Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 26 de abril de 2010

BISAFLOR RECOMENDA “O LIVRO DOS ABRAÇOS”, DE EDUARDO GALEANO

Bisaflor adora livraria. E biblioteca também, pois gosta de ler histórias, assim como gosta de ouvi-las, inclusive os “causos” contados por esse mundo afora. É por isso que vezenquando ela conta uma história aqui no Cariricaturas.
Hoje Bisaflor vai ler um conto do escritor uruguaio Eduardo Galeano, que consta de O LIVRO DOS ABRAÇOS.
Misto de memória pessoal e memória coletiva da América, O Livro dos Abraços conta várias histórias, com beleza e poesia, a partir de pequenos momentos e fatos da vida do autor, da vida de amigos e parentes, das cidades da América Latina, enfim histórias ouvidas nas suas andanças. Para Galeano “a memória viva nasce a cada dia”, é feita sem as grandiloqüências de heróis, e sim com a grandeza da vida.

CAUSOS/1 (In O Livro dos Abraços. Porto Alegre, L&PM, 2009)

Nas fogueiras de Paysandú, Mellado Iturria conta causos. Conta acontecidos. Os acontecidos aconteceram alguma vez, ou quase aconteceram, ou não aconteceram nunca, mas têm uma coisa de bom: acontecem a cada vez que são contados.
Este é o triste causo do bagrezinho do arroio Negro. Tinha bigodes de arame farpado, era vesgo e de olhos saltados. Nunca Mellado tinha visto um peixe tão feio. O bagre vinha grudado em seus calcanhares desde a beira do arroio, e Mellado não conseguia espantá-lo. Quando chegou no casario, com o bagre feito sombra, já tinha se resignado.
Com o tempo, foi sentindo carinho pelo peixe. Mellado nunca tinha tido um amigo sem pernas. Desde o amanhecer o bagre o acompanhava para ordenhar e percorrer campo. Ao cair da tarde, tomavam chimarrão juntos: e o bagre escutava suas confidências.
Os cachorros, enciumados, olhavam o bagre com rancor; a cozinheira, com más intenções. Mellado pensou em dar um nome para o peixe, para ter como chamá-lo e para fazer-se respeitar, mas não conhecia nenhum nome de peixe, e batizá-lo de Sinforoso ou Hermenegildo poderia desagradar a Deus.
Estava sempre de olho nele. O bagre tinha uma notória tendência às diabruras. Aproveitava qualquer descuido e ia espantar as galinhas ou provocar os cachorros:
- Comporte-se – dizia Mellado ao bagre.
Certa manhã de muito calor, quando as lagartixas andavam de sombrinha e o bagrezinho se abanava furiosamente com as barbatanas, Mellado teve a idéia fatal:
- Vamos tomar banho no arroio – propôs.
Foram, os dois.
E o bagre se afogou.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Ganhei esse livro... É bárbaro !


Beijo grande , minha querida Stela !