Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Tédio enfastiado e Alegria conquistada - José do Vale Pinheiro Feitosa

No encontro das águas do Solimões e Rio Negro ambas descem paralelas com muitos quilômetros, lado a lado, sem se misturarem. Uma linha nítida separa as duas. Muito adiante as águas recebem mais afluentes e descem até se tornarem uma solução apenas.

O cristianismo já tinha vislumbrando o Amazonas: aquele em que as águas são apenas uma. A igreja com seus filósofos e teólogos é que depois inventou o batismo a partir do qual os que já eram criaturas de Deus por certo foram arrastados para um estado de paganismo para receberem o ritual de qualidade do cristão. Enfim, era o mais político dos atos: os que tomam partido têm a mesma doutrina na irmandade em Cristo.

Não era bem disso que queria falar, era um paralelo. Falo de uma família amiga. Acorda às 11 horas e faz o desjejum em estado de absoluto DIET, outros desdobramentos LIGHT e o tédio da abundância à mesa. Cremes, chapéus, e o arrastar renitente da criançada atravessando os sinais irritantes, os calçadões da salvação do colesterol e as areias mercantis de Ipanema.

Tudo farto e abundante. Dinheiro naquela escala não é problema. Nem no restaurante das 17 horas, no shopping das 21 horas, no cinema das 22 horas e o jantar da madrugada. Facilidades, climatização do veículo com barulho de pena, as câmaras de segurança do edifício e a lenga lenga se vai dormir ou ver um pouco mais de televisão. Termina o final de semana da família amiga, pois no amanhecer tem que correr atrás da grana para mais finais de semanas iguais.

No quilômetro 19 da Teresópolis-Friburgo, Hotel Cachoeira do Frade. Cinqüenta alojamentos para até cinco pessoas em cada. Pensão completa. Piscina ao ar livre e piscina térmica, sauna, toboágua, lagos com patos e carneiros, cavalos para passear, tirolesas para saltar, trilhas e um ambiente rural com serviço completo. Só precisa estar.

Um grupo imenso do subúrbio. Igreja Maranata. Uma grande excursão. Alugaram todos os quartos desde a sexta-feira à noite até o almoço do Domingo. Toda estrutura do hotel sendo utilizada. Comer até não caber mais de tanta abundância. Bebida alcoólica não, mas o resto rola de boca em boca. Namoricos, paqueras no meio da irmandade. Casais trocando amabilidades. Uma festa de imensa dádiva, tudo é sublime e fora dos padrões da vida de rotina.

Foi quando uma senhora alourada pela pintura, com a voz rouca, esganiçada, talvez aí por conseqüência e causa ao mesmo tempo daquele tom de “pato rouco”. Aproxima-se de uma mesa em que se sentam seis amigos e diz:

- Olha o relógio. Não demora a carruagem virar abóbora. Espera-me um tanque de lavar roupa e uma pia de panelas e pratos sujos.

O grupo cai na gargalhada e ela completa:

- Enquanto ainda faltam algumas horas, vamos curtindo o baile. Cinderela desfila.

2 comentários:

socorro moreira disse...

UM PASSEIO , A LEITURA DESSE TEXTO. GOSTEI DE TODOS OS TRECHOS , E DAS MENSAGENS IMPLÍCITAS, TAMBÉM !

Stela disse...

Além do que tem um final hilário; muito espirituosa essa Cinderela.