Divagar é preciso, sobretudo nos dias de hoje frente ao utilitarismo do mundo moderno. Pois bem, vamos divagar um pouco para afastar o imediatismo da vida hodierna.
Era 1944. Eu, ginasiano do saudoso Ginásio do Crato, saudoso dos meus verdes pés de serra de Porteiras e Jardim, subi na direção do Lameiro, a pés. Queria ver o verde dos canaviais. Fui subindo, subindo, subindo até que cruzou por mim o Ford preto do Dr. Joaquim Fernandes Teles, na direção da cidade.
De repente, vi-me rodeado por verdes canaviais, do Lameiro, do Belmonte, da Luanda, da Bebida Nova, do Grangeiro. Era cana a perder de vista! De repente, o apito do locomóvel do engenho do Sítio Belmonte. Era o aviso do meio dia. Retrocedi na minha caminhada. Senti-me satisfeito por manter o meu desejo infantil de ver canaviais como os dos sítios de meu pai.
Pois bem, todo aquele canavial sugava nas suas raízes as águas pluviais dos pés de serra do Crato, do Coqueiro às Guaribas. E haja sucção das águas das chuvas! Aquilo tudo era um verdadeiro sumidouro das águas pluviais que hoje descem escorrendo pelo asfalto para as ruas do Crato e quem paga o pato é o Canal do Grangeiro.
O homem perdoa às vezes!
A natureza, ferida, nunca perdoa!
E aí a gente tem que cantar como o poeta José Peixoto Júnior:
Embalançou-se o telhado,
À noite toda choveu,
Beira de Serra cedeu,
Foi muito pau arrancado;
Rio das Piabas lotado
De água, virou um prato”
Água solta não faz trato,
Veio da Serra até pequi,
O miolo do Cariri
Desceu nas águas do Crato.
(*) Napoleão Tavares Neves é médico, escritor, historiador, memorialista e cronista. Reside em Barbalha (CE)
2 comentários:
Armando Rafael,
Estes textos de Napoleão Tavares, tem sido de grande importancia para o Cariricaturas.
Obrigada pela colaboração.
Dr.Napoleão,
Subi tanto essa ladeira do Lameiro na adolescencia que até me imagino no roteiro do seu texto. Aliás nos últimos anos tenho subido bastante de Bike. Uma delícia "
Adoramos seus textos !
Abraço!
Armando,
Essas suas colaborações são preciosas para o Cariricaturas.
Rever o Cariri através do olhar das outras pessoas é muito enriquecedor, e traz igualmente o prazer de reviver, sonhar e rever na mente os tempos de bonança e simplicidade. O tempo em que o fato de viver a história era motivo suficiente para a gente se sentir feliz.
Obrigada, Armando. Agradeço da mesma forma a Dr. Napoleão T. Neves por suscitar tanta lembrança boa na gente.
Abraço,
Claude
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