Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 16 de abril de 2011

Pedro Cabeção – por Manoel Patrício de Aquino (*)


Há alguns anos (não muitos) viveu em Crato um mendigo chamado Pedro Cabeção. Jamais se soube o seu completo nome de batismo. Ou jamais se quis sabê-lo...

Mas Pedro era popularíssimo. Mormente entre a criançada, a quem sempre fazia rir (em especial quando metia o dedo polegar na boca, ou o fura-bolo, comprimindo-o para, em seguida, puxa-lo de repente a fim de conseguir sons engraçados (estampidos) com que agradecia as esmolas recebidas, ou simplesmente cumprimentar as pessoas.


Pedro andava sempre só, apoiado num velho cajado de “frei–Jorge”. Caxingando. Gemendo... Mas passava a maior parte do tempo “estacionado” numa calçada qualquer do centro da cidade, de preferência perto das esquinas ou nas proximidades da casa de Seu Mário Limaverde. Forrava o local com velhos e rotos panos e com pedaços de papelão. Tinha um banquinho de madeira, de um palmo de altura, onde, às vezes, se sentava ou expunha a desbotada lata de manteiga: seu caça-níqueis.


Apresentava, além da macrocefalia, outras bem visíveis deformações anatômicas, as quais, no entanto, não despertava a mínima curiosidade de ninguém, pois o importante mesmo era a sua enorme cabeça, que lhe valera a alcunha.


Pois bem, meu caro leitor. O Ceará de hoje, mais do que nunca, lembra-me o miserável Pedro Cabeção. Estado pobre. Paupérrimo. Com sua enorme e disforme cabeça (Fortaleza e a Região Metropolitana) e aleijões pelo resto do sofrido corpo. Mendigando pela televisão. E o seu homem do campo caxingando, gemendo, chorando... morrendo.


Desde a promessa do último brilhante da coroa do Imperador Dom Pedro II, que seria vendido, se preciso, para que ninguém aqui passasse fome, pouca – muito pouca coisa –mudou. Quanto ao Cariri, que ninguém se engane: inobstante algumas aparências e apesar da propaganda enganosa, está perdendo, e feio a corrida do progresso. Ah! velho Pedro Cabeção, faz pena! E dá vergonha!!!

(*) Manoel Patrício de Aquino, advogado, é Presidente do Instituto Cultural do Cariri

Um comentário:

Daniel Boris (Jacques) disse...

Caro Manoel Patrício:

Venho colocar-me ao seu lado,tanto nas lembranças de Pedro cabeção,como no belismo texto,simples de se ler e para um bom entendedor uma palavra basta,parabéns para você e para meu amigo Armando Rafael que postou o seu relato em uma hora oportuna,abraço para ambos.

Daniel Hubert Bloc Boris (Jacques)