"O FÁRMACO NO CORPUS HIPPOCRATICUM"
Diversos em sua cronologia, temática, escola e doutrina, unitários em seu comum apoio no conceito de phisis, os 53 textos que compoem o CORPUS HIPPOCRATICUM inicia a elaboração dessa consciência metódica da medicina que culminou em GALENO. No decorrer dos séc. V e IV a.C., mas prolongados no tempo até varios séculos depois, os textos foram desprendendo-se da linha mágico-telúrica do período arcaico e afiançando seu caráter empírico-racional até tornar-se verdadeira tékne iatriké. Sobre o fundamento comum da physis, entendida a constituição desta como uma composição de elementos - os quatro empedocleanos- dotados de suas qualidades (fogo, terra, ar e água), os hipocraticos, em virtude de um complexo processo em cuja história não posso entrar, mas que foi muito bem exposta por LAIN, a cujo saber me apoio e recorro, vão os hipocráticos elaborar um conceito biológico a um nivel superior o do humor, comprendido por sua vez como associação, em proporções diversas, dos quatro elementos com suas qualidades; quatro também são os humores: sangue, bilis amarela, bilis negra e pituitária. Apoiado nela o hipocrático vai conceber a enfermidade como o predomínio de alguma qualidade - seguindo a tradição alcmeônica (Alcmeon médico Grego) como o desequilíbrio na composiçao dos elementos ou como maior vigencia e duração até o mundo moderno, como dyskrasía , ou mal mistura humoral. O qual significa que: sabendo fazer e sabendo por que faz aquilo que executa - e transitando da pura empiria a tékkné- o hipocrático vai entender o tratamento como a arte de estabelecer a isonomia das qualidades, o equilíbrio dos elementos ou a eukrasía dos humores, ajudando a própria natureza que em virtude de sua inata vis medicatrix, trata de rstabelecer por si mesma sua própria desordem.
Como conseguiu isto? Através dos recursos terapêuticos, da dietética, a matéria médica, , a cirurgia e a psicoterapia. Fixemo-nos na MATÉRIA MÉDICA. No CORPUS HIPPOCRATICUM o pharmakón perdeu definitivamente seu significado mágico para ser utilizado, segundo ARTEL e LAIN, em um triplo sentido: como substância exterior ao corpo, capaz de produzir nele uma ação favorável ou desfavorável, dificil de delimitar da noçaõ de alimento; como puro medicamento capz de modificar o estado presente; como medicamento purgante, no sentido de que a "purgação" - kátharsis - teve para o hipocrático, isto é, como ação evacuante, e em consequência purificadora da matéria alterada , origem da enfermidade.
É evidente que neste último sentido foram purgantes para os hipocráticos a maior parte dos fármacos utilizados. Exerceriam sua ação purificadora através de um suposto mecanismo de "agitação" ou "atração" , relativo aos humores, contituído em sua própria natureza e sempre concebido segundo o princípio do contraria contrariis (tão grata aos homeopatas de Hanemman séculos depois). Mas algo mais cabe dizer desses farmacos catárticos: a conexão semântica entre seu significado e o da kátharsis no sentido de "purificação ritual". Foi tem amplamente tratado por ARTEL, TEMKIM e LAÍN, e resumidamente cabe afirmar que tal relação existiu, talvez através do caráter divino que para os hipocráticos tinha a phisis. DEUBNER pôs em evidência os "crivos expiatórios", os homens destinados a purificar a cidade de seus males carregando-os sobre si, eram denominados pharmakoí; cada pharmakós era um " pharmakón personificado" . Asim tão complexamente entendido o "pharmakón", a medicina hipocrática utilizou um númeo mais restrito deles do que até então havia sido habitual nas culturas arcaicas. A TISANA - bebida mucilaginosa procedente da cocção de cevada triturada- o HIDROMEL ,-água com mel - o OXIMEL , mistura de vinagre, água e mel. O leite o vinho, etc., tiveram grande utlização. Importante papel tiveram certamente os purgantes - o eléboro-, os enemas, especialmente com leite de burraou com uma mistura de mel e sal-, as decocçoes de acelgas , nabos, suco espesso de euforbiaceas e de veratrum album. Como diureticos a cebola e o aipo. Os narcóticos foram pouco empregados: com preferência se utilizou o MECÔNIO ou a dormideira. No total , ACHERKNECTH e outros autores dão cifras de umas 250 a 263 plantas terapêuticas empregadas; as substâncias animais foram muito similares às da farmacopéia arcaica: gordura, bilis. Os remédios minerais foram relativamente escassos, uma vez que se pensava que sua ação, ao ser tão diferente da humana, era demasiado intensa: especialmente utlisaram o alumínio, o sal e as terras, externamente aplicados em forma de unguentos. Por via oral se aplicava o óxido de ferro. Poções, pilulas, epitimas , enemas e pesarios foram outars tantas formas de administração dos fármacos. O médico dispunha de uma pequena farmácia - segundo nos informa o texto "Sobre a Decência" - de "tópicos, emolientes, poções incisivas, preparados conforme a fórmula e segundo seus gêneros", assim como de susbtâncias purgantes tomadas nas melhores localidades e tartadas para serem conservadas asim como as substãncias frescas, preparadas no mesmo momento e todas as demas coisas pertinentes". Como os Egipcios, também os médicos hipocráticos preparavam pessoalmente seus fármacos. Um só ponto resta tratar: a origem e sentido da farmacopéia hipocrática. Com relaçao ao primeiro, é lógico pensar em sua procedência a partir da medicina empírica e mágica, tanto nativa como das diversas culturas orientais com as quias o povo grego teve contato. Mas, assim como outros autores consultados , me pergunto: Por que um determinado fármaco chegou a ser adotado como próprio por uma medicina que se autodenominava "técnica"? Deixando a margem a possibilidade da "observação comprovada" assim como do post hoc ergo propter hoc, LAIN ressaltou os certeiros estudos de R. JOLY, quem aplicando ao caso a psiscanálise de BACHELARD, argui a existência de uma série de "presságios" - o exotismo, a vida, o odor, a disgestão - como explicação daquele sentido; o qual viria a demonstrar : em que pese a sua racionalidade e técnica, a mente do hipocrático todavia operava inconscientemente os presságios míticos vigentes em sua sociedade.
Dedicado ao Dr. José do Vale Filho, que, em não tendo sido SEMINARISTA como eu, e aprendido um pouco de Latim e Grego com o ilustre Professor Pe. José Honor de Brito, mas colega da mais brilhante e perturbadora IVa Série do Colégio Diocesano, amigo, colega entende exuberantemente de Medicina e de solitudine, soledad e solis.
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