Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010



“Olha um vazio nas almas
Olha um violeiro de alma vazia”.
Sérgio Ricardo

Por Zé Nilton

Sérgio Ricardo não foi de vender muitos discos. Nem quando entrou na bossa nova, nem quando adentrou para o Nordeste e se nordestinou musicalmente. Poucas músicas suas estiveram em paradas musicais. Não que a música desse compositor nascido em Marília-SP, seja muito rebuscada e de difícil assimilação pelos ouvidos sempre apressados de produtores e ouvintes. Eu mesmo acho sua música simplesmente bela e de uma timbragem impressionante. É que Sérgio Ricardo – nome artístico de João Mansur Lutfi – nunca fez concessão ao esquema podre dos negociadores de nossa MPB. Pelo contrário, foi sempre um lutador, de “faca, rifle e barabelo na mão, virando “Zé do Cão” contra quem faltasse com respeito aos artistas, de qualquer arte, ou praticasse uma injustiça.
O homem fora discípulo direto de Glauber Rocha, e não precisa dizer mais nada. Mas não pense que isto só teria acontecido no cinema, a outra arte de Sérgio Ricardo. O próprio Glauber disse certa vez que na hora da criação eles se confundiam tanto que invertiam os domínios: Glauber direcionava a música e Sérgio o roteiro. Este está em quase todos os filmes de Glauber, seja assinando o roteiro, a trilha ou a orquestração das músicas de “Antonio das Mortes”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Terra em Transe” etc.
Iniciou sua vida musical estudando piano em família, e logo partiu, aos 15 anos, para viver da música, apesar dos pesares. Andou pelo interior de S. Paulo, trabalhando em rádio e chegou ao Rio de Janeiro nos comecinhos da bossa nova. Como tantos pianistas, foi parar na noite nos barzinhos da zona sul. Ali conheceu pessoas como Jonny Alf e Tom Jobim que se tornariam excelentes músicos da noite e compositores afamados no Brasil e no Mundo. Quando Tom Jobim, no afã de melhorar seus rendimentos financeiros, procura o ofício de arranjador numa famosa gravadora, foi Sérgio Ricardo quem ficou no seu lugar, como pianista numa das boites do posto cinco.
Todo o tempo Sérgio Ricardo viveu entre a música e o cinema, com uma bela passagem pelas telenovelas das emissoras do Rio e São Paulo. Seu primeiro filme foi “O menino da calça branca”, que com o apoio de Nélson Pereira dos Santos, diretor, e Dib Lutfi, seu irmão, na fotografia, chegou a ganhar o segundo lugar no Festival de Cinema de S. Francisco.
Seguiram tantos outros como “Esse mundo é meu” – que obteve uma crítica de duas páginas na famosa “Cahiers du cinema”, “Juliana do amor perdido” e o premiadíssimo “A Noite do Espantalho”rodado inteiramente em Pernambuco, em Nova Jerusalém, cujo ator e cantor de algumas músicas foi o iniciante Alceu Valença.
Sérgio Ricardo fora levado para compor o movimento da bossa nova pelo inquieto e revolucionário João Gilberto. Chegou a fazer um disco famoso de nome “A bossa romântica de Sérgio Ricardo”, e se tornou o primeiro a gravar dentro da nova tendência.
E tem mais: o nosso homenageado de hoje no Programa: COMPOSITORES DO BRASIL estava naquela famosa caravana do Carnegie Hall, em 21 de novembro, de 1962, ao lado de Tom, Menescal, Carlinhos Lyra, João Gilberto, Sérgio Mendes, Luiz Bonfá, Milton Banana e tantos outros...e igualmente a Tom Jobim ficara por oito meses entre shows e montagem de roteiros de cinema, entre a América e a Europa.
Em festivais apareceu muito pouco. Mas as pessoas só lembram sua participação naquele II Festival de Música Popular, da Record-SP, em p-0i9u0ijip quando a platéia vaiou, nas duas apresentações, a longuíssima música “Beto bom de bola”, e ele quebrou o violão no palco e jogou a carcaça no público.
Parece que Sérgio Ricardo foi um dos primeiros dissidentes ou questionadores das propostas da bossa nova. Logo lhe cansa o formato do barquinho, do cantinho, do amor... e ele encontra outro tema, outra proposta, outra inspiração – o Nordeste e a musicalidade de seu povo.
Deixa, segundo ele, aqueles apelos médio-burgueses e encara a realidade do “Brasil de baixo”.
Descobre o sertão, lugar de Deus e do Diabo, da Perseguição (...se entrega Corisco, eu não me entrego não”), da Sina de Lampião, de Zé do Cão, dos “Bichos da Noite” da Tocaia, do Coronel dslslslças, das assobrações, dos violeiros e dos cantadores. Daí em diante sua música muda de ritmo, de dissonância, de mensagem, e ele solta a voz no mundo, cunhada na música “Ponto de Partida”:

“Não tenho para minha mão
Somente acenos e palmas
Tenho gatilhos e tambores
Teclados, cordas e calos
.........................................
“Tenho para a minha vida
A busca como medida
O encontro como chegada
E como ponto de partida”.

Sérgio Ricardo é a atração de hoje no Programa: COMPOSITORES DO BRASIL. Falaremos um pouco de sua vida e de sua obra ao som de:

Buquê de Isabel, de Sérgio Ricardo, com Maysa
Pernas, de Sérgio Ricardo, com Sérgio Ricardo
Zelão, de Sérgio Ricardo, com Sergio Ricardo
Esse mundo é meu, de Sérgio Ricardo, com Sérgio Ricardo
Folha de papel, de Sérgio Ricardo, com Sergio Ricardo
Ponto de Partida, de Sérgio Ricardo, com Sergio Ricardo
Sina de Lampião, de Sérgio Ricardo, com Sérgio Ricardo
Semente, de Sérgio Ricardo, com Sérgio Ricardo
Calabouço, de Sérgio Ricardo, com Sergio Ricardo
Coroel,.,,,,,
Vou renovar, de Sérgio Ricardo, com Sergio Ricardo
Iwiwiwiwiwiwiwiw

Quem ouvir, verá !

Programa: Compositores do Brasil
Todas às quintas-feiras, às 14 horas
Rádio Educadora do Cariri – 1020 Krz
Pesquisa, Produção e Apresentação de Zé Nilton
Apoio. CCBN

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