Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Dias Gomes


Alfredo de Freitas Dias Gomes (Salvador BA 1922 - São Paulo SP 1999). Autor. Sua obra tem uma abordagem humanista de esquerda, com temática voltada para o homem brasileiro e sua luta com a engrenagem social. Entre elas, O Pagador de Promessas, um clássico da moderna dramaturgia brasileira.

Muda-se para o Rio de Janeiro e escreve, aos 15 anos, a sua primeira peça, A Comédia dos Moralistas, premiada pelo Serviço Nacional de Teatro - SNT, em 1939. Pé de Cabra é encenada em 1942, pela companhia Procópio Ferreira, com êxito de público e crítica. Seguem-se as montagens de João Cambão, 1942; Amanhã Será Outro Dia, 1943; Doutor Ninguém, 1943; Zeca Diabo, 1943; quase todas produzidas pelo conjunto de Procópio. A partir de 1944 passa a concentrar suas atividades no rádio. Escreve e dirige programas, exerce cargos de chefia artística em várias emissoras e produz radioteatro, inclusive com adaptações de alguns textos de sua autoria originalmente escritos para palco. Volta ao teatro em 1954 com Os Cinco Fugitivos do Juízo Final, produzida por Jaime Costa, com direção de Bibi Ferreira.

Sua consagração vem em 1960 com a montagem de O Pagador de Promessas pelo Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, dirigida por Flávio Rangel e seguida, em 1962, por uma montagem carioca, do Teatro Nacional de Comédia - TNC, com direção de José Renato. A peça conta a história de Zé do Burro, um dos mais puros heróis trágicos da dramaturgia brasileira, que paga com a vida pela obstinação em depositar na igreja da capital a pesada cruz que trouxe de sua longínqua aldeia, em pagamento de uma promessa feita para que Iansã curasse o seu burro doente. Em torno de Zé do Burro giram as personagens que são a síntese de um Brasil ao mesmo tempo medieval e moderno, intolerante, impiedoso nos seus desequilíbrios sociais e educacionais, e onde o indivíduo não tem chance de resistir às artimanhas do esquema explorador. Para a popularidade de O Pagador de Promessas contribui a sua versão cinematográfica dirigida por Anselmo Duarte, vencedora da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1962, e uma adaptação para a televisão que, produzida 28 anos depois da criação da obra, comprova a sua vitalidade.

O mesmo universo nordestino é cenário para A Revolução dos Beatos, criada em 1962 pelo TBC, com direção de Flávio Rangel, pela qual recebe o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de melhor texto. A ação se baseia num episódio histórico de 1920: a trajetória do Padre Cícero e a manipulação do seu carisma místico pelos interesses políticos do deputado Floro Bartolomeu. O autor faz uma abordagem crítica desse episódio com personagens do fabulário popular. O Boi Santo, do Bumba-meu-Boi, desempenha um papel de destaque. Também em 1962 estréia no Rio de Janeiro, dirigida por Ivan de Albuquerque para o Teatro do Rio, A Invasão. Nesta peça, o autor transpõe a ação para o cenário urbano, relatando a invasão de um prédio em construção por um grupo de favelados. A comédia Odorico, o Bem-Amado, escrita em 1962, mas só montada em 1969 pelo Teatro de Amadores de Pernambuco - TAP, com direção de Alfredo de Oliveira, se passa no interior da Bahia, onde o prefeito concentra todos os esforços na demagógica inauguração de um novo cemitério, esbarrando na falta de um cadáver que possa inaugurá-lo. Anos depois, a personagem ganha enorme popularidade, quando o autor transplanta a idéia central da peça para a bem-sucedida telenovela O Bem-Amado, valorizada pela composição de Paulo Gracindo no papel-título.

Na véspera da estréia da montagem original de O Berço do Herói, em 1965, o texto é interditado pela Censura, dando início à longa etapa de repressão de que o teatro brasileiro é vítima até o fim da década de 1970. A peça desmistifica a figura de um falso herói, um ex-integrante da Força Expedicionária Brasileira - FEB. A tentativa de transformar seu enredo numa telenovela esbarra nos mesmos problemas com a Censura. Posteriormente, o autor utiliza algumas idéias desse enredo como subsídios para a novela Roque Santeiro.

Para escapar da Censura e ao mesmo tempo permanecer fiel aos seus propósitos, Dias Gomes recorre na obra subseqüente a uma parábola vagamente histórica: a jovem Branca Dias, protagonista de O Santo Inquérito, vítima da Inquisição no século XVIII, merece um lugar de destaque na galeria dos heróis puros e libertários criada pelo autor. O impasse entre o teatro predominantemente político de Dias Gomes e os obstáculos que se opõem à sua produção no Brasil da ditadura gera uma fase menos fértil do autor, na qual se destaca Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória, em co-autoria com Ferreira Gullar, montado em 1968, com direção de José Renato. O espetáculo conta a vida de Getúlio Vargas em forma de enredo de escola de samba e reproduz, no microcosmo da escola, as lutas pelo poder abordadas no enredo. Uma nova versão do mesmo texto, com o título de Vargas, atendendo às exigências de uma superprodução musical e enriquecida por músicas de Edu Lobo e Chico Buarque, estréia no Rio de Janeiro, em 1983, com direção de Flávio Rangel, texto também premiado.

A partir de 1969, o autor se afasta do teatro e se dedica, durante alguns anos, à televisão. Torna-se o mais importante dos autores de novelas, levando para o novo veículo a observação da realidade brasileira e a mistura de fantasia e realismo que caracterizam a sua obra teatral Entre as novelas mais bem-sucedidas encontram-se: Bandeira 2, 1971; O Bem Amado, 1973; Saramandaia, 1976; Roque Santeiro, 1985.

A volta de Dias Gomes à dramaturgia teatral se dá em 1977, com As Primícias, "alegoria político-sexual" que vai à cena em 1979. No mesmo ano é lançado no Rio de Janeiro o seu primeiro musical de grande montagem, O Rei de Ramos, uma fábula cuja ação transcorre no mundo do jogo do bicho. Musicada por Francis Hime com letras de Chico Buarque, a peça é, como tantas outras de Dias Gomes, dirigida por Flávio Rangel. E em 1980 chega à cena Campeões do Mundo, texto no qual ele procede a um acerto de contas com a experiência histórica do regime autoritário, mostrando ao público as diferentes motivações dos jovens que optaram pela luta armada para se opor ao regime e brechtianamente estimulando o espectador a tirar suas próprias conclusões. Em 1989, estréia um novo texto do dramaturgo, Meu Reino por um Cavalo.

O crítico e ensaísta Yan Michalski, ao analisar a obra de Dias Gomes, considera que ele "(...) conta com um excepcional dom de observação das peculiaridades do caráter nacional, quer se trate do sertanejo perdido num interior quase medieval, do favelado exposto às agruras da selva do asfalto, ou do jovem intelectual que seqüestra um embaixador nos tempos da luta armada. Por outro lado, apesar de o teatro ser rico em personagens de forte carisma pessoal, ele evita consistentemente dar destaque prioritário a problemas individuais: seus verdadeiros protagonistas são sempre, com maior ou menor nitidez, corpos coletivos, cujos comportamentos se regem muito mais por condicionamentos de caráter social, cultural e político do que por motivações de realismo psicológico. Apesar da objetividade da crítica social que é a mola mestra do seu trabalho, ele não renega, mas pelo contrário explora generosamente, elementos de fantasia, misticismo e tradição lúdica popular; da mesma forma como não hesita em misturar toques de autêntica tragédia com um humor corrosivo que é uma presença constante nas suas peças".

PEQUENA Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo.

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