Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 6 de março de 2010

Assis Valente





José de Assis Valente, desenhista, protético e compositor. Y 19/3/1908, Bahia - V 10/3/1958, Rio de Janeiro, por suicídio.

Sabe-se que Assis nasceu na Bahia, mas não se sabe onde. Ele mesmo, em reportagens, era controverso. Ora dizia ter nascido em Campo da Pólvora, Salvador, (e dizia que por isso tinha a pele "queimada") ora em Santo Amaro da Purificação. Também declarou várias vezes ter nascido entre Pateoba e Bom Jardim. A data de nascimento, segundo seus biógrafos, também é outra incógnita: "Há uma certa segurança, num documento emitido no Rio em 1939, quando Assis se casou. Na certidão de casamento consta que ele veio ao mundo no dia 19 de março de 1908, natural de Pateoba.(...) Seus pais, conta o mesmo documento, seriam José de Assis Valente e Maria Esteves Valente. Durante a vida, em nenhuma entrevista ou reportagem ele se referiu aos pais, parecendo querer ignorar seu passado."1

Ainda pequeno Assis foi tirado dos pais por uma família de Alagoinhas (BA) que mais tarde se mudou para Salvador e depois para o Rio de Janeiro. No entanto, ele continuou na Bahia, trabalhando na farmácia de um hospital e estudando desenho no Liceu de Artes e Ofícios. Pouco depois Assis foi trabalhar num circo, como orador e comediante, até o fim da década de 20 quando mudou-se para o Rio de Janeiro. Excelente desenhista, vendeu alguns desenhos e ilustrações para duas revistas cariocas. Simultaneamente começou a trabalhar como protético. Habilidoso, diziam que as suas dentaduras só faltavam falar. Foi nessa época que conheceu o alagoano José de Aguiar Dantas, com quem conviveu de 1929 até o fim da vida. Juntos, com o dinheiro que Aguiar recebeu de uma herança, montaram um laboratório de prótese. Assis, que dominava o assunto, ensinava seu sócio que aprendia facilmente a profissão.

Assis Valente tornou-se um respeitado protético mas, a partir da década de 30, começou a mostrar sua instabilidade emocional. Um belo dia, sem mais nem menos, anunciou para Aguiar Dantas que ia passar uns tempos na Bahia e sumiu. Meses depois Assis voltou e já manifestava seu dom para a música: passava o dia inteiro cantando e batucando em cima das banquetas ou no fundo das gavetas. Extravagante, ele pagava tudo para todo mundo, mesmo sem ter dinheiro. Por isso tinha fama de rico. Amoroso, divertido e "mão-aberta", vivia rodeado de rapazes pela noite carioca. Segundo depoimentos de pessoas que conviveram com o compositor nessa época, quem o estimulou e até ensinou a fazer sambas foi Heitor dos Prazeres (1898-1966), pintor e compositor e, em 1932, inspirado pelo modismo de falar francês e principalmente inglês, Assis compôs sua primeira obra, Tem francesa no morro. Nesse mesmo ano conheceu Carmen Miranda, sua intérprete predileta e por quem se apaixonou. Foi através dela que Assis ficou conhecido no meio musical. Deslumbrado, foi deixando de lado seu trabalho como protético. Seu sócio inutilmente tentava trazê-lo de volta ao trabalho, incentivando-o a largar a música, mas este sumia e ficava às vezes meses sem aparecer. Quando voltava, envergonhado, jurava que ia assumir seu cargo no laboratório, deixar "essa coisa de sambista", era só o tempo de concluir umas gravações, aproveitava para pedir um dinheiro emprestado e... sumia de novo. Nos anos que se seguiram os fatos se repetiram, Assis tornou-se um dos mais requisitados compositores e não conseguia dedicar-se com afinco nem para a música, nem para o laboratório.

Como era moda, em 1935 Assis organizou um conjunto vocal, Bando Carioca, nos moldes do Bando da Lua. O conjunto durou até 1939, quando se desfez, sem nunca ter gravado. Em 1938, empolgado com o sucesso do samba Camisa Listada, criou o grupo carnavalesco Camisas Listadas, com o qual passou a desfilar pela cidade. No consultório, era um entra-e-sai de artistas. Aguiar Dantas, irritado, chegou a oferecer ao (ainda) sócio que fosse aos Estados Unidos fazer um curso de prótese, mas diante da recusa, Aguiar renunciou à sociedade. Ofendido, Assis procurou uma sala no mesmo prédio em que trabalhava e continuou esporadicamente exercendo sua atividade como protético. Com a ida de sua intérprete predileta, Carmen Miranda, para os Estados Unidos em 1939, a carreira de Assis começou a declinar. Em dezembro desse mesmo ano o compositor casou-se com Nadyle da Silva Santos, sem que a imprensa ou seus amigos da época ficassem sabendo. Passou a dedicar-se inteiramente à sua atividade como protético e ao casamento, fugia do samba e dos lugares que antes freqüentava. Mas o casamento durou só até o nascimento de sua filha Nara Nadyle dos Santos, em 31 de janeiro de 1941. Angustiado, em 13 de maio de 1941 tentou o suicídio, atirando-se do corcovado. Milagrosamente, Assis ficou preso numa árvore, 70 metros abaixo. Foi retirado por um bombeiro e completamente transtornado declarava apenas: "tenho uma mulher e uma filha que não me têm". Fraturou duas costelas e teve contusões e escoriações generalizadas. Os jornais do dia seguinte, especulando o motivo de tal gesto tresloucado, publicaram que provavelmente o compositor estava passando por dificuldades financeiras, além de estar separando-se de sua esposa e de sentir-se desamparado no meio musical.

Mal resolvido sexualmente, Assis parecia não se aceitar. Tentou o suicídio por mais três vezes, tentando se jogar de uma janela, cortando os pulsos e tomando guaraná com formicida, numa praça pública, sua última e bem-sucedida tentativa.

Além de ter sido um dos criadores do gênero natalino no Brasil, Assis foi também um dos primeiros a compor músicas para as festas juninas. Sua obra, entre marchas e sambas, compreende mais de 150 composições.

1. GOMES, Dulcinéia Nunes & SILVA, Francisco Duarte. A jovialidade trágica de José de Assis Valente. Martins Fontes/Funarte. Rio de Janeiro, 1988, p. 28.


Principais sucessos:

Alegria, Assis Valente e Durval Maia, 1937

Boas festas, Assis Valente, 1932

Boneca de pano, Assis Valente, 1950

Brasil pandeiro, Assis Valente, 1940

Cai, cai balão, Assis Valente, 1933

Camisa listada, Assis Valente, 1937

É do barulho, Assis Valente e Zequinha Reis, 1935

E o mundo não se acabou, Assis Valente, 1938

Fez bobagem, Assis Valente, 1941

Good-bye, boy, Assis Valente, 1932

Gosto mais do outro lado, Assis Valente, 1934

Mangueira, Assis Valente e Zequinha Reis, 1935

Maria Boa, Assis Valente, 1935

Minha embaixada chegou, Assis Valente, 1934

O dinheiro que ganho, Assis Valente, 1951

Que é que Maria tem?, Assis Valente, 1936
Recenseamento, Assis Valente, 1940

Tem francesa no morro, Assis Valente, 1932

Uva de caminhão, Assis Valente, 1939

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