda na voz de Orlando Silva, em parceria com Ataúlfo Alves, o sucesso "Meu Pranto Ninguém vê".

Ou com Zilda: "Império do Samba"; com J.Cascata "Santo Antonio Amigo", gravação de João Petra de Barros ou dois grandes sucessos carnavalescos, com Zilda do Zé: "Ressaca" e "Saca-Rolhas".

"As águas vão rolar,
Garrafa cheia eu não quero ver sobrar.
Eu passo a mão na saca, saca-rolhas.
E bebo até arrumar..."


Em 1910, no dia 8 de janeiro nasceu Armando Reis. E quem foi Armando Reis? Foi radialista, inciando sua carreira no famoso Programa Casé, ainda na Rádio Philips.
Fazendo programa sozinho na Rádio Guanabara, dizia-se o "amigo velho",embora bem novo na ocasião..
Pois foi nessa época que compôs o "Samba da Garota Bonita", gravação original de Carlos Galhardo

"Garota bonita que anda à procura da felicidade,
Não vá se fiando na sua beleza e na mocidade."

Ele não ficou conhecido com seu nome verdadeiro e sim como CRISTÓVÃO DE ALENCAR
e, para Sílvio Caldas compôs a valsa "Não"

"Entre nós está tudo acabado
Eu não quero vê-la nunca mais.
Para que relembrar o passado
Que só desventura nos trás?...


Ainda em 8 de janeiro, no ano de 1906, nasceu Alcir Pires Vermelho que, dentre outros sambas compôs "Canta Brasil", ao lado de David Nasser, grande sucesso de Francisco Alves, recentemente regravado por Gal Costa.

Essas notas foram apenas para não olvidar figuras importantes em nossa música popular.

Carmen Costa por Norma Hauer


Há dúvidas sobre a data de nascimento de Carmen Costa,alguns sites dão como nascida em 5 de janeiro e outros em 5 de julho de 1920. Sempre tive esta última data como sendo a real, inclusive Luiz Vieira, em seu programa "Minha Terra, Nossa Gente", transmitido de 2ª a 6ª feira na Rádio Carioca, tem como certa a data de 5 de julho.

Bom, mas se há dúvida, ela merece ser relembrada hoje e também em 5 de julho.

Ela nasceu com o nome de Carmelita Madriaga em Trajano de Moraes(RJ) de onde saiu com 15 anos, vindo para o Rio de Janeiro onde trabalhou como doméstica na casa do cantor Francisco Alves.
Na mesma época passou a se apresentar em programas de calouros, mas somente em 1937, quando conheceu o compositor Henricão, teve sua chance de se transformar na grande cantora que ficou conhecida com o nome de CARMEN COSTA, dado pelo compositor.
No ano seguinte, apresentou-se em um arraial do rancho fundo, em Juiz de Fora e em 1939 regressou ao Rio, apresentando-se na então Feira de Amostras que, anualmente, era montada no local onde hoje se encontram as Avenidas Churchill e Roosevelt, no Castelo.

Ali cantaram as irmãs Carmen e Aurora Miranda, bem como as Irmãs Pagãs, Carlos Galhardo e outros. Na Feira de Amostras era também montado um parque de diversões, conhecido como Parque Shangai.

Em 1942, com Henricão gravou seu primeiro disco , com o samba "Onde Está o Dinheiro?" e foi nesse mesmo ano que "estourou" com "Está Chegando a Hora", uma adaptação do mesmo Henricão para a melodia mexicana "Cielito Lindo". Esse foi seu carro-chefe e ela era sempre chamada a cantá-lo em qualquer parte onde se apresentava.

Separando-se de Henricão, em1945 foi para os Estados Unidos, onde se casou com um americano de nome Hans van Koehler (de ascendência holandesa) e se apresentou em vários "shows", em casas como o Teatro Triboro, em Nova York e em outras cidades, como Nova Jersey e Los Angeles.
Regressou ao Brasil em 1949, quando conheceu Mirabeau e gravou um de seus maiores sucessos, depois de "Está Chegando a Hora" : Cachaça

"Você pensa que cachaça é água,
Cachaça não é água não..."

Mas para "beber" essa cachaça toda foram necessários mais 3 co-autores: Heber Lobato ,Marinósio Silva e Lúcio dos Santos (nomes desconhecidos) e ainda precisou a participação de Colé na gravação.

No mesmo estilo de "Cachaça" gravou "Tem Nêgo Bebo Aí".

Mudou seu estilo em 1954, passando a cantar samba-canção, sendo o mais importante, de Mirabeau, "Eu Sou a Outra", também grande sucesso.

Em 1958 teve uma participação no filme "Vou Te Contá" e entre 1959 e 1963 excursionou por vários países da América do Sul.

Gravou, em 1961 a famosa marcha do "Cordão do Bola Preta"

"Quem não chora, não mama,
Segura meu bem a chupeta.
Lugar quente é na cama
Ou então no Bola Preta".

Em 1962 apresentou-se no Carnegie Hall de Ney York, cantando "bossa nova", com Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Em 1975 cantou no Outeiro da Glória músicas de ladainha, gravando um Lp com essas músicas.

Carmen Costa ainda se fez presente em vários LPs até1996 e, com Elymar Santos fez várias apresentações em 1999.

Em 2002 pssou a se apresentar no palco montado anualmente na Cinelãndia, durante o carnaval, até o ano de sua morte, 2007.

No mesmo ano de 2002 comemorou seus 82 anos de idade e 70 de carreira no Clube Recreativo Posto 6, em Copacabana e fez depoimento no Museu da Imagem e do Som.

E nos anos de 2003 e 2004 fez "Shows" no Centro Cultural da Justiça.

CARMEN COSTA faleceu em 25 de abril de 2007, aos 87 anos.
Norma Hauer

Um texto de Drummond- colaboração de Vera Barbosa


"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente. Para você, desejo o sonho realizado. O amor esperado. A esperança renovada. Para você, desejo todas as cores desta vida. Todas as alegrias que puder sorrir. Todas as músicas que puder emocionar. Para você neste novo ano, desejo que os amigos sejam mais cúmplices, que sua família esteja mais unida, que sua vida seja mais bem vivida. Gostaria de lhe desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente... Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto, ao rumo da sua FELICIDADE!" (Drummond)

De Artur Gomes

o amor não é apenas um nome
que anda por sobre a pele
um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome
é que a flor da tua pele
consome a pele do meu nome

Artur Gomes
http://artur-gomes.blogspot

Poemas de Domingos Barroso

Ela

Quantas vezes já disse
que é hora do cafezinho quente

mas nunca sinto o mesmo gosto
nem entra pelas narinas o mesmo perfume.

Assim é a vida
dessa alma alheia

que se abrigou nos cachos
das minhas axilas

e agora ao levantar-me
eis ela, essa alma atenta

dentro do açucareiro,
pelas bordas da xícara.

O+

Ter um filho pequeno
de férias ao nosso lado

é como assoprar bolinhas de sabão
deitado:

ora espocam no braço,
ora nos cegam os olhos.

mas sempre coloridas
voláteis,
fugidias.

Quando vai embora o rebento
logo a saudade cresce
um monstro no peito

e não vejo graça
nas bolinhas de sabão
tristes dentro do tubinho de plástico.

Flor de Pequi

Nosso inimigo-mor
veste-se com nossa pele
espreita por trás das nossas retinas

anda glorioso sustentado
por nossos músculos e tendões
até finge nossas mãos na hora da escrita.

Nosso inimigo-decano
é traiçoeiro, cínico

espera a mente dúbia
para lhe forjar medos.

Chegado o tempo de fustigar o corpo:
abdominais, pesos, sobriedade.

Chamar para o duelo
esse humano cruel

esse palhaço
esse espantalho sem cabeça.

Amanhecer

Acordei com o braço marcado
por um batom vermelho
de muriçoca.

Seus lábios circulares
deixam a impressão do afeto
e da loucura por meu sangue.

Deve ter sido uma grande festa.
Além da marca vejo também
um leve inchaço.

Só não ouvi seu violino
de cordas rompidas.

Sinais

Sensação estranha
de quem começa a viver agora

sem sacrifícios
sem loucura aparente.

Até a mente perigosa
parece adolescente trêmula.

Sei que não é presente do além
nem trombetas de um novo ano.

Apenas sinto o vazio amplo
sentado na cama sem fumar

mas olhando a fumaça
esfregar-se no basculante.

Sobejos

Não importa o tamanho da montanha
que lhe caia sobre a cabeça

nem a gigantesca mordida do hipopótamo
arrancando-lhe as nádegas:

a vida maltrata bem
mas nem sempre sortilégios.

Embriague-se do cotidiano:
teclado, mouse, cafeteira, ventilador, escova de dente.

Poemas de Domingos Barroso

Lei

Bisões não têm ressaca.

Mas gralha quando bebe
amanhece péssima:

os olhos taciturnos
o bico emudecido,

dá dó.

Portanto,
gralha que sou
evito o primeiro copo.

Equilíbrio

Somente por hoje
perdoa-se a sombra

o fantasma
aquele inimigo distante.

Bebamos um pouco de vinho
para amolecer nosso espírito.

Não sejamos tão duros
quanto uma porta

tão teimosos
feito uma mula.

Basta girar o trinco.
Basta um afago nas ancas.

Somente por hoje
farei de conta
que a vida é bela:

ninguém precisa
um cuidar do outro.

Bastar trocar presentes.
Reatar laços.
Apertar nós.

Quem sabe no final da noite
surpresa boa:

uma namorada
inteligente

com muita carne
nas coxas.

Outro Olhar

Mesmo que os sorrisos das pessoas
digam-me o contrário.

Tragédia é depois dos abraços
quanto cinismo despertado
a cada taça de vinho.

O coração aumenta de tamanho
por novas mágoas até ontem esquecidas.

Mesmo que os sorrisos das pessoas
digam-me o contrário.

O desgosto é claro
no bocejo enfadonho
quando a festança acaba.

Dor nas costas,
mil louças na pia

ainda tem o ano novo,
vontade louca enforcar os parentes

também os penetras
e outros tantos vizinhos.

Mesmo que os sorrisos das pessoas
digam-me o contrário.

O Clima

I
Vejo gafanhotos
exibindo belos adornos
nas longas patas

minhocas acordam da terra fofa
com os olhos contentes

quem diria até o diabinho
encosta seu tridente

aceita tomar um cafezinho
em companhia da sua antiga vítima.

Quanta delicadeza entre os vizinhos
nunca se falaram sequer um bom dia

mas reina o clima natalino
abrem a guarda
dão-se trégua

até o anjinho perdoa aquele sujeito
do primeiro andar

místico descarado
um esquisitão confesso.

II
Vejo borboletas em paz
dentro do casulo

não precisam entrar pelas janelas
hoje é o poeta que bate à porta.

Por favor, nada de vinho
tampouco panetone

só quero mesmo
ver como fazem vocês
para pintar essas cores.

Estive tão ocupado
escrevendo versos

nunca lhes toquei as asas
nem o milagre vi de perto.

III
Vejo as bijuterias da minha irmã
balançando com o vento.

Atrás o sol me olha
na fachada do outro prédio.
Postado por Domingos Barroso às 09:53 0 comentários
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Humanidade

Às vezes escrevo um poema
que falta o fundamental:
a Poesia.

Leio, leio, leio
e nada acontece:

o morto não move os dedos,
a flor não desabrocha.

Apenas aquela sujeira comum
debaixo da geladeira.

Domingos Barroso

A poesia de Domingos Barroso

Silêncio

Tempo breve, matéria escassa, espaço limitado
mesmo assim recolho das sobras que posso
algo mágico:

uma infância tenra com ares enrugados
sob as sombras dos dedos.

Escrever versos
em folha branca
sem pauta

traz-me à tona
meu primeiro chocolate
minha primeira farofa de ovo.

Mesmo que amanhã eu morra
para meu conforto
as estrelas há mais tempo
morreram

e só agora
cegam-me os olhos.

Tempo breve, matéria escassa, espaço limitado
e tu entras dentro da minha mente

açoitas meu coração ingênuo
que te responde todos os dias -
mesmo quando não ouço.

Não hei de morrer
após este último vislumbre

como não foge
da minha alma o gosto

do primeiro chocolate
da primeira farofa de ovo.

As estrelas cadáveres
são fábulas.

As estrelas brilham
porque são cacos de vidro.

Decido então não morrer
após este último soluço.

Iconoclastia

Agora que estás lúcida,
diz-me:

quem ganhou minha alma no bingo?

Aposto que muitos gostariam de tê-la
às mãos.

Tem um abismo bem próximo da tua casa.

Na ceia,
antes e após a oração,
os convivas são santos.

Mas, sejamos justos:
meia dúzia adoraria
minha alma pegando fogo.

Triste a morte anunciada.

E os abutres já se debruçavam
sobre minhas costelas rasas
e meus olhos fundos.


Mansidão

Não me lembro
de um natal,
vejamos,
tão silencioso.

Só ouvi estourar um champanhe
lá pra meia noite

quando os dedos dos meus pés
já se acomodavam entrelaçados
aos mais próximos.

Assim, ambos os pés passam a madrugada
agasalhados, revesando, juntinhos
contra o vento monstro.

O ventilador faz um frio monstro.

Imagino os dedos
do Abominável
Homem
das Neves.


Domingos Barroso

Alguma coisa - por Rosa Guerrera


Alguma coisa ficou a ser dita.
Alguma coisa que nasceu repentinamente
E morreu antes de ser realizada.

Eu sei que alguma coisa ficou perdida
Num lago distante
Numa nuvem passageira
Num rio que secou
Num grito que morreu na garganta.

Alguma coisa que era pesada
Demais para um sonho,
E ingênua demais para a vida ...

Alguma coisa minha que até hoje
Não consegui encontrar .

rosa guerrera

No te Rindas

Mario Benedetti deixou atrás de si uma rica obra, na qual os mais de 80 romances, ensaios, contos e poemas escritos mostram o compromisso social e a coerência de alguém que acreditou “na vida e no amor, na ética e em todas essas coisas tão fora de moda”. “Ele sempre disse que se sentia mais poeta que outra coisa”, afirmou a biógrafa do escritor, Hortensia Campanella, quando apresentou, há alguns meses, o livro “Mario Benedetti. Un mito discretísimo”. Mario estava para o Uruguai assim como o seu homônimo Mario Quintana estava para o Rio Grande do Sul e para o Brasil.
Aos amigos do Cariricaturas um dos belos poemas dele.
Marcelo Mourão

No te Rindas

No te rindas, aún estás a tiempo
De alcanzar y comenzar de nuevo,
Aceptar tus sombras,
Enterrar tus miedos,
Liberar el lastre,
Retomar el vuelo.
No te rindas que la vida es eso,
Continuar el viaje,
Perseguir tus sueños,
Destrabar el tiempo,
Correr los escombros,
Y destapar el cielo.
No te rindas, por favor no cedas,
Aunque el frío queme,
Aunque el miedo muerda,
Aunque el sol se esconda,
Y se calle el viento,
Aún hay fuego en tu alma
Aún hay vida en tus sueños.
Porque la vida es tuya y tuyo también el deseo
Porque lo has querido y porque te quiero
Porque existe el vino y el amor, es cierto.
Porque no hay heridas que no cure el tiempo.
Abrir las puertas,
Quitar los cerrojos,
Abandonar las murallas que te protegieron,
Vivir la vida y aceptar el reto,
Recuperar la risa,
Ensayar un canto,
Bajar la guardia y extender las manos
Desplegar las alas
E intentar de nuevo,
Celebrar la vida y retomar los cielos.
No te rindas, por favor no cedas,
Aunque el frío queme,
Aunque el miedo muerda,
Aunque el sol se ponga y se calle el viento,
Aún hay fuego en tu alma,
Aún hay vida en tus sueños
Porque cada día es un comienzo nuevo,
Porque esta es la hora y el mejor momento.
Porque no estás solo, porque yo te quiero.
Mario Benedetti

Sem chão- por Socorro Moreira

Nem sequer um sonho
Sem projeto de saudades
Sem a dor nos intevalos

Entrei e sai
Me distanciei ,
e o mundo não sentiu

Volto pro novo cotidiano
Sem esperas , sem enganos
Sem ocupar a esperança

Abraço o tempo
que esquece
mas um pedaço de mim

Me deixei dispersa
sem amarras,
sem nós,
sem terra...

Mas precisava ver o mar,
sem ter visto o teu olhar.

Folclore Político do Cariri- Joaquim Pinheiro




Organizando minha estante deparei-me com livros de Sebastião Nery sobre folclore político, comprados em meados dos anos 70, quando morava em Brasília. Reli alguns casos do sul do Ceará e transcrevo para vocês:

a) Alencar era prefeito de Barbalha. O governador, Coronel Felipe Moreira Lima, mandou chamá-lo:
- Seu Alencar, eu não vi sua defesa.
- Que defesa?
- Os jornais estão dizendo que o Sr. gastou dinheiro da prefeitura nas eleições.
- Ora, governador, as eleições deste ano foram caríssimas. Gastei até do meu.

b) Martins Rodrigues, interventor, soube que o prefeito de Assaré estava roubando a prefeitura. Pegou o carro e foi até lá:
- Prefeito, precisamos conversar.
- Está bem, Dr. Martins, mas deixe para amanhã. Desapeie do carro, jante, durma aqui e amanhã eu mostro tudo ao senhor.
- Não posso. Tem que ser hoje.
- Mas, Dr. Martins, hoje aqui tem um boi (bumba-meu-boi) que vai dançar.
- E o que eu tenho com isso?
- É que o boi sou eu.
Foi bovinamente demitido.

c) Coronel Floro Bartolomeu, braço direito do Padre Cícero, lá no Juazeiro, tinha um afilhado muito preguiçoso. Ele sempre dando conselhos.
Um dia, o filho de um vizinho achou um pacote de dinheiro às 5horas da manhã. Coronel chamou o afilhado: menino, você está vendo. O Zeca só achou o dinheiro porque saiu às cinco.
- É padrinho Floro, mas quem perdeu saiu às quatro.

d) Filemon Teles, o Tio Filé, era presidente da Assembléia Legislativa. Virgílio Távora, governador, viajou para a reunião deliberativa da SUDENE e lhe passou o governo. Virgílio viajou ao meio dia, a reunião era à tarde e à noite Virgílio voltava. Mesmo assim, Tio Filé assumiu e ficou feliz da vida como governador meio-expediente.
Á tarde, o jornalista Lustosa da Costa vai ao palácio. Encontra Tio Filé na cadeira de governador, na cabeceira da mesa, olhando para as paredes. Não tinha nada para fazer. Ficam conversando. De repente, Lustosa lembrou-se de que havia um processo para ser despachado naquela tarde. Era licença para o jornalista Rangel Cavalcante, funcionário do Estado, colega e amigo de Lustosa, viajar ao Rio de Janeiro, participar de um congresso.
Tio Filé ficou feliz, mandou buscar o processo, foi folheando, alisando, lambendo aquele único, exclusivo e providencial ato de governo. O tempo passando, Lustosa com pressa, e Tio Filé lendo, lendo, sem assinar. Lustosa olha para o relógio. Faltam 5 minutos para as 18 horas. Pede o processo, abre na última página: assine logo, homem, senão seu governo acaba.
Assinou, o governo acabou.

e) O Deputado Filemon Teles recebeu pedido de um amigo, também deputado, da Paraíba, para amparar um criminoso que fugira de lá e estava chegando ao Ceará. O Filé encaminhou o paraibano para o Coronel Amâncio, poderoso chefe político no Cariri.
Algum tempo depois Tio Filé encontrou o Coronel Amâncio:
- Como é compadre, resolveu o problema do rapaz da Paraíba?
- Sim, está tudo certo. Já está trabalhando e é um homem de confiança, foi uma boa aquisição.
- E os documentos dele? Como é que fez?
- Muito normal. Fiz um atestado de óbito dele no cartório do Crato e mandei a certidão para a Paraíba. Aí, aquele homem acabou. Depois, fiz um registro novo para ele, no mesmo cartório, com outro nome. Aí ele virou um homem novo.
- E a mulher?
- Que mulher?
- A mulher dele.
- Ora, compadre, a viúva casou com o novo.
E o sertão do Cariri ganhou mais um homem d confiança para serviços de responsabilidade.

f) Virgílio Távora, governador, recebeu telegrama do prefeito do Crato:
“Sr. Governador, solicito V. Exa. recursos enfrentar seca município. Cordiais saudações”.
Virgílio responde: Senhor Prefeito, aguarde, 19 de março, passagem Equinócio. Cordiais saudações”.
Dia 20de março, o prefeito telegrafou de novo:
“Senhor Governador, apesar banquete e homenagem preparamos receber condignamente enviado V. Exa, até agora o Dr. Equinócio não apareceu. Cordiais Saudações”.

Luiz Gonzaga - Eterno Rei do Baião- Marcos Barreto de Melo




A identidade de Luiz Gonzaga com o Nordeste e, principalmente, com a terra que o viu nascer, o torna indubitavelmente o maior símbolo do sertão. Luiz Gonzaga é a expressão mais viva e autêntica do homem sertanejo, de sua vida e de seus costumes. A sua obra é um patrimônio que transcende as fronteiras de Exu, no sertão de Pernambuco, para atingir toda uma Nação, além de constituir-se num documento histórico de significado inconteste, no momento em que registra os sentimentos e a alma dessa gente simples e sofrida da terra nordestina. Luiz Gonzaga é o sertão em corpo e alma. Como já disse o renomado mestre e folclorista Luis da Câmara Cascudo, "Luiz Gonzaga é um documento da cultura popular. Autoridade da lembrança e idoneidade da convivência. A paisagem pernambucana, águas, matos, caminhos, silêncio, gente viva e morta. Tempos idos nas povoações sentimentais voltam a viver, cantar e sofrer quando ele põe os dedos no teclado da sanfona de feitiço e de recordação". Luiz é uma bandeira do sertão nordestino que tremula no Brasil inteiro, no momento em que ele faz gemer os 120 baixos de sua sanfona branca. Uma sanfona mágica, de esperanças e recordações.
Luiz Gonzaga é a imagem do retirante nordestino, que foge da terra seca e exaurida pelo sol causticante da caatinga, deixando para sempre o seu tão pobre e querido torrão natal. Do retirante que vende tudo o que tem, que joga a família em um pau-de-arara e parte rumo ao Sul na busca ilusória de melhores dias. Luiz é o sertanejo que planta, replanta e não perde as esperanças de um bom Inverno. É o nortista forte e valente, mas que, chegada a hora de partir, esquece a sua rudeza nativa e se deixa levar pela emoção. É o caboclo que chora, quando se sente condenado a deixar o seu pedaço de chão.
Luiz Gonzaga é o vaqueiro das caatingas do Nordeste, de chapéu de couro, gibão e perneiras, destemido e forte como uma aroeira, que anda no coice da boiada e corre no carrasco, no marmeleiro fechado ou entre espinhos de mandacaru no encalço de uma rês desgarrada. É o vaqueiro que laça, derruba e domina uma rês enfezada. É o vaqueiro afamado e bom de campo que arranca aplausos da multidão nas festas de vaquejada quando, ligeiro como um corisco, derruba o boi mandingueiro e cobre a pista de poeira. Que acorda antes do sol e sai para o campo ainda de madrugada, que almoça farinha com rapadura, que bebe da água represada nas lagoas e que toma cachaça no chocalho. Luiz Gonzaga é o vaqueiro que, no cansaço da luta, descansa à sombra de uma barriguda e que, no fim do dia, junta o gado, sacode o pó do marmeleiro e vai para junto do seu bem.
Luiz Gonzaga é o caboclo da roça, homem simples e trabalhador, que acredita no canto agourento da acauã chamando a seca, no canto triste do vim-vim e na profecia do pássaro carão, que quando solta o seu canto é sinal de muita chuva no sertão. É o caboclo esquecido, de mãos grossas e calejadas e que traz o rosto marcado pela vida árdua do campo. É o roceiro que faz experiências com as pedras de sal, que espera ansioso pela barra do sol no dia de Natal e que só se convence da seca quando vê passar sem chover o dia de São José, o santo de sua devoção.
Luiz Gonzaga é o sertanejo de fé, que reza por uma chuva e pede a Deus pra não ter seca, que faz promessa ao Padim Ciço pra se curar de uma doença e que vai para as missões pedir uma bênção a frei Damião. É o caboclo que nasceu na caatinga e que dali não quer sair, porque para ele não existe lugar melhor. É ali que está enterrado o seu umbigo e é neste mesmo chão que ele quer morrer. Ser enterrado à sombra de um velho umbuzeiro, vestido de vaqueiro e com uma cruz de madeira amarrada com cipó, no meio da caatinga onde tanto aboiou e onde, infelizmente, o seu grito de aboio ficará para sempre esquecido.
Luiz Gonzaga é o morador de pé-de-serra, que trabalha de sol a sol durante toda a semana, mas que não abre mão de um samba de latada com o chão de barro batido e a luz mortiça do candeeiro, onde triângulo, zabumba e uma sanfona de oito baixos comandam a alegria. Um forrozinho onde a cabroeira brinca, dança e se diverte, enquanto a poeira sobe e o tocador, animado, vai castigando a sua concertina.
É o caboclo reimoso, esperto, brincalhão e prosista, com muitas estórias engraçadas para nos contar, com aquela maneira que lhe é particular.
Luiz Gonzaga é o caminho que nos traz de volta aos pés-de-serra do sertão nordestino através de xotes, baiões e toadas que tão bem retratam a nossa terra. Luiz é a energia que mantém viva em cada retirante a lembrança do seu longínquo sertão e a esperança derradeira de um dia ainda voltar para ele.
Luiz Gonzaga é tudo aquilo que emana do sertão. É a expressão de uma terra pobre e sofrida, ora seca e triste, ora verde e alegre. De uma terra esquecida e castigada, mas infinitamente bonita pela pureza de sua gente.
Luiz Gonzaga é a Asa Branca que volta correndo para o sertão quando ouve o ronco das primeiras trovoadas; é o cheiro gostoso da terra molhada; é o juazeiro com o seu eterno verde esperança; a peitica que, na copa do umbuzeiro, canta alegre com a chegada do inverno; é o riacho que corre vorazmente, arrastando árvores com as águas da primeira chuva; é o açude que sangra após anos de seca; é um fole velho gemendo numa palhoça, alegrando o São João na roça; é a rama verde da gitirana que, quando nasce, faz renascer o sertão.
Luiz Gonzaga é o filho de Januário que nasceu em Exu, em pleno sertão pernambucano, nas terras dos Alencar, e que aprendeu com o pai a puxada da sanfona. Luiz é aquele moleque que fugiu de casa em 1930, para tornar-se, um dia, o grande e insuperável Rei do Baião. Luiz Gonzaga é o sanfoneiro do Riacho da Brígida, de rosto redondo e riso largo, que deixou o sertão do Araripe para ser o dono de um reinado que não tem fim, posto que, o seu canto é eterno.

Marcos Barreto de Melo

A reforma e a cadela - Anita

A casa da esquina está em reforma:

Põe e tira paredes...

Botaram a cadela na rua

"_ Até terminar a reforma"

A cadela passa fome,

Passa frio, foge da chuva,

Pede socorro, entra no cio...



A casa da esquina está em reforma...

A vizinha não se conforma -

Adota a cadela: lhe dá banho,

Tosa o pelo, cura seus traumas,

Lhe dá nome, casa, brinquedo e

Por esmero a leva ao Veterinário.



A casa da esquina está em reforma...

A cadela adaptada.

A antiga "dona" manda recado:

Quando terminar a reforma,

Quer a cadela que é dela...

Bolo fofo

Para o café da manhã um toque de simplicidade.


Ingredientes:

03 colheres (sopa) de margarina;
01 copo (americano) de leite;
01 copo (americano) de maizena;
02 copos (americano) de açucar;02 copos (americano) de farinha de trigo;
03 ovos01 colher (sopa) de fermento em pó


Preparo:


Bata a margarina até ficar esbranquiçada, acrescente o açucar, sempre batendo, depois as gemas e continue batendo até que a massa fique lisa.

Acrescente o leite, batendo, depois acrescente a farinha de trigo e a maizena. Bata bastante.

Acrescente as claras em neve, sem bater, apenas misture bem.

Finalmente acrescente o fermento.

Leve ao forno preaquecido em temperatura média e deixe assar por aproximadamente 25 minutos.

Pós do tempo
- Claude Bloc -
***

Lembranças vão se abrindo
Aos pós o tempo...
Ao silêncio da noite
Ao amanhecer que tarda.
Abres caminhos pelo meu espaço
E segues voando
Pelos vales
Pelos mares de então.


Abres tuas asas
Sobre as sombras
Da madrugada
Dourando meus sonhos
Pousando de leve
De manhã cedinho
Na inquietude do meu ser.


Claude Bloc