Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 29 de maio de 2011

Luciano - José do Vale Pinheiro Feitosa

O maior sinal da presença de algo vivo, especialmente se um animal, é a modificação que exerce no espaço em que habita. Seja este espaço um local de sedentarismo ou um de caça, colheita ou trabalho. Sendo que as duas últimas são inerentes à humanidade.

Pois Luciano, um Paraibano de Solânia, é a expressão máxima daquela observação. Não mais do que um 1 metro de 66 centímetros, o homem aí dos seus 46 anos, conversa pelos cotovelos. Mas não é balbucio de coisa qualquer. Luciano faz platéia, tem um coletivo de amizade que passa lhe cumprimentado ou se torna freguês da sua barraca de vender coco verde.

Logo depois da curva do Calombo, sentido Túnel Rebouças-Ipanema, na Lagoa Rodrigo de Freitas, numa área em que o terreno desce para a baixada que tem início no arco em frente ao Corte do Cantagalo. A barraca do Luciano fica logo no início desta baixada sob frondosas árvores, próximo ao gramado e a área em volta dela, com mais de mil metros quadrados, sempre está absolutamente limpa.

Não é incomum nas manhãs iniciais de sua atividade ver o Luciano lavando o asfalto da região com algum detergente para retirar o cheiro do xi-xi de cães que levam madames e cuidadores a passear. Tudo absolutamente varrido e nenhum detrito que escape da atividade do paraibano deixa de ir para as lixeiras que espalha para os seus fregueses.

Muito antigamente chegava antes das seis horas. Tinha um senhor que passeava com seus animais que o esperava para dar água de cocô aos referidos. Estes quando viam Luciano descer do ônibus de onde chegava, de São Cristóvão, corriam para ele, abandonando o dono: o homem dos cocos era mais importante.

Mas hoje, com a idade, tem evitado a hora. Especialmente nos feriados e domingos: é dia de assaltante. Pouca gente andando na Lagoa naquela hora torna Luciano o alvo dos malandros que só levam o que levam por que ameaçam. Luciano já levantou facão para o ar como a dizer que tinha arma. Já se afastou do local por observar dois homens assuntando a oportunidade de levar-lhe o que tinha de troco.

Ali na barraca dele tudo é limpo e o incrível do mistério: Luciano olhando para a casca do coco verde, como um leitor de búzios, traduz qual é doce e qual não é. Ele escolhe seus cocos com o fornecedor seguindo tais critérios de quase adivinhação que só não é, pois acerta todas. Como é que você descreve este método? Ele pega dois cocos e diz: não tem como descrever eu sinto olhando para a casca dele. Abre os dois e traduzem o que disse quando a água ainda estava escondida.

Antigamente um coco pagava outros sete, mas hoje, a economia está mais estável: um coco paga dois e meio. Convenhamos, sempre existirá o problema de escala para dar sustento a Luciano, mas com uma margem de lucro desta, incluindo o gelo e o trabalho dele, é uma margem e tanto e o homem tem uma vocação espetacular para atender ao público.

Se todos os atendimentos que existem no mundo fossem daquele modo, a sensação de bons serviços seria fundamental. Olhem que esta coisa não é verdade nem com os médicos que são aqueles humanos que atendem outros em sofrimento. Tem doutor que é tão preguiçoso quanto um porco esparramado na umidade ou seus olhos brilham tantos cifrões que lembram uma cornucópia jorrando.

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