João Martins de Athayde
João Grilo foi um cristão
que nasceu antes do dia,
criou-se sem formosura,
mas tinha sabedoria
e morreu depois da hora
pelas artes que fazia.
E nasceu de sete meses,
chorou no bucho da mãe;
quando ela pegou um gato
ele gritou: "não me arranhe
não jogue neste animal
que talvez você não ganhe".
Na noite que João nasceu
houve um eclipse da lua
e detonou um vulcão
que ainda continua,
naquela noite correu
um lobisomem na rua.
Porém João Grillo criou-se
pequeno, magro e sambudo
as pernas tortas e finas
a boca grande e beiçudo.
No sítio onde morava,
dava notícia de tudo.
João perdeu o pai
com sete anos de idade.
Morava perto de um rio,
ia pescar toda tarde.
Um dia fez uma cena
que admirou a cidade.
O rio estava de nado,
vinha um vaqueiro de fora,
perguntou: “dará passagem?”
João Grilo disse: “inda agora,
o gadinho de meu pai
passou com o lombo de fora”.
O vaqueiro botou o cavalo
com uma braça deu nado,
foi sair já muito em baixo,
quase que morre afogado!
Voltou e disse ao menino:
“você é um desgraçado!”
João Grilo foi ver o gado
para provar aquele ato,
veio trazendo na frente
um bom rebanho de pato:
os patos passaram n’água.
João provou que era exato.
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