Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Ainda sobre Normando ...

ALGO MAIS SOBRE NORMANDO


Um expresso da Viação Caririense. Nas estradas ainda não asfaltadas entre Juazeiro da Bahia e Feira de Santana. Quem migrou para o sul tem no seu corpo este roteiro de viagem. Mais de 12 horas de viagem desde o Crato. Calor, baratas miudinhas nas frestas dos assentos, ônibus cheio, corpos muídos, mentes dispersas entre a saudade e o futuro. Estou em pé, Normando ao meu lado, como um ilusionista a falarmos de vida material e transcendências mágicas. Ele era Rosa Cruz. Normando, com o corpo maneiro pelo biotipo, alto para nossos padrões, magro, pescoço cumprido, cabeça chata, trançava os conceitos mágicos com o movimentos dos dedos finos das grandes mãos.

Falamos de 1974. Eu voltava de umas férias de quinze dias no Crato. Era algo entre janeiro e fevereiro, tempo chuvoso, completava um ano que saíra de Fortaleza para o Rio. Estivera na minha cidade para fazer o retorno que nunca fizera desde que a deixei, às três horas da madrugada (nos primórdios do horário de verão), num trem para a capital. Foi uma noite de fevereiro de 1968, um grupo de adolescentes enxotados em sentido do futuro no tempo e no espaço. Tocávamos violão, tomávamos cachaça sob um pé de Crista de Galo, árvore seminal da minha infância, no quintal da casa da Batateira.

Naquela noite, sem cair nas figuras de linguagem, o filme da minha identidade primeira, passou-me inteiro. Ao meu lado amigos e primos desde os tempos remotos: Fernando Arraes, Joaquim Pinheiro, Nivaldo Teles, José Almino Pinheiro, Aguiar (grande pintor dos nossos cenários de teatro), Moraes (de Campos Salles, briguento por natureza, terminava as festas com olhos roxos) e Almirzinho (Almir Pimentel filho). Desde os tempo remotos.

Tinha sete anos de idade, analfabeto por opção e teimosia, solto nas quebradas do vale do Batateira, escola era presídio e tinha consciência disso. Um dia levaram-me para um grupo escolar, sentaram-me longe da molecada. No dia seguinte, no intervalo entre um dia e outro de aula, aliviei a diarréia nos livros escolares e fui exilado para os campos abertos novamente. Mas o tempo, este senhor da escravidão civilizada, sentou-me num banco do Colégio Diocesano, quatro paredes cortando-me a paisagem, uma cartilha e um caderno com lápis para fazer só o que mandassem.

Mas não há escravidão sem gente. Tendo gente tem vida, tem história e movimento. As prisões, hospitais, santórios e spas são o maior exemplo. Tarcizinho (Tarcísio Leitim, médico pelo interior do Ceará), Pedro Ernesto (filho mais velho de Tomaz Osterne), José Ribeiro (Psiquiatra em São Paulo), Alfredo Leitim, Vanderley e tantos outro recuperamos a vida na escravidão.



Aí pelos idos do segundo ano primário, um drama nordestino. Um drama político. Em Farias Brito a disputa feroz entre PSD e UDN. Um líder do PSD, Enoque Rodrigues foi assasinado a mando dos líderes da UDN. Companheiros e parentes tiveram que fugir para o Amazonas (dois grandes professores da UFC da enfermagem e estatística eram filhos daqueles que migraram a força). A violência política e social é antiga, não chorem apenas pelos de hoje, os de ontem foram terríveis. Promovam os olhos mansos no amanhã.

Enoque morreu deixando a família para criar. E aí, chegaran para estudar os irmãos Elmano e Normando. Tínhamos em conta o drama daquelas crianças como nós, mas deles recebemos um vigor de independência em que o drama de sua família não explicava tudo o que eram. Eram altivos, reagiam à provocação, se colocavam, tinham opinião. Tinham o quê dizer. Elmano foi para o Rio e se dedicou a Propaganda e Marketing, depois indo para Brasília. Normando ficou pelo Rio algum tempo e depois já soube dele de volta ao Cariri. Foi aí que vocês o encontraram. Talvez o motivo pelo qual, os irmãos da trama da vida nordestina, novamente se reencontraram em Bsb.

O encontraram como uma figura mítica que logo se encantou. Mas agora, compreendam o motivo dos blogs Cariricult e Do Crato. É que não temos elfos e outras figuras de prateleiras, temos mitos que só nós mesmos sabemos compreender. Pode até ser a projeção globalizada na nossa grei, mas não deixa de ser antropofagizada.

Postado por José do Vale Feitosa no Cariricult , em março/2008

Depoimento de Joilson Kariry Rodrigues

Inicio dos anos 80 - O caldeirão da cultura fervia um caldo de arte e anarquia nas trempes do Cariri, cada um adicionando uma pitada de tempero a seu gosto. O homem do sertão, Normando, apimentou o guisado. Ressuscitou Antonio Conselheiro, tomou-lhe o cajado e a língua ferina, fez-se do mesmo barro que modelou Gonzagão e Patativa, dessa argila desidratada que assoalha o sertão. Deu-se para a caatinga, recolhendo ossos e o sal do torrão, fez arte, destemperou o caldo. Usava a grife Salvador Dalí: fartos bigodes, costelas salientadas, e a genialidade de igual a igual, pau a pau como se diz hoje. Conheci Normando na aridez desses tempos, anos 80. O Crato era de açúcar e fel, ora se afogando nos descontroles das nuvens, ora se esturricando sob a impiedade de Helios, o deus sol. Era refugio dos donos das artes, dos loucos que aprendi a amar, dos anarquistas, era casa da mãe Joana. Normando me apresentou o Crato levando-me a dá o meu primeiro passeio de elevador. Fingiu não rir da minha cara abobalhada, do meu extasio de menino que descobre o mundo para além das ribeiras do Cariús; e deu-me de presente essa cidade, os loucos, os artistas e os anarquistas. Lembro-me do desenho de giz na calçada da Sé, um sertanejo crucificado num cabo de enxada, riscado numa madrugada de insônia. Nesse dia dividimos o último cigarro, a abstinência de um gole de cachaça, as risadas que acordaram padre Bosco. Ele me convencia a engajar nos movimentos liderados por Leonel Araripe e Carlos Rafael, como se eu tivesse importância pro movimento. As sobras do giz viraram uma escultura de sereia nua em suas mãos gigantescas, talhada e esculpida por uma tampa de caneta Bic, para depois ser atirada nas águas do canal, e foi, boiando, para as águas do oceano que eu ainda não conhecia, encantar marinheiros distraídos. Esperamos os derradeiros suspiros da lua nos batentes da catedral. E quando o sol veio cumprir sua sina de alumiar o sertão já estávamos na porta de Carlos Rafael, como dois remanescentes da boemia que se negam aceitar o fim da noite, vampiros à luz do dia. Senti ali que o sertão me regurgitava de suas entranhas, o mundo não era só ali e Normando me disse isso no dia que me descobriu num esquete de escola em Farias Brito. Era difícil acreditar que eu tivesse algum talento diante das mil faces artísticas dele, mas ele achou que eu tinha. Normando Rodrigues era Pintor, Desenhista, Escritor, Poeta, Escultor, Artesão, Ceramista, Gravurista, Xilógrafo, entre outras atividades que exerceu. A figura mais fantástica que eu já conheci. Um gênio.

Postado por Carlos Rafael Dias no Cariricult em 31.10.2007


Nico X Normando

o mundo real me absorve, nem sempre absolve, e entre tantos desvãos e devaneios não tive conhecimento destes textos...mas sempre é tempo...lembrar o inesquecível...Sou um homem de poucas palavras... (espero)e expressar meu sentimento por José Normando é tarefa impossível com a ferramenta da palavra, mesmo a poética, que transcende o comum dos signos...Vivemos, eu e ele, o melhor tipo de sentimento que duas pessoas podem experimentar;uma amizade profunda, cúmplice e inquebrantável...Tantas aventuras, tantas transoformações ...Daria para escrever alguns livros...A última vez que o ví, magro e consumido pela vida, conversamos profundamente sobre a morte.Seu fusca branco trafegando pelas ruas de Brasília, entre a rodoviária e seu apartamento... Tantas voltas para não chegar... não queríamos chegar..."... é que quando alguém de quem gostamos, morre, choramos a sua morte. Mas principalmente choramos a nossa própria morte. É que junto com ela morre nossa história em comum, nossas aventuras, cumplicidades... uma parte de nossa história pessoal morre junto...assim como diz o velho fado - só nós dois é que sabemos...-" Agora, só eu sei, eu e meu cavalo que pasta na solidão...
Que posso dizer mais? milhões de palavras não bastam...fiquei sem meu irmão!

postado por Socorro Moreira no Cariricult, em 29.09.2007
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Tem um sax na madrugada do céu

Por onde andará stephen fry...escuto zeca baleiro na memória. Os longos bigodes roubados de salvador dali (sem as dobras) aparecem: normando. O cara. O cara que escolhi para ser meu pai, xamã e mestre de cerimônias da vida. Vida...vida...que vida louca do caralho! Perdi o último ônibus, salão de outubro ducaralho, e rafael teve a idéia: - dorme na casa de normando cara! – quem? – normando. Ele é gente fina. Fui. Tive como primeiro trabalho retirar o fumo de alguns cigarros hollywood e preenche-los com maconha. Deve ter sido um teste de paciência, ou algo do gênero. Um preço pequeno pra dormir em uma bela rede, depois de beber todas e começar, ali, a respeitar um cara que sabia rir das desgraças. Alheias e suas.
Eu: prazer cara. Meu nome é lupeu. Sou poeta e anarquista.
Ele: - e eu com isso?
Risos. Dele, de rafael, neidinha, jack, nicodemos e por último, risos meus. Foi uma grande primeira aula. Com ele aprendi a amar o crato. Seus becos sujos, suas ladeiras, seus bares de ponta de esquina – quentes e fedorentos – o mercado de madrugada. Com ele aprendi a tomar porres com elegância (nem sempre). Com ele aprendi a cortar na carne, a podar ´poemas, a aprender a “ler” e “ouvir”.
Eu: caralho normando! O slayer é a banda mais fudida do planeta!
Ele: e isso é bom ou ruim?
Risos. Dele, de nicodemos, de ana sexta feira, de manel do pezão. E depois, risos meus.
Ouvi stanley jordan, os malditos paulistas, blues, jazz, misturados com literatura buena e nem tanto...não sou hipócrita. Continuo achando meus rocks mais vitais. Mais virais. Mas meus ouvidos criaram outras portas, que hoje escutam zeca baleiro cantando: - “por onde andará...” normando. Acho que me mudei pra lá nos finais de semana. Tínhamos tudo: amizade, grana pra cerveja, debates calorosos (e nem sempre amigáveis) com os luminares.
Cena 1 – o nojento rosemberg apresenta seu filminho no grande teatro do crato.
Cena 2 – mesa na lagoinha, o nojento rosemberg debate, e bate em quem não concorda com seus filmecos feitos de renda do estado. Digo: não o reverencio meu irmão.
Nojentoberg – qual o seu nome “menino”, o que você faz, quem é você, você sabe com quem está falando? Eu sou um ci-ne-as-ta!
Eu: - eu sou carteiro, poeta, e seu filme é uma grande bosta.
Risos nervosos. Eu e normando gargalhamos, e comemoramos a noite inteira. Um dia, em sua brasília teimosa e lerda, nos flagramos rindo de tudo: do anarquismo, do rock, do comunismo, da arte pop nunca nova, dos nossos bigodes (oh yes, deixei crescer um bigode), do jazz, dos nossos amigos e principalmente: de nós mesmos. Era domingo de madrugada. E a segunda feira não teve cartas na rua santa luzia, nem o banco do brasil viu seu funcionário chegar pro trampo. As nove da manhã de uma segunda comum estávamos nós, nossa namoradas, e a brasília polissílaba lá em wilson da cascata. As dez da manhã normando vaticina (fumando um back poderoso): - liberar a maconha é um retrocesso! Basta a cerveja. A discussão a seguir? Melhor que qualquer filme de rose caririaçu, ou qualquer solo de guitarra blandinesco. Um dia viajei pra petrolina. Ele, pra brasília. Me mandava poemas, fanzines, rótulos de vinhos escrotos e famosos. O tempo, que sempre pareceu não nos olhar, olhou para ele, fez as contas e o levou. Foi rafael que me contou, e eu estou convicto: foi o primeiro dia que envelheci. Hoje, quando quero me levar a sério demais, penso: o que diria ele? E o som de sua risada cristalina e única entra minha alma a dentro. Ontem, lendo o blog, olhando sua cara de guerreiro normando, decidi: zeca baleiro! “por onde andará... ninguém sabe do seu paradeiro, ninguém sabe pra onde ele foi, pra onde ele vai...” saudade do caralho! Do sax, da conversa paterna, da cerveja, do grande, do gigante, do meu maior e melhor amigo: Nor Mando. O que não mandava.

Postado por lupeu lacerda no Cariricult , em set/2007
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Aquele que virou anjo!

José Normando Rodrigues, artista plástico, músico, produtor cultural e amigo.

A minha saudade:

“O cacto” venceu o primeiro Festival Regional da Canção com a inesquecível “Grito de Uma Geração”, de Hildeberto Aquino (um dos irmãos Jamacaru) e como prêmio ganhamos uma viagem pro Rio de Janeiro pela Viação Pernambucana e estadia no Colégio Santo Antonio que ficava no Catete. Viajamos eu, Geraldo (que viria a ser Ghandi, Urano, Efe, etc.), Chico Carlos (irmão de Zé Roberto França) e Hobert (Beto). Por motivos outros, nem o Abidoral nem Louro (Alberto) puderam viajar conosco... Foi no Rio de Janeiro que encontrei o Normando pela primeira vez e foi ele que nos levou até a Cinelândia e Lapa para sentirmos o gosto da boemia carioca. Desse primeiro contato ficou a atenção que nos dispensou naquela primeira estadia na Cidade Maravilhosa. Depois, só fui reencontra-lo quinze anos depois, trabalhando no mesmo banco que eu (o BB) no Centro de Processamento. Aí começou, realmente uma grande parceria. A gente ficava no banco “tramando” produções: Jornal Folha de Pequi, Movimento Confederação dos Cariris (uma rede caririense de grupos com afinidades artístico-culturais), Salões de Outubro, Bolart (sala que o Bola mantinha no centro do Crato para encontros dos artistas), e, pasmem, até decoração de carnaval de clubes, etc.

Quando resolveu sair da cidade foi uma grande surpresa pra todos nós. Foi morar em Brasília e só de vez em quando aparecia para passar poucos dias. A gente foi se distanciando... até que “virou anjo” de asas enormes e voou tanto que o perdemos de vista. Mora agora em cada um dos nossos corações.

Luiz Carlos Salatiel

PS: Uma pequena homenagem lhe prestei quando abri uma galeria de arte que recebeu o seu nome no NaveGarte e que mantive enquanto administrei aquele espaço.

A memória de Carlos Rafael:

A primeira vez que vi Normando, lembro bem, estávamos (uma rapaziada: eu, Geraldo Urano, Deca, Clélio Reis, Sérgio Guevara, Edelson Diniz, Romildo Alves... dentre os que me lembro) numa manhã quase monótona, no Parque Municipal. Chegou Normando, como que saído do nada, com força e personalidade, ocupando todos os espaços ainda vazios, e sem delonga, logo falando (ao observar que as os oitizeiros e eucaliptais do parque estavam pintados com uma barra branca de cal): "esse tipo de pintura é intervenção oficial, a marca do poder. Vamos mudar isto". E saiu, tão impassível e misterioso como chegou. No intervalo, até a sua volta, fiquei intrigado, ou melhor apaixonado por aquela figura esbelta, cabelos e bigodes longos, e jeito único de sorrir, mexendo com charme o canto da boca. Ao voltar, Normando (homem do norte, sim!), trouxe pincéis, trinchas e tintas xadrez em abundäncia, de todas as cores, com aquelas essenciais bisnagas para colorir o pó contido nas tradicionais caixinhas preto-e-branca, estampada por uma peça-cavalo. Era cerca de nove da manhã. Passamos, pois, todo o resto do dia colorindo as barras brancas das árvores (encobrindo a marca da oficialidade e deixando a marca livre da arte). Pintadas todas as árvores, passamos para as paredes dos boxes que outrora eram as jaulas do zoológico que um dia o Parque abrigou. E depois, as paredes externas da Quadra Bicentenário. No final, estávamos cansados e felizes. Normando tinha dado um norte naquele dia que pareceria um dia comum. Mas, não! Tinha chegado, de volta, o homem do norte...

Depois daquele primeiro encontro no Parque, Normando tornou-se um dos nossos gurus. Além dele, tínhamos Salatiel e Geraldo Urano.
(o coletivo do qual trato é referente a uma moçada etariamente mais nova, a exemplo de Lupeu e Calazans).
Ele morava na rua Cel. Secundo, a mesma do Parque. Dizia ter sido um dia filiado ao PC do B, mas agora (aleluia!) era anarquista, artista plástico, ainda casado, com um lindo casal de filhos (lembro do nome do garotinho: Gláuber. E lembro também do rostinho da menininha, com seus cachinhos loiros). Inovidável, também, é a sua esposa de então, Genilce, uma carioca muito charmosa.

A lembrança de Glória:

Me lembro dele encostado na parede da cozinha do meu apartamento, numa manhã de domingo (último dia de exposição) ouvindo um disco (vinil) dos Beatles. Tinha acabado de acordar e acho que estava de ressaca.Pensativo, calado, cabelinhos oleosos, óculos em cima da mesa, cigarro entre os dedos. Tive um contato muito breve com Normando, mas o suficiente para perceber sua sapiência diante da vida e sua bondade como ser humano.

A paixão de Socorro Moreira:

Conheci Normando ,em campanha política estudantil. Naquele tempo, eles visitavam as salas de todos os Colégios, para exposição de idéias, e apresentação dos candidatos , que formariam a chapa.Sua figura se destacava, pelo jeito "cavernoso" , irônico e irreverente.Era um idealista! E, embora não estivesse disputando o cargo de Presidente da UEC, sobressaia-se, na sua postura de líder.Não sei por que cargas d'água ou, culpa do seu carisma, conquistou o nosso voto, fácil, fácil...Isso foi em meados dos anos 60.
* Pesquisem essa gestão!

Tenho a impressão que o cargo que ele ocupou foi de primeiro secretário.Mas não tenho certeza...Só sei que fui eleitora de Normando, naquele tempo, depois de muito tempo,agora e sempre!

Depois, ainda nos anos 60, reencontrei Normando, nas escadas do Colégio Estadual, namorando com uma garota chamada "Vera", nos intervalos das aulas. Olhava os dois , pelo canto dos olhos...Formavam um belo par! Ainda escuto a risada em uníssono, denunciando leveza e alegria!
Ele não era exatamente o meu tipo...(risos).Mas incomodava-me bastante, ao ponto de achá-lo, cá com meus botões, o rapaz mais charmoso dos meus tempos! Não tive chance.Existia Vera, existia Lúcia...E eu estava noutras órbitas...Nunca um olhar sequer, nós trocamos!
Era o fim dos anos 60.Todo mundo daquela geração se dispersou: pra casar, estudar fora...E o mundo girou!

15 anos depois, 1984, depois de muitas andanças, trabalhava no Banco do Brasil de Mauriti, quando ouvi sobre Normando! Uma pergunta geral, da moçada que frequentava o Parque Municipal.

-Você já conhece Normando, Socorro? Pô, precisa conhecê-lo!Ele trabalha no Cesec Juazeiro do Norte, e está ilustrando o jornal informativo do Cesec.O cara desenha bem pra caramba, além de ser, super boa gente!

E as notícias sobre a genialidade de Normando, corria nos ventos!
"Normanto separou-se da mulher"; "Normando parece "Pardal", vive inventando coisas"; "Normando vive testando e descobrindo novas técnicas de pintura";" Normando é politizado, anárquico, e de um profundo senso de liberdade, justiça, e humanismo"."Normando é o máximo!"

Uma noite, no Parque , avistei Normando brincando com duas crianças( um casal de filhos).Imediatamente associei sua imagem ao moço que eu conhecera um dia... Mantive distância , e fiquei a observá-lo.Nem se deu conta de mim.Estava absorto em cuidados, e inventava folguedos para distrair as suas crias.Fiquei encantada com a "performance" daquele pai.Putz,que cara!
Todas as vezes que voltei ao Parque, naquelas épocas ( 84 a 87),encontrava Normando com a galera de sempre: Rafael, Geraldo,Pachelly, Terto, etc,etc.
Como prima de Geraldo , eu me introjetei naquele mundo eucaliptizado...Mas nunca Normando me foi acessivo.Era monossilábico,nas respostas, quando eu o interpelava...Enfim,não alimentava papo, embora fosse elegante e gentil!

Mais uma vez, a despeito do tempo, pensava cá com meus botões:Meu Deus, que homem é esse? Confesso que, uma esfriadinha na barriga, eu sempre sentia, quando a gente se topava.Não conseguia interessá-lo...ele tinha o poder de me embobecer.Com um leve sorriso de zombaria, parecia adivinhar, o quanto me ameaçava!

Em 1986, o destino me pregou uma peça. Trabalhávamos em Agências diferentes, mas fomos convocados pra fazer o mesmo curso, em Recife.Ficamos no hotel, em que todos ficavam:Hotel São Domingos, pertinho da Av.Guararapes, aonde ficava o Centro de treinamento(DESED).
Primeiro dia, nos esbarramos, no café da manhã.O cara, nem "thum" pra mim! Um bom dia desligado...e ponto!

Final do dia, quase noitinha, vi que se distanciava com mais dois colegas...Apressei o passo, e emparelhei com o a turma.Iam todos para o Pátio de São Pedro, dançar ciranda, tomar caipirinha de pitanga! Literalmente, convidei-me...e fui!

Nos acomodamos, num dos botecos da área.Era uma mesa enorme com uns vinte colegas, e eu! Chegou um violão, no ombro de alguém.Foi convidado, e tirou as primeiras notas: "Notícia"( uma música antiga de Nelson Cavaquinho).O povo silenciou, conversou...Mas, só eu e o Normando, conhecíamos a canção, e todas as sequentes. Ficamos os dois a cantar, initerruptamente, até as altas da madrugada.Não perdíamos uma dica do "bom cantador".Repertório impecável,boêmio, poético...e aí,as afinidades explodiram, fatalmente!.Bebi todas, e não me embriaguei...nem me embobeci!Ele não era "Judas" pra negar-me! Tornamo-nos camaradas! Já voltamos pro hotel, amigos de infância!

Protegeu-me, como se protege uma irmã. Já no Hotel, cada qual pro seu canto! Sem um beijo... Apenas um sorriso de quem já não negaria , uma bola de sorvete!
Obedecemos os horários de treinamento, e fizemos programas noturnos, diários:cinema, barzinhos, jogos, etc,etc. Estranhava o cara não me paquerar...Eu estava "gata", na plenitude dos meus 35 anos.

Acho que depois de quase duas semanas, resolveu contar sua história.Estava divorciado, mas comprometido com o seu amor de adolêscência.Depois de vinte anos, Ulisses voltara para Penélope.Que podia fazer, a não ser me ternurizar com aquela história?Transcendi, instantaneamente ,todo meu tesão!
E me coloquei, na linha de amiga,porque já era tarde pra não amar aquela figura..."Tarde demais para esquecer"!

Convivemos na sequência, amorosamente, por (6) meses...Um dia, fui embora pro Mato Grosso do Sul;noutro dia, ele zarpou para Brasília.
Mas antes dessas despedidas, permiti que herdasse a minha amizade pelo João Nicodemos.Grandes amigos ficaram. Amigos de emocionar, até Deus!
Não consigo falar dessa trilogia: Socorro, Normando e Nicodemos, sem chorar... sem me engasgar de saudades!

Por breves 11 anos, nos víamos, nas (4) festas do ano.Sempre, sempre,o amor do mesmo jeito.
Idependente das nossas realidades solitárias, fomos fiéis a tudo que no amor, se aumenta!
Respeitei a escolha amorosa de Normando, e ele conviveu com todas as minhas escolhas ( erradas ou não)!

O sentimento que nos uniu, nunca se quebrou;nunca discutimos, nunca nos aborrecemos, nunca nos entediamos, nunca nos desligamos...Até que a morte nos separou!
Tudo foi ficando mais forte, com o passar dos tempos... Mas perto vai ficando, de um amor eterno!

O respeito de Zé Flávio:

Vi algumas vezes o Normando de relance. Não tive maior aproximação. Estava no Recife nos anos 70 e depois retornei na dura labuta de começar a vida de médico. É uma das figuras que só conheço por descrição dos amogos mais chegados: Salatiel, Rafael, Nikos, Socorro. O diabo é que acabou por queimar a centelha muito rápido: mas como brilhou ! Um continho chamado Ícaro que publiquei no blog foi uma história do Normando, me contada pelo nicodemos e que acabei psicografando.Esta provado que existem pessoas que têm um quê de eternidade.

A admiração de Jackson Bantim (Bola):

Normando foi um amigo e irmão, pensativo, correto diante das amizades. Sabia como ninguém visualizar o verdadeiro amigo. Fui presenteado por ele com a sua única modelagem em argila, da sua astúcia do novo campo das artes, expressando a imagem de um dos maiores poetas populares do Brasil, Antônio Gonçalves da Silva, o amigo Patativa do Assaré.
É, amigo Normando, tenho certeza que estás fazendo artes com os bons anjos do Céu.

Postado por LUIZ CARLOS SALATIEL no Cariricult

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