Um tema pode ser qualquer coisa que nos leve de um minúsculo pontinho até o infinito ou pode ser o minúsculo infinito que nos leve ao ponto máximo. Uma simples discussão sobre grandezas já é um tema que daria um samba matemático ou papo geográfico, por exemplo, sobre escalas. Foi com temas geradores que Paulo Freire alfabetizou um bocado de gente. As vezes a partir da palavra tijolo se construía uma cidade de palavras, um arsenal vocabular que fazia as pessoas serem capazes de ler politicamente o mundo.
Um tema não é coisa que se tema, porque ele pode nascer assim... de repente. Pode inclusive, nascer meio guenzo e ir se equilibrando devagarinho - engatinha, anda, corre. Porque a única exigência temática está em fazer as pessoas se sentirem a vontade em seu próprio universo conceitual e vocabular, posto que o fundamental mesmo é desencabular o sujeito e a sujeita; até uma palavra que não consta do dicionário pode ser motivo para se começar uma conversa.
A busca está nas associações mais diversas que podemos ser levados a fazer com os outros - entrou pelo pé do pato saiu pelo pé do pinto e por aí vai. Pato e pinto são bípedes, são aves, têm bico, põe ovos e aí, de saída, antes que um desses bichos voe, já se tem um tema penoso, mas um tema que pode dar uma história para criança ou em discussão sobre os transgênicos.
O importante é se aventurar no mundo das coisas correlatas e também das disparatadas, para fazer as associações já conhecidas e aquelas imaginárias. Para ciência e para arte, porque uma coisa imita a outra, vez ou outra ou outra e vez, e foi assim que começou a história com coisas que ás vezes a gente não acredita, porque parecem não ter pé nem cabeça, mas é tudo coisa das criações humanas e da fantástica imaginação que temos.
Em outros termos nós temos temas para quase tudo aquilo que desejamos discutir. Um tema é a ponta de um novelo. Uma nota musical. Uma data às vezes sem sentido aparente. Uma imagem fotográfica. Um risco na pedra deixada por comunidades de dez mil anos atrás. A visão primeira que os homens tiveram da lua.
Quem sabe não foi isso que nos aventuramos a voar, imitar patos e pintos, imitar peixes e dialogar com a natureza com sua imensa selva de temas e de possibilidades intermináveis? Quem sabe não começamos por onde deveríamos ter terminado e fizemos o contrário?
Um ponto de partida é exatamente a possibilidade de criar as coisas do início e não temer chegar nos lugares inatingíveis. Para os professores talvez seja começar sempre com os outros onde eles estão, por onde já se passou um dia, como um retorno paciente ao lugar das primaveras do que conseguimos aprender.
Um tema deve ser capaz de suscitar debates, levantar questões, despertar preocupações, recuperar a tradição e vislumbrar o futuro. pode ser qualquer coisa assim que aparentemente é coisa alguma.
Manuel Fernandes, filho de Maria Zélia Correia e de Antônio Arcanjo, neto de Zé Odimar e Balbina Correia.
Professor da área de teoria e método na Universidade de São Paulo (USP)
3 comentários:
Magnolia,
"Um ponto de partida é exatamente a possibilidade de criar as coisas do início e não temer chegar nos lugares inatingíveis" (Nande)
Adorei isso, menina !
Começou muito bem com a escolha desse texto maravilhoso para uma reflexão.
Muito obrigada !
Abraço !
O Nande é um amigo de Varzea Alegre, mora aqui em São Paulo e é professor de Mestrado e Doutorado na USP.
Magnólia,
Na nossa conversa você se dizia "bobinha".... se toda bobinha for assim, que maravilha viver (risos)!!!
Abraço,
Amei o texto
Claude
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