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domingo, 28 de agosto de 2011

O Almirante Cochrane, os índios Cariris e o senador José Sarney – por Armando Lopes Rafael






Acordei, neste ensolarado domingo, tentando fazer uma junção entre o passado e o presente. E veio-me à lembrança Lord Cochrane ( no desenho à direita), almirante da Marinha Real Britânica, nobre escocês e herói nacional do Reino Unido. Considerado “O maior herói naval da Escócia”, Lord Cochrane tem um busto de bronze na sua terra natal, destinado a lembrar de sua epopeia nas guerras contra Napoleão Bonaparte, que o apelidou de Loup de Mer (lôbo do mar).

Visionário, Lord Thomas Alexander Cochrane (este seu nome completo) atuou na América Latina e passou à história do Chile, Argentina, Brasil e Venezuela. Neste último país, Lorde Cochrane auxiliou Simon Bolivar na Independência venezuelana. Em 1817, prestou serviços aos generais Bernardo O’Higgins e San Martin e às forças independentistas chileno-argentinas, como comandante de esquadra. Em 1823, Cochrane já estava no Brasil.

Convidado pelo imperador dom Pedro I, Cochrane iniciou seus trabalhos para consolidar a independência do Brasil, após o Decreto Imperial de 21 de março de 1823, que lhe conferiu a patente - única na história naval brasileira - de Primeiro-Almirante. Sua missão: debelarar pequenos focos de resistência à independência do Brasil. Desnecessário dizer que se houve bem na missão que lhe foi confiada.


Registra a história que em 1824, Lorde Cochrane também contribuiu para sufocar a Confederação do Equador (à esquerda a bandeira da Confederação), movimento republicano nascido em Pernambuco, com grande repercussão no Ceará. O bloqueio da cidade de Recife foi feito por Lorde Cochrane.

Ele foi impiedoso nos seguidos bombardeios à capital pernambucana, deixando a população civil sem gêneros alimentícios, sem remédios e sem munição. Após a capitulação de Pernambuco, Lord Cochrane passou-se ao Ceará, onde foi igualmente vitorioso.

O historiador J.de Figueiredo Filho, no 1º volume da sua História do Cariri, – na página 10 – reproduz um texto de relatório do Lorde Cochrane, no qual elogia os índios Cariris, seus aliados na luta contra os insurgentes da Confederação do Equador. A conferir.
“Os chefes indianos (ou seja, os caciques dos Cariris), assim com a gente que desses dependia, foram de grande préstimo na restauração da ordem, combinando robustez corporal superior com atividade, energia, docilidade e força de aturar que nunca falhava – formando, com efeito, os melhores padrões da raça que eu vira na América Latina”.

Taí um depoimento insuspeito, a provar a superioridade dos índios Cariris em relação à população autóctone da América do Sul, ou seja, aos aruaques, aymarás, mapuche, guaranis, tupis, dentre outros, todos velhos conhecidos de Cochrane.

No livro “1822”, o segundo da trilogia escrito por Laurentino Gomes, consta – na página 173 – o seguinte: "Em uma visita oficial a Abadia de Westminster, em Londres, o ex-presidente José Sarney, aproximou-se da tumba de 1860, e sem que os acompanhantes percebessem, pisou sobre a lápide de Lord Cochrane e sussurrou: “Corsário”. Consta que o lorde inglês saqueou a cidade de São Luís do Maranhão, quando lá esteve em combate aos portugueses. Interessante, que o clã Sarney, atual donatário do Maranhão desde 1965, é hoje acusado de saquear – não só São Luís – mas todo o Estado. Quem sabe, no futuro – não muito distante – alguém pisará sobre a tumba de José Sarney e sussurrará: “Corsário”...

O tamanho do poder do atual senador José Sarney – líder-mor da “base de sustentação dos governos do PT” – é imenso! Basta lembrar a “Operação Boi Barrica”, da Polícia Federal. Trata-se de investigação sobre Fernando Sarney, suspeito de fazer caixa dois na campanha de Roseana Sarney na disputa pelo governo do Maranhão em 2006. Antes das eleições, ele teria sacado 2 milhões de reais em dinheiro vivo.

O desembargador Dácio Vieira (amigo de fé e irmão camarada do velho Sarney) proibiu o jornal “O Estado de S. Paulo” – em 31 de julho de 2009 – de publicar reportagens sobre esta Operação. Em 10 de novembro de 2009, o Supremo Tribunal Federal negou o pedido do jornal contra a proibição. E veja que estamos num Estado de Direito democrático, que pressupõe imprensa livre...

PS – Em tempo: Laurentino Gomes está concluindo o terceiro livro da sua já clássica trilogia. Terá o título de “1889” e mostrará a farsa que foi a “Proclamação da República”, ou seja, o golpe militar de 15 de novembro daquele ano, o primeiro de uma longa série que viria a marcar “os novos tempos republicanos”.
“Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”...


Texto e postagem de Armando Lopes Rafael

4 comentários:

Armando Rafael disse...

A lápide que o senador Sarney pisou na Abadia Real de Westminster, tem a seguinte inscrição (em tradução livre):

“Aqui se encontra o que restou de 85 anos de vida de Thomas Cochrane, 10º Conde de Dundonald da Escócia, Marquês do Maranhão no Império do Brasil, Almirante da Frota da Real Marinha Inglesa, por sua confiança, seu gênio, sua ciência e inspiração ousada e extraordinária, por seus esforços heróicos na causa da liberdade e seus serviços prestados ao seu próprio país, à Grécia, Brasil, Chile e Peru, tudo alcançado por seu nome ilustre em todo o mundo, pelo seu patriotismo coragem e cavalheirismo.
Nasceu em 4 de dezembro de 1775 – Morreu em 31 de outubro de 1860”
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Esta lápide tem dimensões somente igualadas a outras duas: a Sepultura dos Soldados Desconhecidos (no eixo central da nave da Catedral) e, ao meio da nave, a do Doutor Livingstone.

Mas a sepultura de Lord Cochrane é a primeira de frente ao altar, local onde se realizam os casamentos dos membros da Família Real Inglesa.

Armando Rafael disse...

Vale os registros: Quando deixou o Brasil, onde recebeu o título de Marquês do Maranhão (o único concedido) o almirante Cochrane participou da guerra de Independência da Grécia, dois anos mais tarde, enfrentando, naquela oportunidade, os navios do Império Otomano (1827-1828).

Lord Cochrane morreu em Londres em 1860, aos 85 anos durante uma cirurgia para extração de cálculos renais

Zé NIlton disse...

Armando,
Muito oportuno seu artigo. Bom demais essas repassagens pela História.
Sobre a participação dos Cariris nas refregas civis do Século XIX eles foram recrutados sob mil penalidades caso não obedecessem as orgens de cima.
Já não eram tão valentes como outrora quando as lutas lhes diziam respeito, como a Confederação dos Cariris.
Alquebrados em mais de 100 anos de dominação sob todos os aspectos, os velhos cariris estavam misturados na população local, ainda perseguidos por todos, vis-a-vis a necessidade de braçosas para compor as forças militares do Estado.
Já havia falado disto numa crônica sobre a participação indígena em brigas de famílias e do Estado.

Zé NIlton disse...

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