Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A poesia de Domingos Barroso

Eternidade

Não leves a sério
teus sonhos -

são filhos do vento, das nuvens
dos grãos de areia, dos búzios.

Observa-lhes o esplendor
da morte súbita.

Acalma-te -
logo mais tarde

outras mortes,
vêm mais sonhos.

Por enquanto,
contenta-te

com o cursor
piscando.


a solidão do parasita

Caso fechasse os olhos
agorinha mesmo para sempre

pensaria em ti
cuidando dos meus despojos

e plantando a árvore
que esqueci.

Se a febre
me queimasse as retinas
ficasse cego dentro da tua alma

sei que não seria triste
nem muito difícil

encontrar teu silêncio
e nele envolvido
abrigar-me.

Mas deixemos de tolices,
prepara-me um banquete.

Apenas não te esqueças:
quero as verduras lavadas
com o perfume das tuas mãos.

Maturar-se


O vento
mesmo fraquinho
quando bate nas minhas pernas
arrasta meu corpo

enquanto alguma coisa dentro
(alma, talvez vazio)
um centímetro não se move.

Da mesma forma
debaixo do chuveiro

cabelos molhados
cílios, unhas, cutículas

mas algo dentro
(alma, talvez vazio)
continua fogo aceso.

Deitado agora
na cama box solteiro

as pernas cruzadas
os dedos dos pés siameses

tenho clara ideia da minha presença -
a boca do estômago se contrai
involuntariamente.

Lá fora
as calçadas desafiam-me:

"vem, poeta
descobrir nossos segredos
de meio-fio"

Travessuras

Quando criança
fiz delicadas cirurgias
no abdome de lagartixas -

era comum extrair-lhes
pequenos besouros
e sementes.

Também normal
submeter as cigarras
ao exame de próstata -

do palito de fósforo uma estaca
enfiava-lhes entranhas adentro.

Cruzavam paralelos, canteiros, eixos, calçadas
igualzinho a helicópteros de guerra americanos.

Entretanto
o que mais me extasiava -

pisar nas bundinhas das tanajuras
em noite de calçadas chuvosas.

Havia quem saboreasse
tal iguaria ao óleo.

Eu tinha nojo -
e com meu tênis kichute

continuava a esmagar-lhes
as suntuosas bundinhas.


a flacidez da alma

Ao teu redor
as flores sorriem

e a hóstia suplica
um pouco de vinho.

Não estás salvo,
foge -

mergulha a cabeça
dentro do vaso sanitário.

Conta até 60.

Não acredito:
nem um minuto consegues
debaixo do teu próprio mijo?

Antigamente
com a concha da mão cheia
curavas até tua dor de ouvido.

Lembras?

Deixa de nojo patético
e mergulha -

Agora conta até 120.

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