Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Pontes e Baronesas


Eis-me aqui em Recife há quase quinze dias. É como se estivesse de volta à minha casa. Os caririenses carregam consigo essa duplicidade: meio cearenses, meio pernambucanos. O escritor Ronaldo Brito percebe perfeitamente essa dualidade quando define : “Cariri, Capital Recife!” . A Veneza Brasileira faz parte do meu bau de doces sentimentos, mas devo reconhecer que nem sempre foi assim. Simplesmente porque a cidade, retalhada por rios e remendada por pontes, não se entrega facilmente aos primeiros assédios. Amante banqueira e retraída, Recife exige todo um ritual de iniciação. A princípio seus ares parecem irrespiráveis, suas chuvas imprevisíveis, seu povo autista. Só aos poucos desabrocha a cidade que iluminou a poesia de Bandeira, João Cabral, Joaquim Cardoso e Carlos Penna Filho.
Recife carrega consigo um ar senhorial facilmente percebível nos seus casarões, nas suas pontes e também no seu povo. A cidade nos olha, por cima dos seus quase cinco séculos de história, galharda e pomposamente. Talvez seja esse clima colonial que a princípio entorpece os arrivistas , como se fossem espectadores que chegassem já em avançada hora do show. Aí o descompasso parece um visível incômodo. Como retroceder na história ? Como fazer parte do script , se já tantos capítulos foram escritos ? Aos poucos, no entanto, acabamos por perceber que o Recife tem um lugarzinho guardado para cada um que aqui bota os pés. No Recife, o encantamento se faz em módicas prestações mensais, aos poucos a cidade nos entra pelas veias e, um dia, quando jamais pensaríamos nessa possibilidade, compreendemos que já não é mais possível viver sem ele. O Recife nos arrebata mansamente do mesmo jeitinho que a maré carrega as baronesas rio abaixo.
Como isso é possível ? Recife compreende que sua história não é apenas um mero detalhe para ser guardado nos livros de escola. O recifense sabe que a história da cidade é uma coisa viva, palpável e que precisa ser degustada por todas as gerações com o mesmo ímpeto e apetite. A Cultura Pernambucana não é uma peça de Museu, uma ‘ararinha azul’ a ser catalogada pelo IBAMA. Ela vive no povo pernambucano, no seu quotidiano e mais : com o dinamismo próprio de que é feito as coisas vivas. Como não se apaixonar por uma terra que aparentemente séria e ensimesmada, mal chega o Carnaval, traveste-se , anarquicamente, e explode em alegria de viver: nos passos do frevo, na irreverência das troças, na música quase mântrica dos caboclos–de-lança, nos caboclinhos, nos cocos, nos afoxés, no afro Maracatu de baque virado, nos AlA Ursa? E mais, com todas as classes unidas, sem distinção de qualquer espécie e, conseqüentemente, quase sem violência?
É folclórico o bairrismo dos pernambucanos. Mas em termos de Carnaval, de alegria de viver, Pernambuco, com toda certeza, fala do Brasil para todo mundo!


J. Flávio Vieira

2 comentários:

Rosemary Borges Xavier disse...

Poxa! gostei deste texto José Flávio, eu que sou de Recife, como diz a música "...sou do Recife com orgulho e com saudade..." Contudo, moro aqui.
Adoro este rio, apesar de maltratado, morei por sete anos na rua da Aurora, cujo nome faz juz,me desculpem as demais, mas, Recife é a cidade mais linda do Nordeste, com este rio quase não se ver a beleza do mar, acho por que o mar está em todo lugar, o velho Capibaribe, vem banhar esta cidade petrificada, que guarda na história até hoje os traços que a deixam como se não a envelhecesse.

Rosemary Borges Xavier

Claude Bloc disse...

Zé Flavio,

Bom mesmo é estar onde a gente gosta de estar, quando lá quer estar...

Estou no Crato... Vou morar no Pimenta... Estou em busca de trabalho.

Posso dizer que meu contentamento é grande.

Abraço,

Claude