Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Arrastaí!


Dedicado a Dona Almina Arraes


Em 1979, no governo de João Figueiredo, derradeiro presidente da ditadura militar instaurada em 1964, foi aprovada uma ampla anistia política. Centenas de exilados começaram a retornar ao país, dentre eles os ex-governadores Leonel Brizola e Miguel Arraes, o líder comunista Luís Carlos Prestes e o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira. Foi quando, ainda menino, comecei a despertar para a política, com grande curiosidade pela história recente e profunda do país, querendo preencher as muitas lacunas existentes, devido, sobretudo, à ação da censura e aos outros entulhos ditatoriais

Lembro, com bastante nitidez, os acontecimentos daquela época. A volta do pluripartidarismo, com as siglas que eram anunciadas: PMDB, PDS, PP, PDT, PT, PCB e sua dissidência, PC do B; o debate que voltava a fluir com a distensão do regime e os lançamentos editoriais que ajudavam a construir a memória da luta contra a ditadura. Um livro, particularmente, chamou-me atenção e ajudou na minha formação política: Carbonários, Memória de uma Guerrilha Perdida, de Alfredo Sirkys. Li-o duas vezes seguidamente, pois ao ler a última página retornei imediatamente para a primeira.

Lembro, ainda, com riqueza de detalhes, da volta triunfal de Miguel Arraes ao Crato, para visitar sua mãe, dona Benigna, e irmãs. Era sábado, por volta do meio-dia quando ele chegou à casa localizada no início da rua Dr. João Pessoa, que estava lotada de gente, espalhada pelo enorme jardim, pela sala, cozinha e quartos. Antes, ele percorreu algumas ruas em carro-aberto, à frente de uma carreata.

Fui para este evento porque Arraes sempre foi um nome familiar para mim. Meu pai, durante a permanência de Miguel Arraes no exílio, na Argélia, dava assistência à sua mãe e irmãs que residiam no Crato. Como era leitor assíduo de jornais e revistas, papai colecionava toda e qualquer referência a Miguel Arraes e repassava para elas. Por conta disto, quando retornou ao Brasil, Miguel Arraes mandou entregar ao meu pai o livro Jogos do Poder, de sua autoria, com dedicatória e agradecimento escrito do próprio punho.

Não sei por onde anda esse livro, que gostaria imensamente de reler e de tê-lo comigo, como uma relíquia que uniu dois grandes homens: Miguel Arraes e meu pai.


Obs1.: Esta matéria foi publicada originalmente no blog Tudofel (tudo-fel.blogspot.com).
Obs2.: Quando da recente mudança que fiz (agora estou residindo na cidade), encontrei o precioso livro que julgava perdido.

5 comentários:

socorro moreira disse...

Carlos Rafael,


Esse texto chegou na hora H, veio a calhar.
Serão bem vindos todos os textos políticos, históricos e sociais.
O povo do cariricaturas ( nós) gostamos (além das artes ) do resto que a alma e a mente precisam.
Política, História , Esporte,Religião, Filosofia ...Completam-nos!
Miguem Arraes é um mito , um ídolo de quase todos os brasileiros.
Um dos poucos políticos sérios, que o nosso Brasil já teve.
Memória mais do que merecida de ser amada e cultuada.
Arredaí , o resto : Arraes está em pauta !

socorro moreira disse...

Você não nega a sua raça. Teve um pai escândalo, como diria João do Crato.

Abraços.

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Socorro
Na época em que Miguel Arraes voltou ao Crato, 1979, foi com Joaquim ao Escritório da Coelce em Juazeiro. Para mim foi a maior surpresa e um grande presente que Joaquim me deu. Ele desejava eletrificar uma fazenda de sua propriedade em Araripe. Dei prioridade ao atendimento, no que contei com o apoio de toda a diretoria da Coelce. Um grande homem.

Claude Bloc disse...

Entender Miguel Arraes é tentar entender um mito. Aprendi a acompanhar sua história desde pequena. E apesar da distância, percebia seu carisma lido nos olhares e nas palavras de sua família. No orgulho fiel que todos os Arraes de Crato ostentavam com tanta simplicidade.
Sempre me encanta ler sobre ele.

Abraço, Carlos pela iniciativa.

Claude

Carlos Rafael Dias disse...

Pra mim é uma honra ter como referência local um marco da história do meu país. Viva Miguel Arraes ( e como ele já partiu para outra dimensão: que viva, pois,
sua memória...)