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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Distrações na oração

(Artigo publicado no Jornal "A Presença "- nº 241 - Setembro de 2004 -- Paróquia de São Mamede – Lisboa)


São Bernardo de Claraval (1094-1153 ) foi um dos maiores santos de França e até da Igreja: Fundador da Ordem de Cister, conselheiro de Papas e reis, promotor da segunda Cruzada, pregador e poeta. Conta-se em sua vida esta história pitoresca. Certa vez o santo ia de viagem montado no seu cavalo, de hábito branco e com religiosa gravidade.

Como os santos inspiram confiança, ao passar por um povoado aproximou-se dele um humilde lavrador e começou a conversar com o famoso abade, de quem tanto se falava no mundo. Meteram-se na conversa assuntos de coisas devotas e Bernardo queixou-se de que às vezes, pelos inúmeros assuntos que o preocupavam, não conseguia rezar com a devida atenção que desejava.

-- Que é que diz, Senhor Abade? - exclamou o bom lavrador. Então o senhor se distrai quando está a rezar? Palavra de honra, julgava que fosse santo!

-- E você, meu filho - replicou o grande santo – você não padece de distrações na oração ?

-- Não, não, Senhor Abade - assegurou com firmeza o lavrador. Deus me livre de tal falta de respeito a Ele. Eu, quando me ponho a rezar, ponho-me a rezar e mais nada. Caio de joelhos, ergo as mãos, e já não estou mais neste mundo. Podem tilintar moedas de ouro ou tocar trombetas a meu lado. Eu cá estou a rezar! Deus e eu, e mais nada!

O santo sorriu e exclamou:
-- Grande e extraordinária graça é essa, meu filho! Asseguro-te que só para almas muito escolhidas é que a bondade de Deus costuma conceder essa graça (e São Bernardo cravou no homem um olhar e um sorriso de paterna desconfiança). Não me leve a mal, amigo, mas eu sinto a tentação de desconfiar. Rezar sem distrações, será possível?

-- É tão verdade o que acabo de dizer, como tenho o Céu como verdade - respondeu um pouco melindrado o bom e espontâneo camponês.

-- Tiremos a prova agora mesmo - acrescentou o santo. Se você for capaz de rezar sem distrações um Pai-Nosso, dou-lhe este cavalo em que estou montado !

-- O quê, santo Abade! Fala a sério, dá-me o seu cavalo?

-- Já lhe disse e torno a lhe propor. Se for capaz de rezar um Pai-Nosso sem nenhuma distração, o cavalo é seu!

O lavrador, radiante, fazia festinhas na cabeça do animal e exclamava:
-- Cavalo forte e elegante, eu já te tenho!

E começou a prova. O homenzinho inclinou a cabeça que segurou com as mãos, como se quisesse prender o pensamento naquela hora. E começou a rezar baixinho: "Pai-Nosso, que estais nos Céus..."

Foi pronunciando as palavras com religiosa atenção, e recolhido como uma piedosa imagem.

Quando chegou no "O pão nosso de cada dia" parou um instante, levantou o rosto e perguntou ao santo: -- Diga-me, padre Abade, o senhor me dá também as rédeas?

-- Meu filho - continuou o santo - que pena! Nem cavalo, nem rédeas, porque você se distraiu!

O lavrador, lançando um olhar saudoso para o animal, suspirou:

-- Ai, que rico cavalinho eu perdi agora!

Que lição podemos tirar desta história?
Há duas espécies de distrações: as exteriores, que são por exemplo, olhar para o lado, fixar-se nas pessoas que entram e saem, ler qualquer coisa, fazer comentários, etc. Tais distrações podemos e devemos evitar. Porém, distrações interiores ou mentais, ninguém as consegue evitar.

Santa Tereza de Ávila dizia com graça, que “a imaginação é a louca da casa", que andava sempre a vaguear em nossa cabeça. É um cinema que nos mostra o filme dos acontecimentos da vida, ou as imaginações que o demônio quer fazer girar em nosso interior.
Tais distrações são inevitáveis.

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